FESTIVAL DO RIO 99
críticas dos filmes em exibição
SOZINHAS, de Benito Zambrano
Espanha, 1998
Uma das grandes qualidades do Festival este ano tem sido permitir um olhar bastante abrangente na produção espanhola atual, não somente na mostra "Imagens Espanholas" como também nas outras sessões do evento. A produção deste país, além de numerosa, tem sido diversificada e no geral interessante.Por isso mesmo, um filme que causava expectativa era Sozinhas, que levou o prêmio do público e do júri no Cine Ceará deste ano. Um melodrama sem vergonha de sê-lo, Sozinhas porém acrescenta nada ao gênero, e não ultrapassa o interesse da sua novela das seis na TV. Embora esteja emocionando bastante as platéias, a verdade é que o faz por meio dos "golpes" armados mais chinfrins, dignos de um quadro do programa do Faustão, tipo Arquivo Confidencial (inclusive usando a trilha sonora de forma tão descarada quanto este). Os personagens são todos completamente simpáticos ou absurdamente antipáticos, não há gradações. Do primeiro fotograma ou da entrada de cada personagem em cena você sabe exatamente o que vai acontecer com cada um deles. Não se usa nada do material fascinante que está em torno das situações: a mãe não consuma a "traição" (o que certamente a faria mais humana e menos endeusada), a paisagem urbana decadente não é explorada, o personagem do barman é pouco desenvolvido embora pudesse ser parte de uma boa trama, o caminhoneiro e o pai são pouquíssimo aprofundados.
No meio de um Festival que apresenta o novo filme de Almodóvar, que a cada trabalho mostra como se injetar criatividade, estética e temática, ao gênero do melodrama (que ao contrário do que pensam muitos não é por si só um julgamento de valor "ah, é muito melodramático..."), é imperdoável que ainda estejamos caindo nos mesmos velhos golpes emocionais que Sozinhas tenta nos aplicar. Uma decepção.
Eduardo Valente