Sigmund Freud

"Uma criança é espancada"

Uma contribuição ao estudo da origem das perversões sexuais (1919), in Obras Completas, Vol. XVII, Ed. Imago, Rio de Janeiro

I

É surpreendente a freqüência com que as pessoas que procuram um tratamento analítico para a histeria ou uma neurose obsessiva, confessam haver-se abandonado à fantasia: ‘Uma criança é espancada.’ É muito provável que haja exemplos ainda mais freqüentes em um número muito maior de pessoas que não foram obrigadas a procurar análise por causa de uma doença manifesta.

A fantasia tem sentimentos de prazer relacionados com ela e, por causa deles, o paciente reproduziu-a em inumeráveis ocasiões, no passado, ou pode até mesmo ainda continuar a fazê-lo. No clímax da situação imaginária, há quase invariavelmente uma satisfação masturbatória — realizada, em outras palavras, nos órgãos genitais. De início, isso acontece voluntariamente, mas depois ocorre contra a vontade do paciente e com as características de uma obsessão.

É somente com hesitação que essa fantasia é confessada. O seu primeiro aparecimento é recordado com incerteza. O tratamento analítico do problema encontra inequívoca resistência. A vergonha e o sentimento de culpa são talvez mais intensamente provocados em relação a essa fantasia, do que quando são feitos relatos semelhantes de lembranças do início da vida sexual.

Eventualmente torna-se possível estabelecer que as primeiras fantasias dessa natureza foram nutridas muito cedo: certamente antes da idade escolar e jamais depois do quinto ou do sexto ano de vida. Quando a criança estava na escola e via outras crianças sendo espancadas pelo professor, essa experiência, se as fantasias estavam então dormentes, despertava-se de novo, ou, se ainda estavam presentes, reforçava-as e modificava-lhes perceptivelmente o conteúdo. A partir dessa ocasião, era ‘um número indefinido’ de crianças que estavam sendo espancadas. A influência da escola era tão clara que os pacientes em questão ficaram inicialmente tentados a atribuir as suas fantasias de espancamento exclusivamente a essas impressões da vida escolar, que tinham data posterior à do sexto ano de idade. Mas nunca lhes foi possível manter essa posição; as fantasias já existiam antes disso.

Embora nas séries mais adiantadas da escola não mais se batesse nas crianças, a influência dessas ocasiões era substituída, e mais do que substituída, pelos efeitos da leitura, e a importância destes em breve seria sentida. No milieu dos meus pacientes, eram quase sempre os mesmos livros cujo conteúdo dava um novo estímulo às fantasias de espancamento: aqueles acessíveis aos jovens, tais como os que eram conhecidos como ‘Bibliothèque rose‘, A Cabana do Pai Tomás etc. A criança começava a competir com essas obras de ficção, produzindo as suas próprias fantasias e construindo uma riqueza de situações e instituições, nas quais as crianças eram espancadas, ou eram punidas e disciplinadas de qualquer outra forma, por suas traquinagens e seu mau comportamento.

Essa fantasia — ‘uma criança é espancada’ — era invariavelmente catexizada com um alto grau de prazer e tinha a sua descarga num ato de agradável satisfação auto-erótica. Poder-se-ia esperar, portanto, que a visão de outra criança sendo espancada na escola fosse também uma fonte de prazer semelhante. Na realidade, porém, isto jamais acontecia. A experiência das cenas reais de espancamento na escola produzia na criança que as testemunhava um sentimento peculiarmente excitado, que era provavelmente de caráter misto e no qual a repugnância tinha larga parcela. Em alguns poucos casos, a experiência real das cenas de espancamento era sentida como algo intolerável. Ademais, era sempre uma condição das fantasias mais sofisticadas, dos anos posteriores, que o castigo não causasse à criança qualquer dano mais sério.

A questão estava em conexão com saber que relação poderia haver entre a importância das fantasias de espancamento e o papel que esse castigo corporal de verdade poderia fazer desempenhado na educação das crianças em casa. Foi impossível, por causa da parcialidade do material, confirmar a primeira suspeita de que a relação era inversa. Os indivíduos dos quais foram obtidos os dados para as análises haviam sido muito raramente espancados na infância, ou não haviam sido, em todo caso, educados com ajuda da vara. Naturalmente, contudo, cada uma daquelas crianças estava destinada a tomar conhecimento, mais cedo ou mais tarde, da força física superior dos pais ou educadores; o fato de que, em todo quarto de brinquedos ou jardim de infância, as próprias crianças chegam por vezes às vias de fato, não exige destaque especial.

