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dedicada aos profissionais de imprensa.
Entrevista com Moacir Japiassu - Agosto/2003
Para comemorar a entrada no quarto ano de atividades, o sítio Em Off partiu para entrevistar um dos maiores jornalistas do País. Ano passado, em comemoração aos três anos de atividades, o sítio publicou uma entrevista com a jornalista e professora de todos os profissionais do jornalismo, Adísia Sá. Portanto, o nosso entrevistado teria que estar à altura da nossa grande mestra, que inaugurou o espaço. Tarefa difícil, mas conseguimos convencer o também genial jornalista Moacir Japiassu a nos conceder uma entrevista.
Confortavelmente instalado num sítio na cidade de Cunha, interior de São Paulo, sempre acompanhado pelo fiel escudeiro Janistraquis e com o apoio do bravo burro - o animal quadrúpede, na literal acepção da palavra - Fabrício, esse ilustre paraibano de 61 anos, 41 dos quais dedicados ao jornalismo, topou conversar conosco. Mas não pensem que por isso ele pouparia nossas perguntas de sua implacável e bem humorada observação. "Via de regra é boceta", mandou, ao utilizarmos esta expressão numa das perguntas formuladas.
Moacir Japiassu começou sua longa história no jornalismo em 1962, como repórter no jornal Correio de Minas, em Belo Horizonte. Depois passou pelos jornais Última Hora (SP), Diário de São Paulo (Sucursal do Rio de Janeiro), Diário de Minas (MG), Jornal do Brasil (RJ), depois foi editor-chefe do Fantástico (Globo), passou por um sem número de revistas, jornais, emissoras de rádio, de TV, foi um dos fundadores da revista Imprensa, enfim, rodou mais do que carrossel de parque de diversão em quermesse e se tornou mais conhecido do que arrastado de penico. Atualmente é colunista - Jornal da ImprenÇa - do portal comunique-se <www.comunique-se.com.br.
Sempre sem perder sua identidade nordestina, também teve várias incursões pela literatura, nos mais variados gêneros, da gastronomia ao romance. Seu último rebento literário será lançado nos próximos dias, "Concerto Para Paixão e Desatino - Romance de Uma Revolução Brasileira. Moacir Japiassu é um garimpeiro de "pérolas" publicadas pela imprensa brasileira. Esse seu trabalho já rendeu um livro, "Jornal da ImprenÇa (o lado mais engraçado do Jornalismo)", livro obrigatório para todo profissional de imprensa que não está disposto a pagar mico e dar sonoras gargalhadas ao perceber a "criatividade" de alguns colegas.
Japiassu é um papo muito agradável, mas nem por isso deixa de falar o que é necessário. Sobre os novos jornalistas que são despejados nas redações? "O nível dos chamados formandos é de lascar, o que denuncia os cursos que fizeram, é claro", disse. Sobre as reações ao trabalho que faz por parte dos companheiros de infortúnio jornalístico, afirma que "jornalista é, sem dúvida, o profissional mais vaidoso do mercado e odeia qualquer crítica". Esperamos que, ao ler a entrevista, nosso leitores tenham a mesma sensação de aprendizado que tivemos e a imensa satisfação de receber de um dos grandes mestres do jornalismo brasileiro uma aula de jornalismo e bom humor. Ao mestre, com carinho.
Em Off - Japiassu, o jornalismo tem sido pródigo em fornecer erros de toda natureza, dos gramaticais, históricos, passando pelo de conhecimento geral. Esse tipo de ocorrência pode ser creditado a qual fator?
Moacir Japiassu - Credite-se, evidentemente, à ignorância, ao despreparo. A desgraça começa cedo, em casa mesmo, porque os pais geralmente não têm cultura alguma; quando chega à escola, a criança só conhece o recheio televisivo e está "pronta" para encarar outras (agora, oficiais) sessões de analfabetismo mal disfarçado, pois o nível dos professores é muito ruim. Tenho certeza de que o problema não nasceu agora, não atinge apenas esta geração que aí está; é coisa antiga, que piorou muito e se multiplicou, na razão direta do aumento da população.
