Excitação-contração: o evento que inicia o processo é o potencial de ação do miocárdio, gerado no nó sinusal e conduzido desde os átrios até o nó AV, e daí para o feixe de His e fibras de Purkinje atingindo depois as células ventriculares. Há em decorrência um influxo de íons cálcio através da membrana da miocélula cardíaca. Este influxo deflagra uma rápida movimentação de cálcio a partir do retículo sarcoplasmático. O cálcio agora no citoplasma interage com proteínas reguladoras de forma que os sítios de ligação da actina são expostos, com ligação destes às cabeças da miosina. O relaxamento miocárdico depende do restabelecimento de baixas concentrações de cálcio intra-citoplasmáticas. Por um estímulo desconhecido, inicia-se a recaptação do cálcio sarcoplasmático. O cálcio segue 2 rotas: ser recaptado para o retículo ou sair para o meio extracelular; qualquer que seja a rota, é dependente de energia (ATP). O ciclo cardíaco: no coração, os fenômenos elétricos desencadeiam o fenômeno mecânico (contração-relaxamento), o qual determina os fenômenos hemodinâmicos (variações de volume, pressão e fluxo). O ciclo cardíaco tem 2 fases: sístole e diástole ventriculares. Desempenho mecânico do coração: ele é traduzido em termos de um adequado débito cardíaco frente às exigências orgânicas. A pré-carga é a carga passiva que determina o comprimento inicial das fibras cardíacas antes da sua contração na fase isovolumétrica. Lei de Frank-Starling: quanto maior a tensão intraventricular diastólica final, maior o estiramento da mio-célula cardíaca e daí maior a força de contração, dentro de limites fisiológicos. O débito cardíaco depende da pré-carga até o limite morfológico de distensão da fibra miocárdica, a partir do qual a tensão intraventricular eleva-se grandemente deprimindo a contractilidade (ponto de inflexão da curva de função ventricular de Frank-Starling). Assim, a redução da pré-carga na IC, com vasodilatadores e/ou diuréticos é benéfica para o alívio dos fenômenos congestivos e para a melhoria da função contrátil, desde que não ocorra queda da tensão diastólica final abaixo do necessário para a manutenção do estiramento da fibra miocárdica, o qual serve de estímulo para o aumento compensatório da contractilidade. A pós-carga fisiologicamente depende de: a) impedância aórtica; b) resistência vascular periférica; c) características físicas da árvore arterial; d) massa da coluna de sangue no compartimento arterial prévia ao início da ejeção ventricular; e) viscosidade sanguínea; f) estado de tensão parietal do ventrículo. No aumento da resistência periférica (p.e. HA) e na ausência de IC, o débito cardíaco é mantido às custas de aumento da contractilidade, sendo garantido a longo prazo às expensas da hipertrofia ventricular. A atividade contrátil se inicia com a despolarização da fibra cardíaca; dependente de O2. O aumento da frequência cardíaca pode promover um aumento da contractilidade e do relaxamento miocárdico, melhorando o desempenho sistólico e diastólico. Os efeitos da FC sobre o débito cardíaco, independentemente de o ritmo se sinusal ou não, são de elevação do mesmo quando o incremento compensatório ocorre na faixa de 50 a 160 bpm. Fora destes limites há redução proporcional do DC, principalmente na vigência de IC. Assim, uma FC menor que 50 determina elevação da pré-carga, e maior que 110 diminui o tempo de enchimento, o que em indivíduos com função ventricular normal não resulta em dificuldade, pois o enchimento ventricular se dá principalmente no 1/3 inicial da diástole. Mas em condições onde a distensibilidade ventricular está alterada, a alta FC pode resultar em significativa redução da pré-carga, com queda no desempenho ventricular. Então, mantido constante o volume sistólico, o DC é direta e linearmente proporcional a FC. Função diastólica cardíaca: fatores determinantes do relaxamento ventricular: 1) o processo de excitação-contração-relaxamento; 2) o fluxo sangüíneo coronariano; 3) as propriedades visco-elásticas do miocárdio; 4) o sincronismo entre contração e relaxamento das câmaras atriais e ventriculares; 5) o pericárdio; 6) a interdependência ventricular; 7) a intensidade da contração do batimento prévio, i.e., a carga sistólica prévia ao relaxamento; 8) a frequência cardíaca.
