HISTORIAL DA ASSOCIAÇÃO
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Introdução: Desde 1973 funciona no H.S.M. uma consulta para toxicodependentes. Em 1975 o Dr. Nuno Miguel integra esta equipa, que passa a chefiar em 1981.No inicio desta década era significativo o aumento na nossa consulta de dependentes de heroína. Constatávamos a enorme dificuldade em ajudar de forma eficaz, e com os meios disponíveis, os jovens que se apresentavam com o síndroma deficitário. Por outro lado, muitos outros não conseguiam evitar a recaída, tal era a pressão do meio e/ou a desestruturação do ambiente, ou a sua dificuldade em o remanejar. Em 1983, e atendendo ao significativo aumento de jovens nestas situações, sentíamos cada vez mais a necessidade do recurso terapêutico "comunidade" que para nós não é um saco, a ultima etapa, mas uma fase terapêutica que pressupõe um movimento terapêutico pré e pós comunidade.Nessa altura, apenas existiam em Portugal duas comunidades terapêuticas estatais, em Coimbra (15 camas) e em Lisboa (10) sendo que esta, posteriormente, chegou mesmo a fechar. Em 1984, amadurecendo a ideia, fizemos os primeiros trabalhos de campo. Criámos um modelo teórico, baseado na "token economy", mas não conseguimos os apoios logísticos necessários.Em final de 1985, com uma equipa de quatro psiquiatras da nossa consulta e um Engenheiro Zootécnico, reformulámos o modelo teórico com muito menos certezas, mas mais adaptado à realidade que se nos deparava e, após conseguirmos o apoio logístico mínimo para o arranque, abrimos "Ares do Pinhal".Alguns de nós tinham alguma experiência de Hospital de Dia, Intervenção em crise, Internamento Psiquiátrico de Evolução Prolongada, crianças, adolescentes e adultos, internamento psiquiátrico de agudos, gestão em residências de estudantes, participação activa em movimentos comunitários de jovens, grupos de toxicodependentes e, naturalmente, a consulta externa de adolescentes e toxicodependentes do H.S.M.. Tínhamos feito uma análise do funcionamento de diferentes modelos de intervenção comunitária. A obra de Claude Olivenstein, Amaral Dias, Charles Nicholas, entre outros autores, movimentos comunitários já existentes como o Levant, Haebi House, Day Top, Phoenix House, Coordinadora Nacional de la Lucha Antidroga, La Roseraie, Odissey House, Synanon, Portage, Patriarche, Desafio Jovem, serviram-nos de reflexão para a procura de um modelo em que sabíamos o que queríamos - ajudar o toxicodependente a reaprender a viver, mas em que não tínhamos ideias fixas ou certezas absolutas de como o conseguir, nomeadamente, tendo em conta que os nossos meios físicos para a criação da comunidade eram muitos austeros, mesmo pobres, e os recursos humanos tremendamente limitados. Em Portugal não abundavam, e ainda não abundam, o numero suficiente de técnicos diferenciados.Pareceu-nos que era necessário criar um modelo que se adaptasse à realidade social e cultural. Para os nossos doentes necessitados de comunidades terapêuticas pareceu-nos fundamental o afastamento no tempo e no espaço em relação ao meio da droga e ao ambiente envolvente. Mas se era fundamental o afastamento, era nossa convicção que não era suficiente. Era também necessário promover um crescimento interior. A nossa opção pelo meio rural, onde criámos "Ares do Pinhal", teve muito a haver com a insuficiência de meios técnicos. Sabíamos à partida que poderíamos contar com o apoio social rural que, em trabalho conjunto connosco, nos permitiria criar um ambiente socio-terapêutico. A aldeia onde se instalou a comunidade nunca sentira a problemática da toxicodependência. Na população residente havia poucos jovens e esses estavam organizados enquanto movimento de juventude, que, sem interferências intrusivas; se dispuseram a colaborar no lançamento da comunidade. Também foi possível negociar à partida o apoio tácito das chamadas forças vivas da região - C.M.Mação, Centro de Saúde, etc. Não queríamos uma comunidade modelo, mas uma comunidade que desse respostas. Outros movimentos comunitários nos foram servindo para continuar a reflexão sobre o nosso projecto - Trait d'Union, L'oiseau Bleu, Bois des Loges, Nezel, Projecto Homo, Punto Linea Verde, Communita Maximina, Mödlinge Khrumbach.Desde o inicio, o modelo corresponde :A ajuda no insucesso ou bloqueio no projecto terapêutico de paragem dos consumos e/ou da reorganização da conjuntura pessoal (personalidade), familiar, e sócio profissional do doente. Ao prévio conhecimento em que a relação terapêutica devia ter atingido um mínimo grau de maturidade. A livre adesão ao projecto após uma consciencialização, ainda que ambivalente, do desejo dessa adesão. Não havendo certezas absolutas por parte da Coordenação da Comunidade, procurávamos criar condições que permitissem construir uma experiência de vida favorável à estruturação do residente e que lhe permitisse reencontrar ou criar os seus projectos. Por outro lado exigíamos a sua participação possível, mas de forma activa, dispondo-nos mesmo ao questionamento sistemático e verbalizado das condições que se iam desenvolvendo. Recusando e criticando o autoritarismo, não deixávamos contudo de ser firmes, nomeadamente em relação ao uso de drogas ou ao uso de violência agida. O abandono do projecto por parte do doente seria sempre possível e sem rotura com o terapeuta, desde que o residente apresentasse a carta de saída e aguardasse 3 dias para reflexão sobre a sua mudança de atitude face ao projecto. Luís D. Patrício Médico-psiquiatra |
Membro do grupo EritNet
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