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Arquivo de atualizações Imprensa CE - Julho/2006

ATUALIZAÇÃO N.º 325 - 03/07/2.006

PUXADA – Semana passada a TV União deu uma violenta puxada de saco na desembargadora Dulcina Palhano, nova presidente do Tribunal Regional do Trabalho – 7ª Região. Uma longa matéria levantando a bola da magistrada foi exaustivamente veiculada, sobre a solenidade de posse da presidente do TRT, com uma sonora. Com direito, ainda, a uma puxada de saco também feita pelo advogado Fernando Férrer.

PUXADA – Fernando Férrer é figurinha fácil nas colunas sociais impressas e eletrônicas locais, sendo também advogado da emissora nas questões trabalhistas. Também responde a inquérito por fraude, ao adulterar manualmente os autos de um processo trabalhista na qual figurava como patrono da reclamada. Tentou ser esperto, cometeu o crime e foi flagrado pelo juiz trabalhista.

PUXADA – Evidentemente não se está questionando a honorabilidade da desembargadora Dulcina, mas esse tipo de atitude realizada pela emissora é típico dos que tentam uma forma de “amarrar” uma autoridade na qual têm algum tipo de interesse escuso. A segunda intenção da emissora é ver se consegue algum tipo de benesse nas ações trabalhistas que possui contra si. Ação inócua, pois um magistrado dificilmente vai arriscar a incolumidade de sua correção por causa de uma puxada de saco gratuita.

INTIMIDADE – Mostrando total intimidade – com o personagem, não com o mundo do futebol – o “apresentador” da TV União, Daniel Viana, ao ler uma notícia copiada da Internet chamou o zagueiro da seleção francesa Lílian Thuran pelo primeiro nome, quando o jogador é conhecido mundialmente pelo segundo. Pelo visto o moço não apenas não tem intimidade com o mundo da bola, mas também não assistiu nenhuma partida do time francês na Copa do Mundo. Talvez, quem sabe, tenha visto a partida na qual o time colorido mandou a canarinha de volta para casa mais cedo.

DIFERENTE – Os jornais locais tiveram abordagens bem distintas quanto ao episódio no qual está sendo investigado o jornalista Abílio Gurgel, segundo a Polícia suspeito de ter sido o autor do atropelamento de um grupo de pessoas na rua Barão de Aratanha, no Centro, ocorrido no dia 04/06, que resultou na morte do estudante Antônio Hédio de Alencar Neto, além de seqüelas em outra vítima. O jornal O Povo não citou o nome do jornalista, afirmando que ele não foi preso em flagrante nem indiciado criminalmente.

DIFERENTE – O Diário do Nordeste – onde o suspeito trabalha – adversamente, citou o nome do jornalista. Publicou O Povo: “Não há provas concretas, contudo, que indiquem que o jornalista estivesse ao volante no momento do atropelamento. ‘Ele pode ter dirigido o Celta naquela noite ou pode ter emprestado o carro pra alguém. Estamos investigando para saber quem foi a pessoa que atropelou aqueles jovens’, ressaltou”. Mais na frente há grafado o seguinte: “Para o delegado, o atropelamento tem todas as características de um homicídio doloso (com intenção da matar), uma vez que o motorista teria usado o Celta como um instrumento para provocar a morte do estudante”.

DIFERENTE – Caso o titular do 34º DP, Romério de Almeida, indicie o jornalista por homicídio doloso, com pena de seis a vinte anos de reclusão, mas pode ainda aplicar alguma qualificadora, que aumentaria a pena de doze a trinta anos. Além do mais, também poderá indiciar o autor do crime por lesão corporal de natureza grave, cuja pena é também de reclusão, variando de dois a oito anos, já que outra vítima ficou com graves seqüelas. Segundo o publicado pelo jornal O Povo, “um pedido de prisão só poderá ser feito quando o resultado do exame cadavérico da vítima for concluído e anexado ao inquérito policial”.

DIFERENTE – O Diário do Nordeste abriu a matéria sobre o assunto com o seguinte lide: “O delegado Romério Moreira de Almeida, titular do 34º Distrito Policial (Delegacia Central) afirmou, ontem, que irá solicitar a prisão temporária do jornalista Abílio Gurgel Nogueira. Ele é o proprietário do Celta de cor prata, placa HYB-0750, identificado como sendo o veículo que atropelou um grupo de pessoas (...) No atropelamento, o jovem Hédio de Alencar Neto, 21 anos, foi gravemente ferido e faleceu dias depois no Instituto José Frota (IJF). Danielle Almeida Nascimento dos Santos, de 30, também ferida no atropelamento, ficou com seqüelas na visão e ainda não se recuperou do trauma”.

DIFERENTE – É preciso ter prudência não apenas com esse fato e também não apenas pelo fato de tratar-se de um profissional de imprensa, mas com todos os casos similares, o que, infelizmente, não tem sido a tônica da mídia local. Ainda não há indícios ou provas de que o jornalista estivesse no volante do carro quando do fato, mas se o delegado Romério está interpretando que está havendo uma tentativa de obstaculização das investigações por parte do suspeito, não tem alternativa senão a de solicitar à Justiça a decretação de sua custódia preventiva.

DIFERENTE – Um dos pontos confusos diz respeito ao que o jornalista teria declarado em seu depoimento á Polícia: “Em depoimento à Polícia, o jornalista disse que o carro dele foi furtado por volta das 20 horas do dia 4 de junho, na rua Assunção, no Centro. O fato só foi descoberto por ele, contudo, às 23 horas. De acordo com a sua versão, ele teria caminhado pela avenida Domingos Olímpio em direção à casa de um amigo, na rua Rodrigues Júnior. No trajeto, o carro foi encontrado, já danificado, em uma rua secundária paralela à avenida Aguanambi. Como tinha uma chave reserva, ele pôde sair dirigindo.O furto só foi comunicado à Polícia na tarde do dia seguinte, no 26º Distrito Policial (Edson Queiroz)”. Esse ponto é tido pelo presidente do inquérito como contraditório, pois se o jornalista havia se locomovido ao cinema com seu carro e alegou que este havia sido furtado, para quê chave reserva?

DIFERENTE – Os moradores do local onde ocorreu o fato são enfáticos em afirmar que o veículo atropelou o grupo que conversava após uma cerimônia de coroação de Nossa Senhora de maneira intencional. Pode ser fruto do calor da emoção, mas também a expressão da verdade. A Polícia tem duas perguntas para responder: quem estava no volante do carro e se foi um crime culposo ou doloso. Mas o mais intrigante é saber porquê apenas vinte e sete dias depois do fato o assunto ganhou a mídia. A Polícia já tinha a identificação do veículo e do principal suspeito há um bom tempo, agiu de maneira rápida e eficiente, mas somente após esse hiato de tempo o assunto foi divulgado.

FORA – Os profissionais e falsos da imprensa local que almejam alcançar cargo nas eleições desse ano afastaram-se de suas funções, por força da Lei Eleitoral, semana passada. O problema é que na maioria das vezes a emenda ficou pior que o soneto. Não se sabe se os afastados são piores do que seus substitutos e vice-versa.

SIMILAR – A TV Diário investiu na ação para reabilitar o padre Cícero. Apoiou campanha, enviou equipe para acompanhar a entrega de documentos no Vaticano, evento aproveitado até pelo governador Lúcio Alcântara, que viajou para a sede do estado católico em busca de dividendos eleitorais por aqui. A emissora, infelizmente, apenas buscou, a exemplo do chefe do Executivo cearense, retorno com essa ação. Em nenhum momento preocupou-se em abrir uma discussão séria e imparcial sobre o religioso, sua história e atuação.

SIMILAR – A história do religioso é muito maior do que a exploração religiosa e política que sua memória deixou. Vai desde a forma como atuou incisivamente para escrever a história do Ceará, até sua excomunhão, passando pelo "milagre de Juazeiro", a manipulação que sofria do deputado baiano Floro Bartolomeu e a doação de terras para a instalação da comunidade Caldeirão de Santa Rita. Mas a TV Diário preocupou-se apenas com a exploração religiosa. Agiu de maneira similar dos que até hoje utilizam a figura do religioso como forma de contemplar interesses próprios.

CONFUNDINDO – Até quando o procurador do Estado, Wagner Barreira Filho, vai continuar agindo como se fosse advogado do governador Lúcio Alcântara? Ou será que ele não sabe que o contribuinte paga seu salário para que cuide dos interesses do Estado? A última foi a defesa do governador pelo fato do Ministério Público Eleitoral ter questionado a legalidade dos adesivos que desfilam há meses nos carros, com a inscrição "Tô com Lúcio", numa propaganda eleitoral ilegal. Wagner portou-se mais uma vez como um advogado do governador.

DISTORÇÃO – Muitos programas das TV locais têm como patrocinadores remédios, que vão desde os que prometem emagrecimento à cura de varizes. Esse tipo de prática excede a simples relação anunciante/mídia e configura estímulo à automedicação. Muitos dos remédios, embora se apresentem como inofensivos e o reclame sempre vir acompanhado do lembrete obrigatório por lei, de que o médico deve ser procurado em caso de persistência dos sintomas, o correto seria os meios de comunicação de massa não incentivar a essa prática de automedicação, que pode ser bastante perigosa.

DISTORÇÃO – A função da mídia deve ser de ressaltar que medicamento nenhum deve ser tomado sem orientação médica prévia. Cada pessoa reage de maneira diferente a um mesmo medicamento e somente um médico pode diagnosticar que tipo de enfermidade o cidadão possui e qual o remédio indicado. Até porquê se algum telespectador sofrer algum tipo de prejuízo à saúde, a emissora pode ser acionada judicialmente, solidariamente com o fabricante.

DISTORÇÃO – Evidentemente a empresa farmacêutica tem se mostrado um bom anunciante para os veículos de comunicação, mas estes, embora inseridos numa realidade capitalista, não podem sobrepujar a conveniência financeira à função social, institucional e legal que têm. O Ministério Público também não pode ficar alheio a esse fato.

SIM, E AÍ? – Afinal, quem matou o morador da comunidade Rosalina, morto a tiro durante ação de desocupação de um terreno, onde houve confronto entre moradores, guardas municipais e policiais militares? Até o momento não se tem notícia do resultado do exame de balística das armas apreendidas pela Polícia Civil, portadas pelos policiais militares e, ilegalmente, pelos guardas municipais no conflito. Também não se tem notícia do resultado do exame residuográfico de pólvora na mão dos guardas e policiais que estiveram na ação. A mídia local vem se mantendo num silêncio sepulcral sobre o fato.

SIM, E AÍ? – O empresário Flávio Carneiro, que assassinou a tiros sua ex-esposa, Ethel Angert, durante a execução de uma ação de despejo de uma das lojas Tok Discos, em dezembro de 1992, vai ou não sentar no banco dos réus pelo crime que cometeu? Ou vai continuar livre, solto e aparecendo em colunas sociais eletrônicas e impressas?