No que diz respeito às fantasias simples e primitivas que não podiam, obviamente, ser atribuídas à influência das impressões escolares ou de cenas tiradas de livros, seria necessário maior informação. Quem era a criança que estava sendo espancada? A que estava criando a fantasia, ou uma outra? Era sempre a mesma criança, ou às vezes era uma diferente? Quem estava batendo na criança? Uma pessoa adulta? Se era, quem? Ou a criança imaginava-se a si mesma batendo em outra? Nada do que foi apurado pôde esclarecer todas essas perguntas; apenas a resposta hesitante: ‘Nada mais sei sobre isto: estão espancando uma criança.’

As perguntas quanto ao sexo da criança que estava sendo espancada tiveram mais êxito, mas, ainda assim, nenhuma trouxe o esclarecimento. Às vezes a resposta era: ‘Sempre rapazes’, ou ‘Apenas meninas’; com mais freqüência era: ‘Não sei’, ou ‘Não importa’. No entanto, jamais foi constatado o ponto a que as perguntas se dirigiam, a descoberta de alguma relação constante entre o sexo da criança que cria a fantasia e o da criança que está sendo espancada. De vez em quando, surgia outro detalhe característico do conteúdo da fantasia: ‘Uma criança está sendo espancada, estão-lhe batendo no traseiro nu.’

Nessas circunstâncias era impossível, de início, até mesmo decidir se o prazer relacionado à fantasia de espancamento deveria ser descrito como sádico ou como masoquista.

II

Uma fantasia dessa natureza, nascida, talvez, de causas acidentais na primitiva infância, e retida com o propósito de satisfação auto-erótica, só pode, à luz do nosso conhecimento atual, ser considerada como um traço primário de perversão. Um dos componentes da função sexual desenvolveu-se, ao que parece, à frente do resto, tornou-se prematuramente independente, sofreu uma fixação, sendo por isso afastadas dos processos posteriores de desenvolvimento, e, dessa forma, dá evidência de uma constituição peculiar e anormal no indivíduo. Sabemos que uma perversão infantil desse tipo não persiste necessariamente por toda a vida; mais tarde pode ser submetida à repressão, substituída por uma formação reativa ou transformada por meio da sublimação. (É possível que a sublimação nasça de algum processo especial que seria detido pela repressão.) Se esses processos, contudo, não ocorrem, a perversão persiste até a maturidade; e sempre que encontramos uma aberração sexual em adultos — perversão, fetichismo, inversão — temos motivos para esperar que a investigação anamnésica revele um evento como o que sugeri, que conduza a uma fixação na infância. De fato, muito antes da era da psicanálise, observadores como Binet conseguiam atribuir as estranhas aberrações sexuais da maturidade a impressões similares, e precisamente ao mesmo período da infância, ou seja, o quinto ou o sexto ano de vida. Nesse ponto, porém a investigação defrontava-se com as limitações do nosso conhecimento; pois as impressões que provocavam a fixação não tinham qualquer força traumática. Eram, na sua maioria, corriqueiras e não excitantes para outras pessoas. Era impossível dizer por que o impulso sexual se submetera particularmente a uma fixação nessas impressões. Era possível, no entanto, procurar o seu significado no fato de que ofereciam uma ocasião para fixação (embora acidental) exatamente ao componente que se desenvolvera prematuramente e estava pronto para se colocar em primeiro plano. Em todo caso, tínhamos de estar preparados para chegar a um fim provisório, num ponto ou noutro, ao traçar a seqüência da conexão causal; e a constituição congenital parecia corresponder exatamente ao que se exigia para uma parada dessa natureza.