1) etiologia da IC: os diversos tipos de cardiopatia podem levar à IC. Na criança, no período neonatal, os sintomas são mais sutis, como dificuldade de alimentação, falência de crescimento ou ganho de peso, sudorese excessiva e infecções pulmonares. Aqui, as cardiopatias congênitas, associadas à miocardite viral e sobrecarga de volume são as principais causas. Causas na fase infanto-juvenil: febre reumática, doenças metabólicas, renais, tireotoxicose, terapia do câncer e miocardite viral. No adulto, a hipertensão arterial é a maior causa, seguida pela doença coronariana. Também sobrecargas de volume, anemia, disfunções tiroidianas, doenças reumáticas, miocardites, etc. 2) fatores de risco para o desenvolvimento de IC: diabetes, HA sistólica, menor capacidade vital pulmonar, aumento do coração ao Rx, hipertrofia VE ao ECG e alterações inespecíficas da repolarização ventricular. 3) fatores precipitantes da falência cardíaca:HA não controlada, arritmias cardíacas, fatores ambientais, terapêutica inadequada, infecção pulmonar, estresse, sobrecarga de volume, insuficiência coronariana aguda e desordens endócrinas. 4) prognóstico: mortalidade em 6 anos da IC em homens e mulheres é de 82% e 67% respectivamente. Há 6-7 vezes mais morte súbita que na população em geral.
A lesão cardíaca intrínseca é uma alteração na contractilidade do miocárdio que na maioria das vezes é irreversível. A causa mais comum de uma IC direita é a IC esquerda. O cor pulmonale é uma exceção em que a IC direita precede a esquerda. As manifestações clínicas refletem: a) as conseqüências diretas da perfusão reduzida; b) as alterações neurais e humorais desencadeadas pelo DC inadequado às demandas metabólicas; c) as conseqüências da retenção de sal e água. O débito cardíaco (DC) reduzido resulta numa oxigenação inadequada dos tecidos, sendo o mesmo redistribuído, de modo que o fluxo sangüíneo para áreas essenciais como músculos, coração e cérebro é preservado, mas é diminuído para áreas como o rim e a pele. Nos rins, o fluxo sangüíneo para as áreas corticais diminui consideravelmente, enquanto para as áreas medulares aumenta. Isso facilita a maior reabsorção do filtrado e uma queda do débito urinário, num esforço para aumentar o volume circulante. Esse fenômeno e os efeitos adicionais de hormônios como a aldosterona contribuem para a retenção de líquidos e formação de edema. Há edema de tornozelo, congestão vascular pulmonar e hepática. A redução no volume efetivo circulante produz uma resposta imediata do corpo. O tônus simpático aumenta para restabelecer o DC, e os níveis de angiotensina II elevam-se para induzir vasoconstrição e elevar a PA. Simultaneamente, a retenção renal de sódio e, através desse mecanismo, o volume hídrico, aumentam para elevar o volume efetivo de sangue circulante. A IC aguda resulta de uma agressão imediata e intensa do coração, tal como no IAM. A IC não é uma doença por si; é uma conseqüência de doenças que prejudicam a capacidade do coração de funcionar bem como bomba. A IC ocorre sempre que o DC comprometido for incapaz de satisfazer as demandas metabólicas do corpo. As condições que levam à IC são: a) sobrecarga de pressão em um ou outro ventrículo; b) sobrecarga de volume em um ou outro ventrículo; c) alteração de função do miocárdio normal que comprometem a função contrátil; d) comprometimento do enchimento cardíaco. A coronariopatia e a HA contribuem com 90% dos casos, e diabete melito aumenta o risco. O prognóstico é sério, e está relacionado com o grau de disfunção miocárdica. Em torno de 80% dos pacientes com IC são maiores de 60 anos. Na ICC ocorre um processo lento de destruição miocárdica, que pode passar despercebido até que a lesão resulte em sintomas, como na hipertensão não controlada. Mais de 50% destes pacientes morrem em 5 anos após o diagnóstico. Compensação: Inicialmente, menos