SIM, E AÍ? – A CPI dos grupos de extermínio, instalada pela Assembléia Legislativa, vai ou não enviar documentos, provas e depoimentos coletados sobre o imbróglio envolvendo as empresas de carnicicultura Procapuí e Iglomar, pertencente ao empresário Mike Layani e geridas pela advogada Eunice Leal, para a Procuradoria da República no Ceará, para a instauração do competente procedimento administrativo?

PARA REFLETIR – "Não faças do amanhã o sinônimo de nunca, nem o ontem te seja o mesmo que nunca mais. Teus passos ficaram. Olhes para trás ... mas vá em frente pois há muitos que precisam que chegues para poderem seguir-te." (Charles Spencer Chaplin)

 

 

 

ATUALIZAÇÃO N.º 326 - 10/07/2.006

TV PIRATA – O internauta Pedralva Pereira <pedra_pereira@yahoo.com.br> nos enviou uma mensagem com uma pertinente observação, sobre o comportamento da TV Diário durante a Copa do Mundo, disputada na Alemanha. Pedralva nomeou de “TV Pirata” a emissora, depois que houve a veiculação de imagens da Globo e da SportTV, colocando o logo da TV Diário para encobrir o logo da SporTV.

TV PIRATA – As imagens eram veiculadas no programa Diário na Copa. Com efeito, a Globo detinha os direitos de transmissão para o Brasil da Copa do Mundo. A SporTV é uma subsidiária da Globo. A rede de televisão cedia as imagens dos jogos da Copa para as demais emissoras, mas sempre com a condição de que houvesse menção dessa cessão e a manutenção do logo. A TV Diário nem isso fez: nem inventou que as imagens tinham sido cedidas, tampouco manteve o logo das emissoras das quais “pegou” as imagens.

TV PIRATA – A TV Diário integra o Sistema Verdes Mares de Comunicação, no qual também está inserida a TV Verdes Mares, afiliada da Globo no Estado. Ocorre que a liberação da utilização das imagens pela rede se deu somente para as afiliadas, e, dessa forma, apenas a TVM poderia utilizá-las, como usou. Mesmo pertencendo ao mesmo grupo empresarial, a TV Diário não tinha autorização para veicular as imagens dos jogos da Copa, e como não mencionou que as imagens haviam sido cedidas pela Globo, houve o ilícito.

TV PIRATA – Caso a apropriação tivesse ocorrido por outra emissora, como a Jangadeiro, Cidade, o SVM iria ficar omisso? Certamente iria haver algum tipo de atitude.  As demais emissoras não mostraram imagens dos jogos da Copa e houve até quem evitasse mostrar as imagens em telões nas matérias exibidas sobre a torcida por aqui. Com efeito, houve uma situação de constrangimento causada pela TV Diário, através dessa atuação como TV Pirata.

TV PIRATA – Além desse fato, houve o fato do desvirtuamento do programa Diário na Copa. O programa passou a ser utilizado para bajulação e exposição do ego dos mais variados matizes. Houve um desfile de “experts” em futebol comentando os jogos do Brasil no programa, tais como Tim Gomes (PHS) – presidente da Câmara Municipal de Fortaleza – e o deputado estadual Gony Arruda (PSDB), primeiro secretário da Assembléia –. Qualquer semelhança com propaganda eleitoral irregular não é mera coincidência, também com a satisfação pessoal de interesses de quem comanda a emissora.

SINAL – Falando em TV Diário e Globo, rumores dão conta de que um acerto foi firmado entre a emissora local e a rede carioca para que o sinal da primeira continue sendo transmitido por satélite. A Globo estava pressionando o Sistema Verdes Mares para que fosse retirado o sinal da TV Diário, até com a possibilidade de trocar de afiliada. Pelo que se sabe, o acerto foi financeiro e, em vez dos 30% do faturamento da TV Verdes Mares que hoje mensalmente recolhe, a Globo agora ficará com 50%.

SINAL – Trata-se de uma aposta arriscada, pois o SVM não sabe se a sangria no faturamento será recompensada pela TV Diário. Pelo quadro atual, não há essa compensação, mas o SVM ainda aposta que a emissora local se consolide e passe a valer o investimento.

POPULISTA – Existe uma diferença entre popular e populista. A TV União vem exibindo matérias eminentemente de cunho populistas. O apelo pode ser fácil, mas não há nenhum tipo de consistência no conteúdo. A emissora vem abordando assuntos complexos de maneira nada responsável. Nem mesmo com a delicada questão do provável veto presidencial ao reajuste de 16% aos aposentados e pensionistas do INSS que ganham acima de um salário mínimo foi diferente. Colocou a versão da associação dos aposentados, de alguns beneficiários, mas não ouviu ninguém da área governamental, tampouco informou se tentou ouvir e não conseguiu. Isso não é fazer jornalismo, é ser parcial.

DEPOIMENTO – A CPI dos grupos de extermínios, instalada pela Assembléia Legislativa, afinal, vai ou não tomar o depoimento do empresário Carlos Leite? Ele é peça fundamental em todo o episódio que culminou com a denúncia do procurador da República Oscar Costa Filho. Primeiro, Carlos surgiu como denunciador de um esquema para eliminar figuras conhecidas locais, dentre elas o próprio procurador, que o apresentou como tendo sido procurado por pistoleiros que teriam se oferecido para executá-lo.

DEPOIMENTO – Em seguida, houve uma inversão: ambos passaram a se acusar de terem armado situações. Seja como for, não há interligação entre o suposto esquema denunciado pelo procurador com o investigado pela Polícia Federal, que tem como principais personagens o major PM Ernani Castro e o empresário Deusmar Queiroz, dono da rede de farmácias Pague Menos. A CPI vai poder começar a investigar mais a fundo como as gravações feitas pela PF, com autorização judicial, foram parar nas mãos da mídia.

DEPOIMENTO – O deputado estadual Pedro Uchoa (PSL) acusou o procurador de ter sido o autor do vazamento das gravações feitas nas investigações, que tiveram segredo decretado pela Justiça. A filha do deputado, a promotora de Justiça estadual Marília Uchoa também acusou Oscar de ter sido o responsável pelo vazamento. Com a oitiva de Carlos Leite, essas questões poderão ser esclarecidas.

DECEPÇÃO – O patrono do empresário Mike Layani, no imbróglio envolvendo a Procapuí, na CPI dos grupos de extermínio, José Augusto Neto, inadvertidamente deixou escapar, para pessoas do seu convívio em Icapuí, que a história de seu cliente é, segundo suas palavras, “obscura e mal contada”. Nem o próprio defensor do empresário tem convicção da história por ele contada.

FINALMENTE – Depois de 13 anos, finalmente, o empresário Flávio Carneiro vai se sentar no banco dos réus para ser julgado pelo assassinato de sua ex-esposa, Ethel Angert, morta a tiros durante uma execução de ação de despejo, numa das lojas da empresa Tok Discos. Flávio deixará de ter seu nome e imagem veiculados nas colunas sociais para ocupar espaço no lugar onde é devido: editoria de polícia. O empresário vai ser julgado por homicídio duplamente qualificado e conseguiu livrar-se de ir a júri por ações de seus advogados, chefiados por Paulo Quezado, mas finalmente vai poder prestar contas com a Justiça pelo ato que cometeu. A empresária não tem familiares no Estado e as filhas do casal encontram-se sob a guarda do pai, mesmo tendo sido ele o autor do crime no qual a vida da esposa/mãe foi ceifada.

OCULTO – Mais uma vez a mídia local omitiu o nome de um shopping onde aconteceu um crime passional. No dia 04/07, o veterinário Márcio Alves matou a golpes de arma branca sua ex-esposa, a funcionária da UFC Célia Marilac de Oliveira, com a qual foi casado por 16 anos. Todos os jornais locais – incluindo, claro e evidentemente, O Estado – optaram por omitir o nome do shopping onde o crime havia sido praticado, o Shopping Benfica. Os programas policiais de TV também omitiram o nome do shopping.

OCULTO – O jornal O Povo omitiu o nome do shopping, mas não teve nenhum problema em publicar o seguinte: “Na Delegacia de Defesa da Mulher, o veterinário alegou que agiu em legítima defesa, pois estaria sendo perseguido pelo amante dela, um médico. Para as delegadas Rena Gomes e Bianca de Oliveira, o depoimento do acusado é confuso, contraditório e propenso a fantasioso. Segundo o veterinário, o médico faz parte de um grande esquema de lavagem de dinheiro e tráfico de drogas e queria matá-lo como forma de acelerar uma união oficial com Célia Marilac, pois o divórcio é um processo demorado”. O jornal não tinha nenhuma comprovação das acusações feitas pelo homicida, sequer utilizou a expressão “suposto amante”. Mas considerou mais importante resguardar a identidade do shopping do que a imagem da vítima.

OCULTO – Embora a alegação seja sempre de que a omissão se dê para preservar a imagem da empresa que não tem culpa de um crime ser praticado em suas dependências, há claramente parâmetros distintos em situações idênticas. O jornal O Povo, por exemplo, não omite o nome dos Correios quando há assalto em suas agências. Pode-se, ainda, ressaltar tratar-se de uma empresa pública. Ora, empresa pública de direito privado, com práticas comerciais similares às empresas privadas. Mas sempre são utilizados dois pesos e duas medidas. Simples: shoppings têm inúmeras lojas que são anunciantes das empresas de comunicação, além do próprio shopping.

PÉROLA – Quando o espaço é grande e o assunto pouco, o velho e bom “nariz de cera” é um convite para que besteira seja escrita e lingüiça seja cheia. Essa foi publicada no jornal O Povo, sobre uma promoção do dia dos namorados: “Ganhadores da promoção Fotopovo Dia dos Namorados, três casais puderam comemorar a data ontem à noite com um jantar no restaurante Butik in, situado à rua Joaquim Siqueira, 42. Os advogados Paulo Firmeza Soares, 23, e Ana Valeska Valentim, 23, namorados; o engenheiro Fernando Bacelar, 33, e a arquiteta Ana Carolina Bacelar, 29 (foto), casados há quase cinco anos e com uma filha de 10 meses; e os professores Daniel Damasceno Floquet, 22, que ensina português, e Camila Carmo Santos, que ensina inglês, namorados que já moram juntos, foram os vencedores. Surpresos com o prêmio, eles foram unânimes em dizer que estavam muito felizes”. Por acaso estariam muito tristes jantando “na faixa”, com suas respectivas caras-metade numa data tão especial?

PROJETO – A insensibilidade do líder do governo na Assembléia, Adahil Barreto (PSDB), quase pôs fim a um projeto indicativo de lei apresentado pelo delegado Cavalcante (PSDB), que recomenda ao governo conceder insenção de taxa nos concursos públicos realizados pelo Estado aos estudantes oriundos da rede pública. Relator da matéria na Comissão de Constituição e Justiça, Adahil posicionou-se contrário à proposta. Descontente com a atitude de seu colega de partido, Cavalcante interpôs recurso do parecer contrário ao plenário.

