INTRODUÇÃO



A década de 70 sucedeu a de 60 do mesmo modo que depois da excitação vem o cansaço e assim como a vanguarda, pode acabar no consumo. Uma quis ser, e foi, rebelde, vanguardista. A outra, em lugar de negar, preferiu assimilar e procurou afirmar a arte.

Cansado do tumulto dos anos 60, o homem deixou em grande parte de se preocupar com os outros, de tal maneira que a década de 70 foi chamada, meio ironicamente, de "década do eu".

Na verdade, parece que as pessoas da década de 70 procuraram fazer tudo sozinhas. Correram solitariamente. Ouviram som a sós, usando "alto-falantes" (fones) de ouvido, os egoístas. Reuniram-se aos milhares nas discotecas para se contorcerem na dança, mas cada um por si. Depois da frustração dos anos 60, quando perseguiram a sociedade utópica, os indivíduos procuraram investir em si - física, psíquica e emocionalmente. Cultivaram a mente, curtiram o corpo, condenaram o cigarro, comeram comida natural e voltaram-se para a serenidade da sabedoria oriental.

Faça amor, não faça guerra

É verdade que não houve nomes-síntese (como os Beatles, por exemplo) que pudessem constituir sozinhos uma tendência ou determinar o gosto da época. Mas, em compensação, todos os caminhos foram explorados e o sucesso foi o objetivo de todos. Por isso a década chegou a ser comparada a um bazar - onde quem não teve competência para vender, não se estabeleceu.

Os jovens da década de 70 preferiram usar o corpo, ao contrário de seus antecessores, que usaram o som e a voz. Em terra, no mar ou no ar, o movimento corporal, ou os "embalos", foi a mais evidente forma de expressão da juventude dos anos 70.

Mexendo-se, os jovens comunicaram sua alegria e curtiram - um verbo que a década inventou para indicar o prazer gratuito. E adotaram como moda o que pudesse exercitar o corpo: patins, skate, asa delta e windsurf. A mais frenética foi a "travoltecomania", lançada por John Travolta no filme Os Embalos de Sábado à Noite, a história de um balconista suburbano, o próprio Travolta, que depois de seis dias exaustivos de trabalho atrás do balcão vira rei quando entra na pista para dançar.

John Travolta

O filme foi visto por mais de 20 milhões (só na década de 70), estimulou uma febre de discotecas em todo o mundo e quando, já no final da década, a moda declinava no Ocidente, aconteceu o impossível: a União Soviética, que resistiu ao rock, começa os anos 80 importando "travoltecomania". Para os Jogos Olímpicos de Moscou, foram instaladas 400 discotecas e distribuídas dezenas de cópias do filme de John Travolta. Poucas vezes uma onda musical atingiu tantos países, criando pela primeira vez, ainda que de forma passageira, o som universal.

Se é correta a crença de que a dança é uma alegoria das relações sexuais de uma época, a década de 70 deixou essa imagem: a mulher livre embalando o próprio corpo; o homem, que sempre a conduziu, contorcendo-se em gestos que no passado eram tradicionalmente femininos.




Prossiga agora com sua viagem aos anos 70



1