Os 92 Minutos do Sr. Baum, de Assy Dayan
(Israel/França, 1997)
Restam 92 minutos de vida ao Sr. Baum. Ele acaba de saber de seu médico. O filme é a história desses 92 minutos, de como o Sr. Baum vai utilizar sua última hora e meia de vida. Mas ao contrário do drama esperado ou da comédia escrachada (as duas formas mais comuns do cinema tratar a morte anunciada), o diretor Assy Dayan preferiu tentar mostrar o que Micki Baum, pai de família de 50 anos, acha da vida e como ele pretende despedir-se dela.
Desde o início o filme pode trazer à memória O Gosto da Cereja, de Abbas Kiarostami. Na verdade, o tema é o mesmo. Mas Dayan soube fazer o filme à sua maneira: humor casual, enfraquecimento das relações interpessoais e familiares, distância física X distância afetiva (metade do filme, logo, dos 92 minutos, acontece dentro de um carro, com um telefone celular) é o que a câmera nos deixa ver, um pouco como observadora discreta da fim da vida de um homem.
O Sr. Baum não se desespera, não se debate, não luta contra a morte. O ato mais decidido que ele faz é ligar para um amigo moribundo para saber como é estar quase morrendo. Nesse sentido, a preparação para a morte é filmada de modo simples banal, em um plano só, distanciado, em que o Sr. Baum veste um conjunto cor-de-abóbora da marca Adidas e se deita.
Os 92 Minutos do Sr. Baum é uma rica possibilidade de vislumbrar o vazio cotidiano, as neuroses familiares e urbanas e a falta de propósito contemporânea. Sem criar espetáculo ou fazer concessão qualquer ao drama, esse filme afigura-se como uma das mais interessantes revelações da Mostra.