Vigo, Paixão de Viver, de Julien Temple
(Inglaterra, 1997)
Vigo, Paixão de Viver é infame. Pois o mínimo que se pode esperar de uma cinebiografia é que ela seja ao menos fiel ao seu biografado. Pois não é. Todo o sentimentalismo e a artificialidade que Jean Vigo não mostrava em seus filmes estão patentes nesse filmeco de Julien Temple.
A Cinebiografia é um gênero complicado na história do cinema. Houve diretores que se especializaram. Rossellini, por exemplo (e será possível para o espectador ver em sua retrospectiva), fez várias obras-primas contando a vida de pessoas ilustres. Mas aqui, com Julien Temple, estamos o tempo todo no melodrama, na reconstituição histórica, na narração da relação de amor. Jamais estamos na vida do cineasta, no sentimento. E se saímos do filme com a impressão que Jean Vigo poderia ter sido qualquer um, é porque o filme não indica nada do que possibilitou fazer com que Vigo rodasse suas obras-primas Zero de Comportamento e O Atalante. Ao contrário, o filme se fixa em sua doença e nos problemas de produção.
Saiu, pois, um filme infeliz e sem qualquer intenção de homenagem. É um filme de vampiros, mas o vampiro é o diretor.
Ruy Gardnier