Hepatite C

VÍRUS C
     O HCV é um vírus RNA, de transmissão parenteral, representando o agente habitual da 
hepatite  pós-transfusional.  
     Mas é visto principalmente em indivíduos que sofreram picada acidental de agulha.   
     A cohabitação com uma pessoa anti-HCV positiva não apresenta risco.  Durante a menstruação o 
sexo não protegido deve ser evitado.  
     A transmissão mãe-filho ocorre em 0-3%; há 2 fatores de risco: a mãe com infecção pelo HIV e 
a alta carga viral materna.  A transmissão pelo leite materno não foi documentada.   
     A viremia é transitória ou crônica.   Como muitos outros vírus RNA o HCV tem inerente uma 
alta taxa de mutação, resultando em considerável heterogeneidade genética, o que permite subdividir 
o vírus em 6 genótipos maiores.  
     A infecção  aguda é inaparente em aproximadamente 90% dos casos. Cerca de 60% dos indivíduos 
infectados pelo HCV evoluirão para a forma crônica.  
     O papel do álcool (que não é oncogênico), agindo como coadjuvante da ação do HCV e do HBV, 
tem sido igualmente salientado.  
     É diagnosticada através da identificação no soro do Ac anti-HCV.  O anti-HCV parece persistir 
por tempo prolongado, e não há relação entre este fato e o curso da infecção.  O anti-HCV pode surgir 
tardiamente após a fase aguda da hepatite.   Sua pesquisa precoce poderá levar a um resultado falso-negativo.   
     Uma a duas semanas após o contágio, o HCV-RNA é o único marcador no soro e se estende por um 
longo tempo, desde a incubação, passa pela fase clinica  e se prolonga  por l2 semanas após esta última.    
     Somente depois é que o anti-HCV se torna  positivo.  
     Pessoas com lesão acidental por agulhas devem ser testados para anti-HCV no momento do acidente 
e 12 semanas mais tarde para detectar infecção.  
     O teste anti-HCV no RN não tem valor, pois há transmissão passiva do Ac pela placenta; 
pode levar 12-18 meses para ocorrer o clareamento.
     Para se ter certeza do clareamento viral testes baseados em PCR devem ser usados.  O teste negativo 
indica desaparecimento do HCV-RNA no soro, mas não informa sobre o estado do HCV no fígado ou 
em outros nichos privilegiados, como nos linfócitos.  
     Assim, o completo clareamento viral não pode ser assegurado com certeza, e tais pacientes devem 
ser monitorados a intervalos para avaliar a doença hepática, tanto clínica quanto laboratorial, 
sobretudo nos níveis das transferases.  
     A médio ou longo prazo, havendo alterações significativas estará indicado o estudo histológico 
mediante biópsia hepática.  
     Como nos testes de DNA para hepatite B, aqui também há uma grande variação inter e intra-testes.  
O teste de RNA-HCV é indicado em pacientes que são anti-HCV positivos e com níveis normais de 
transaminases.   
     O INF pode ser usado na hepatite aguda, com objetivo de evitar o alto índice de cronificação (70%), 
com evolução para cirrose em 10 a 30 aanos e até carcinoma hepatocelular.  
     Pacientes com transaminases persistentemente normais têm menor probabilidade de progressão 
para cirrose.  
     Não há clara associação entre a progressão da doença com o genótipo e a carga viral.  
     A hepatite C ocorre em pacientes HIV positivos numa freqüência de 50-90%.  Coinfecção com 
HIV é associada com cargas virais maiores, e uma progressão mais rápida para cirrose.  
     Coinfecção com hepatite B aumenta o risco de hepatocarcinoma, além de aumentar a gravidade do quadro.  
     Mas na maioria dos pacientes uma infecção predomina, enquanto a outra está dormente.  
     Quando predomina o tipo B o HBV-DNA é detectado, enquanto o HCV-RNA não o é, e vice-versa.  
     Raramente ambas as doenças podem estar ativas.