Em Off - Existem erros pueris, de simples concordância ou de grafia, até outros mais graves, como do próprio conhecimento. Aqui no Ceará já houve jornalista que ressuscitou o Tribunal Federal de Recursos, extinto há mais de quinze anos, outro que escreveu que uma liminar decretou ilegalidade de uma greve e teve até quem criasse um Supremo Tribunal de Justiça. Os erros relativos à nossa ferida língua pátria até podem ser atribuídos à má formação básica e média, além da falta de critério e falhas nos concursos vestibulares; mas quanto aos demais, denota a falta de conhecimento com a qual os jornalistas têm sido despejados nas redações nos últimos anos?
Moacir Japiassu - Na verdade, uma desgraça puxa a outra. O interessante é que você cita três besteiras, todas de origem, digamos, advocatícia. E os cursos de Direito são, de algumas décadas para cá, verdadeiras fábricas de deficientes. Eu trabalhei numa Redação paulistana, nos anos setenta, e vários de meus colegas "estudavam" Direito numa faculdade do interior de Minas. Os caras iam lá uma vez por mês, para pagar a mensalidade e assinar uma lista de presença!!! Nenhum deles, embora fossem até bons jornalistas, nenhum deles sabia redigir uma simples petição. Se alguém lhes perguntasse o que era ad hoc, diriam que é um peixe... A gênese da alienação, nesse e nos demais campos do conhecimento, está na falta absoluta de leitura; costumo dizer que quem não lê não pensa e quem não pensa não escreve. Leitura é fundamental pro cabra ser alguma coisa em qualquer profissão, principalmente no jornalismo. Se o sujeito pretende viver de escrever, por que diabos não lê coisa alguma? Certa vez, um estagiário me procurou, pedindo ajuda; ainda estudava, estava no último ano de um curso de Jornalismo, e a prova de português era que cada aluno comentasse um livro que tivesse lido; qualquer livro. Pois o menino estava apavorado; já era estagiário numa Redação importante e jamais lera um livro na vida!!! Tive pena. Hoje, passados quase trinta anos, encontro-o na rua, de vez em quando. Está em vias de se aposentar como engenheiro...
Em Off - De uma maneira geral os cursos de jornalismo no País tiveram queda de qualidade no ensino?
Moacir Japiassu - Acredito que sim. O nível dos chamados formandos é de lascar, o que denuncia os cursos que fizeram, é claro. A questão é que você vai aprender a fazer jornalismo nas Redações, no dia-a-dia. Não condeno a existência dos cursos, pelo contrário; acho que num país culturalmente tão pobre, eles são importantes no trabalho de "abrir a cabeça" do aluno. Por pior que seja o professor, ele irá formar grupos de estudo, botar a rapaziada para ler alguma coisa, algo que nem eles mesmos leram, todavia isso entra no cardápio de uma "agitação cultural" que é benéfica.
Em Off - Essa deficiência pode ter aumentado pelo surgimento de inúmeros cursos de jornalismo nos últimos anos, muitos deles sem qualquer critério ou pesquisa sobre suporte de mercado de trabalho?
Moacir Japiassu - É isso mesmo, na resposta acima também me refiro, de certa forma, a esse problema; há cursos demais, que despejam nas cercanias do mercado de trabalho uma verdadeira multidão, inteiramente despreparada. Porém, devo bater nessa tecla: os candidatos a um lugar nas Redações estariam bem piores sem os cursos. Agora, esclareço que qualquer curso superior é bom, tanto faz Jornalismo quanto Direito, por exemplo. O que não pode existir é curso superior como aquele lá do Interior de Minas, que não exigia nem a presença do aluno. No caso dos cursos de Jornalismo, pelo menos se tem contato com o jornalzinho da escola, a meninada é apresentada à notícia, à reportagem, diagramação, fotografia, etc. Quer dizer: têm-se uma visão geral da profissão e isso é bom. Mais tarde, depois da formatura, os mais talentosos talvez consigam emprego na chamada Grande Imprensa. Digo talvez porque os grandes jornais e revistas só têm demitido nos últimos tempos e isso é um péssimo sinal.
Em Off - Você sente um abismo muito grande entre a forma como o jornalismo é praticado hoje do que era feito quando do seu início na profissão?