sangue é bombeado para fora do VE; isso aumenta a pré-carga que, por sua vez, aumenta o DC, mas apenas até um certo ponto. Qdo a pressão de enchimento do VE aumenta até um nível ótimo de l5-20 mmHg, o volume de ejeção aumenta. A partir de então, o volume de ejeção diminui, levando à congestão pulmonar e formação de edema, com DC decrescente. A estimulação dos baroreceptores aumenta o tônus simpático e a descarga simpática para o coração, vasos sangüíneos e medula da supra-renal. A partir da medula da supra-renal, a adrenalina é liberada para a circulação. Essa liberação produz uma melhora na contractilidade miocárdica e aumenta a FC. Na circulação periférica resulta em tônus aumentado no leito vascular, em retorno venoso maior para o coração e no volume de ejeção aumentado. Isso também auxilia a melhora da pressão de perfusão nos tecidos. Simultaneamente, a resistência do fluxo de saída para o VE aumenta, levando ao aumento da pós-carga e da demanda miocárdica de O2. Uma elevação mantida da pós-carga diminui progressivamente o trabalho gerado pelo coração insuficiente. As catecolaminas liberadas estimulam o sistema renina-angiotensina-aldosterona, que também é estimulado por mecanismos renais. Adicionalmente, como nesse momento o coração se tornou dependente de modo crescente da estimulação adrenérgica, os depósitos de noradrenalina cardíaca se tornam diminuídos, fazendo a função miocárdica mais dependente das catecolaminas circulantes. O aumento na pós-carga, além de um certo ponto, exerce um estresse indevido sobre o coração e reduz o DC. Inicialmente, decorrente da estimulação simpática e do fluxo sangüíneo renal reduzido e, em seguida, a partir da liberação aumentada de angiotensina II, a produção de renina é aumentada. A renina, por sua vez, eleva os níveis de angiotensina II (que é um vasoconstritor potente e estimula a liberação de aldosterona e de arginina-vasopressina [HAD]). A vasoconstrição pela angiotensina II auxilia a aumentar a pós-carga e diminuir o fluxo sangüíneo renal e a filtração glomerular, resultando na retenção de sódio e água. O resultado é a expansão da volemia, maior rigidez das artéria e veias e compressão capilar secundária ao edema intersticial. As extrassistolias, em geral, são moduladas pela atividade adrenérgica nas células normais localizadas em áreas de fibrose, às vezes associadas com distúrbios hidro-eletrolíticos e processo inflamatório local. As extrasístoles ventriculares (EV) são as mais freqüentes, por serem os ventrículos os mais comprometidos pelas doenças cardíacas. As bradiarritmias são em geral consequências de bloqueios da condução elétrica por fibrose miocárdica. A presença de bloqueio do ramo E do feixe de His, na MCC, pode estar associada a um mau prognóstico pelo extenso comprometimento do VE. A miocardioesclerose pode determinar disfunção sinusal, bem como BAV, que se deve à dissecção do tronco do feixe de His, provocada pela esclerose e calcificação das válvulas aórtica e mitral. Na fase crônica das coronariopatias, as bradiarritmias são decorrentes da cicatrização miocárdica ou da isquemia residual nos tecidos de condução. As taquiarritmias em geral são determinadas pelo fenômeno de reentrada. Para que esta ocorra é necessária na região fibrótica a presença de uma zona de condução lenta do estímulo cardíaco e de outra rápida, e a extrassístole atua como mecanismo deflagrador da taquicardia. A MCC compromete difusamente os ventrículos, e várias regiões podem ser geradoras de taquicardia por reentrada ventricular; a região póstero-basal do VE parece ser a área preferencial. Se a freqüência da taquicardia é elevada há baixo DC, causa isquemia miocárdica e, às vezes, evolui para fibrilação ventricular. O aumento do tônus simpático na IC propicia a gênese de extrassístoles, que podem deflagrar a taquicardia ventricular sustentada.