PROJETO – Adahil posicionou-se contrário à admissibilidade do projeto porquê sabe que os concursos públicos são uma fonte de arrecadação alternativa para o governo estadual. Basta que seja anunciado a realização de um, uma multidão de pessoas corre para se inscrever, pagando uma elevada e injustificável taxa. A inscrição de todo concurso público teria que ser gratuita, pois a cobrança de taxa fere o princípio da isonomia entre os cidadãos. Só pode concorrer às vagas no serviço público quem tiver dinheiro para inscrever-se nos concursos, ou resolva doar sangue em busca dessa isenção, num escambo vergonhoso. Como se não bastassem as fraudes que quase sempre permeiam esses concursos. Constrangido por sua posição insustentável – mas em consonância com os interesses do governo do Estado – num ano eleitoral, Adahil concordou em desconsiderar seu parecer e deixar que o projeto tramitasse nas comissões técnicas.

FM – Depois da TV Assembléia, o Legislativo Estadual anuncia a implantação de uma emissora de rádio FM. O problema é que o presidente do Poder, Marcos Cals (PSDB), é inimigo número um de concurso público. Utilizou a emissora de TV para lotear os cargos ao seu bel prazer, muito provavelmente fará o mesmo com a emissora de rádio. Em vez de ficar fazendo arranjos para preencher os cargos Marcos Cals teria que fazer o que determina a lei: contratação via concurso público. Aliás, concurso público é algo que nem Assembléia nem Câmara Municipal de Fortaleza gostam de fazer. Nem se tem notícia de algum promovido pelos dois poderes.

FM – No Legislativo Municipal a emissora de TV também funciona na base dos cargos comissionados. Em ambos casos o serviço é executado por empresas prestadoras de serviço, cujos contratos e licitação teria que ser revista pelos próprios parlamentares e pelo TCE e TCM. O problema é que fatalmente essa nova emissora de rádio funcionará da mesma forma como as emissoras de TV da Assembléia e da Câmara Municipal: um instrumento de promoção dos parlamentares custeado com o dinheiro do contribuinte.

PARA REFLETIR – “A vida não é uma pergunta a ser respondida. É um mistério a ser vivido”. (Buda)

 

 

 

 

ATUALIZAÇÃO N.º 327 - 17/07/2.006

SUPERFICIAL – Os meios de comunicação locais têm direcionado suas matérias jornalísticas para um superficialismo que tem provocado danos graves, não apenas à credibilidade, mas à própria sociedade. As matérias jornalísticas hodiernamente têm eminentemente um caráter de registro, com as fundamentais funções investigativa e pedagógica relegadas a um segundo plano. A tendência tem diversas justificativas por parte de empresas e profissionais de imprensa, que vão desde opção editorial – equivocada – a falta de material humano, seja de quantidade ou de qualidade.

SUPERFICIAL – Como exemplo, semana passada alguns veículos de comunicação exibiram matérias sobre entrega de carteiras de estudante pela Ettusa, ressaltando que muitos estudantes ainda se encontram sem o documento e o sacrifício de pagar passagem inteira, sem poderem gozar do direito de 50% de abatimento no preço da tarifa, garantido por lei. Ora, as matérias não poderiam apenas se restringir a um mero instrumento de registro da situação.

SUPERFICIAL – Além do registro a mídia deveria, também, ter informado aos estudantes e seus responsáveis que têm o direito de intentarem ação de ressarcimento contra as entidades estudantis, a Ettusa e a Prefeitura de Fortaleza, pelos gastos adicionais que estão tendo em decorrência da não entrega do documento. Quem sabe se as ações começassem a pulular na Vara da Fazenda Pública, os três pilares desse imbróglio não se empenhassem mais em resolver esse problema de maneira rápida para que estudantes, seus pais e responsáveis não continuassem sendo prejudicados.

SUPERFICIAL – Falta à mídia local essa função pedagógica. Seja pelos motivos já citados ou por outros interesses que fogem à seara jornalística e se abancam na pessoal. Em nome dessa prática, jornais impressos muitas vezes funcionam como verdadeiros diários de anotações e programas de TV e telejornais como meras atrações de entretenimento. A função do jornalismo excede isso. E muito. Trata-se, também, de cumprimento da função social dos meios de comunicação, tão bem delineados na Constituição.

CORREIO ELETRÔNICO I – Do nobre internauta ediogenes <ediogenes2000@yahoo.com.br>, recebemos a seguinte mensagem:

Como leitor e divulgado de sua coluna, gostaria de fazer algumas considerações:
 1. NOME DO SHOPPING: Acho que o nome do Shopping foi mantido em segredo, porque o assassinato demonstra que não existe segurança nos shopping, pois as Múmias Paralíticas que fazem o serviço apenas guardam as mercadorias, e são logos acionados pelos fones de ouvido se alguém é suspeito de roubo, ou os sensores da portas tocam. Existe uma conversa nos corredores da UFC, que a Policia chegou logo, mas o socorro demorou muito.

2.CPI do Extermínio: Após ler na sua coluna sobre esta CPI, passei a assistir os momento que são repetidos. Só Falto morrer de ri. Primeiro porque parece não haver um grande interesse na CPI, pois os mais assíduos são somente o Presidente, o Relator, o Cavalcante e o Papai. O Presidente parece nervoso sem a mínima condição de dirigir, está sempre do Lado do Pedro Uchoa, que vive atrapalhando os depoimentos defendendo sua filha (que parece ser inocente). Rio mesmo quando aparece o Vice-Presidente, Cuecão, falando em honestidade e ética. Gosto de assistir para dar risadas, apesar de o caso ser sério.

3. Acho mesmo muito interessante como funcionam estas tevês dos poderes legislativos, não tem um programa como a voz do Povo. Por outro Lado Já não consigo assistir no horário de 18 horas os debates da TV a Cabo. Ligo na TV Fortaleza, tá um Jornalista, vou para Universitária, lá esta a mesma turma, que diabo é isso?

4. Quanto a TV união, acho que ela apresentou uma melhora, pois só apresentava o lado do Governo, tanto que já chamávamos de TV União, jovem de Cara amiga do Cuecão.

Desculpe, estas efêmeras considerações, mas, é chato ser só leitor.
Ediogenes
”.

RESPOSTA – Primeiro o nobre internauta não é só leitor, mas um assíduo contribuinte do sítio, sempre com suas observações pertinentes e de extrema importância. No primeiro tópico, o internauta alerta para um fato importantíssimo, que a mídia local sempre ignora quando há crimes praticados como o retratado, no interior de shoppings centers: a total ausência de segurança nesses estabelecimentos. Nenhum meio de comunicação abriu discussão sobre esse fato, preferindo apenas ater-se ao registro do crime. Com efeito, os tais seguranças – tão bem denominados pelo internauta de “múmias paralíticas” – não fazem trabalho de segurança dos usuários, mas do patrimônio dos lojistas. Infelizmente essa tem sido a tônica dos meios de comunicação locais nos últimos tempos: transformaram-se em meros instrumentos de registro do factual, sem qualquer preocupação de realizar aprofundamento ou fomentar discussões e reflexões. No segundo tópico, não há o que acrescentar ou replicar, mas apenas uma observação: ainda não há decisão judicial de culpa ou inocência de nenhum dos membros do Ministério Público estadual e federal implicados quanto à quebra do sigilo determinado pela Justiça às investigações do chamado grupo de extermínio que seria formado por policiais militares e que teria prestado serviço à rede de farmácias Pague Menos, no caso a promotora de Justiça estadual Marília Uchoa e o procurador da República Oscar Costa Filho. No terceiro tópico, podemos relembrar o que o sítio já afirmou em outras atualizações: as emissoras de parlamentos têm se transformado, infelizmente, em instrumento de promoção pessoal e propaganda política custeado pelo sofrido e extorquido contribuinte. No quarto e último tópico, não se verifica melhora na emissora citada. Caso alguma ampliação ou mudança de enfoque de notícias tenha ocorrido, foi decorrente de mudança de interesse pessoal do proprietário da emissora.

CORREIO ELETRÔNICO II – Do internauta que utilizou o singelo correio eletrônico <jpce@bol.com.br>, recebemos a seguinte mensagem:

Dia 12 de julho, no JORNAL DO MEIO DIA da TV Verdes Mares, eis que surge a matéria ‘Motoristas reclamam da rotatória da avenida Aguanambi’. Entrevistando vários motoristas reclamões que falavam sobre a demora no acesso à rotatória mas sem colocar nenhum técnico que fizesse o contra-argumento, a matéria além de risível só passou a imagem da quantidade de gente amarrada está à solta no trânsito de Fortaleza ao clamar pela instalação de semáforos! Lindo! Como se não bastassem os semáforos na Via Expressa. Por que a matéria não questionou a educação para o trânsito? E a preguiça dos motoristas? E a brabeza dos mesmos que não sabem lidar com a rotatória? Não, nada disso. É melhor colocar semáforos e achar que assim as coisas são resolvidas. Só aqui mesmo”.

RESPOSTA – O ilustre internauta reforçou o que dissemos no comentário anterior: os meios de comunicação locais optam pelo trivial. Utilizam a justificativa de corrida contra o dead line, até mesmo a falta de material humano. Semana passada o jornal O Povo deu mais um exemplo dessa triste corrente jornalística predominante: estampou em matéria sobre as torres construídas pelo governo estadual nas praias, reproduzindo afirmação de um integrante do aparelho policial estatal, de que as ocorrências policiais teriam sido zeradas em virtude das tais torres instaladas. Sem apresentar qualquer estatística, estudo comparativo, dados concretos. O jornal aceitou a afirmação do entrevistado como verdade absoluta. A observação do internauta é extremamente pertinente e podemos acrescentar as matérias exibidas sobre fotossensores e a ação de agentes de trânsito, afirmando que se trata de “indústria de multas”. Ora, fotossensor não multa carro que trafega dentro do limite permitido de velocidade e respeita proibições de conversões, bem como os sinais dos semáforos. Tampouco os agentes de trânsito multarão um motorista que estiver de acordo com o que determina a lei, bem como seu veículo de transporte e se por acaso algum deles desviar sua conduta, existem meios legais de contestação e punição de agentes públicos transgressores.

MÃOZINHA – O jornal Diário do Nordeste resolveu dar uma leve “mãozinha” ao deputado estadual José Nobre Guimarães (PT), que agora ambiciona trocar a cadeira no Legislativo cearense por um assento na Câmara Federal. Publicou em uma matéria sobre a campanha eleitoral, dia 13/07, o seguinte: “José Nobre Guimarães é deputado estadual e postula uma cadeira de deputado federal com o número 1322. As pessoas contratadas para agitar bandeiras e que ontem estavam no cruzamento da Avenida Antônio Sales com Desembargador Moreira não tinham muitas informações sobre o serviço a realizar, até porque era o primeiro dia e a sistemática de trabalho ainda não estava bem definida”. Com direito até ao número do candidato. Não se tratou nem de propaganda subliminar, mas explícita mesmo. Trata-se do "jornalismo de santinho político".

