A década de 70 representa o apocalipse da música pop, que naquela época vivia momentos grandiosos, com super grupos e altas produções. Mas a overdose de super produções começou a cansar o grande público, o rock começava a investir no clássico e tudo parecia muito chato. Foi então que um movimento popular tomou conta da cena: a dance music. Essa música dançante começou a aparecer nas paradas de sucesso por volta de 1974, quando grupos como Shirley and Co. e The Hues Corporation emplacaram os sucessos Shame, Shame, Shame e Rock The Boat, respectivamente. Por essa época, a voz quente de Barry White já era conhecida das paradas de rhythm ‘n’ blues, mas seu balanço acabou identificado com a nova onda, vide os clássicos You're My First, My Last, My Everything, Can't Get Enough Of Your Love e vários outros.
A segunda metade da década foi dominada por dois cenários diferentes. Na Inglaterra, surge o movimento punk, das roupas de couro preto e dos cabelos quase raspados, que contestava, com violência, os valores da sociedade do país. Destaque para a banda Sex Pistols. Nos EUA, pop vira sinônimo de disco music. Feita para as pistas de dança das discotecas, celebra o amor e a alegria, utilizando-se da eletrônica com maior intensidade e por vezes até ousando. Ganham espaço nomes como Donna Summer, ABBA, Gloria Gaynor e Bee Gees, estes últimos num come back arrebatador que mudaria sua carreira para sempre, graças à explosão da disco.
O curioso é que apesar de alguns artistas e grupos terem estado fazendo muito sucesso com essa música dançante, a disco music corria sério risco de cair no esquecimento como mais um mero modismo dos anos 70. Só que, de cult dos clubes noturnos, a disco music virou mania mundial a partir de 1977, quando a história de um garotão do Brooklyn que queria subir na vida dançando chegou às telas: "Os Embalos de Sábado à Noite" (Saturday Night Fever), marco absoluto da época. Pronto, era o empurrão que faltava. Este clássico filme (hoje já podemos chamar assim!) serviu para resgatar o desejo pela dança.
No Brasil, o maior símbolo do fenômeno disco fever apareceu em 1978, com a novela Dancin' Days (exibida pela Rede Globo), de Gilberto Braga, onde Sônia Braga encarnava a versão feminina tupiniquim de John Travolta nas pistas de dança. Festas clássicas com big bands e discothèques do momento regaram o horário das oito nesse marco da TV brasileira, até hoje lembrado como um dos maiores sucessos de audiência da Globo.
Os roqueiros odiavam e os músicos sérios torciam o nariz. Mas o fato é que a disco music foi em frente e teve uma grande influência sobre a música pop dos anos 70, a ponto de se tornar parte da cultura de massa e conseqüentemente da memória afetiva das pessoas. Mesmo com as eventuais críticas negativas (por parte dos próprios críticos, obviamente), a disco conseguiu fazer a cabeça até dos ditos "músicos sérios". Exemplos típicos? David Bowie e seu "Station To Station", de 1976 (com Golden Years), Rod Stewart e seu álbum de 1978, "Blondes Have More Fun", com o hit Da Ya Think I'm Sexy? (inspirado em Jorge Benjor!) e até o Blondie com "Parallel Lines" (que originou seu maior sucesso, Heart Of Glass), também de 1978. (Definitivamente, esse foi o ano de ouro das discotecas). Ainda em 78, pegando carona no sucesso dos "Embalos", foi a vez de "Até Que Enfim é Sexta-Feira" (Thank God It's Friday), com ninguém menos que a diva Donna Summer, além de outros conjuntos do momento. Se o filme não fez o sucesso esperado, uma de suas canções, Last Dance (de Donna Summer), levou o Oscar de Melhor Canção daquele ano e é hit até hoje. É inegável, todos que fizeram música naquela época tiveram um pé na disco, ou pelo menos aventuraram-se uma vez por esse terreno dançante, mesmo que não tenha obtido grande sucesso. Todos queriam estar na moda, todos queriam ser disco. Quem não aderisse à moda disco, ficava para trás.
