A Morte do Leão de Neméia
Em um Conselho de Grandes Seres, no qual está presente o Instrutor de Hércules, é mostrado o Plano que diz respeito a todos os filhos de Deus. Enquanto o guerreiro descansa de suas tarefas, todos os seus pensamentos são observados. É que se inicia agora uma importante fase de sua evolução, fase esta muito trabalhosa e árdua, para a qual Hércules deve ser preparado. Segundo os Grandes Seres, um teste muito difícil se aproxima. Quem se sai bem nele torna-se verdadeiramente útil à humanidade e, por essa razão, o Conselho está reunido. O acontecimento tem conseqüências importantes para um grande grupo. O herói, sentindo-se corajoso e forte, não imagina que experiências o esperam. Seu potencial de serviço foi aumentado pelo fato de a corça, agora, atender aos seus chamados, sempre que necessário. Com certa facilidade, pusera ele o animalzinho perto de seu coração e o conduzira ao interior do templo repetidas vezes. Com isso, Hércules pode descansar tranqüilamente, o que não ocorre com os homens que não passaram pela experiência da captura da própria corça. Ei-lo, então, diante do quinto portal, sob o olhar dos Seres que o observam. Vendo-se coberto de troféus e armas que recebera pelos trabalhos anteriores (mesmo sem almejá-los), pergunta a si próprio: "Para que todas essas armas?" Nenhuma resposta, interna ou externa, lhe vem. Aguarda um pouco. De repente, tudo fica claro: do povo de Neméia, além do quinto portal, chega-lhe um clamor de profunda angústia. Como Hércules se tornara famoso e sua força conhecida, a população pede-lhe que mate o leão devastador de terras e de vidas que ameaça o local. "Vá e domine o leão", diz-lhe o Instrutor. Os habitantes da cidade devastada pela fera vivem escondidos, fechados atrás das portas, quase sem sair das casas. Estão paralisados os trabalhos nos campos, não se ara mais a terra, nem se semeia. O medo predomina. É grave a situação e o Conselho dos Grandes Seres observa. Durante a noite, o rugido ameaçador do leão não dá tréguas, e, por isso, nem no sono os homens têm paz. Hércules assume a tarefa, deixando, no entanto, atrás de si todas as armas e troféus. Leva apenas um instrumento que ele fabricara com as próprias mãos. Compreende que as armas, naquele caso, só o sobrecarregariam, retardando, assim, os seus passos. Ele pressente que o leão não será conquistado com elas, mas com algo mais direto e potente. Começa, pois a sua busca. Assustadas, as pessoas confiam pouco, porque vêem o guerreiro partir sem armas, praticamente indefeso, no seu entender. As informações sobre o paradeiro do Leão são desencontradas. Uns o viram na montanha, outros no vale. Sorrateiro, traiçoeiro, o animal surge em diferentes caminhos e em variadas situações. Todos sabem que ele tem um covil e, assim, o guerreiro parte para lá. Sucedem-se dias e noites, até que Hércules, finalmente, se defronta com a fera. O animal urra, furioso. As árvores são sacudidas por tão pesada vibração. O herói decide, então, apanhar um arco e flecha e atira, atingindo o ombro da fera. Apesar de chegar direto ao alvo, a flecha cai no chão, tão dura é a carne do animal. São usadas todas as flechas disponíveis, sem que nenhuma delas consiga ferir realmente o leão, prostrado ali, bloqueando a passagem do herói. Intocada, fremente de raiva e desprovida de medo, a fera vem em direção de Hércules, que, atirando o arco ao chão, se arremessa contra ela com gritos bravios. O herói avança e, diante disso, o animal recua e foge. Entrando numa moita ali por perto, desaparece por algum tempo. Silencioso, Hércules recomeça a procurá-lo e, pacientemente, prossegue em sua corajosa empresa. De repente, vê-se diante de uma caverna de onde ouve sair um terrível rugido, que lhe parece dizer "Ou você fica aí fora, ou vai perder a vida". O herói, entretanto, não se deixa amedrontar e entra na caverna escura. Passo a passo, atravessa toda a sua extensão. Nada. Ali dentro, não vê leão algum. "Que mistério é esse?", pergunta-se Hércules. Dá-se conta, a seguir, de que ali há duas aberturas e que, enquanto ele entra por uma delas, o leão sai pela outra. Como apanhar, então, o animal? Auxiliado por uma tênue luz situada na saída da