NEOLOGISMO – Ou seria “pérola”? Ou os dois? O jornalista Erick Guimarães não se acanhou em criar um novo verbo, contribuindo com nossa sofrida e mal-tratada língua pátria. Na edição do dia 14/07 do jornal o povo, foi publicada matéria assinada por ele, com o seguinte trecho: “As relações entre empresários e Prefeitura se distensionaram desde julho do ano passado, quando foi iniciado um processo de negociação sobre todo o setor de transporte público. Os dois lados têm discutido como ter acesso às informações da câmara de compensação. Antes, os dados sobre arrecadação do sistema saiam criptografados (codificados) das empresas para o Sindiônibus, o sindicato dos empresários do setor, que os decodificavam e repassavam para a Ettusa. Em maio deste ano, um avanço. As informações passaram a ser enviadas das empresas, simultâneamente, para Ettusa e Sindionibus”.

NEOLOGISMO – Nos dicionários Michaellis e Aurélio, consultados pelo sítio Em Off, não existe o verbo “distensionar”, criado pelo autor da matéria. O parecer do também consultado plantão gramatical – de tão útil, salutar e necessária existência – também foi pela inexistência do “verbo”. O – digamos assim – novo verbo foi empregado com o sentido de extinção de tensão. Está catalogado nos dicionários, como termo mais próximo, o verbo transitivo direto distender, que pode ser utilizado no sentido de afrouxar, relaxar. Analogicamente, esse verbo seria o indicado para ser grafado, na terceira pessoa do plural no pretérito perfeito, no modo indicativo, sendo, então, a forma mais indicada “distenderam”. Nem mesmo como uma derivação do substantivo “distenção” o “novo verbo” poderia ser utilizado, posto que, indicando ação, não poderia pertencer a nenhuma outra classe gramatical que não fosse verbo.

NEOLOGISMO – Como fecho, ainda foi grafada a palavra "simultâneamente", que não possui acento circunflexo. Fica difícil, por esse e outros exemplos que não raro ocorrem, fazer um discurso de que os jornais impressos sejam utilizados como apêndice no inglório, vilipendiado e sofrido sacerdócio do magistério, como instrumento pedagógico em sala de aula. Nada mais sadio do que não se complicar o simples, a abdicação da criatividade desmedida e, principalmente, a consulta à gramáticas e dicionários em casos de dúvidas.

FUGINDO – Na edição do dia 12/07 do jornal Diário do Nordeste, foi publicada uma matéria sobre a ineficiência do serviço disque-silêncio, mantido pela Prefeitura de Fortaleza, destinado à fiscalização de crimes ambientais no que tange à poluição sonora. O serviço é ligado à Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semam) e a titular da Pasta, Daniela Valente, declarou ao jornal que “não é obrigação do órgão atender todas as reclamações, somente os estabelecimentos licenciados pela Prefeitura como bares, restaurantes, igrejas, clubes e bufês podem ser controlados pelo Município”.

FUGINDO – É obrigação, sim, da Prefeitura fiscalizar todos os crimes ambientais relacionados à poluição sonora dentro da área do Município, não apenas os casos citados por Daniela. A PMF tem a competência e o poder de polícia para atuar, sendo, acima disso, sua obrigação. Até mesmo os carros de som da propaganda eleitoral é competência, também, da PMF fiscalizar. Seria muito mais sincero e honesto da secretária ter afirmado que o serviço disque-silêncio não possui a estrutura necessária para a fiscalização da poluição sonora no Município. O que a titular da Semam fez foi tentar se eximir de sua obrigação institucional e dar justificativa infundada para sua incompetência. A matéria publicada pelo DN, por sua vez, não contestou nem questionou as palavras de Daniela.

OMISSÃO – Semana passada o deputado estadual Chico Aguiar (PSB) subiu à tribuna da Assembléia para fazer seu discurso de despedida, uma vez que renunciou ao mandato para assumir cargo de conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), cargo vitalício e para o qual foi nomeado pelo governador do Estado após processo de escolha no qual foi calcado no estrito quesito político. O TCM e o Tribunal de Contas do Estado é constituído por conselheiros nomeados pelo governador e confirmados pela Assembléia, com cargo vitalício e polpudo salário. Transformou-se em eldorado de parlamentares e aliados do governo de plantão. Duas importantes cortes constituídas, lamentavelmente, apenas pelo critério político em sua maioria – uma parte do cargo de conselheiro pertence às procuradorias das casas – onde o sortudo nomeado entra no serviço público por uma janela vergonhosa, enquanto os outros cargos públicos somente podem ser providos mediante aprovação em concurso público.

OMISSÃO – Em sua fala, Aguiar fez um apanhado de sua trajetória política, incluindo seu pai, que o antecedeu no Parlamento e já anunciando que seu filho ficará com a incumbência de sucedê-lo. Como se a cadeira na Assembléia fosse um direito adquirido, passado de pai para filho através da sucessão dos currais eleitorais. Mas a trajetória do parlamentar foi marcada por acontecimentos que, evidentemente, não foram por ele abordados na tribuna. Um dos episódios mais marcantes foi, sem dúvida, no qual ele requereu aposentadoria integral por ter ocupado o cargo de governador por menos de três meses, quando os demais trabalhadores dos setores público e privado precisam contribuir durante anos para terem direito a uma mirrada aposentadoria.

OMISSÃO – Aguiar requereu o privilégio após suceder o então governador Ciro Gomes, que renunciou ao mandato de governador para assumir o ministério da Economia, no último ano do governo Itamar Franco. O então vice, Lúcio Alcântara, era candidato ao Senado, e renunciou também. Terceiro na linha de sucessão, o deputado presidia a Assembléia naquela ocasião. Mesmo que não haja vício de ilegalidade, há questionamentos éticos e morais em sua atitude. A mídia local registrou a despedida do parlamentar, mas optou por omitir dados da vida pregressa do agora conselheiro do TCM.

OMISSÃO – Curioso também foi ver discursos de seus colegas parlamentares enaltecendo a figura do deputado que se despedia, mesmo tendo, ainda, presidido por mais de uma década a Comissão de Constituição e Justiça do Poder, sempre direcionando sua atuação à contemplação dos interesses do Executivo. O deputado Artur Bruno (PT) chegou, lamentavelmente, a dizer que todos os parlamentares aprenderam bastante com Aguiar. Ora, aprenderam a serem coniventes, omissos e subservientes aos interesses de quem ocupa a cadeira de governador e não ao interesse do cidadão? Aprenderam a requerer sinecuras que, embora embasadas na lei, ferem todos os princípios éticos e morais?

OMISSÃO – A mídia e demais parlamentares também optaram por omitir que Chico Aguiar irá fazer parte de uma corte onde se analisará conta de prefeitos que por muito tempo mantiveram-se e seus prepostos aliados a ele. Inclusive seu filho, Sérgio Aguiar, denunciado por uma série de irregularidades quando ocupou a prefeitura do município de Camocim, tais como improbidade administrativa, desvio de dinheiro, sendo o mesmo anunciado que será o responsável por herdar a cadeira e os votos do feudo do pai.

INFUNDADA – A ex-gestora da Procapuí, Eunice Leal Oliveira está acionando pessoas que atuaram contra ela, notadamente colegas profissionais dela, advogados, que cumpriram o papel legítimo que lhes pertence, inclusive com a inviolabilidade do exercício da profissão. O problema é que existe um princípio jurídico de que a ninguém é dado o direito de alegar em sua defesa a própria vileza.

DESGASTE – Está sendo por demais desgastante a pendenga envolvendo o procurador da República Oscar Costa Filho com o episódio da nomeação dos procuradores eleitorais auxiliares. Oscar – que ocupa a Procuradoria Regional Eleitoral – tomou a atitude de pessoalmente nomear os procuradores Fernando Negreiros Lima, Francisco Macêdo Filho e Edmac Trigueiro para serem auxiliares na PRE, nomeações questionadas e impugnadas pela ação de outros procuradores que não concordaram com a atitude de Oscar. Ao consultar todos os procuradores da PRCE, o procurador-geral Antônio Fernando de Souza resolveu nomear os procuradores Nilce Cunha Rodrigues – chefe da PRCE –, Edmac Trigueiro e Meton Vieira Filho para serem auxiliares na PRE. As nomeações não foram aceitas por Oscar.

DESGASTE – Oscar afirma que Meton e Nilce "não agiriam de forma imparcial". Ora, uma argumentação que acaba por produzir um questionamento quanto ao próprio titular da PRE, uma vez que já disputou eleição para a Prefeitura de Fortaleza pela legenda do PDT, numa época em que os procuradores podiam concorrer a cargos eletivos tendo apenas a obrigatoriedade de se licenciarem dos cargos. Atualmente isso somente é possível se o procurador pedir exoneração do cargo e deixar o MPF definitivamente. Também pelo fato das inúmeras irregularidades que vinham sendo cometidas – algumas continuam – como campanha subliminar, favorecimento de candidatos por parte de empresas de comunicação e outros fatos, que acabaram sem a ação da PRE para que cessasse. Caso o impasse continue, pode haver a interveniência do Conselho Superior do Ministério Público Federal, que tem a competência, inclusive, para destituir Oscar da titularidade da Procuradoria Regional Eleitoral. Os procuradores nomeados pelo procurador-geral solicitaram que o TRE envie processos e demais documentos diretamente para eles.

PARA REFLETIR – "O desenvolvimento da capacidade geral de pensamento e livre-arbítrio sempre deveria ser colocado em primeiro lugar, e não a aquisição de conhecimento especializado. Se uma pessoa domina o fundamental no seu campo de estudo e aprendeu a pensar e a trabalhar livremente, ela certamente encontrará o seu caminho e será mais capaz de adaptar-se ao progresso e às mudanças". (Albert Einstein).

 

 

ATUALIZAÇÃO N.º 328 - 24/07/2.006

PASSIVO – Chegou a ser constrangedora a entrevista do candidato à presidência da República pelo PSDB, Geraldo Alckmin, ao programa Barra Pesada (TV Jangadeiro), semana passada. O candidato fez duas afirmações que não sofreram nenhum questionamento por parte do entrevistador. Primeiro Alckmin disse que iria enfrentar o problema da falta de segurança pública com endurecimento da lei, através do Código de Execuções Penais, o próprio Código Penal, etc. Ora, isso não depende nem é atribuição constitucional do presidente da República, mas do Congresso Nacional.

