Em Off
Página
dedicada aos profissionais de imprensa.
Entrevista com Maria Eliza Porchait - dezembro/2003
Maria Elisa Porchait já deixou seu nome escrito no radiojornalismo brasileiro. Não apenas por ser ombudsman da Rádio Bandeirantes, mas pelo fato de ser a autora de um dos mais conhecidos trabalhos bibliográficos do ramo, o Manual de Radiojornalismo da Jovem Pan, onde trabalhou por 10 anos. Graduada em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero - a primeira faculdade de jornalismo fundada no País - e em Letras pela USP, tem 54 anos e já está trabalhando em radiojornalismo há vinte anos.
Em Off - Antes de entrarmos diretamente no assunto ombudsman, falemos sobre sua obra na bibliografia do radiojornalismo. A senhora foi a autora do Manual de Radiojornalismo da Rádio Jovem Pan, trabalho que é referencial no meio. Anteriormente, tem-se conhecimento apenas de um trabalho, inédito, do gaúcho Heron Domingues, da Secção de Jornais Falados da Rádio Roquete Pinto, considerado o primeiro manual de radiojornalismo. Como foi feita a elaboração desse trabalho?
Maria Eliza Porchat - Quando escrevi o manual, não tive conhecimento do trabalho do Heron Domingues. Passei mais de um ano pesquisando material com os próprios colegas, fazendo entrevistas com profissionais e especialistas de diversas áreas, professores de português, advogados e fonos, reunindo erros mais freqüentes e dúvidas. Na época tinha como chefe de jornalismo ninguém menos que Fernando Vieira de Mello, que foi quem criou a prestação de serviços no rádio e ensinou gerações de profissionais a colocar o radiojornalismo a serviço da cidade de São Paulo. Ele foi a principal fonte para o manual. Por tudo isso, costumo dizer que o manual foi uma grande reportagem.
Em Off - Como se realiza o trabalho de um ombudsman numa emissora de rádio? A palavra falada não tem a mesma força da escrita, então como fazer essa análise?
Maria Eliza Porchat - Realmente o rádio apresenta algumas dificuldades para o trabalho, que são as mesmas do radiojornalismo. A principal delas é reproduzir no ar (tenho um programa semanal - Ombudsman no ar) as principais críticas, de forma leve e ao mesmo tempo séria, com credibilidade, como exige a linguagem do rádio. É um resumo das principais questões levantadas por ouvintes durante a semana, além de uma crítica pessoal minha, sempre na defesa do ouvinte e uma entrevista com um colega profissional mencionado nas mensagens dos ouvintes críticos. Encontrar o ponto certo não é fácil.
Em Off - O rádio reflete a instantaneidade do meio e dessa forma é uma expressão do momento imediato. Nessa perspectiva o trabalho do ombudsman de uma emissora de rádio também precisa acompanhar esse ritmo?
Maria Eliza Porchat - O ouvinte reage instantaneamente ao que vai para o ar. A reclamação do ouvinte é lida, respondida e encaminhada de forma quase instantânea. O processamento dos problemas e a discussão deles é feita a cada semana.
Em Off - O rádio, além e por causa de sua instantaneidade é também o meio de comunicação que possui a maior interatividade com seu público. O trabalho do ombudsman também precisa seguir essa característica?
Maria Eliza Porchat - A interatividade é a razão de ser deste trabalho. Através do telefone, do fax, da carta e principalmente dos e-mails, o ouvinte reage, sua manifestação é avaliada e se procedente, é encaminhada e discutida. A resposta personalizada à manifestação do ouvinte é indispensável no processo.
Em Off - Quais são os erros mais comuns cometidos nos programas da Rádio Bandeirantes? Quais são as principais reclamações feitas pelos ouvintes?
Maria Eliza Porchat - Temos questões técnicas - como site, acesso à Internet, sintonia; temos questões éticas, como as brigas no ar, autopromoção e também os erros de português, sempre mencionados por ouvintes, que não deixam passar nada.
Em Off - O rádio é um veículo de comunicação que tem sofrido um brutal processo de marginalização por parte dos profissionais e dos estudantes de jornalismo. Não são muitos os profissionais e futuros jornalistas que optam pelo meio, com a maioria decidindo-se por trilhar caminhos no jornalismo televisivo e impresso. A qual motivo a senhora atribui esse fato?
Maria Eliza Porchat - Acho que aqui muitos sabem que o rádio é a escola para o jornalista. Não vejo como problema a preferência dos estudantes pelos outros veículos, uma vez que há muita oferta de profissionais e poucas vagas disponíveis. Mas reconheço que o rádio, para muitos é trampolim para outros veículos.
Em Off - Existe carência de cursos de comunicação com habilitação em radiojornalismo? Afinal, são poucos os existentes no País, abrindo brecha para que nos locais onde essa habilitação não seja oferecida os sindicatos dos radialistas ainda atuem de maneira a garantir respaldo legal para pessoas inabilitadas a exercerem a profissão.
Maria Eliza Porchat - As faculdades de jornalismo devem ter no mínimo dois anos da disciplina - rádio. Além disso, o estudante precisa estagiar o quanto anos numa emissora. Chegar ao final do quarto ano, sem prática de rádio torna difícil qualquer contratação.
Em Off - O trabalho do ombudsman já chegou a ser mau compreendido ou não aceito pelos profissionais da rádio?
Maria Eliza Porchat - A criação da função foi antecedida por um período preparatório do qual participaram todos os profissionais. A maioria entendeu o espírito da proposta. O que me incomoda é a atitude defensiva durante o programa, no ar, diante de uma queixa de ouvinte. Digo sempre que, mesmo diante de uma crítica improcedente, é preciso tentar entender o que levou o ouvinte a fazer aquela crítica.
Em Off - Aqui em Fortaleza temos a Rádio O Povo AM, que mantém um ombudsman, mas o que prevalece é a maioria das emissoras não contando com o trabalho desse profissional. A qual motivo a senhora atribui isso?
Maria Eliza Porchait - Realmente não é fácil. Tenho tentado arrumar um substituto no ano que vem para o cargo, mas ouço que não é fácil encontrar alguém com o perfil de ombudsman. Acho que com o tempo, a função será digerida de forma mais fácil em todas as empresas.
Em Off - Como a senhora se subsidia para realizar seu trabalho? Afinal, não se forma ombudsman nos cursos de jornalismo...
Maria Eliza Porchat - Tenho lido pouca coisa sobre o assunto, embora pertença á Associação de Ouvidores, tenha conversado com os ex-ombudsmans da Folha, mas o que conta é a experiência de erros e acertos do dia a dia. Aprendemos dando cabeçadas. Da parte do português, formei uma equipe de professores que me acodem quando a dúvida não é resolvida através de livros. É isso. Um abraço da Maria Elisa Porchat.