1) ECG: em nosso meio, um paciente com ICC e ECG com BRD mais HBAE sugere cardiopatia chagásica. Já BRE em jovem indica cardiomiopatia primária e/ou alcoólica, e se em maior de 50 anos sugere insuficiência coronariana. A baixa voltagem QRS e as alterações primárias da repolarização ventricular sugerem cardiopatia aterosclerótica. Os clássicos padrões de sobrecargas pressórica e volumétrica, na presença dos respectivos achados clínicos indicam cardiopatia hipertensiva, estenose aórtica e insuficiência aórtica e/ou mitral reumáticas. A sobrecarga atrial esquerda e das câmaras direitas relacionam com estenose mitral. Em uma criança com IC aguda e história compatível com FR, os achados de BAV de primeiro grau mais alterações inespecíficas da repolarização ventricular, fortalecem o diagnóstico de cardite reumática. Isquemia, lesão ou necrose em pacientes com suspeita de IC apontam para doença coronariana. 2) cicloergometria: a fadiga ao esforço físico é uma das primeiras manifestações da IC. O padrão isquêmico durante uma prova de esforço, mais incapacidade de completar a prova nos estágios iniciais indicam coronariopatia em geral grave. 3) Rx de tórax: a inversão do padrão normal, com cefalização da trama vascular indica hipertensão venocapilar pulmonar. A congestão hilar mostra a gravidade da hipertensão venosa, indicando predominância da disfunção esquerda sobre a direita. As linhas "B" de Kerley na periferia dos campos pulmonares sugerem congestão venosa passiva crônica com sobrecarga e dilatação dos vasos linfáticos pulmonares e estão mais associadas com doença valvar mitral como a estenose reumática. A opacificação do seio costo-frênico, em decorrência de derrame pleural, à direita, é comum. Também uma cardiomegalia global com perdas dos contornos da sombra cardíaca pode dever-se a um derrame pericárdico volumoso com provável restrição diastólica ao enchimento ventricular. Ectasia do arco aórtico e seu alongamento, mais placas ateromatosas calcificadas sugerem etiologia aterosclerótica. 4) ecocardiografia: a infiltração do endocárdio por tecido fibroso mais dilatação das câmaras atriais, são achados da endomiocardiofibrose. O espessamento das paredes do VE com diminuição da contractilidade sugerem HA. O fluxo venoso pulmonar com padrão restritivo em um paciente com disfunção sistólica tem importante valor prognóstico. 5) recursos nucleares: há 2 formas: a) consiste na ventriculografia de primeira passagem, onde o marcador - Tecnécio 99 - é injetado na veia periférica em bolus, e a captação é feita no momento de sua passagem pelo coração; b) ventriculografia de equilíbrio, onde se usam hemácias do paciente marcadas com tecnécio, permitindo o estudo da função por algumas horas. A contagem radioativa pode fornecer os volumes dos VD e VE e portanto a fração de ejeção. Nas valvopatias é possível avaliar o volume regurgitante. Nos jovens com disfunção sistólica a cintilografia miocárdica com gálio pode diferenciar a miocardiopatia crônica dos processos inflamatórios agudos do miocárdio. 6) cineangiocoronariografia: a introdução de um cateter através da artéria braquial ou femural, dirigindo-se ao coração, com injeção de contraste iodado nas coronárias é o padrão para avaliar a existência ou ausência de doença coronariana. No mesmo ato é possível contrastar o VE durante a sístole e diástole, introduzindo o cateter no VE, via valva aórtica, permitindo avaliar de forma global e segmentar a contratilidade miocárdica. A cateterização venosa das câmaras direitas permite avaliar as pressões do átrio direito, VD e artéria pulmonar, e a pressão do átrio esquerdo utilizando o cateter de Swan-Ganz, importante na monitorização hemodinâmica dos pacientes com grave insuficiência ventricular esquerda. A análise do contorno interno do VE de forma dinâmica pode identificar alterações segmentares da contratilidade, incluindo movimentos discinéticos das paredes (aneurismas). Aneurisma de ponta, com e sem trombo sugere Chagas. 7) TC: a tomografia ultra-rápida e a helicoidal analisam os volumes ventriculares, medem a espessura e mobilidade das paredes e determinam a massa cardíaca. 8) Ressonância magnética nuclear: tem alta resolução, com avaliação de detalhes anatômicos; determinam volume e função cardíaca global e segmentar nas diversas formas de cardiopatia. Contra-indicada em portadores de próteses metálicas e marca-passo. 9) laboratório: a) hemograma; b) proteínas plasmáticas; c) hormônios para doenças tiroidianas e feocromocitoma; d) provas de atividade reumática; e) sorologias e marcadores virais; f) coagulograma; g) sódio; potássio; magnésio; cálcio; h) gasometria.
Depende da fração de ejeção ventricular, do tipo de arritmia e da sensibilidade do paciente. Nas extrassistolias, principalmente ventriculares, há desde sensação de falhas no coração até manifestações de baixo débito cerebral. Nas bradiarritmias há desde tonturas leves até síncopes. O BAV de 1º grau em geral é assintomático. Quando o intervalo PR é muito prolongado e a onda P coincide com a onda T podem haver palpitações e sensação de dispnéia, pois a contração atrial ocorre com as válvulas AV fechadas. Nos BAV mais avançados os sintomas dependem das pausas ou do grau de bradicardia resultante. Na disfunção sinusal há desde adinamia e cansaço fácil até pré-síncopes e síncopes. Das taquiarritmias, as ventriculares são as mais graves. Algumas degeneram para fibrilação ventricular, caracterizando o quadro de morte súbita. Nas miocardiopatias a fibrilação e o flutter atriais são as taquiarritmias supraventriculares mais comuns.