PASSIVO – Em seguida o candidato transferiu a responsabilidade total do caos na segurança pública para a esfera federal. Ora, União e estados têm papéis distintos e bem definidos constitucionalmente quanto a esse tema. À União cabe o combate e a repressão a determinados tipos de crimes – como o tráfico de drogas, de armas, crimes contra o patrimônio da União, etc. –, enquanto aos estados outros. A estratégia era muito simples: mergulhado numa aguda crise na segurança pública, a intenção era tirar a responsabilidade do governador Lúcio Alcântara, seu companheiro de partido, aliado e candidato à reeleição.

PASSIVO – O combate aos crimes que afetam mais diretamente o cidadão – furto, roubo, assalto, homicídio, etc. – é de competência do Estado. Portanto, caberia questionamento do entrevistador quanto a essa afirmação também, mas houve opção pela passividade. Alckmin visitava o Ceará quando a violência atravessava – ainda atravessa – mais uma de suas escaladas, através do assassinato de suspeitos de terem matado policiais militares, assaltos, roubos e homicídios em crescimento galopante. A intenção era de desviar o foco da responsabilidade e também tirar o questionamento do postulante à presidência.

ENGANADOR – Aliás, o próprio governador, na edição do dia 22/07 do jornal O Povo, teve a si atribuídas declarações de que não acreditava que a morte de Rômulo Alves da Silva, nas dependências do Centro de Triagem do Juizado da Infância e da Adolescência, suspeito de ter sido um dos autores da morte de um policial militar, tenha sido motivado por vingança. O outro suspeito havia sido morto no mesmo dia. Tudo bem que o governador vai morrer negando que haja crise, que a situação esteja fora do seu controle, mas os fatos são incontestáveis. Aliás, muito parecido com a babélia instalada no estado de São Paulo, até bem pouco administrado pelo próprio Alckmin.

SUSPENSO – No domingo passado o apresentador Ênio Carlos (TV Diário) fez um longo comentário sobre o falecimento de uma ex-funcionária do departamento comercial da emissora, que estava atualmente na TV Cidade. Falou da importância da extinta – é o novo! –, quase reduzindo o atual quadro do DC da TV a nada. Aí emendou citação da TV Cidade, de emissoras de rádio, do empresário Miguel Dias – proprietário do Grupo Cidade de Comunicação –, etc. Aí o “consultor” da emissora, Gaarcia Júnior, ligou para a direção do programa para dar uma “chamada” no apresentador.

SUSPENSO – Pouco tempo depois Ênio Carlos ficou fazendo suspense e promovendo uma banda onde supostamente sua vocalista iria fazer strip tease, o que já havia ocorrido na semana anterior, mas em imagens externas, não no estúdio. A banda entrou, a moça simulou um strip e no final ficou apenas de tanga e com um adesivo da cor da pele cobrindo os seios. Choveu de e-mails reclamando do quadro. O diretor do SVM Ricardo Nibom nesse momento ligou para a direção do programa para que fosse dada mais uma “chamada” no apresentador e já marcando uma reunião para o dia seguinte.

SUSPENSO – Na reunião o apresentador foi suspenso por um mês, com o programa ficando a cargo de outra pessoa durante esse período. Comenta-se que, no decorrer da semana, houve uma reversão e a pena teria sido reduzida para apenas um programa de suspensão. O problema, além disso, é que não apenas o programa Ênio Carlos, mas outros da emissora precisam do mesmo tipo de iniciativa e de punições semelhantes. O programa do João Inácio Júnior faz coisa semelhante num horário ainda mais cedo, tem ainda o que fala sobre sexo de maneira debochada e coloca clipes de scort girls e scort boys, o do sanfoneiro Dedim Gouveia que expõe closes ginecológicos das dançarinas, etc.

PÉROLA – Essa foi escrita pelo colunista Alan Neto (jornal O Povo), na coluna Confidencial, dia 21/07: “NERVOS DE AÇO Quem costurou este acordo não vem ao caso. O clima chegou a um ponto tal de insustentabilidade que a única maneira foi refugiar-se na Unifor para que o elenco pudesse trabalhar normalmente. Só quem tem nervos de aço para agüentar xingamentos, vaias e palavrões. Haviam dois caminhos a seguir. Ou procuraria um outro local onde ninguém tivesse acesso ou então fecharia os portões do Vovozão. (...) Detalhe: nenhum atleta assumiu tal responsabilidade. Mas, também, por conveniência, não desmentiram a versão do presidente. Preferiram ficar comodamente em cima do muro”. Havia apenas um caminho a seguir pelo colunista: não flexionar o verbo haver, empregado no sentido de existir, o que gramaticalmente é errado.

ESQUEMA – Na coluna Política (jornal O Povo), edição do dia 18/07, o colunista Fábio Campos discorreu sobre as denúncias feitas pelo empresário Darci Vedoin na CPI das Sanguessugas, na chamada máfia das ambulâncias, falando sobre o relato que o denunciante fez sobre o envolvimento do ex-vereador de Fortaleza, ex-presidente estadual do PT e candidato a deputado federal José Airton Cirilo, no esquema de intermediação de liberação do dinheiro destinado ao pagamento de ambulâncias vendidas pelo empresário, através do Ministério da Saúde.

ESQUEMA – Segundo Vedoin, Airton teria se apresentado como intermediador mediante o pagamento de uma comissão – propina –. O colunista citou que o denunciante havia citado que dois supostos emissários de José Airton, “Lacerda” e “Diniz”, teriam se encontrado com o empresário. Lacerda é, na verdade, o sobrinho de José Airton – que o colunista identificou no título do tópico como primo (“Suposto emissário seria primo do petista”), Raimundo Lacerda Filho, filho da vereadora do PSDB em Icapuí, Fátima Lacerda, por sua vez, irmã de José Airton. O suposto emissário-sobrinho é – ou era – lotado no gabinete do senador Luiz Pontes (PSDB), ex-secretário de governo na administração Tasso Jereissati, ex-presidente da Assembléia Legislativa e novamente candidato ao Parlamento estadual nas eleições desse ano.

ESQUEMA – O colunista chegou no assunto com três anos de atraso. Esse foi o tempo passado desde que o sítio Em Off revelou a ligação entre o petista, sua irmã e o senador Luiz Pontes, no imbróglio das empresas Procapuí, Iglomar e Icapel, do empresário Marcial (Mike) Gerald Layani, num esquema que envolve muito mais do que malversação do dinheiro público. O sítio revelou a negociação feita por um grupo de vereadores de Icapuí, sob o comando da então presidente da Câmara Municipal, exatamente a vereadora Fátima Lacerda, para a aprovação de uma lei municipal que criava um selo de qualidade que, na prática, privatizava o pescado do Município.

ESQUEMA – O Em Off revelou como, onde, quando e quanto tocou para cada um dos vereadores que participaram do ato espúrio. Fátima Lacerda sempre foi ligada ao senador Luiz Pontes. Entre este e a vereadora sempre houve uma intrínseca relação política. O sítio também revelou o compromisso que o empresário Mike Layani assumiu com o senador de negociar as tilápias produzidas na fazenda do parlamentar com importadores europeus.

ESQUEMA – Em seu depoimento à CPI dos grupos de extermínio, Mike Layani disse ter doado R$ 200 mil à campanha do então candidato ao governo do Estado Lúcio Alcântara, mediante solicitação feita pelo senador Luiz Pontes. A doação não foi declarada na prestação de contas de Lúcio Alcântara à Justiça Eleitoral e, mesmo o fato tendo sido denunciado na CPI, ainda não houve nenhuma atitude nem por parte dos parlamentares nem da Procuradoria Regional Eleitoral. A ligação entre José Airton, Fátima Lacerda e Luiz Pontes está mais do que comprovada.

ESQUEMA – Não se sabe o motivo pelo qual o colunista resolveu manter-se distante, durante esse tempo, de comentar a ligação entre o petista e os tucanos, sempre em episódios que envolvem denúncias de irregularidades. Ora, se está se reportando agora à ligação entre José Airton/Luiz Pontes, por qual motivo resolveu ignorar o que dantes ocorreu? Mesmo quando as denúncias de Mike acabaram por ganhar, três anos depois de divulgadas pelo sítio, as páginas dos jornais impressos e telejornais, o colunista também optou por não abordar o assunto com a mesma abordagem.

ESQUEMA – Da resposta que o petista enviou ao colunista há um trecho que merece reflexão: “temos enfrentado tal denuncismo discriminatório desde 2002, fraudes como a do recente caso Procapuí, quando ficou claro que, se houve beneficiários com caixa 2, estes foram os tucanos do PSDB cearense e não a nossa candidatura”. Abstraindo-se da defesa alegando denuncismo discriminatório, o petista relembra, com propriedade, que os grandes beneficiários de caixa 2 na eleição de 2002 foi o PSDB cearense, pois, de fato, as doações feitas pelo empresário Mike Layani foram declaradas na prestação de contas do petista. Isso não significa, logicamente, que essa relação de doação não resultou de uma compensação ou de qualquer outro acordo nefasto, mas no caso do tucanato local há, além desse questionamento, o crime eleitoral.

DISTORÇÃO – A semana, realmente, não foi muito boa para o colunista Fábio Campos, que reassumiu seu posto após voltar da Alemanha, onde cobriu a Copa do Mundo para o jornal O Povo. Os comentários que o jornalista fez na edição do dia 21/07, sobre parte da equipe da prefeita Luizianne Lins (PT) estar trabalhando abertamente pela candidatura de Renato Roseno (PSol) ao governo, enquanto a petista apóia a candidatura de Cid Gomes (PSB). Ora, é uma visão absolutamente tacanha e distorcida.

DISTORÇÃO – Escreveu o colunista: “A prefeita Luizianne Lins (PT) tem um problema político a resolver. Uma parte significativa de sua área de influência vem trabalhando abertamente a favor de candidaturas do PSol. Mais propriamente a favor do candidato a governador, Renato Roseno, do candidato a deputado federal, João Alfredo, e da candidata a presidente, Heloisa Helena. Nada demais se essa área de influência não estivesse praticamente toda ocupando cargos de confiança na gestão comandada por Luizianne Lins em Fortaleza. É, no mínimo, constrangedor para a prefeita. No ritmo que as coisas estão caminhando, essa situação tende a desmoralizá-la politicamente. Luizianne deu aval público determinante à candidatura de Cid Gomes (PSB) e possui sua lista de candidatos a cargos proporcionais. Ela é hoje uma das coordenadoras regionais da campanha de Lula. Esses serão seus palanques”. O candidato Cid Gomes recebe apoio do PT – partido que, inclusive, indicou o candidato a vice na chapa – mas com certeza não aceitaria o aparelhamento da Prefeitura de Fortaleza em favor de sua candidatura. Seria um erro pueril que, definitivamente, não seria cometido pelo candidato socialista.