Se o componente sexual que se soltou prematuramente é o sádico, podemos esperar, com base no conhecimento derivado de outras fontes, que a sua subseqüente repressão resultará numa inclinação para a neurose obsessiva. Não se pode dizer que essa expectativa fosse contrariada pelos resultados da pesquisa. O presente artigo baseia-se no estudo exaustivo de seis casos (quatro femininos e dois masculinos). Destes, dois eram casos de neurose obsessiva; um extremamente grave e inqualificável; o outro, de severidade moderada e bastante acessível à influência. Havia um terceiro caso que, de qualquer maneira, exibia claramente traços individuais marcados de neurose obsessiva. O quarto caso, temos que admitir, era de franca histeria, com dores e inibições; e o quinto paciente, que chegou à análise simplesmente por causa de indecisão na vida, não teria absolutamente sido classificado pelo diagnóstico clínico comum, ou teria sido rejeitado como ‘psicastênico’. Não há necessidade de sentir desapontamento quanto às estatísticas. Em primeiro lugar, sabemos que nem toda tendência se desenvolve necessariamente para um distúrbio; em segundo lugar, devemo-nos contentar em explicar os fatos que estão diante de nós, e devíamos, via de regra, evitar a tarefa de esclarecer algo que não ocorreu.

A presente etapa do nosso conhecimento permitir-nos-ia abrir caminho, por enquanto, e não mais além, no sentido da compreensão das fantasias de espancamento. Na mente do médico analítico, é verdade, resta uma apreensiva suspeita de que isso não é uma solução final do problema. Ele é obrigado a admitir para si próprio que, em grande medida, essas fantasias subsistem à parte do resto do conteúdo de uma neurose e não encontram lugar adequado na sua estrutura. Mas impressões dessa espécie, conforme sei por experiência própria, são apenas postas de lado muito prontamente.

III

Rigorosamente considerado — e por que não deveria essa questão ser considerada com todo o rigor? —, o trabalho analítico só merece ser reconhecido como psicanálise quando consegue remover a amnésia que oculta do adulto o seu conhecimento da infância desde o início (isto é, desde um período aproximadamente entre o segundo e o quinto ano de vida). Entre os analistas, isto não pode ser dito com muita ênfase ou repetido com muita freqüência. Os motivos para desconsiderar este lembrete são, na verdade, compreensíveis. Seria desejável obter resultados práticos num período mais curto e com menos problemas. Na época atual, porém, o conhecimento teórico é ainda muito mais importante para todos nós do que o êxito terapêutico, e quem quer que negligencie a análise infantil está fadado a cair nos mais desastrosos erros. A ênfase que é dada aqui à importância das primeiras experiências não implica em subestimar a influência das experiências posteriores. As impressões posteriores da vida, contudo, falam alto o bastante através da boca do paciente, ao passo que é o médico que tem que elevar a voz em favor das reivindicações da infância.

É na infância, entre os dois e os quatro ou cinco anos de idade, que os fatores libidinais congênitos são despertados pela primeira vez pelas experiências reais e se ligam a determinados complexos. As fantasias de espancamentos que agora estamos considerando, só se mostram mais para o final desse período, ou após o seu término. Assim, pode muito bem ser que tenham um histórico anterior, que atravessem um processo de desenvolvimento, que representam um resíduo e não uma manifestação inicial.

Essa suspeita é confirmada pela análise. A aplicação sistemática da análise demonstra que as fantasias de espancamento têm um desenvolvimento histórico que não é, de modo algum, simples, e no decorrer do qual são mais de uma vez modificadas em muitos aspectos — no que diz respeito à relação com o autor da fantasia, e quanto ao seu objeto, conteúdo e significado.

Com a finalidade de tornar mais fácil seguir essas transformações nas fantasias de espancamento, devo arriscar-me agora a restringir as minhas descrições a casos femininos, os quais, sendo quatro contra dois, constituem de qualquer modo a maior parte do meu material. Ademais, as fantasias de espancamento nos homens estão ligadas a outra questão, que deixarei de lado neste artigo. Na minha descrição, terei o cuidado de evitar ser mais esquemático do que o inevitável na apresentação de um caso comum. Se então, numa observação posterior, vier à tona uma maior complexidade de circunstâncias, estarei certo, não obstante, de termos diante de nós uma ocorrência típica e que, de mais a mais, não é de natureza incomum.

A primeira fase das fantasias de espancamento nas meninas deve pertencer, portanto, a um período muito primitivo da infância. Alguns aspectos permanecem curiosamente indefinidos, como se fossem uma questão de indiferença. A escassa informação fornecida pelas pacientes na sua primeira afirmação, ‘uma criança é espancada’, parece justificar-se em relação a essa fase. