Um dos gêneros mais procurados nas locadoras durante a década de 80 foi o suspense, principalmente aqueles filmes que mostram o dito terror fantástico. Casas mal-assombradas, vampiros, lobisomens, zumbis, monstros do espaço, demônios reencarnados ou "simplesmente" assassinos psicopatas fazem parte de uma estranha galeria de personagens que todos os dias entravam (ou ainda entram) em milhares de salas de visita.
O filme "Pânico" (Scream, 1997), do veterano no gênero Wes Craven, ressuscitou o tema do psicopata que rodeia um grupo de estudantes, esquecido há uma década. Mas o novo terror dos anos 90 não tem nada que lembre as produções trash dos anos 80. Pelo contrário; há efeitos e maquiagem de primeira, atores conhecidos e na maioria das vezes talentosos (geralmente carinhas fáceis da TV americana), embora a fórmula original seja a mesma dos filmes de terror teen dos anos 80. A diferença é que agora há mais recursos e um mercado mais exigente.
No caso do surpreendentemente bem sucedido "Pânico", o filme gerou até uma continuação e originou uma série de similares, todos parecidíssimos. É uma diversão tensa e angustiante, mas que tem fãs ardorosos entre o público de vídeo.
Mas "Pânico" é um caso à parte. O que interessa mesmo é esse extraordinário fenômeno de algumas pessoas, ou melhor, muitas pessoas (mais do que você imagina) aparentemente normais cultuarem deliberadamente os piores filmes do mundo (que não é o caso de "Pânico"), um fenômeno que se espalhou com tanta força pelo mundo que alguns filmes passaram a ser feitos especialmente para esse mercado. Um ótimo exemplo são os filmes que eram apresentados por José Mojica Marins, o "Zé do Caixão", no extinto Cine Trash, da Rede Bandeirantes. Filmes ruins por opção, como os infames "O Ataque dos Tomates Assassinos" (1980) e "O Ataque dos Vermes Malditos" (1990). O curioso é que alguns desses filmes, de tão ruins, viraram até clássicos, como aconteceu com "O Massacre da Serra Elétrica" (The Texas Chainsaw Massacre, 1974), de Tobe Hooper.
Entre os filmes fantásticos mais procurados nas locadoras, a grande maioria pertence à chamada "produção B", filmes de baixo orçamento que utilizam linguagem televisiva, elenco geralmente desconhecido e pouco convincente, onde o malfeito faz parte da própria curtição que o público espera. Ou seja, há uma tendência do público em misturar o susto com o riso, dando espaço ao surgimento do humor negro. E "Pânico" brinca justamente com isso, talvez por esse motivo (somado ao elenco de jovens talentos) o filme tenha acertado no ponto.
Como tudo na vida, os bad movies também têm seu lado bom, especialmente no terror, gênero em que um diretor ansioso por novas experiências pode fazer de tudo.
Pelo menos dois filmes merecem citação como exemplos de talento no mundo do "quanto pior, melhor". Um é "A Morte do Demônio" (The Evil Dead, 1983), de Sam Raimi. Os atores são péssimos, a direção de arte inexistente, a história ridícula e os diálogos canhestros. Mas a montagem, os movimentos de câmera, todo o ritmo do filme foi inovador e mostra o extraordinário domínio do espaço por esse cineasta que é hoje um dos melhores da novíssima geração americana.
Outro filme (e esse não há quem não conheça) é "Sexta-Feira 13" (Friday The 13th, 1980), de Sean Cunningham, que acabou gerando uma série de intermináveis continuações, transformando o psicopata Jason no herói americano dos anos 80. A cada filme da série decai a qualidade, mas o sucesso de público continua. Tudo porque os sustos já são conhecidos e o riso nervoso passa a ser rotineiro. O mesmo aconteceu com a série "A Hora do Pesadelo" (A Nightmare On Elm Street, 1984), do mesmo diretor de "Pânico" que, aliás, foi um dos precursores do gênero sangue-e-tripas. A filmografia de Wes Craven é extensa, incluindo cássicos trash como "Aniversário Macabro", "Quadrilha de Sádicos" e "A Maldição dos Mortos-Vivos".
Entretanto, o mais lírico dos bad movies, verdadeira obra-prima, é "O Abominável Doutor Phibes", dirigido por Robert Fuest. O filme mostra o admirável Vincent Price no papel de um homem amargurado pela morte da mulher por erro médico. Um a um ele mata cada um dos doutores...
Verdade seja dita: com maior ou menor talento, o cinema aprendeu a brincar com a morte - um tema importante demais para ser levado a sério. Talvez aí esteja o grande carisma dos filmes de terror, que não deixam de ser uma das melhores válvulas de escape.
É bom deixar claro que a lista dos trash movies (ou filmes B) não se limita aos citados aqui. Há centenas de títulos à disposição nas locadoras e alguns (infelizmente) apenas na TV. Bom susto!Abaixo está uma relação (em ordem cronológica) de filmes de terror/suspense, que inclui tanto psicopatas de carne e osso quanto fantasmas, almas penadas, monstros e similares. Nem todos são filmes B; de fato, há obras-primas imperdíveis e trash movies duvidosos. Vale lembrar que vários deles têm continuações nem sempre dignas de serem vistas, mas, em todo caso, para quem gosta, até que o esforço é válido...
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