Shakespeare Apaixonado (Shakespeare In Love),
de John Madden (Inglaterra, 1998)

Shakespeare Apaixonado carrega um fundo interessante: misturar arte e vida, brincar com os aspectos da vida do artista que influenciaram a obra. Vemos várias piadas desse tipo: John Webster novinho, Marlowe cedendo argumentos a Shakespeare em troca de frases, Viola (personagem de Noite de Reis) sendo o nome do grande amor do dramaturgo, etc. Muitos desses méritos (senão todos) são devidos ao roteiro de Tom Stoppard, que adora esmiuçar e fazer brincadeiras com a obra de Shakespeare. Mas quando chega a parte do diretor, tudo se dissolve. John Madden não tem o toque, e parece destruir tudo que encosta, tal um Midas às avessas. Ele só não consegue tirar o encanto meio óbvio de um casal simpático e belo (Paltrow e Fiennes). Risos aqui, risos acolá, certas caras de enternecimento, um beijo inesperado de Master Kent impedem o filme de ser uma besteira qualquer; um pregador imbecilizado, um argumento de capa-e-espada e um fim pra lá de conformista impedem o filme de chegar a algum lugar mais além.

Ruy Gardnier

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