caverna, Hércules descobre pilhas de madeiras e varas em quantidade suficiente para fechar uma das entradas. Rapidamente, ele intercepta a dos fundos e fica diante da outra, não deixando o leão sair. Furioso, o animal urra. De modo inesperado, Hércules salta para junto dele e agarra-o firme pela garganta. Olhando-o bem nos olhos, consegue transmitir-lhe sua decisão de não soltá-lo. Mantém-se pois ali, sem tirar as mãos do pescoço do animal e, apertando-o, vê que o inimigo começa a perder as forças. Os urros vão-se tornando cada vez mais baixos. Enquanto o leão se afunda em sua fraqueza, Hércules mantém-se firme, segurando-o, sufocando-o. E assim o mata, sem armas, valendo-se apenas das mãos e de sua própria força. Retira a pele do animal morto e mostra-a ao povo de Neméia, que agora pode voltar a cultivar as terras e a viver em paz. Com uma alegria contagiante, as pessoas gritam o nome de Hércules, aclamando-o seu salvador. O guerreiro segue adiante, apresentando-se ao Instrutor logo após cumprida a tarefa e coloca-lhe aos pés a pele do leão. "O povo não tem mais medo, está livre." O instrutor, considerando-o vencedor, olha-o bem nos olhos: "Saiba, porém, que os leões devem ser mortos várias vezes". Relata, então, o feito de Hércules ao Grande Ser que preside ao Conselho, que desta vez o espera bem no centro da sala secreta. Ali, ouve-se uma voz que diz: "Eu sei".
Este Quinto Trabalho simboliza um momento fundamental na caminhada de todos os indivíduos: o domínio da personalidade. Somente a partir dessa conquista é que o homem consegue ser realmente útil ao mundo e à humanidade. Antes de ser iluminada pela alma, a personalidade prossegue agindo por conta própria e produz mais distúrbios do que equilíbrio. O homem nela polarizado não conhece o Plano Evolutivo, nem tampouco o papel que lhe cabe desempenhar dentro dele; ou seja, nada sabe do trabalho verdadeiramente criativo que tem a fazer. Mesmo com boa vontade, boa disposição e boa intenção, erra mais do que ajuda, destrói mais do que constrói. Quando os aspirantes dão início ao trabalho de alinhamento da personalidade com a alma, eles ainda não estão completamente esquecidos de si e entregues às energias superiores. Esse processo evolui a partir do momento em que a alma não tem mais sede de experiências no mundo; estando nele, inicia-se um ciclo em que ela vive muitos conflitos. Estando no mundo inicia-se um ciclo em que a alma vive muitos conflitos. Enquanto a forma atrai por demais a alma, o trabalho de purificação e de transformação pode ocorrer, porém de modo limitado. Na verdade, ele só ganha um ritmo acelerado e a luz dos níveis superiores do ser chega com mais rapidez ao eu consciente, a partir do momento em que tem início o trabalho efetivo de domar a personalidade. Se não experiencia uma transformação definitiva, conduzida pela alma, a personalidade torna-se devastadora quando consegue que seus corpos estejam alinhados entre si. O mental, o emocional e o físico, juntos, somam grande força, e podemos ter então um indivíduo destrutivo, se ainda não guiado pela alma. Portanto, uma personalidade cujos corpos estejam bem coordenados, mas não iluminados pela alma, pode ser muito mais destrutiva do que se estivesse descoordenada. Eis por que, à medida que se constrói a ligação entre os próprios corpos, buscando integrá-los, deve-se trabalhar principalmente o aperfeiçoamento do caráter, a purificação e o controle dos vícios Por vícios entendemos forças da Terra mal canalizadas, ou seja, fora de lugar, mas que encontram guarida nos indivíduos que não despertaram para o seu real destino. O homem comum vive praticamente em meio a essas forças, sem o perceber, porque esse convívio é, nessa fase, o seu estado normal. Quando decide assumir a tarefa de cooperar conscientemente com a evolução, e não mais caminhar no ritmo natural, percebe claramente a situação viciosa e desarmônica em que vive. O momento em eu o indivíduo decide transcender definidamente as forças terrestres, representadas pela sua própria personalidade, é simbolizado, no mito em estudo, pelo episódio em que Hércules assume a tarefa de matar o leão de Neméia.
Extraído do livro HORA DE CRESCER INTERIOMENTE. Trigueirinho.