Tratamento da hepatite crônica C
* em adultos maiores de 16 anos, com presença de HCA; 
* na cirrose compensada; 
* transaminases > 1,5 vezes o limite superior em 3 ocasiões consecutivas durante 3 meses; 
* história de transfusão sangüínea e derivados; 
* anti-HCV positivo  e RNA positivo.   
     Usa-se o INF alfa2b, 3 milhões U, 3 x/semana mais ribavirina 1.000-1.200 mg/dia.  
     Pacientes com genótipo 2 ou 3 tem uma resposta de aproximadamente 65%; genótipo 1, 30% de resposta.  
     A resposta também é melhor se há uma menor carga viral, paciente abaixo de 40 anos, ausência de 
fibrose e sexo feminino.  
     A duração do tratamento é determinada pelo genótipo viral; genótipos 2 ou 3, por 6 meses, e os outros 
genótipos por 1 ano.  
     A carga viral não deve ser usada para determinar a duração do tratamento.   
     A ausência de resposta após 16 semanas, não justifica continuar.   
     O que indica boa resposta: 
* a) normalização das transaminases por 1 ano; 
* b) negatividade do HCV-RNA por 1 ano; 
* melhora histológica.   
     Tem boa resposta em 50% dos casos, com recidiva em 45% nos 3 meses que seguem à parada do  INF.   
     Se há grande aumento de transaminases  durante o uso de INF, retirar a droga.    
     Pode tratar-se de HC auto-imune e não tipo C, com piora do quadro com INF.   
     O diagnóstico de HC viral nunca deve deixar dúvida de sua etiologia viral, se propusermos o uso de INF.  
     A ribavirina causa hemólise, com o nível de Hb caindo nas primeiras 2-4 semanas e estabilizando depois; 
reduzir a dose se Hb < 10.  Ela tb é teratogênica.   
     Avaliação do TSH 3/3 meses, pois o interferon aumenta a incidência de tireoidite, principalmente 
em pacientes com hepatite C crônica.  Ele também pode exacerbar a retinopatia diabética.  
     Os pacientes devem se abster de álcool.  
     Pacientes que não respondem à terapia combinada são candidatos a tratamento experimental.

Hepatite em crianças
     Transmissão vertical nos RN, body piercing, tatuagem e abuso de drogas em adolescentes, 
são as rotas mais comuns de infecção.  Mais de 30% destas crianças tem resolução espontânea.  
     A resposta ao interferon pode chegar a 33-50%.  A resposta ao tratamento combinado é desconhecida.  
     A hepatite C crônica não deve ser tratada exceto em trabalhos controlados.

Manifestações extra-hepáticas
* a) Crioglobulinemia mista essencial - é uma doença sistêmica que se caracteriza pela presença de 
púrpuras vasculares palpáveis, artralgias, hepatoesplenomegalia e alterações renais e neurológicas.  
     Sua patogênese baseia-se na presença de Ig séricas que se precipitam de modo reversível em baixas 
temperaturas.  Dividem-se em tipo I, II e III conforme o padrão das Ig no crioprecipitado.  
     O tipo I consiste de uma Ig monoclonal e associa-se a doenças malignas e auto-imunes.  
     As dos tipos II e III são crioglobulinemias mistas, sendo a primeira composta por IgG policlonal 
e IgM monoclonal e a segunda por IgG e IgM policlonais.  
     O tipo II relaciona-se com doenças malignas e autoimunes e o tipo III com processos infecciosos, 
auto-imunes e com doenças crônicas do fígado; 
* b) sialoadenite linfocítica crônica ou síndrome de Sjögren primária, caracterizada por 
xerostomia e xeroftalmia e pela presença de auto-Ac SSA e SSB, havendo à histopatologia 
infiltrado linfocitário e atrofia das glândulas salivares e lacrimais.  
     Associação a infecções virais crônicas, como o vírus Epstein-Baar; 
* c) manifestações hematológicas - trombocitopenia associada a altos títulos de IgG 
contra Ag plaquetários; 
* d) manifestações dermatológicas - vasculite associada com a crioglobulinemia, a porfiria 
cutânea tardia (diagnóstico pela histopatologia da lesão e pesquisa de uroporfirina na urina), 
o eritema nodoso e o multiforme, a urticária, o líquen plano (pápulas eritemato-violáceas cuja 
superfície apresenta estrias esbranquiçadas, geralmente pruriginosas, distribuídas em locais 
de eleição como punhos, face flexora dos braços e genitália), a poliarterite nodosa, a pitiríase 
rubra, a alopecia e o vitiligo.

Prognóstico
     Após a cirrose surgir a sobrevida de 10 anos é de 80%.

Exijamos o impossível já que o possível pode esperar
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