NONO TRABALHO

OS PÁSSAROS DEVASTADORES

... E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.

João 8.32.

Os pântanos não terminaram. Agora há outro diante de Hércules, desta vez com sua enorme quantidade de estranhos pássaros que provocam grandes devastações. Expulsá-los parece tarefa impossível, mas, segundo a voz do Instrutor interno, para além da mente uma luz indicará a direção segura.

A terrível presença dos pássaros faz-se notar por seu coro de vozes, que, ameaçador e dissonante, é ouvido por toda parte. Seus bicos de ferro assemelham-se a uma espada; suas penas são como lâminas de aço, e as garras, instrumentos de destruição.

Percebendo que o guerreiro se aproxima, três pássaros atiram-se sobre ele, tentando atacá-lo. Hércules consegue desvencilhar-se e acaba atingindo depois um deles. Surpreendentemente, algumas das pontiagudas penas do pássaro alvejado fixam-se no chão, provocando uma vibração sonora aterradora. Em vista disso, os outros pássaros afastam-se por um tempo, mas Hércules sabe que voltarão.

Ali, diante do pântano, ele procura descobrir um meio de libertar o local de aves tão atemorizantes. Tenta usar flechas. Inútil. Os pássaros são milhares e, quando voam aos bandos, chegam a cobrir o Sol e a escurecer o dia. O herói tem, então, a idéia de colocar armadilhas dentro do pântano, do mesmo modo que fez com o javali. Todavia, quando tenta pisar naquele solo, seus pés afundam-se — é quando constata que uma solução, por ter sido boa no passado, nem sempre é adequada para o momento presente, que apresenta outras características.

Faz uma pausa. Concentra-se e agora pode lembrar-se das palavras do Instrutor: "Além da mente há uma luz que indicará a direção segura". Consegue, assim, ficar quieto, olhando para além da mente, ainda acostumada aos seus mecanismos dedutivos. Voltando-se para o centro de sua consciência, faz com que a mente olhe a si mesma. Vem-lhe, então, uma idéia nova: toma dois enormes címbalos de bronze, que emitem um som sobrenatural do qual não se encontra similar neste mundo. Perturbador e áspero, o som é capaz de penetrar o plano astral, um dos níveis sutis da Terra e dos indivíduos. Para o próprio Hércules, que conhece agora vibrações sonoras mais elevadas, aquele barulho é intolerável. Cobrindo os ouvidos com tampões, ele toca os címbalos.

É hora do pôr-do-sol. O pântano está denso pela presença de um sem-número de pássaros. Hércules faz soar de maneira potente os címbalos, repetidas vezes. Uma dissonância assustadora, nunca ouvida naquela região, confunde as aves, que, desesperadas pelo rumor, confusas pela vibração, escapam depressa para jamais retornar. Já estão distantes, mas os címbalos ainda batem, vigorosamente.

Em seguida o silêncio invade o pântano. Os pássaros horrendos desapareceram. Hércules ouve, então, as palavras do Instrutor que o segue internamente: "Você expulsou os pássaros mortíferos. O Trabalho está concluído".

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Os três pássaros que se destacam dos demais têm um significado especial: o primeiro representa a tagarelice que se pratica inconscientemente durante vidas; o segundo, as informações reveladas aos que não estão prontos ainda para escutá-las; o terceiro, o falar continuamente de si próprio, egoisticamente, para enaltecer-se ou valorizar-se em detrimento de outros. Esses hábitos são destrutivos como os referidos pássaros, sendo a tagarelice, pela perda de energia que acarreta, um homicídio sutil. Nem todos sabem quão grande é o poder do som e que possibilidades têm as palavras que o homem pronuncia.


É necessário, pois, transformarmos e elevarmos a nossa palavra, para que mais tarde possamos ouvir os sons que existem dentro de nós. Conforme se sabe, os homens têm outros sentidos além dos físicos. São os sentidos internos (entre os quais a audição interior) que se abrem somente quando o uso da palavra externa chega a ser relativamente controlado.


Além do controle e seleção das palavras, o homem vai aprendendo, com o tempo, a inofensividade ao pronunciá-las. O címbalo, nessa história, representa o uso adequado do som, a inofensividade que nada tem a ver com passividade, mas com ação correta, de caráter construtivo. Aquele que afugenta os pássaros é inofensivo, pois está construindo o que eles, assim como são, não permitiriam.


A primeira etapa desse processo de transformação e elevação é o autocontrole. Cortando pela metade o número de palavras pronunciadas diariamente, tornamo-nos aptos a refletir antes de falar, pois só assim, evitando o palavreado meramente compulsivo, temos tempo para pensar. A segunda etapa é a da reflexão. Nela fazemos um belíssimo trabalho em nosso ser, pois chegamos a "ouvir", antecipadamente, o que vamos falar. Selecionamos então a palavra e passamos a construir, inteligentemente, por meio do som. A partir daí inicia-se uma fase ainda mais importante para o desenvolvimento da consciência, a terceira etapa, em que colaboramos com o clareamento do nosso próprio carma e do carma planetário. Isso é feito à medida que a palavra é controlada e precedida da reflexão, o que nos possibilita interromper uma frase ou modificá-la se, antes de sair pelo espaço e pelo éter, for considerada destrutiva ou supérflua. No caso de se ter emitido um som fora desse controle, uma reflexão imediata pode recuperá-lo a tempo. A produção posterior de um som de qualidade oposta restaura o equilíbrio dentro do universo das energias.


