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Opiniões sobre a transposição das águas do Rio São Francisco
O argumento mais forte e convincente sobre a interligação das bacias do São Francisco ou transposição das águas, foi dado por Pedro Brito, ao informar que em duas secas o Governo Federal gastou - com obras sonrisal e, muitas vezes de benefício exclusivo dos "fornecedores" da seca"- o equivalente ao que será aplicado neste projeto.
Quem, nordestino atento à região e aos seus problemas, pode questionar esta colocação? Testemunhei muitas destas situações e sei, como Jader de Carvalho bem retratou em "Aldeota", como nasceram bairros em Fortaleza após a calamidade de secas.
E tem mais. Após a dramatização do anunciado e garantido (não concretizado) suicídio do bispo, imolando-se em prol dos nordestinos e em protesto às intenções ocultas de favorecimento aos capitalistas exploradores da terra , fortaleci minha convicção em defesa da transposição do São Francisco. Discurso batido, demagógico e de irrealismo religioso não merece, pelo menos de mim, nada mais do que repulsa e rejeição.
Basta da ladainha louvatória aos desassistidos filhos da seca. Fim do embuste: seca não é fatalismo, nem pai da miséria de legiões de nordestinos e sim fruto do "mito" de "que Deus assim o quer."
Sem obras como esta - transposição das águas do velho Chico - tudo continuará como antes, no quartel de Abrantes... para alegria dos que se locupletam com a "bendita" seca que engrossa o seu pirão e aperta o cinturão nos costados dos "degradados " filhos de Eva, enquanto eles usufruem do eden abençoado...
Adísia Sá, jornalista
No momento em que os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente, com os costumes sendo dissolvidos, as consciências em debandada, a transposição surge como a fé nos desesperados. É um trabalho a ser desenvolvido com amor, sem se pensar em sucesso pessoal, em colher dividendos políticos. Não há fama nem dinheiro capazes de neutralizar a insuportável rotina das coisas que se fazem sem amor e sem cuidado.
Eça de Queiroz,
Rui Barbosa, entre outros, já pensavem assim, tempos atrás. Trata-se de um
projeto importante para o Nordeste, principalmente para aqueles Estados que
sempre são atingidos e castigados pela seca, no caso: Pernambuco, Paraíba, Ceará
e Rio Grande do Norte, que passarão a contar com uma garantia de oferta hidríca.
Recentemente em artigo publicado em um dos jornais, lí uma declaração do
ex-Governador do Ceará, Gonzaga Mota, mostrando que as vazões a serem
transportadas não interferem do ponto de vista ambiental, nem para montante nem
para jusante (sentido em que correm as aguas),do ponto de vista de captação.
Então, que seja
feita a transposição, já. Com relação ao baixo impacto do projeto na matriz
energética do Nordeste, este impacto, ainda segundo Gonzaga Mota, só será
sentido a partir de 2025 que é quando o projeto estará operando com capacidade
plena. Desde os tempos do Império somos enganados. Dom Pedro brandia a espada e
dizia que se preciso, venderia o último brilhante da coroa, mas não deixaria
nenhum nordestino morrer de fome. De lá até aqui, tudo continuou como era antes,
muitos morreram de fome, de sede, principalmente crianças.
Que se tente alguma coisa. É o mínimo que podemos esperar.
Guto Benevides, publicitário
Uma luta de 188 anos
Você sabia que a luta pela execução do projeto de transposição de águas do Rio São Francisco para o semi-árido nordestino começou em 1817? Pois são 188 anos. Na verdade, voltou-se a falar do assunto em 1997 através da Assembléia Legislativa. O assunto emergiu naquela época e nunca esteve num momento tão propício como o atual para sua realização por duas razões: o presidente Lula e o ministro Ciro Gomes são nordestinos, vivem as dificuldades do povo do Nordeste e são sensíveis.
Confesso que estou cansado de assistir os avanços e retrocessos que marcam esta decisão. Na verdade, sugiro o apoio de todos os homens e mulheres de bem para virar a mesa nesta discussão, caso razões políticas menores voltem a se opor ao imediato início das obras. Lembro-me que em duas oportunidades o então presidente FHC se comprometeu em executar o projeto, mas ACM e cia. não deixaram.
Durante as duas campanhas de FHC assistimos pela TV a água do rio São Francisco jorrando pelo Ceará. Eram imagens virtuais... Imagens enganadoras... Imagens de simples campanhas eleitorais. Como também vimos na TV imagens das pessoas pegando o Metrofor. Tudo enganação. Lembrem-se que nestas mesmas campanhas eleitorais a siderúrgica foi prometida aos cearenses em mais de uma oportunidade.
O projeto de transposição de águas vai custar cerca de R$ 5 bilhões. Mas sabem quanto custou a Itaipu binacional? R$ 40 bilhões; na Angra foram investidos R$ 14 bilhões; na construção da Ponte Rio-Niterói outros R$ 8 bilhões; e somente num dos serviços de despoluição o Rio Tietê, em São Paulo, foram R$ 7 bilhões.
Pelos estudos, o custo do sistema de transposição de águas será repartido entre os quatro Estados beneficiados: Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco. Serão cerca de 20 milhões de reais por ano para cada estado. É um valor pequeno comparado com o benefício.
O saudoso economista Celso Furtado já dizia, na década de 50, que a seca não é um problema de engenharia hidráulica. A seca é um fenômeno climático e vai sempre se repetir. Esta obra não vai eliminar a seca, mas vai trazer para o Nordeste, além da água de beber, o desenvolvimento, tornando a região menos vulnerável aos efeitos da seca. E é nesse sentido que o projeto foi pensado.