Moacir Japiassu - A diferença é abissal. Atualmente, a pobreza das empresas jornalísticas já representa um golpe duríssimo na qualidade das publicações. No meu tempo, um bom repórter poderia ficar dias, até semanas, para apurar e escrever uma reportagem. Lembro-me, por exemplo, que meu velho e querido amigo João Antônio (o excelente contista que morreu há poucos anos), ficou mais de um mês em Salvador para fazer uma reportagem sobre candomblé. A empresa pagou tudo direitinho, sabia que encomendara um texto a um jornalista-escritor de grande luminosidade e aquilo custava caro mesmo. É verdade que pouco depois a revista foi fechada, mas garanto que não por causa do que pagaram ao João; foi má administração mesmo.
Em Off - Hoje os cursos de jornalismo têm uma concorrência bastante alta em seus concursos vestibulares, muitos dos candidatos atraídos pela fogueira das vaidades, ávidos pelo telejornalismo, como forma de exposição na mídia. Você acha que há uma "glamourização" da profissão? Tem gente achando que a vida de jornalista é um "mar de rosas"?
Moacir Japiassu - Olhe, só mesmo uma pessoa completamente desvairada ainda pensa no "magnetismo" dessa profissão. Basta acompanhar o Comunique-se, por exemplo, para botar os pés no chão. Um colunista nosso, Eduardo Ribeiro, é especialista no vaivém do mercado de trabalho e todas as semanas, no portal e também no seu boletim Jornalistas & Cia., ele mostra que o velho glamour está morto e enterrado.
Em Off - O jornalista, via de regra, não aceita crítica ao seu trabalho e, utilizando frase de um colega jornalista cearense, reage muito mal quando deixa de ser estilingue e passa a ser vidraça. O Em Off também publica erros cometidos por jornalistas e, quase sempre, as reações dos protagonistas são ruins. Nesse seu trabalho de compilação de erros jornalísticos, quais foram as reações dos colegas? Assim como erros pitorescos e folclóricos, você deve ter também histórias na mesma linha de pessoas cujos erros você retratou.
Moacir Japiassu - Fico admirado por vocês terem a coragem (no bom sentido) de usar esta expressão, "via de regra"; é a primeira vez, em muitos anos, que vejo jornalistas escreverem tal "maldição" jornalística. Os velhos mestres, com os quais aprendi muita coisa, alertavam sempre que algum de nós, desavisadamente, escrevia tal coisa: "Via de regra é boceta! Via de regra é boceta!", se me permitem a chula porém autêntica expressão. Os de minha geração ficaram horrorizados e riscamos a "via de regra" de nossas vidas - riscamos do texto, é claro... Mas não estou condenando vocês, não; detesto radicalismo. Se querem usar, tudo bem. Bom, depois desse esclarecimento, e respondendo a pergunta, digo que jornalista é, sem dúvida, o profissional mais vaidoso do mercado e odeia qualquer crítica. Há, certamente, várias pessoas que não gostam de mim mas a reação delas, pelo menos para "consumo externo", é de bom humor. Acontece que quando iniciei minha coluna, na revista Imprensa, a partir de 1986, eu já era um veterano, modéstia à parte muito respeitado nas redações de Minas, Rio e São Paulo. Tinha 24 anos de profissão e meus pares achavam normal que eu os criticasse, com ironia, leveza; sem virulência a coisa fica mais "palatável", não é? Para se ter uma idéia, certa vez o dono de um apreciado diário (era o dono mesmo) enviou-me vários recortes do seu próprio jornal, com notícias pessimamente redigidas. Juntou um bilhete que dizia: "Considerado Japiassu, meta o pau, pra ver se os meninos daqui ficam mais espertos. Já fiz de tudo para melhorarem, só está faltando a humilhação pública; faça o favor de dar os nomes de todos eles". Fiquei tão perplexo que telefonei ao homem, para ver se aquilo era mesmo dele. Era.
Em Off - Qual foi - ou quais foram - os erros mais engraçados que você já catalogou? Quais os mais trágicos e quais os que causaram mais confusão?