Sem a seleção da palavra, o indivíduo não pode ter a visão clara da meta interna e externa da vida. A energia para se caminhar na direção correta vem do fato de se aprimorar esse controle cada vez mais.

Extraído do livro HORA DE CRESCER INTERIOMENTE. Trigueirinho.


Sagitário é o signo preparatório para Capricórnio e em alguns livros antigos é chamado "o signo do silêncio". Nos antigos mosteiros o irmão recém-admitido tinha de se sentar em silêncio, não era autorizado a caminhar nem a falar. Não se pode entrar no quinto reino da natureza, o reino espiritual, nem escalar a montanha de Capricórnio enquanto houver não houver controle da fala e do pensamento. Esta é a lição de Sagitário: restrição da fala através do controle do pensamento. Isso nos manterá ocupados, porque depois de abandonar o uso das formas comuns da fala, tais como o falar da vida alheia, então será preciso aprender a silenciar sobre as coisas espirituais. Você terá de aprender sobre o quê não dizer sobre a vida da alma, muita conversa sobre coisas para as quais pessoas podem não estar preparadas.


O reto uso do pensamento, o calar-se, e a conseqüente inofensividade no plano físico, resultam na libertação; pois nós somos conservados na unidade humana, estamos aprisionados ao planeta, não por alguma força externa que nos mantenha ali, mas pelo que nós mesmos teremos dito e feito. No momento em que não mantivermos mais relações erradas com as pessoas pelas coisas que dissermos, porque deveríamos ter ficado calados; no momento em que paramos de pensar sobre as pessoas, sobre coisas que não deveríamos pensar, pouco a pouco aqueles laços que nos prendem à existência planetária são rompidos, ficamos livres e escalamos a montanha como o bode em Capricórnio.


Perguntou-se: "Será que nunca deveremos criar carma para nós mesmos, ou fazer qualquer coisa que nos prenda a qualquer ser humano, porque na medida em que nos ligamos a qualquer ser humano, teremos de continuar a nos reencarnarmos?" Bem, eu vou me ligar à humanidade pelo serviço, pelo amor, pelo pensamento desinteressado. Isso tem alguma significação. Mas não vou me prender pelo pensamento crítico, pelos pensamentos de auto-piedade, pelo falatório, pelas palavras que não deveria dizer. Não vou ter como motivo minha própria libertação. Uma precaução: não sejam bons, não sejam inofensivos, não sirvam apenas para se afastar de tudo, que é o que muitos fazem. Fiquem com a humanidade como o Cristo faz, ou como aquela grande Vida Que, segundo nos é dito, ficará em Seu lugar indicado até que o último peregrino encontre seu caminho de casa.


O verdadeiro ser que trabalha a qualidade de Sagitário é uma pessoa muito potente; potente porque é o signo do silêncio; potente porque é o signo da direção definida e a meta é vista pela primeira vez com a devida clareza; potente porque é o período que precede imediatamente o nascimento do Cristo. Dizem-nos que Sagitário é o espírito de verdade; soma de toda Verdade brotando da revelação individual.


Em Sagitário, o primeiro dos grandes signos universais, vemos a verdade como o todo quando usamos as flechas do pensamento corretamente. Eu direi, isto é para mim, minha formulação de verdade, porque ela me ajuda a viver. Outros grupos usam outras terminologias e somente me é possível ver a visão na medida em que posso alcançar a maneira pela qual meu irmão encara a verdade. Todas as várias verdades formam uma Verdade; é disso que se dá conta em Sagitário e você não poderá cruzar o portão no sopé antes de ver onde a sua pequenina porção da verdade forme parte do mosaico grupal.


Sagitário tem o dom do poder. Você se sente capaz de ter o poder? Não conheço ninguém que possa ser confiável ao manipular o poder, enquanto não tiver ainda aprendido a calar-se, enquanto o controle do pensamento não for conseguido e a alma ainda não for suficientemente potente. Quando amamos bastante, podemos ter o poder. Quando amamos bastante e somos bastante inofensivos, então os portões do paraíso e do inferno serão postos em nossas mãos, mas não antes.


Os pântanos simbolizam a mente com a emoção. Hércules descobriu que embora ele possa ser um aspirante e possa ter triunfado em Escorpião, ele ainda possui uma natureza emocional, e ele verifica que os pássaros de Estinfalo, especialmente três deles, são de uma espécie antropófaga e que ele tem de fazer algo a respeito. Tentem visualizar esta reação, o conquistador descobrindo que possui uma força devastadora; que por suas palavras e pensamentos, ele está fazendo mal. Lembrem-se disso, quanto mais vocês avançam no caminho de volta, e quanto mais atuarem com uma entidade espiritual, mais potentes se tomarão e maior mal poderão fazer. Vocês são esforçados, vocês manipulam o poder. Vocês serão provavelmente o centro de seu grupo. Se forem um aspirante, um discípulo, o pensamento e a atividade da palavra serão sua principal empresa. Vocês pesarão seus pensamentos porque há poder por trás de seus pensamentos, e quando pensarem de maneira errada, o mal que vocês fazem é muito mais potente do que o mal feito por uma pessoa menos evoluída. Precisamos remover os pássaros dos pântanos para o ambiente claro, onde possamos vê-los e derrotá-los.

Extraído do livro OS TRABALHOS DE HÉRCULES. Alice Bailey



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