Em geral nas extrasistolias ventriculares apenas tratar a IC. Se persistem, bastante sintomáticas, procurar outros fatores predisponentes como infecções, distúrbios eletrolíticos, embolia pulmonar, DPOC, anemia, problemas tiroidianos, etc. Continuando, usar fenitoina ou amiodarona. Todos os agentes antiarrítmicos possuem, pelo menos, alguns efeitos inotrópicos negativos. Sua retirada pode normalizar a condução AV; na impossibilidade de suspendê-los, ou os bloqueios serem definitivos, fazer estimulação cardíaca artificial definitiva. Nos BAV de 1º grau raramente implanta-se marca-passo definitivo. Se usá-los, seja tipo DDD ou DDDR, dependendo da integridade da função sinusal. Em BAV de 2º grau Mobitz II e em graus mais avançados a necessidade de MP definitivo é indiscutível, pois são de alta morbidade; pode ser do tipo DDD ou DDDR. Na IC com disfunção sinusal indica-se o MP (DDDR) se há clínica importante ou são necessárias drogas que deprimam ainda mais a função sinusal. Episódios agudos de flutter (FLA) ou fibrilação atrial (FA), com baixo débito importante, devem ser eletricamente cardiovertidos. Se a hemodinâmica é satisfatória pode-se tentar a reversão com digital, amiodarona e quinidina. No acometimento crônico de FA e FLA fazer o controle com digital apenas ou associada com verapamil ou amiodarona. Caso não controle a FC, mesmo já corrigidos os fatores extra-cardíacos, indicar a desconexão elétrica AV, através de ablação transcateter com rádio-freqüência, e implante definitivo de MP artificial tipo VVI ou VVIR. Nas taquicardias ventriculares fazer cardio-versão elétrica. Nos hemodinamicamente estáveis reversão com procainamida EV ou propafenona ou lidocaína (esta com boa eficácia na fase aguda da cardiopatia isquêmica). Digitálicos: Melhoram a contractilidade miocárdica por elevar a quantidade de cálcio livre no citoplasma, o que inibe a atividade simpática reflexa, com o que se reduz os níveis plasmáticos de noradrenalina. Daí resultam menor vasoconstrição periférica, diminuição da FC e, ainda, melhora da perfusão renal, aumentando a diurese. Empregar em todos os casos de fibrilação atrial (particularmente com FC elevada) e naqueles que, mesmo em ritmo sinusal, cursem com dilatação ventricular e hipossistolia. Não faz sentido usá-los na ausência de fibrilação atrial, quando a IC decorrer, predominantemente, de disfunção diastólica (como é o caso da cardiomiopatia hipertrófica). Eles diminuem o consumo de O2, particularmente nas cardiopatias que cursam com dilatação ventricular (pela diminuição da FC e tensão parietal). Contudo o risco de efeitos tóxicos, especialmente arritmias ventriculares é um problema potencial. Dopamina: É uma catecolamina endógena, cujo efeito é dose-dependente, i.é., sua ação será distinta conforme a dose usada; tb estimula receptores dopaminérgicos específicos, o que leva à melhora do fluxo sangüíneo renal. Já a dobutamina estimula, de forma direta, tanto os receptores beta como os alfa adrenérgicos, na seguinte ordem de potência: beta1 > beta2 > alfa1 > alfa2; Assim melhora a contração miocárdica sem provocar vasoconstrição periférica; então deve ser preferida à dopamina. Não são usadas no tratamento habitual da ICC. Reservam-se para aqueles casos de choque cardiogênico e nas chamadas síndromes de baixo débito cardíaco. Inibidores da fosfodiesterase: Ao bloquearem a ação da enzima estas drogas aumentam a disponibilidade do cálcio livre no citosol e melhoram a contração miocárdica; ainda melhoram o relaxamento ventricular e, assim, a função diastólica. Eles são: as xantinas (cafeína, teofilina, aminofilina), os biperidínicos (amrinone, milrinone) e as imidazolonas (enoximone, piroximone). A aminofilina também age como diurético suave. Diuréticos: Aumentam a excreção de sódio e água; reduzem a pré-carga e a pressão de enchimento ventricular; também o volume circulante, e abolem ou reduzem os fenômenos congestivos, pulmonares e sistêmicos. Usar com cautela na IC decorrente de cardiomiopatia hipertrófica ou cor pulmonale, e na falência aguda do ventrículo direito (caso do IAM nesta câmara). Há 3 tipos: a) os