É no signo de Leão que encontramos as últimas provas do caminho probatório. Quando o trabalho deste signo termina, começa o treinamento específico da iniciação, em Capricórnio. Uma certa medida de controle do pensamento foi conseguida em Áries, e um certo poder de transmutar o desejo foi alcançado em Touro. As maçãs da sabedoria foram colhidas em Gêmeos. E a distinção entre sabedoria e conhecimento foi, até certo ponto, compreendida em Câncer, assimilando a necessidade de transmutar instinto e intelecto em intuição e levar ambos para o Templo do Senhor.
Dois pensamentos, colhidos na Bíblia, resumem a lição deste trabalho. Na Epístola de São Pedro encontramos estas palavras: "Seu adversário, o diabo, como um leão rugindo, se movimenta, procurando a quem possa devorar", e em Revelações 5:5, encontramos as palavras, "Eis que o Leão da tribo de Judah, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos. Hércules, o aspirante, a alma, simbolizou o leão, o príncipe, o rei, o regente e por isso ele simbolicamente revestiu-se da pele do leão. O leão de Neméia representa essencialmente a personalidade coordenada, dominante, pois o aspirante sempre tem de ser um indivíduo altamente desenvolvido. Com os tríplices aspectos do eu pessoal inferior fundidos e, portanto, potentes além da média, o aspirante muitas vezes se torna uma pessoa até certo ponto cansativa e difícil. Ele tem uma mente e dela faz uso. Suas emoções são controladas ou, pelo menos estão a tal ponto fundidas com suas reações mentais que se apresentam excepcionalmente poderosas; daí ele ser excessivamente individual, muitas vezes bastante agressivo, auto-confiante e auto-satisfeito, e sua personalidade ser, portanto, uma força devastadora do grupo familiar, na sociedade ou organização à qual possa estar ligado. Portanto, o aspirante, o Leão de Judah, tem de matar o leão de sua personalidade. Tendo emergido da massa, e desenvolvido a individualidade, ele tem então de matar aquilo que ele criou; ele tem de tornar útil aquilo que fora o grande agente protetor até o tempo atual. O egoísmo, o instinto de auto-proteção, tem de dar lugar ao altruísmo, que é literalmente a subordinação do ego ao todo. O leão de Neméia simboliza a poderosa personalidade, correndo de maneira selvagem e ameaçando a paz dos campos.
O fato interessante sobre o período no qual agora vivemos é que ele assinala um desenvolvimento único na raça humana. (...) Toda nação produziu aspirantes altamente desenvolvidos que seguem o rastro do leão da personalidade até a caverna e lá o dominam. Mas, relativamente, em relação com as miríades de unidades humanas, constituíram-se numa pequena minoria. Agora temos um mundo cheio de aspirantes; a próxima geração, em todas as nações, produzirá seus milhares de discípulos e já dezenas de milhares estão em busca do Caminho. As pessoas não são muito individuais, o mundo está cheio de personalidades e o tempo virá quando o Leão da tribo de Judah prevalecerá sobre o leão do eu pessoal. Nós não estamos sozinhos nesta luta, como Hércules estava, mas formamos parte de um grande grupo de deuses-solares, que estamos lutando com as provas preparatórias da iniciação, e com os problemas que trarão à luz os plenos poderes da alma.
No simbolismo das escrituras mundiais, os acontecimentos mais importantes são representados em um de dois lugares: na caverna ou na montanha. O Cristo nasceu na caverna; a personalidade é dominada na caverna; a voz do Senhor é ouvida na caverna; a consciência do Cristo é nutrida na caverna do coração. Mas depois das experiências da caverna é escalado o monte da transfiguração, o monte da crucificação é conquistado, para finalmente ser seguido pelo monte da ascensão.
A hipófise, com seus dois lobos, simboliza a caverna com duas aberturas, uma das quais Hércules teve de fechar antes que pudesse controlar a personalidade pela mente superior. Pois só depois de haver bloqueado a abertura das emoções pessoais, depois de haver jogado fora até sua confiável clava, depois de haver simbolicamente recusado a continuar a levar uma vida pessoal e egoísta, foi que, entrando pela abertura representada pelo lobo anterior ele pode subjugar o leão da personalidade na caverna. Essas correlações são tão exatas que apresentam, no pequeno e no grande, um tremendo testemunho da perfeita integridade do Plano. "Assim em cima como em baixo." Uma surpreendente correlação entre as verdades biológicas e espirituais.
Extraído do livro OS TRABALHOS DE HÉRCULES. Alice Bailey
Sugestão para aplicação prática desse estudo:
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