DISTORÇÃO – Continuou o colunista: “AOS DISCORDANTES, CABE ENTREGAR OS CARGOS Gestos de grandeza são cada vez mais raros em nossa política. De toda forma, vai a seguir uma sugestão de atitude que deveria ser assimilada pelos assessores da prefeitura que possuem uma opção eleitoral diferente da prefeita: coloquem seus cargos à disposição. Entreguem seus empregos e deixem a prefeita à vontade para agir. Fora disso, é esperteza. Vamos ao seguinte paralelo: seria aceitável um ministro ou um assessor de confiança de Lula trabalhar para outra candidatura a presidente? E que tal um secretário ou assessor do gabinete do governador Lúcio Alcântara (PSDB) subindo no palanque de Cid Gomes (PSB)? É inimaginável. É assim que funciona a política. No fim das contas, os que ocupam cargos de confiança exercem funções políticas. Ao aceitar um cargo público, o assessor abraça o projeto político do gestor que o convidou. No meio do caminho, em caso de discordância é só pedir as contas. Simples. Entregar o cargo é uma decisão sustentada na ética. É a tal da grandeza citada acima. Coisa rara. Rarríssima”.

DISTORÇÃO – Ora, o colunista tem a turva visão de que a gestão pública é uma instância de aparelhamento político. O que se deve levar em consideração na administração pública é a boa gerência da máquina. Nessa linha de pensamento tacanho, um bom administrador jamais poderá ser conduzido a um cargo na administração pública se não rezar pela cartilha do chefe de Executivo de plantão. Então pelo fato do cidadão ocupar cargo comissionado em determinada gestão é obrigado a dizer amém a todas as posições políticas de quem o nomeia? Fábio Campos é mais um jornalista, infelizmente, que pensa, por exemplo, que um assessor de imprensa deixa de ser jornalista e passa a ser advogado de defesa, teleguiado por quem o nomeou. O compromisso do assessor de imprensa não é com quem lhe conduziu ao cargo – principalmente em se tratando do setor público – mas com sua profissão. Não é ético quem deixa de exercer sua função com profissionalismo e passa a ser puxa-saco de quem tem a caneta para nomear e exonerar.

DISTORÇÃO – “É assim que funciona a política. No fim das contas, os que ocupam cargos de confiança exercem funções políticas. Ao aceitar um cargo público, o assessor abraça o projeto político do gestor que o convidou”, escreveu. Fábio Campos demonstra toda sua deturpação da visão que tem de política, que não é, definitivamente, instrumento de contemplação de interesses pessoais. Ou será que o colunista abraçou o projeto do prefeito de Quixadá Ilário Marques (PT) apenas quando foi seu assessor? Pode-se, ainda, fazer uma analogia: cargo de colunista também é de confiança do dono da empresa de comunicação. Talvez por isso Fábio tenha defendido os mesmos pontos de vista da Associação Nacional de Jornais (ANJ) quando do projeto que criava o Conselho Federal de Jornalismo, condenando a iniciativa. Talvez por isso até mesmo essa relação tenha sido citada nas gravações de conversas entre os procuradores da República Oscar Costa Filho e Gerim Cavalcante.

DISTORÇÃO – Mesmo posicionamento que semana passada defendeu, quando atacou o Projeto de Lei 079/2004, que amplia as funções privativas de jornalista profissional, definidas no Decreto-Lei 972/69. Na edição do dia 18/07, o colunista escreveu: “NA LEI, EM VEZ DA INFORMAÇÃO, A DEFORMAÇÃO Por falar em mediocridade, quase em silêncio, o Congresso aprovou uma lei que estabelece como privativas de jornalista as funções de comentarista, coordenador de pesquisa, arquivista-pesquisador, revisor, ilustrador, fotógrafo, assessor de imprensa e até professor de jornalismo. A lei, que vai para sanção presidencial, é de rara estupidez corporativista. Um paralelo: a Alemanha possui 356 jornais diários (tiragem de 22,6 milhões de exemplares), 24 semanais (2 milhões) e oito dominicais (4,3 milhões). 80% da população acima de 14 anos lê jornal todos os dias. A densidade é de 317 exemplares por mil habitantes, ficando atrás apenas do Japão (575), Inglaterra (321), EUA (226) e França (156). Lá, não há lei que obrigue uma formação específica para um cidadão trabalhar como jornalista”. Estranho um jornalista que luta contra a regulamentação de sua própria profissão. E porquê apenas relacionado ao jornalismo? Porquê o colunista não defende a desregulamentação de outras atividades profissionais?

DISTORÇÃO – Fábio Campos poderia, também, ter escrito que na Itália – onde o diploma de graduação universitária em jornalismo é obrigatório para o exercício da função – existem 13 cursos de jornalismo, muito embora aquele País tenha 1/3 da população do Brasil. Somente em Fortaleza são sete cursos de jornalismo, mais da metade dos que dispõe o país europeu, mesmo a Cidade contanto com menos de 2% do número de habitantes da Itália, contando com praticamente apenas dois jornais de circulação diária e apenas cinco emissoras de TV que efetivamente possuem mercado de trabalho, ainda que restritíssimo. Porquê o colunista não defende a volta do sistema do século XIX para o ingresso na advocacia, por exemplo, onde o candidato não precisava se submeter a um curso de graduação, mas apenas a uma prova que lhe proporcionava o direito à advogar?

DISTORÇÃO – Continuou o colunista: “Os alemães adotaram uma inteligente forma para filtrar os talentos interessados em trabalhar como jornalistas. É o chamado Volontariat, um concorrido estágio prático de dois anos. (...) Detalhe determinante: os candidatos ao Volontariat precisam, entre outros requisitos, possuir diploma universitário em qualquer área. Um detalhe que atrai para as redações os graduados e pós-graduados em sociologia, filosofia, história, letras, direito...”. Quem sabe assim o próprio colunista poderia ser substituído por alguém que não escreva tantas aberrações, notadamente no campo jurídico.

DISTORÇÃO – Por conta dos comentários de Fábio Campos, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará (Sindjorce) emitiu uma nota, sob o título direito de resposta. O colunista não a publicou, mas teceu comentários mais uma vez distorcidos. Optou, ainda, por tentar desqualificar a proposta citando que o deputado autor do PL 079 estaria envolvido no escândalo das ambulâncias, a máfia das sanguessugas – que ele erroneamente grafa antecedido com a contração “dos”, resultante da fusão da preposição “de” com o artigo “os”, mesmo sendo a palavra um substantivo feminino, tendo a forma correta “das”, mas, quem sabe, se um dia for implantado o sistema que o colunista defende, ele não seja substituído por um graduado em letras e os leitores sejam privados desses tipos de erros –.

DISTORÇÃO – Continuou o colunista: “A Coluna avaliou a proposta como algo medíocre e de uma estupidez corporativista por estabelecer uma reserva de mercado para os diplomados em jornalismo”. Mais estúpida e medíocre é a defesa de uma posição corporativa da classe patronal à qual Fábio é empregado. Negando e desconsiderando a luta de décadas de jornalistas que se empenharam na defesa dos direitos da categoria, pela sua regulamentação, pela valorização da atividade profissional.

DISTORÇÃO – Fábio reclamou do texto do Sindjorce: “Caiu na caixa de mensagens da Coluna um texto sob o título ‘direito de resposta’, assinado pela diretoria do Sindicato dos Jornalistas do Ceará. O glorioso deputado Pastor Amarildo, autor da proposta, como era de se esperar, não se manifestou. A Coluna jamais citou o Sindicato ou qualquer entidade representativa dos jornalistas. Como é usual, aqui apenas se emitiu opinião sobre um projeto de um deputado federal. Ao atacar a opinião, fica claro que o Sindicato se escondeu atrás do possível sanguessuga. O ‘direito de resposta’ do Sindicato é de uma grosseria e deselegância ímpares. Começa assim: ‘Estupidez e mediocridade dos ventríloquos desinformados. E mal intencionados...’. É o suficiente. Vejam que tal adjetivação é dirigida a um filiado da entidade que paga religiosamente a contribuição sindical. É caso único de Sindicato que se volta contra o sindicalizado. Vou deixar a entidade mais à vontade. Torno público meu pedido de desfiliação. Por fim, perdão leitores por tratar de tal tema que, na Coluna, prometo, encerra-se aqui”.

DISTORÇÃO – Ficou claro, também, que o colunista se esconde atrás da opinião de quem lhe emprega. Infelizmente presta um desserviço à classe profissional que integra. Fábio também demonstrou não conhecer o estatuto do Sindjorce, que delibera que seus integrantes defendam os interesses da categoria e prevê sanção até de exclusão dos membros que agirem de maneira contrária. A seguir, a íntegra da nota expedida pela diretoria do Sindjorce:

DIREITO DE RESPOSTA

A estupidez e a mediocridade dos ventríloquos desinformados. E mal intencionados...

Ao contrário do que a coluna Política, do Jornal O Povo de hoje afirma, o projeto de lei complementar nº. 79/04, que dá nova regulamentação a profissão de jornalista, não foi aprovado pelo Congresso Nacional "quase em silêncio". Uma rápida visita aos sites do Sindicato dos Jornalistas no Ceará e da Federação Nacional dos Jornalistas pode comprovar que o projeto vem sendo debatido há anos na categoria. Inclusive, a decisão de lutar por sua sanção foi fruto de deliberação do 32º Congresso Nacional dos Jornalistas, realizado de 5 a 8 de julho de 2006, em Ouro Preto (MG), com a presença de delegados eleitos democraticamente para representar os interesses de jornalistas de todos os estados do Brasil e do DF. Estranho é um colunista de política desconhecer um projeto que tramita no Parlamento há mais de três anos, dizer agora que a matéria foi aprovada "quase em silêncio".

Também ao contrário do que diz a coluna, as funções de arquivista-pesquisador (artigo 11, inciso VI do decreto 83.284/79), revisor (artigo 11, inciso VII), professor de jornalismo (artigo 2º, inciso VI), coordenador de pesquisa (artigo 2º, inciso IX) e comentarista (artigo 2º, inciso II) já são funções privativas de jornalista pela atual lei que regulamenta a profissão.

Tanto a legislação em vigor, quanto o PLC 79/04, permitem que jogadores de futebol, por exemplo, mediante obtenção na DRT de registro de jornalista colaborador (especialista), comentem jogos pela TV, rádio ou jornal, sem a obrigatoriedade do diploma em Jornalismo. Assim como médicos também podem escrever sobre saúde, advogados sobre direito, psiquiatras sobre comportamento humano, poetas sobre literatura, etc. Da mesma forma, professores de sociologia, filosofia, antropologia, história, letras, etc., poderão continuar ministrando aulas em cursos de Comunicação e Jornalismo. Apenas o ensino de disciplinas específicas, como técnicas de reportagem, impresso, rádio e tevê, por exemplo, permanece privativo de jornalistas. Portanto, nada muda com a sanção do PLC 79/04.