tiazídicos são pouco eficazes em pacientes cuja taxa de filtração glomerular é menor que 30 ml/m; b) os diuréticos de alça são eficazes mesmo com taxas reduzidas de filtração glomerular; qto maior a dose, maior o efeito; c) os diuréticos poupadores de potássio compreendem 2 grupos com ações distintas: a espironolactona antagoniza a ação da aldosterona, sendo usada em associação com os diuréticos de alça. Já a amilorida e o triamtereno inibem o transporte de sódio no ducto coletor. A principal razão a justificar os poupadores de potássio (em especial a espironolactona) é a ação sinérgica com os diuréticos que agem por outros mecanismos, e não a ação poupadora de potássio. Como os diuréticos agem em locais diferentes pode-se até empregá-los simultaneamente. Vasodilatadores: A hidralazina somente nas situações em que o principal objetivo é a diminuição da pós-carga (cardiopatia hipertensiva e IM e/ou aórtica); empregá-la em associação aos nitratos (dilatadores predominantemente venosos, mas também arterial e arteriolar, com redução da pré-carga) pela ação complementar entre eles. O minoxidil aumenta a produção cardíaca com a administração aguda, mas produz efeitos colaterais e não aumenta a tolerância a exercícios. Dos bloqueadores dos canais de cálcio apenas a nifedipina e similares tem efeito vasodilatador intenso para justificar seu uso, mas apenas onde a ICC se associa à HA e/ou coronariopatia ou em portadores de IM e/ou IA. Mas pacientes com IAM recente tem piora na taxa de sobrevivência. Os nitratos; seu uso pressupõe pressão de enchimento ventricular amentada. É uma alternativa aos inibidores da ECA, quando estes não podem ser usados; mas usá-los junto com IECA nos casos de IC de difícil controle e/ou com importante congestão pulmonar. São usados: o mononitrato e o dinitrato de isosorbitol. A nitroglicerina é útil sob a forma de discos transdérmicos de liberação lenta, colocados à noite e retirados pela manhã, nos pacientes com ortopnéia ou dispnéia paroxística noturna. O nitroprussiato de sódio é indicado nas mesmas situações em que se preconizam as aminas simpaticomiméticas, sempre EV. Também útil na terapêutica dos quadros hipertensivos resistentes à terapêutica habitual. Gotejamento conforme a resposta da PA. No seu processo de desmame terapêutico considerar a hidralazina e os nitratos. Os IECA diminuem de forma concordante e concomitante tanto a pré como a pós-carga. Levam a vasodilatação arteriolar e venosa, por declínio da ação da angiotensina II e da estimulação simpática na parede vascular com menor retenção de sódio e água, por diminuição da produção de aldosterona. Ainda aumentam a atividade parassimpática e melhoram a função barorreflexa deprimida na IC, ao reduzirem os efeitos inibidores da angiotensina II na sensibilidade barorreceptora. Iniciar com baixas doses, aumentando-se gradativamente até uma dose diária de 20 mg para enalapril, 150 mg para captopril ou 20 mg para lisinopril. Pelos seus efeitos hemodinâmicos não empregar na IC com estenose aórtica ou mitral significativas.
Um dos aspectos mais intrigantes da intervenção terapêutica é a demonstração que o bloqueio beta adrenérgico pode ser benéfico em pacientes com cardiomiopatia dilatada sintomática, melhorando a função sistólica ventricular, arritmias ventriculares e ativação do sistema renina-angiotensina. Aproximadamente 40% dos pacientes com IC grave morrem subitamente, presume-se, devido à arritmia cardíaca. A eficácia da terapia antiarritmica parece reduzir-se com os graus maiores de IC. Pacientes com IC avançada tem maior risco de embolização arterial ou pulmonar por êmbolos oriundos de trombos no átrio ou ventrículo esquerdos, que poderão provocar AVC, IAM ou oclusão arterial periférica, ou das câmaras à direita provocando embolia pulmonar. Mas não há indicação para anticoagulação sistemática. A incidência de tromboembolismo não é grande e há várias dificuldades para controlar corretamente o emprego dos anticoagulantes. Assim, só indicar anticoagulação se houveram fenômenos tromboembólicos anteriores e há trombos móveis ou protrusos nas cavidades cardíacas.