Derivada da música dançante dos anos 60, com um pé na black music e em busca de uma identidade própria, a disco music foi buscar seu nome na denominação francesa discothèque, um clube em que se podia dançar ao som de músicas tiradas de discos.
Aí, nascem mil discotecas pelo mundo, com luzes em pisca-pisca constantes, pares que não se abraçavam e apenas curtiam a harmonia e o ritmo alucinante das guitarras e sintetizadores. Teclados explodiram em cores e fumaças coloridas. Era um novo tempo jovem que se refletia na música. E assim estourava o movimento disco – forma que os americanos inventaram para abreviar 'discothèque'.
Em 1978 foi inaugurada a Meca das discotecas nos EUA, o Studio 54.
Em 1979 foi lançado o álbum que marca mais ou menos o fim da era disco, Off The Wall, a bem sucedida estréia solo de Michael Jackson. Apesar do virtual declínio do movimento, 1979 foi um ano em que as discotecas ainda predominaram (e muito) ao redor do mundo. Mas as previsões estavam certas e em 1980 a disco já cheirava à nostalgia.
Lamentavelmente, a grande maioria dos artistas disco se tornaram anônimos assim que a coisa toda foi decaindo, por volta de 1980/81. Grupos e cantores que cantaram estrondosos hits dançantes de sucesso internacional, como Roberta Kelly (Zodiacs, I’m Sagitarius), Gloria Gaynor (I Will Survive, Never Can Say Goodbye), Chic (Everybody Dance, Le Freak), K.C. & The Sunshine Band (Shake Your Booty, That’s The Way I Like It), Village People (Y.M.C.A., Macho Man), Santa Esmeralda (Don’t Let Me Be Misunderstood, The House Of Rising Sun), Boney M. (Ma Baker, Rivers Of Babylon), Kool & The Gang (Celebration, Ladie’s Night), Sister Sledge (We Are Family, He’s The Greatest Dancer), Tina Charles (I Love To Love, Dance Little Lady Dance), Peaches & Herb (Shake Your Groove Thing, Reunited), Silver Convention (Save Me, Fly Robin Fly) e uma infinidade de outros não passam hoje de incógnitas para as novas gerações. Alguns ainda são lembrados e conseguem manter certo prestígio junto ao mundo da música, como os Bee Gees (Stayin’ Alive, Night Fever), Donna Summer (I Feel Love, Hot Stuff), e o ABBA (Dancing Queen, Voulez-Vous, embora o ABBA não seja um grupo propriamente disco). Outros são lembrados por hits indefectíveis, como o Village People (Y.M.C.A. continua sendo obrigatoriamente tocada nas mais diversas ocasiões ao redor do mundo).
A verdade é que todo mundo já ouviu uma música de discoteca daquela época, mesmo que não saiba o nome ou qual grupo/cantor a cante. Muitos ouvem disco music e não sabem nem o que estão ouvindo, principalmente os jovens, que bóiam na alienação da geração de hoje. Pode-se ouvir samples de várias canções disco nas músicas de Gabriel O Pensador, Lulu Santos, Maurício Manieri, Fat Family e vários outros grupos e cantores brasileiros. [Para os desinformados de plantão, samples são trechos instrumentais ou melódicos retirados de uma música e colocados em outra, remixada ou não, com letra diferente e arranjos modificados. Coisa muito comum hoje em dia, diga-se de passagem.]
Ao contrário do que muita gente atualmente pensa, disco music não é só aquele tipo de música que faz a alegria de drag queens e afins (sem preconceito). Aliás, essa referência se tornou meio "pejorativa" para um movimento que marcou toda uma época. (Tudo por causa do filme "Priscilla, A Rainha do Deserto"...). O "pejorativa" nem se deve às drag queens, mas sim ao tom limitado com que alguns (críticos em especial) enxergam a disco hoje.
Admita, você já se pegou cantarolando uma canção disco enquanto acompanhava o flashback do rádio, o som do seu vizinho ou até mesmo no som da sua própria casa!