Como vocês podem ver eu uso o computador de uma maneira diferente, com os dedos dos pés. A razão disso é que, devido a um acidente de parto em que me faltou oxigênio, fiquei com uma paralisia cerebral. Apesar disso, minhas funções mentais não foram prejudicadas e sou mental e psicologicamente normal – a Internet é o único espaço em que esse fato é evidente: em geral, as pessoas têm uma imensa dificuldade em acreditar que não tenho retardo mental, problemas de percepção ou pelo menos uma ingenuidade elefantina. Na verdade, até meus próprios pais tiveram uma certa dificuldade para crer nisso.
De fato, como não posso falar – como também não me é possivel andar, comer, me vestir etc, sem ajuda – a comunicação comigo é bastante complicada e, por isso, era bem problemático expressar o que me passava pela cabeça – na melhor das hipóteses, alguém tinha de dizer o alfabeto inteiro para que formasse as palavras letra por letra, o que inviabilizava qualquer tipo de conversação –, o que pode facilmente ser interpretado como sinal de retardo mental, já que é rarissímo alguém com paralisia cerebral não ter esse problema, sem falar do preconceito, que é mais forte em países como o Brasil. Superar essa dificuldade de comunicação foi um longo processo, o qual foi da compra de uma máquina de escrever elétrica – que hoje me parece algo da Idade da Pedra – até o ingresso na Internet, cuja etapa mais importante foi a confecção de uma tábua com letras e números, coisa simples mas que me permitiu conversar em tempo real – uso todos esses meios do mesmo modo, com os dedos dos pés.


Só tive oportunidade de estudar até a sexta série, mas meu nível cultural não deixa nada a dever ao de um universitário – do jeito que estão nossas universidades, isso também não é lá grande coisa:) De fato, para fugir do tédio virei um leitor voraz e acabei me tornando autodidata em Economia. Também gosto de história, filosofia, ciência – particulamente física, astronomia e matemática –, tecnologia e ficção cientifíca – além do mais, ultimamente passei a me interessar pela cidadania dos deficientes físicos.


Até dois anos atrás, me sentia sem forças para tentar trabalhar, o que só mudou com uma terapia que comecei meio a contragosto num momento difícil. Após diversas tentativas de obter um computador, uma congregação religiosa doou o dinheiro que me possibilitou atingir tal objetivo. Desde então digito textos, faço cartões de visita, impressos de vários tipos, folhas de pagamento, em sociedade com uma irmã minha. A banalidade desses serviços me desestimula bastante, ainda mais porque o retorno financeiro não é grande coisa. Porém, trabalhar não é nada trivial para um deficiente físíco, especialmente num pais como este.


Ronaldo Corrêa Junior

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