INTRODUÇÃO
A biópsia dos linfonodos contidos na gordura pré-escalênica, recomendada por Daniels (DANIELS, 1949) revelava a preocupação de se diagnosticar histologicamente doenças intratorácicas por meio de um procedimento cirúrgico de pequeno porte. A mediatinoscopia, proposta por Carlens (1959) resultou de um processo evolutivo da técnica de Daniels.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram analisados os prontuários de 408 pacientes submetidos a mediastinoscopia no Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital Universitário Antonio Pedro da Universidade Federal Fluminense e no Hospital Santa Cruz , da Sociedade Portuguesa de Beneficência de Niterói num período de 15 anos (1980/1995). Os 408 pacientes se distribuíram na faixa etária dos 15 aos 82 anos, a maioria do sexo masculino (64%) 310 pacientes.
A via de acesso cirúrgico utilizada no exame com maior freqüência foi a via cervical de Carlens, como se segue na Tabela 1:
TABELA 1 -MEDIASTINOSCOPIA. VÍAS DE ACESSO
(N) | |
---|---|
MEDIASTINOSCOPIA CERVICAL | |
MEDIASTINOSCOPIA CERVICAL E ANTERIOR | |
MEDIASTINOSCOPIA ANTERIOR |
A mediastinoscopia foi utilizada para o diagnóstico de massas e linfonodomegalias mediastinais (n=125) , para o estadiamento do câncer de pulmão (n=278) e ainda para retirada de corpo estranho (n=1), estadiamento do câncer de esôfago (n=2) e para a drenagem de abcessos mediastinais (n=2).
Neste artigo foram analisados os prontuários de 125 pacientes nos quais a mediastinoscopia foi realizada com finalidade diagnostica. Os dados obtidos na mediastinoscopia , quando negativa , foram comparados com os laudos histopatológicos naqueles pacientes que foram submetidos a algum procedimento cirúrgico para esclarecimento definitivo do diagnóstico. Em 103 oportunidades, a via de acesso utilizada foi a cervical. A via anterior , isoladamente, foi utilizada apenas 7 vezes, e o acesso combinado (anterior + cervical) foi indicado em 15 mediastinoscopias. A idade mínima foi de 13 anos e a máxima 75 anos, 80 pacientes eram do sexo masculino, e 45 do sexo feminino Sempre que possível o material de biópsia foi também examinado por congelação durante o ato cirúrgico.
RESULTADOS
O carcinoma foi o diagnóstico mais freqüente (36,8%), seguido de linfoma (16%) e sarcoidose (14,4%) como demonstrado na Tabela 2.
TABELA 2 -MEDIASTINOSCOPIA. DIAGNÓSTICO
DIAGNÓSTICO | (n) |
---|---|
Carcinoma | |
Linfoma | |
Tuberculose | |
Timoma | |
Adenite | |
Silicose | |
Blastomicose | |
Tu. Cels. Germinativas | |
Bócio Tireoidiano | |
Dilatações Venosas Peri-esofagianas | |
Fibrose Idiopática do Mediastino | |
Hiperplasia Linforreticular |
Em 13 pacientes o diagnóstico mediastinoscópico foi de linfoadenite reacional . Em 4 destes pacientes o diagnóstico de linfoadenite reacional estava correto pois a investigação ou evolução subseqüente demonstrou o seguinte : em um paciente a biópsia de pulmão realizada no mesmo ato cirúrgico demonstrou o diagnóstico de granulomatose de Wegner (n=1) , num outro o próprio exame mediastinoscópico demonstrou a presença de fibrose intensa sugerindo o diagnóstico de mediastinite fibrosa , em outros dois a presença de alguns linfonodos maiores que 1 cm localizados na região paratraqueal em pacientes sob investigação clínica de febre , a evolução para a cura respalda o diagnóstico de linfoadenite reacional. Nos 9 outros pacientes consideramos o diagnóstico de adenite como falha do método uma vez que em dois pacientes não conseguimos estabelecer o diagnóstico definitivo pois os pacientes recusaram a investigação proposta. Nos outros 7 a investigação subsequente demonstrou o diagnóstico de tuberculose em 4 casos, silicose em 1 e timoma em 1. A incidência de falhas do método foi portanto de 7,2% ( 9 falências em 125 pacientes).
Nos prontuários dos pacientes submetidos à mediastinoscopia para o diagnóstico de massas mediastinais constatou-se que 11 pacientes, do total, apresentavam síndrome de veia cava superior o que não representou uma contra-indicação à utilização método.
As complicações que podem ser relacionadas com a realização do método foram: agravamento da síndrome da veia cava superior (1 caso), hemorragia mediastinal (1 caso, resolvida com tamponamento e eletrocautério) e enfisema subcutâneo (1 caso). Um paciente era portador de imagem radiologia compatível com massa mediastinal e a mediastinoscopia demonstrou tratar-se de dilatações venosas periesofagianas .
CONCLUSÕES
A mediastinoscopia é um método de diagnóstico eficaz nas doenças torácicas com envolvimento mediastinal, principalmente câncer do pulmão, linfoma , sarcoidose e tuberculose.É um procedimento seguro e com baixo índice de complicações quando executado por cirurgião torácico treinado.
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