Repórteres-fotográficos, cinematográficos, ilustradores e diagramadores, estes sim, passam a ser enquadrados como profissionais de nível superior, uma antiga reivindicação do segmento dos profissionais de imagem que, no serviço público, por exemplo, são contratados como nível técnico. No entanto, como a lei não retroage para prejudicar, aqueles que já desempenham essas funções terão seus registros profissionais preservados e o direito garantido de continuar exercendo a profissão. As novas regras, é bom que se esclareça, só valerão para os novos profissionais.

A principal mudança prevista na nova legislação, que beneficia parte considerável dos jornalistas brasileiros, estranhamente não teve o merecido destaque na coluna Política. Pelo PLC 79/04, assessor de imprensa será um cargo privativo de jornalistas, que hoje já desempenham a função de fato, mas não de direito. Uma vitória histórica para os jornalistas que, atuando em assessorias de imprensa nas últimas décadas, profissionalizaram e moralizaram esse segmento.

Por fim, ao atribuir a Fenaj e aos 31 sindicatos de jornalistas do Brasil, autores do PLC 79/04, uma "rara estupidez corporativa", o colunista Fábio Campos revela, além de brutal desinformação – defeito, aliás, imperdoável em se tratando de um jornalista -, um profundo desrespeito com homens e mulheres que pautam suas vidas pela defesa dos direitos de sua categoria. Tais afirmações, carregadas de preconceito, fazem coro com o discurso da grande mídia – Veja, O Globo, O Estado de São Paulo -, mas não diminuem a determinação do movimento sindical dos jornalistas de continuar firme na luta pela regulamentação de uma profissão que vem sendo alvo de violentos ataques por parte dos barões da comunicação, que ainda sonham com um mercado desregulamentado, onde caberia exclusivamente às empresas ditar quem pode ou não ser jornalista. E isso não parece, aos olhos dos trabalhadores, "uma inteligente forma de filtrar talentos
interessados em trabalhar como jornalistas".

Atenciosamente,

A Diretoria do Sindjorce”.

INTEGRANTE – A mais nova integrante do staff de comunicação do governo do Estado é a jornalista Inês Aparecida, que para lá foi após desincompatibilização com a coordenadora de comunicação social da Prefeitura de Maracanaú, Elza Ferreira.

INVESTIMENTO – Apesar do polpudo salário de desembargador aposentado, o candidato ao governo do Estado pelo PL, José Maria Melo, contratou a agência Draco para fazer sua campanha. Investimento muito caro não apenas para o candidato, mas para sua sigla. A não ser que o abastecimento financeiro da candidatura seja oriundo de outros canais.

DESISTÊNCIA – O ex-presidente da Câmara Municipal de Fortaleza, José Maria Couto, desistiu de sua candidatura a deputado estadual. Também desistiu do casamento de anos e vai se tornar genro do ex-deputado federal Aécio de Borba, que dará ao futuro membro de sua família a presidência da Confederação Brasileira de Futebol de Salão (CBFS).

PARA REFLETIR – "Sobre a regulamentação da profissão, fiz parte do grupo que trabalhou a matéria, tanto em congressos, como em encontros de trabalho. Eu fazia parte do grupo radical, aquele que era intransigentemente corporativista: eu não queria, por exemplo, que "especialistas" escrevessem em jornal, só jornalistas. Ora, aí estão duas vertentes sobre o jornalismo brasileiro: uma história a ser respeitada (a criação é luta da categoria ao longo do tempo), dando ênfase à prática, à técnica, ao aperfeiçoamento do profissional, bem como a preocupação em regulamentar a profissão, também buscada em vários momentos. Com isto queríamos uma profissão definida, com funções e atividades próprias, retirando o amadorismo, o afilhadismo, o diletantismo, o partidarismo das redações. Essa luta ainda é perseguida em nossos dias, sempre com opositores declarados - como o assalto da Juíza (registro escancarado) e os simulados, como o impedimento de declarações por parte de promotores e outros auxiliares da Justiça. A despeito disso tudo, o Jornalismo brasileiro está no patamar dos melhores do mundo - em termos empresariais e editoriais (redação...)". (Adísia Sá, em entrevista ao sítio Em Off, em outubro de 2002).

 

ATUALIZAÇÃO N.º 329 - 31/07/2.006

COMPARAÇÃO – Caso seja feita uma comparação entre a postura da imprensa local quanto aos casos envolvendo os 200 mil dólares na cueca do assessor do deputado estadual José Guimarães (PT) e agora o caso do suposto envolvimento do ex-vereador José Airton Cirilo (PT) na máfia das sanguessugas, encontrar-se-ão muitas contradições e tratamentos distantes para casos semelhantes. Antes de qualquer coisa, o sítio não está advogando em defesa de nenhum dos dois citados. Muito pelo contrário.

COMPARAÇÃO – José Adalberto era assessor do deputado José Guimarães, e o parlamentar acabou no olho do furacão quando da prisão do então funcionário. Ora, um dos denunciados pelos proprietários da Planam de cobrar propina para a liberação do dinheiro da compra de ambulâncias, que remonta ainda o governo FHC, é Lacerdinha, é assessor do senador Luiz Pontes (PSDB), mas curiosamente o parlamentar tucano vem sendo poupado. O foco insistentemente batido é o parentesco dele com José Airton e as acusações feitas pelos proprietários da empresa. Pontes nem é citado pela mídia local. Afinal, quais interesses estariam sendo responsáveis pela manutenção da blindagem do senador?

COMPARAÇÃO – Torna-se, no mínimo, questionável a postura dos meios de comunicação locais. Não muito fator surpresa, pois o retrospecto de poupar o senador tucano mostra que a prática é bem comum na imprensa cearense. O mais recente foi na CPI da Assembléia Legislativa que investiga ação de grupos de extermínio, onde o empresário Mike Layani revelou ter doado R$ 200 mil à campanha do então candidato a governador Lúcio Alcântara, na eleição de 2002, dinheiro que não foi contabilizado pelo postulante e cuja doação foi intermediada por Luiz Pontes. A imprensa local manteve e mantém um silêncio sepulcral sobre a revelação de Mike Layani.

MATEMÁTICA – O jornalista Erick Guimarães utilizou uma estranha matemática com relação à pesquisa do Ibope que mediu a intenção de voto para governador do Estado. Erick escreveu no blog de política do jornal O Povo: “Ibope: Lúcio venceria no primeiro turno A TV Verdes Mares acaba de divulgar o resultado da primeira pesquisa Ibope. O governador Lúcio Alcântara (PSDB) sai na frente, com 46% das intenções de voto. Cid Gomes (PSB) está com 35%; José Maria de Melo (PL), com 3%; Coronel Gondim (PSDC) com 2%; Renato Roseno (PSol) e Salete Silva (PCO), ambos com 1%. Com este resultado, Lúcio teria 53% dos votos válidos - o que lhe dá vitória no primeiro turno. O Ibope ouviu 1.204 pessoas, em 58 municípios, com margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos”. Ora, os próprios dados citados pelo jornalista tratam de desmontar sua equivocada interpretação.

MATEMÁTICA – Não há base matemática para se afirmar que Lúcio Alcântara (PSDB) venceria a eleição no primeiro turno. O jornalista incluiu na base de cálculo de eliminação para definição de votos válidos o percentual atribuído a pessoas que não souberam ou não opinaram. Essa parcela do eleitorado não pode ser considerada como voto nulo ou branco. Portanto, entra na base de cálculo dos votos válidos. Dessa forma, não há maioria absoluta, ou seja, metade mais um dos votos válidos para cristalizar esse quadro de vitória no primeiro turno.

MATEMÁTICA – Ainda que o jornalista analisasse os números com a mesma lógica equivocada que fez, como a margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais para mais ou para menos, significa que Lúcio Alcântara tanto pode estar com 56% quanto 50%, e nesse último caso, sem vencer no primeiro turno. A afirmação de vitória no primeiro turno foi precipitada, além de equivocada e distorcida.

MATEMÁTICA – Prudência que foi adotada, por exemplo, na edição do jornal O Povo do mesmo dia. Em matéria assinada por Daniel Sampaio, foi publicado: “De acordo com o Ibope, Lúcio teria boas chances de vencer já no primeiro turno, se as eleições fossem hoje, mas a pesquisa não é conclusiva sobre a vitória. O tucano obteve 53% dos votos válidos. Para evitar o segundo turno é preciso ter pelo menos 51% dos votos, mas como a margem de erro da pesquisa é de três pontos, Lúcio pode variar de 50% a 56%”.

BLOG ILEGAL – Falando no Blog de política do jornal O Povo, no dia 30/07, divulgou a agenda daquele dia do candidato Lúcio Alcântara. E apenas a do postulante tucano. Existem outros quatro candidatos ao governo, mas a notícia – postada por Daniel Sampaio – apenas divulgou a agenda do governador que tenta a reeleição. Não é possível que a Procuradoria Regional Eleitoral (PRE) fique com os olhos fechados para crimes eleitorais como esse. A ação enérgica e presente da PRE é condição sine qua non para que essa eleição se processe da forma mais democrática possível e de maneira igualitária, coibindo atitudes ilegais e parciais como a do Blog de política do jornal O Povo. Pior: a notícia foi seguida de uma outra sobre almoço com prefeitos que apóiam o candidato tucano, também postada por Daniel Sampaio. Das quinze notícias postadas entre as 10:47h do dia 29/07 e às 22.49h do dia 30/07, seis eram referentes ao candidato Lúcio Alcântara – mais de um terço – e todas, coincidentemente, postadas por Daniel Sampaio. Será, também, mera coincidência essa overdose de notícias citando o candidato do PSDB ao governo do Estado? No dia 28/07, a coisa foi ainda mais escancarada: de 08:33h até as 19:43h, das dez notícias postadas, nada menos de quatro faziam referência ao candidato Lúcio Alcântara. As notas tiveram, além de Daniel, outros autores. Nesse último interstício de tempo abordado, nenhuma referência aos outros quatro candidatos. Com a palavra a PRE.

GAROTO-PROPAGANDA – Seguindo a mesma linha de atuação do Blog de política do Jornal O Povo, os jornais locais praticamente esconderam a matéria sobre a decretação da falência da Avestruz Master, empresa que prometeu enriquecimento rápido e fácil, através da captação de investimentos para a criação de avestruzes. O empreendimento expandiu-se por todo o País e, como não poderia deixar de ser, aportou aqui no Ceará, instalando uma fazenda no município de São Gonçalo do Amarante, terra natal do governador Lúcio Alcântara que, inclusive, foi o garoto-propaganda da agora falida empresa nos meios de comunicação. Afinal, quais os motivos que levaram a imprensa local a praticamente ignorar essa notícia, que teve repercussão nacional, sendo noticiada, inclusive, pelos principais telejornais do País? Mistério...