Permitam-me abordar de forma resumida a urgente necessidade da transposição de águas. Existe a necessidade de que todo cearense, sem exceção, conheça o problema hídrico global que tende a ser, em prazo curtíssimo, em termos de perspectiva histórica, o mais grave da Humanidade.
Embora a água exista na Terra em grande quantidade – cerca de um bilhão e 400 milhões de metros cúbicos -, apenas uma pequena fração deste total está disponível para ser usada pelo homem porque 97% estão nos oceanos. Dos 3% restantes, mais de 90% são retidos pelas calotas polares. O resultado dessa aritmética simples é que apenas cerca de um décimo por cento do total
constitui recursos hídricos disponíveis.
Mesmo sendo um recurso natural renovável pelo funcionamento do ciclo hidrológico, a água é um recurso limitado. O maior problema, porém, é a sua má distribuição espacial. Há locais onde ela é abundante e noutros onde o déficit é imenso. Há, por isso, crise de água em várias partes do mundo e a situação tende a piorar.
Estima-se que as necessidades hídricas mundiais devem dobrar nos próximos 20 anos e metade da população do globo, cerca de quatro bilhões de pessoas, poderão enfrentar sérios problemas de escassez de recursos hídricos até o ano de 2025.
Até o ano de 2050 serão sete bilhões de seres humanos a enfrentarem o problema, segundo conclusão das Nações Unidas. O Brasil tem cerca de 12 por cento da água doce disponível no planeta, mas 73% dos recursos hídricos nacionais encontram-se na bacia Amazônica, onde habitam 4% da população do País.
Enquanto isso, o Nordeste, que abriga 28% da população brasileira, conta com apenas 5% da água disponível no País. Temos que democratizar o acesso ao uso da água transportando-a de onde sobra para onde falta, de onde tem para onde não tem.
Um ponto é indiscutível: não há como falar em desenvolvimento do semi-árido do Nordeste setentrional e, por conseqüência, de todo o Nordeste, sem uma solução consistente para a falta de água na região. É imprescindível a execução de um plano de obras estruturado, que permita a convivência com as secas no semi-árido brasileiro.
Ao longo do tempo, o Brasil assiste ao drama da falta d'água na região nordestina, apresentando soluções paliativas. Milhares de açudes e poços foram construídos sem que se conseguisse atender a esta demanda. Bilhões e bilhões de reais de recursos públicos são gastos periodicamente.
Transposição, a rigor, não é novidade no Brasil nem no mundo. Na Região Sudeste, por exemplo, foram realizadas duas obras de porte. A primeira bombeia água do rio Paraíba do Sul para o rio Guandu, gerando energia elétrica e abastecendo a cidade do Rio de Janeiro. A segunda abastece parcialmente a cidade de São Paulo com as águas da bacia do rio Piracicaba. Também o Nordeste já se beneficia de uma obra dessa natureza. Aracaju, capital de Sergipe, é abastecida por meio da transposição de águas do próprio São Francisco.
Em todo o mundo transposições são obras correntes há séculos. Os chineses talvez tenham sido os pioneiros, já que realizaram obras dessa natureza utilizando o rio Amarelo, milênios antes de Cristo. Entre os romanos, destaca-se a construção de aquedutos de até 300 quilômetros de extensão, destinados a levar água potável de montanhas para o abastecimento de grandes cidades. Nas regiões secas da Espanha, os produtores de frutas conseguem superar em preço e qualidade os produtos franceses. Na Califórnia, agricultores estabelecidos em área que já foi deserto, elevam o faturamento anualmente, graças à irrigação com água captada no rio San Joaquin, a centenas de quilômetros.
Quero dizer com tudo isto que a transposição de águas do Rio São Francisco é uma necessidade exeqüível, indiscutível e inadiável. Chegou a hora de deixarmos de lado as arestas criadas no embate de quase dois séculos em torno da discussão sobre a transposição e construirmos juntos uma solução que atenda a todos.
Enquanto a transposição não sai do papel, vidas vão sendo perdidas e o Nordeste é condenado ao atraso e à miséria, o que obriga seus habitantes a migrarem para as áreas urbanas, agravando seus problemas num processo que penaliza todo o Brasil. A transposição vai representar apenas 26 metros cúbicos d'água por segundo, o que significa 1% da água do rio, mas beneficiando cerca de 12 milhões de pessoas. Desse total, 4 milhões e meio de cearenses.
Na verdade, os opositores ao projeto de transposição estão demonstrando uma visão equivocada. A água que reivindicamos iria para o mar. Ao concordar com o projeto de transposição os hoje opositores estariam ajudando a dar condição de vida digna a seres humanos que não têm água nem para beber. Não adianta alimentarmos as desigualdades regionais, que vão causando irreversíveis prejuízos para futuras gerações.
O Rio São Francisco já está sendo revitalizado, como queriam a Bahia, Sergipe e Alagoas. Estão sendo replantadas as matas ciliares, que foram destruídas por eles próprios; recuperadas as nascentes; desassoreamento e feito o esgotamento sanitário, uma vez que são as comunidades ribeirinhas que jogam esgoto in natura no rio. Só o Ministério das Cidades está investindo 620 milhões de reais no saneamento básico, que é o principal agente poluidor do São Francisco.
Apelo, portanto, a todos para continuarmos unidos nesta luta por um Brasil desenvolvido e socialmente mais justo. Convoco todas as forças sociais, políticas, religiosas, militares, comunitárias e empresariais do nosso Estado a se mobilizarem para evitarmos que outros obstáculos se oponham no caminho da construção das soluções de desenvolvimento sustentável do Nordeste setentrional.
Encerro esta artigo com uma frase do deputado estadual Chico Lopes sobre a greve de fome do frei Luiz Flávio Cappio, da Bahia: “Não queremos que nenhum baiano morra de fome, mas também não queremos morrer de sede”.
Luciano Luque - jornalista
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