Se os anos 50 foram marcados pelo conservadorismo do pós-guerra e os anos 60 pela primeira invasão britânica no pop, os anos 70 chacoalharam todas as estruturas.
A moça de topless ou a feminista que distribui manifestos; o rapaz de pele dourada que salta da prancha de surfe para a discoteca ou o hare krishna de cabeça rapada; o homem saudável que faz jogging ou o solitário que retorna ao apartamento de solteiro após haver passado o domingo em companhia do filho; o gay que marcha sobre Washington ou o ativista brigando pela anistia; a mulher descasada que tenta começar de novo ou o ecólogo preocupado com a destruição da natureza: estes são alguns, e provavelmente os principais, embora não todos, dos personagens que definiram o comportamento na década de 70.
Pode não ser exatamente o melhor período da história contemporânea para ser visitado, mas essa década, vista à distância, teve lá seus (muitos) encantos.
Foi a década de uma movimentada cena alternativa, a década da radicalização de experiências comportamentais (não havia AIDS!), a década da contracultura, do underground, dos jornais, revistas, livros e discos independentes. Foi mais uma década de continuações do que de explosões. Uma década de revisões e ampliações, mas não propriamente de invenções. A "Década do Eu", como já foi rotulada. Do desejo de mudar o mundo passou-se à urgência de um encontro consigo mesmo. Para muitos, a década do "vazio cultural"; para outros, anos alucinados e - por que não? - divertidos.
Logo de cara os Beatles chutam o balde e fecham a tampa. Dão um basta e já partem para suas carreiras solo. Em contraposição, o Festival de Woodstock, realizado em agosto de 1970, veio para provar que nenhum sonho acabou - o pesadelo apenas começava.
Começava também a decadência do movimento hippie com a morte de Jimi Hendrix e Janis Joplin. Os festivais de Woodstock e da Ilha de Wight sepultaram definitivamente os acontecimentos dos tempos hippies. Então, aliando um pouco de charme hippie e muito glamour, começava uma nova onda no pop, a chamada geração glitter. Pela primeira vez o mundo ouvia o termo androginia. Estava lançada a expressão da ambigüidade sexual.
Era a época dos famosos sapatos plataforma, das calças boca-de-sino, das meias de lurex, do poliéster e dos signos do zodíaco. A moda passou a ser idealizada de fora para dentro, do povo para os fabricantes, da rua para os salões. O antigo conceito de exclusividade caducou e a massificação dominou o mercado. A criatividade aposentou o termo chic que, entre muitos outros, foi substituído por kitsch, punk, retrô. A juventude era inexperiente e desconhecia o rumo a tomar - sabendo apenas que não queria obedecer aos padrões reinantes - a moda seguiu a corrente hippie. Nosso ocidentalismo era considerado decadente. Isso acabou resultando na consolidação da própria contestação, tendo como bandeira um pedaço de tecido grosso, azul e desbotado: o jeans.
Junto com a modernidade da época, sobreviveram em pleno auge super bandas de hard rock como Led Zeppelin e Black Sabbath. O rock pesado vivia seu grande momento e por um lado a androginia o influenciava em sua forma de comportamento, vide Mick Jagger, que vivia soltando a franga... Outras grandes figuras que escandalizaram a década de 70 foram Rod Stewart (quem diria, hoje ele é quase um careta!), e o ícone David Bowie, em seus áureos tempos femininos.
A androginia faria nascer aqui no Brasil o mais famoso e efêmero grupo muscial do país: os Secos & Molhados. Mesmo desfeito em 1974 (só um ano após sua formação), permitiu à sua estrela Ney Matogrosso continuar mexendo com os corpos e principalmente com as cabeças de todos e todas.
O rock progressivo também viveu seu grande momento com Emerson Lake & Palmer, Yes e Pink Floyd. Foi nessa safra que surgiu o Queen, um dos primeiros grandes exemplos do rock de arena, ao lado do Fleetwood Mac, veteranos dos anos 60 ainda vivendo seu auge. Mais ou menos nessa mesma época começa a aparecer nas paradas mundiais o supra-sumo da papa açucarada doa anos 70, o grupo ABBA, uma das mais bem-sucedidas invenções da década.
Uma parcela sempre crescente dos jovens continuou fascinando-se pelas drogas (que o diga a jovem alemã Christiane F.) e a cocaína acabou por se transformar em indicadora de status. O pó conseguiu inclusive tirar da droga a característica contestatária que ela havia ganho com a maconha e as experiências lisérgicas da década de 60. Virou presença indispensável e indisfarçável nas festas sofisticadas, subiu às coberturas e esteve no fundo de mármore das piscinas particulares.
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