COVARDIA – Gorilas travestidos de segurança da Companhia Energética do Ceará (Coelce) agrediram o repórter fotográfico Mauri Melo, do jornal O Povo, dia 26/07, para impedir que ele registrasse a ação truculenta desses indivíduos contra trabalhadores rurais que protestaram na sede da Empresa, na Barão de Studart, contra o descumprimento de uma decisão judicial por parte da concessionária de energia elétrica. Mauri teve os óculos quebrado e o nariz machucado. Mais do que uma agressão a um companheiro de jornalismo, a atitude desses gangueiros disfarçados de seguranças demonstra a forma autoritária e prepotente como a Coelce trata não apenas os profissionais de imprensa que buscam cumprir o seu mister laborial, mas, principalmente, os milhões de cearenses que são explorados, extorquidos, tratados pessimamente pela Empresa.

AMARELO – A pesquisa do Ibope para o governo do Estado fez acender a luz amarela no ninho tucano. Há meses o Instituto vinha realizando pesquisas apenas para “consumo interno” do partido, onde na última aferição a diferença entre Lúcio Alcântara e Cid Gomes (PSB) era de 25 pontos percentuais. Em 30 dias essa diferença despencou para 11 pontos. Os números não podem ser divulgados pela mídia por dois motivos: primeiro o forte esquema oficial de cooptação evita e, segundo, essas pesquisas não foram registradas no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), por isso quem divulgá-las estará cometendo crime eleitoral.

CRIME – Semana passada cerca de 400 integrantes de grupos da terceira idade de todo o Estado vieram a Fortaleza, para um “city tour”, em 80 ônibus, bancados pelo Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará. Até aí, tudo bem. O problema é que os participantes participaram de uma festa na casa de espetáculo Metrópole Show, onde houve até sorteio de uma moto, evento que contou com a presença do deputado federal e candidato à reeleição Leo Alcântara (PSDB). O parlamentar é filho do governador Lúcio Alcântara – que nomeou o comandante do CBM, coronel Duarte da Frota (foto) – e esse tipo de atividade é proibido pela Lei Eleitoral. Trata-se de um aparelhamento descarado da máquina estadual para o favorecimento de uma candidatura. O comandante do CBM fica, inclusive, passível de responder por improbidade administrativa.

PRESSÃO – Época de eleição e ocorre uma prática nefasta, mas comum na administração pública: também na semana passada houve uma reunião de ocupantes de cargos comissionados no governo do Estado, na sede do comitê central do governador Lúcio Alcântara, com o próprio. Ocorre que houve o velho e tradicional “convite” aos ocupantes de cargos comissionados para participarem da tal reunião, na base da livre e espontânea pressão, sob pena de guilhotina para os que não comparecessem. Até lista de presença correu.

DEMONSTRAÇÃO – A prefeita Luizianne Lins (PT) deu uma demonstração de força ao carrear para a candidatura de Cid Gomes um grupo de trinta dos quarenta e um vereadores de Fortaleza. O problema é que sua base parlamentar é volátil de acordo com os interesses pessoais. Quatorze suplentes também fecharam apoio a Cid. Fortaleza representa o maior colégio eleitoral do estado, com poder, inclusive, de decidir a eleição. O PSDB nunca teve boa performance na Capital e pela abertura da “caixa de ferramentas” entre Lúcio e Luizianne – que ultimamente têm se estranhado mais do que de costume – o panorama não é nada alentador para os tucanos. Os três mil e poucos “votos salvadores” que surgiram do nada em 2002 cada vez mais apontam para não darem o ar de suas graças novamente. Naquela eleição o então prefeito Juraci Magalhães apoiou Lúcio Alcântara no segundo turno.

FÉRIAS? – A risível coluna “Parabólica” (Diário do Nordeste), edição do dia 30/07, trouxe a seguinte nota sobre o afastamento do dublê de apresentador/clone do Sílvio Santos/Gugu, Ênio Carlos: “Merecidas férias Depois de merecidas férias por um final de semana, Ênio Carlos retorna hoje, com fôlego renovado, garantindo um programa cheio de novidades, incluindo um link direto da cidade Fortal. O apresentador, um Davi diante do Golias de sua concorrência, vem acumulando o feito de pontuar significativamente, o que corrobora seu talento peculiar para cultivar um público fiel e crescente”. Férias? Conforme o sítio Em Off divulgou semana passada, Ênio foi suspenso por ter tomado atitudes que desagradaram a direção da emissora. Durante a semana o apresentador negociou a redução da pena, de quatro para um programa de suspensão. Com isso deixou os programas que apresentava em emissoras de rádio do Grupo Cidade de Comunicação.

PÉROLA – Essa, inaceitavelmente, foi publicada no sítio do Sindjorce: “Os termos finais do acordo foram redigidos na própria redação pelos advogados do Sindjorce e da emissora, com o auxílio de jornalistas, entre eles o diretor de Jornalismo Chagas Vieira, um dos interlocutores da categoria junto à empresa”. Nas duas funções gramaticais da palavra “junto” – advérbio e adjetivo – o sentido é de estar próximo, contíguo. Trata-se de um velho e feio vício idiomático. O texto ficaria correto com a substituição da nefasta expressão “junto à” por “na”. Erros pueris como esse no sítio de uma categoria representativa de jornalistas pega mal.

CORREIO ELETRÔNICO I – Do nobre internauta Ediogenes <ediogenes2000@yahoo.com.br> recebemos a seguinte mensagem:

Ameaça

O PT do Ceará quer interpelar José Airton Cirilo, ex-diretor da Agência de Transportes Terrestres, sobre sua ligação a Humberto Costa, no caso sanguessugas. O deputado José Pimentel (PT-CE) prevê até sua expulsão.
Ôxente, segundo a Coluna eletrônica em OFF, foi dito da CPI do Extermínio, que o Caracará dos Aposentados Pimentel, andou recebendo dinheiro do  Americano envolvido em Roubo de Carga em Icapui, ou estou enganado? A Imprensa escrita num diz nada mais a Eletrônica, está a dez anos luz na frente.

Ninguém faz nada com o Poderoso Pimentel? É o Premio por comer o Fígado dos aposentados e servidores Públicos? Ediogenes

RESPOSTA – Na verdade o americano – Mike Layani – está envolvido em fraude, crime contra o sistema financeiro, corrupção, lavagem de dinheiro, remessa ilegal de dinheiro para o exterior, formação de quadrilha, homicídio (ufa!), além de outros crimes. Com efeito, parece que houve um grande "acordão" na CPI do Extermínio: as doações feitas pelo empresário ao petista José Pimentel foram mandadas para o limbo para que as feitas contra o senador Luiz Pontes e o governador Lúcio Alcântara, ambos do PSDB, também tomassem o mesmo frio, longínquo e isolado destino. Vergonhoso. Está corretíssima a observação do internauta.

CORREIO ELETRÔNICO II – Do ilustre advogado e jornalista Fernando Dantas <fernandodantas@oi.com.br>, recebemos a seguinte mensagem:

PEDRAS NO CAMINHO

A luta pelo diploma deve continuar. Neste momento é de fundamental importância que estejamos unidos para a sanção presidencial do projeto. Uma saída para pelo menos barrar os falsos profissionais que permeiam o mercado brasileiro, e que muitas vezes não sabem sequer escrever corretamente a nossa sofrida língua brasileira, como vemos no dia a dia dos veículos.

Já é hora de darmos um basta nas vagas que surgem por apadrinhamento, laços familiares, conveniência, ou pela beleza feminina de algumas moças que tentam ingressar na carreira errada.Se aliarmos a beleza feminina, que é uma das mais belas criações de Deus, com o saber acadêmico, experiência e intelectualidade, melhor.

Não muito diferente do resto do País, a situação em Fortaleza é caótica no mercado de trabalho. Muitos ainda estão nas redações por apadrinhamento, beleza, laços familiares, ou até mesmo por ser patrocinador de algum programa. Além disso, ser dono de curso de jornalismo virou uma galinha de ovos de ouro, onde não se sabe por onde anda a qualidade.

Já passou do tempo, mas não devemos deixar de lutar não apenas pela sanção presidencial, mas também retomar as discussões sobre o nosso Conselho Federal de Jornalismo. Assim, a exemplo do que hoje ocorre na advocacia, onde muitos se formam, mas poucos conseguem advogar, conseguiríamos mudar.

Os contrários falam em reserva de mercado. Isto é uma falácia. A verdade é que lutamos por qualidade no mercado de trabalho, onde tenhamos profissionais comprometidos com a informação verdadeira. E onde não encontremos pessoas que querem aparecer mais do que a notícia. Com certeza em uma reportagem a estrela principal é a notícia, e não o jornalista.

A hora também é de reflexão para o Exmo. Sr. Presidente Lula, que chegou ao poder, tendo iniciado sua luta no sindicalismo, e na defesa dos interesses laborais dos metalúrgicos do ABC. Luta não diferente desta nossa. Lembramos ainda que a sua chegada ao poder, também passa pelo apoio dado por intelectuais deste país, que desde a primeira campanha em 1989 acreditavam na mudança de ideologia de poder. E entre os quais encontramos muitos jornalistas comprometidos com o social.

Mesmo com a exigência do diploma em profissões regulamentadas como Medicina, Odontologia, Direito, e Engenharia; o público a ser atendido fica com o pé um pouco atrás quando se trata de um neófito em algum setor de trabalho. Por que a situação tem que ser diferente no jornalismo? Um falso profissional de comunicação pode destruir vidas, carreiras e estabilidades sócio-políticas. O jornalista, antes de ser um narrador de estórias do cotidiano, deve ser um profissional comprometido com o social, e com as mudanças neste país tão desigual.

A nossa responsabilidade nas redações de rádios, jornais, tvs e assessorias de imprensa é muito grande. Logo não podemos permitir que algumas poucas pessoas, e alguns empresários do setor desejem acabar com uma luta de uma categoria que já dura décadas. Não podemos acreditar na inversão de valores. Não podemos aceitar a mediocridade invadir as redações em detrimento à formação profissional.

É um absurdo também imaginar que tentam passar à sociedade que tentamos uma reserva de mercado no campo do ensino do jornalismo. Não é possível imaginar uma MODELO sem ser formada em Jornalismo, e sem experiência, dando aula por exemplo de ‘Técnica de Reportagem e Entrevista’. É o mesmo que imaginar um veterinário dando aula de Neurocirurgia em um curso de medicina. Que saibam os opositores ao projeto, que mesmo com o diploma  e a nova  regulamentação da profissão, a realidade no mercado de trabalho ainda será difícil, onde teremos ainda que nos esforçar bastante para galgar degraus na carreira profissional. Mas pelos menos será mais justo, pois algumas pedras já saíram do caminho. O sonho ainda é possível, e pode em breve se tornar realidade. Por isso devemos acreditar nele”.

RESPOSTA – O texto do preclaro advogado e jornalista é perfeito, não cabendo mais nada ao sítio Em Off senão corroborar incondicionalmente.

PARA REFLETIR – "Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro. Depois, perdem dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente, nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido". (Dalai Lama)

 

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