O mini-curso apresentará sucintamente a história dos sistemas de classificação, a partir do idealismo platônico (base conceitual para se entender as idéias aristotélicas). A lógica e as classificações dicotômicas de Aristóteles, o pai da zoologia, tiveram grande impacto no pensamento biológico por séculos, influenciando a taxonomia pré-lineana e o próprio Linnaeus. O sistema binomial lineano – através do qual cada espécie recebe dois nomes latinizados, um para o gênero ao qual pertence e um complemento específico – passa a ser uma convenção a partir da 10a edição do seu Sistema Naturae e é amplamente utilizado em toda a biologia até os dias de hoje. As conjecturas evolutivas de Jean-Baptiste Lamarck e mais precisamente a teoria da evolução de Charles Darwin e Alfred Wallace, centrada na descendência com modificação dos organismos e na idéia de ancestralidade comum, contrariam a classificação fixista e tipológica de Linnaeus sem sugerir, no entanto, um sistema classificatório alternativo.

Durante o século XX, conceitos de paleontologia e genética foram fundidos à teoria clássica da evolução, que procurava explicar a origem de novas espécies a partir da seleção natural sobre variedades pré-existentes, no que ficou conhecido como teoria sintética da evolução. Também serão consideradas as principais idéias dos proponentes da teoria sintética: Ronald Fischer, J. Haldane, Sewal Wright, Ernest Mayr e Theodosius Dobzhansky.

Partindo da estrutura conceitual da teoria da evolução, o mini-curso tratará das diferentes escolas da sistemática, tendo como foco a filogenética ou cladística – em detrimento da fenética ou taxonomia numérica –, segundo a qual hipóteses sobre as relações de parentesco entre os táxons são estabelecidas a partir de um conjunto de homologias primárias. A importância do entomólogo Willi Hennig (foto) para a classificação biológica atual será ressaltada, bem como da sua idéia de que agrupamentos taxonômicos refletem a história filogenética das espécies consideradas. As bases para a análise filogenética serão comentadas: o estabelecimento de homologias primária e secundária, caracteres apomórficos e plesiomórficos, definição de grupos monofiléticos e parafiléticos, a escolha de grupos externos, a construção de matrizes de dados, diferenças entre análises de dados morfológicos e moleculares, critério de parcimônia, consenso, evidência total, etc.

A importância da análise computacional para a sistemática filogenética será enfatizada (demonstrando a aplicação prática dos conceitos via PAUP*), através da comparação de diferentes metodologias e formas de codificação dos caracteres. A literatura recente sobre filogenia de Insecta, baseada em dados morfológicos, moleculares e de evidência total, será discutida.

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