Moacir Japiassu - Taí uma pergunta difícil de ser respondida neste espaço; aconselho os amigos a darem uma olhada no meu livro Jornal da ImprenÇa. Acredito que vocês o conheçam. Não tenho um exemplar que possa despachar pra Fortaleza, porém está à venda na Sá Editora, com a qual fiz um acordo de distribuição dos derradeiros volumes da terceira edição (elianamarcos@uol.com.br, com Eliana Sá); ou então em sites como Bond Faro e Submarino. É melhor que vocês mesmos façam a escolha do material, porque, infelizmente, não disponho de tempo para pesquisar - e a memória de sessentão...
Em Off - Gente do País todo lhe manda erros que encontram nos jornais? Como é feito seu trabalho de "garimpagem"? Como se dá a participação de seu "sancho pança", Janistaquis, nos comentários?
Moacir Japiassu - Recebo muita colaboração mas há um problema: alguns leitores, gentilíssimos, diga-se, não entendem muito bem o "espírito" da coluna; acham que sou professor de português e só me interesso por solecismos. Assim, deixo de aproveitar muito material. Na verdade, e quem está antenado logo vê, minha coluna é uma coluna de humor; interessam-me os tropeços da mídia, como digo na resposta que dei no Comunique-se a um professor da Unicamp que me desceu o cacete. Dêem uma lidinha nos dois artigos, por favor; o dele intitula-se Gramática como martelo e o meu, Japiassu desmascara um impostor. Ambos estão lá no portal, na editoria "Em Pauta".
Em Off - Como é a reação das pessoas que não são do meio jornalístico ao lerem os erros que você destaca?
Moacir Japiassu - Estes são meus leitores mais fiéis, por motivos óbvios, pois não estão envolvidos diretamente. São leitores qualificados, que fazem severas restrições à mídia, por sua arrogância e falsa cultura. Esses leitores também colaboram bastante com a coluna, mas quase todos querem manter o anonimato, no que são atendidos.
Em Off - Qual sua opinião sobre as tentativas de desregulamentação da profissão de jornalista?
Moacir Japiassu - Bom, eu disse acima que os cursos de jornalismo são úteis, como também os de Direito, Filosofia, Letras, etc. - cursos da área de Humanas, preferencialmente. Agora, uma coisa é certa: sem talento, é impossível ser jornalista ou, de resto, qualquer outra coisa neste mundo. Como dizia Nélson Rodrigues, sem talento não se chupa nem um Chicabom. O pessoal que é contra o diploma diz que ele leva a uma intolerável reserva de mercado, essas coisas. É possível. Porém, com ou sem diploma, qualquer um pode ser jornalista, pode desempenhar funções jornalísticas - basta ter talento para isso. Não é a mmesma coisa com outras profissões, como Engenharia, Medicina, e por aí vai; se você não fez o curso e as provas das "ordens" e "conselhos", não pode exercê-las, não está qualificado para isso. O máximo que um mau jornalista pode fazer é causar uma desgraça na reputação de alguém e aí ele vai pagar pelo crime; agora, um engenheiro despreparado será responsável pelo prédio que desabou e matou muita gente; o médico, pela perna esquerda amputada, quando a gangrena estava na outra perna; ou por ter esquecido tesoura e chumaço de algodão no peito do operado. Há um abismo enorme entre essas profissões e o jornalismo.
Em Off - A grande quantidade de falsos profissionais no jornalismo tem contribuído para a ocorrência de mais erros?
Moacir Japiassu - Creio que, pelo menos nas entrelinhas, já respondi parte desta pergunta. Afinal, o despreparo é o pai dessas besteiras todas que lemos diariamente. E quem as comete amiúde é, sem dúvida, um falso profissional, não importa que traga o diploma debaixo do braço. O despreparo é tão grande que se você comparecer a entrevistas coletivas, por exemplo, assistirá a verdadeiros espetáculos de cretinice; os repórteres, de jornais, revistas, rádio e TV, não contestam o entrevistado, tanta é a ansiedade para fazer todas as perguntas que estão arrumadinhas num papel. O "profissional" faz a pergunta, Delfim Netto dá a resposta que bem entende e o repórter nem escuta; aguarda o gordo acabar de falar, mete outra e segue em frente. Isso é comuníssimo, mais entre repórteres de televisão e rádio, por causa do imediatismo, muitas vezes o infeliz está ao vivo e essa é situação deveras aflitiva para qualquer um, embora saibamos que o treinamento resolve tal problema.
