"Studio 54"

(54, 1998)

Neve Campbel no filme Studio 54
Embalos de todas as noites numa época muito louca
Tom Leão

A primeira (e inevitável) comparação que vem à cabeça após ver "Studio 54" é a do referencial "Os Embalos de Sábado à Noite" (1977), de John Badham. Como aquele (feito no auge da febre disco e que "estourou" John Travolta), o filme de Mark Christopher conta a história de um momento marcante da música pop e relembra um tipo de comportamento dos anos 70 através dos olhos de um garoto do subúrbio, Shane (Ryan Phillippe), que, de Nova Jersey, contempla o skyline de Nova York e sonha em brilhar nas revistas de fofocas e agitos sociais.

Só que, ao contrário do Tony Manero de Travolta, um exímio dançarino, Shane vai subir na vida às custas de seu físico apolíneo e sua inocência, e descobrirá que os brilhos das luzes da cidade grande são mais ilusórios do que aparentam. Logo ele se envolverá com pessoas superficiais, drogas e mulheres apenas em busca de sexo rápido e fácil. Mas não no nível barra pesada vivido pelo Dirk Diggler de "Boogie Nights", que ia mais fundo nestes aspectos, e se passava também no final dos 70.

Ao mesmo tempo em que fascina, "Studio 54" tem o sabor de uma noite louca naqueles tempos pré-Aids, já que, passada a exibição, quase nada fica. Isso acontece porque o filme é superficial como os seus personagens, assim como as próprias pessoas que freqüentavam a mais famosa discoteca do mundo, o que não interfere no entretenimento. Não há construção de tipos justamente porque sobra pouco tempo para isso, já que o filme é todo baseado nos pontos de vista de quatro pessoas: no de Shane; no do dono da boate, Steve Rubell (o comediante Mike Myers num papel dramático com excelente caracterização); no da sonhadora cantora Anita (Salma Hayek), e no da arrivista atriz de telenovelas Julie Black (Neve Campbell, glamourosa como nunca a vimos em "Party of Five").

A recriação do ambiente do mítico clube é excelente (o diretor, que também escreveu o roteiro, tentou ser o mais fiel possível ao espírito da época) bem como a trilha sonora, que evita as músicas carta-marcadas das compilações disco oportunistas que costumam sair por aqui; e na primeira meia-hora o filme realmente nos transporta para aquele lugar onde, para entrar, era preciso mais do que vestir roupas brilhantes ou ter dinheiro.

A curiosa viagem no tempo vale o bilhete, mas fica uma certa frustração no final.


Crítica extraída do jornal O GLOBO





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