Há mais ou menos 12 anos atrás eu me vi frente a um desafio desesperador. Minha filha, Renata, que estava morando nos Estados Unidos tinha voltado
sentindo muitas dores abdominais, fortes cólicas, diarréia. Nada que ela comida fazia bem. Na época no cursinho, estudando para entrar na faculdade de Direito, ela não tinha condições, ás vezes de assistir direito as aulas, devido às dores
e as idas constantes ao banheiro. Quando chegava em casa, após o almoço começava a ficar mal outra vez. E com isso ela começou a emagrecer, porque preferia ficar com fome a com dor.
Ela tinha sido diagnosticada com doença de Crohn e começou o tratamento com uma médica muito atenciosa, mas como não estava dando certo procuramos uma outra médica muita recomendada que depois de constatar que era realmente a doença de Crohn tirou o nosso chão. Ela disse que a Renata teria que tirar todo o intestino grosso e que não havia tratamento para essa doença que pudesse mudar o quadro. Receitou um antibiótico por um mês e só. Com muito custo receitou Azalit, que eu tive que comprar de uma farmácia que importa remédios do exterior, e depois eu vim a saber que é o mesmo Azulfim que nós temos aqui no Brasil. Bom, como ela disse que esse remédio também não adiantaria, minha filha ficou sem medicação alguma.
Daí começou a minha experiência. Como eu não sabia nada sobre o assunto, comecei a pesquisar na Internet. A Jansen mandou para mim um relatório completo sobre a doença. Foi o meu ponto de partida.
Comecei a ver que existia sim tratamento. O Entocort havia sido lançado alguns meses antes da última colono, mas só tinha na Europa. Existe uma página de Crohn e Colite de uma associação americana muito bem estruturada e muitas outras pelo mundo afora. Com isso eu reuni todo o material que eu tenho na página.
Começamos com um tratamento macrobiótico que por três meses surtiu efeito, e ajudou a Renata a mudar seus hábitos alimentares e a se fortalecer. Ela passou a se alimentar melhor, incluindo frutas, verduras, legumes no cardápio como também deixou de comer frituras, enlatados, embutidos e carne vermelha.
Mas, as dores voltaram e por um acaso nós descobrimos um médico que se interessou pelo caso e isso foi o começo de uma recuperação, lenta, mas contínua.
Ela começou com Azulfim e Entocort. Depois como não melhorava muito passou a tomar imunossupressor, que foi o que realmente fez um efeito melhor. Mas, a inflamação do intestino grosso continuava e assim continuava a estenose. Durante os últimos anos ela se submeteu a uma dilatação dessas estenoses por meio da colonoscopia pelo menos duas vezes por ano. Assim, ela tinha as estenoses abertas facilitando a passagem do bolo fecal, caso contrário as cólicas eram muito dolorosas.
Ela entrou na faculdade de direito da PUC, começou a trabalhar, fazer parte do time de handeball da faculdade e a mergulhar junto com o irmão Felipe. Enfim uma vida normal.
Mas, o imunossupressor tem um tempo máximo para ser tomado. São 5 anos e esse prazo expirou. Daí ela passou a tomar o Remicade, o que representou uma mudança radical. Desde então ela parou de ter dores. No entanto, uma das estenoses teimava em incomodar e como era de difícil acesso era também difícil de ser dilatada. No final de 2003 essa estenose foi retirada através de uma cirurgia. Hoje ela está muito bem.
Casou, continua estudando, fazendo esporte, e tomando o Remicade agora junto com o Purinethol, que é considerado um complemento do Remicade.
Depois de receber tantas mensagens na minha página, eu concluí que tem muita gente que sabe lidar bem com a doença não se deixando simplesmente ser levado por ela. Vão atrás de tratamentos, sabem que o estresse agrava os sintomas então tomam cuidado com os sentimentos que podem prejudicar o corpo buscando terapias das mais variadas formas. Desde a psicologia até florais de Bach. Desde simples caminhadas até esportes radicais. O importante é ser seletivo no tratamento alternativo não se deixando levar por charlatões que abusam da fragilidade que qualquer doença traz para o ser humano.
Pode ser que não se tenha ainda a cura para essa doença, mas é bom saber que tem muita gente trabalhando para que isso ocorra. Assim podemos continuar a nossa luta, certas de que mais dia menos dia todos vão estar livres do incômodo que essa doença traz.