Em Off - A freqüência com que jornalistas também despontavam como grandes escritores tem diminuído consideravelmente. Além do hábito da leitura está sendo diminuído o da escrita por parte de quem, curiosamente, tem o ofício de escrever?
Moacir Japiassu - Eu disse acima que quem não lê não pensa e quem não pensa não escreve. E não me referia apenas aos jornalistas. É claro que uma pessoa sem boas leituras jamais escreverá um bom conto e, principalmente, um bom romance. É necessário, imprescindível, que se tenha bagagem cultural e só é possível obtê-la por intermédio da leitura. Porém, não aprecio pessoas que dizem: "Leio tudo o que me cai às mãos!". Ora, não tem o menor sentido ler tudo o que cai em nossas mãos; devemos escolher bem o que precisamos ler. Confesso que eu nunca li apenas para sentir prazer; desde menino, li pro-fis-sio-nal-men-te. Alguns livros foram bem difíceis para um adolescente, como Os Sertões, de Euclides da Cunha, e toda a obra de Graciliano, pelo estilo enxuto, substantivo. Mas insisti e insisti, li e reli várias vezes, até assimilar aquilo que era importante para minha formação. Proust, cuja leitura arrisquei aos quinze anos, foi sufocante, principalmente pelo clima tão distante de minha realidade de menino e ainda havia aqueles parágrafos imensos, sem um pontinho pra gente respirar. Este, só fui apreciar, entender toda a beleza, depois de nova releitura, mas aí então eu já era um velho. Ler profissionalmente, eis o segredo; ler porque é preciso ler. Depois, a gente se diverte vendo nosso time jogar.
Em Off - Fale-nos sobre seu novo livro, o "Concerto Para Paixão e Desatino - Romance de Uma Revolução Brasileira".
Moacir Japiassu - O livro sai este mês (agosto) pela W11 Editores, cujos donos são os jornalistas Wagner Carelli e Sonia Nolasco, viúva de Paulo Francis. São dois profissionais preciosos, aprenderam na vivência do dia-a-dia, no batente, e a editora, apesar de muito jovem, caminha com passos firmes. O Concerto é um romance que tem como cenário a Revolução de 30 na Paraíba (o Ceará comparece na figura de Juarez Távora, também personagem). Transformei alguns revolucionários e políticos em personagens de ficção. O governador da Paraíba na época (governadores eram chamados de presidentes), João Pessoa, é personagem polêmico, com sua severidade de juiz do STM; o assassinato dele é narrado de forma jornalística, seus assassinos também são tratados como personagens, assim como sua amante, uma cantora lírica. Num romance assim, tudo pode ser mentira e tudo pode ser verdade. Outro grande personagem, talvez o maior de todos, é José Américo de Almeida, uma das mais importantes figuras da política brasileira em todos os tempos. Paralelamente, ocorrem histórias de amor, ciúme e morte. O cardápio é bom e o livro está, modéstia à parte, bem escritinho.
Em Off - Por fim Japiassu, qual a mensagem, conselho, alerta, aviso que você deixaria para os que acabam de se formar, estão estudando ou pensam em ingressar no curso de jornalismo?
Moacir Japiassu - Eu falei do Nélson Rodrigues e lembro-me novamente dele. Um dia, pediram ao Mestre que desse um conselho aos jovens e o sacana respondeu, com aquele sorrisinho safado no canto da boca, o olho ferido pela fumaça do eterno cigarro: "Envelheçam". Não chego a tanto, porque, se esperassem chegar à velhice, os candidatos ao jornalismo estariam perdidos. Vou bater na velha tecla: leiam, leiam muito; bons livros, bons romances, bons poetas. Toda frase precisa soar bem em nossos ouvidos. Não é preciso decorar nenhuma gramática, pois estas não ensinam bom gosto a ninguém. O idioma tem bordões e primas, como os violões. Cabe à gente apurar o ouvido e extrair a musicalidade de cada frase. Somente assim é possível aprender a pensar -- e a escrever.