Wintersleepers, de Tom Tykwer
(Alemanha, 1997)
Desde o início dos créditos (nome da produtora, etc) percebe-se um esforço para inserir esta produção alemã no contexto do "cinema independente", e esta obsessão em seguir certos procedimentos formais deste cinema vai ser o grande problema do filme.O filme de Tom Tykwer guarda semelhanças inegáveis com O Doce Amanhã de Atom Egoyan, não só na narrativa em torno de um acidente na estrada, no clima gelado do local onde se passa o filme e na presença de uma criança como centro das atenções, mas acima de tudo pelo ritmo lento quase hipnótico, o uso da trilha sonora como parte vital da narrativa e as idas e vindas entre vários personagens e os pontos que os conectam e afastam. Como os dois filmes têm o mesmo ano de realização não cabe analisar possíveis influências, mas talvez seja interessante mencionar esta semelhança como forma de localizar um estilo para o filme.
De fato, os dois filmes têm filiação próxima, mas Egoyan demonstra total domínio da narrativa cinematográfica com suas sutis idas e vindas no tempo e uma maturidade estilística tal que disfarça a sofisticação de seu controle do filme por trás do desenvolvimento da história e dos personagens, conseguindo um efeito estético poderoso junto com um tema que emociona. Já em Wintersleepers (talvez por estar começando) Tykwer se deslumbra demais com movimentos incessantes de câmera, excesso de personagens "cool" e maneirismos questionáveis como vestir cada personagem o tempo todo com a mesma cor.
Não que seja um filme decepcionante, é interessante. Mas a presença recente do fantasma de Egoyan não fez bem a ele. Tem momentos fortes (o início e o fim são irretocáveis), alguns bons personagens (como o do cara que precisa fotografar e gravar sua vida por não ter memória de eventos recentes), um belíssimo uso das fusões como elemento narrativo, e o tema central das linhas de vida que se cruzam e distanciam o tempo todo (uma encarnação pós-moderna do Destino). Discute com delicadeza temas como o Acaso, Memória, objetivos de vida, conflitos de geração, comunicação entre as pessoas (ou a falta de). Até mesmo seus excessos de estilo já mencionados incomodam mas, inegavelmente, constroem um clima que consegue carregar o espectador. Em suma, um bom filme, mas cuidado com o excesso de euforia que podem espalhar sobre ele...
Eduardo Valente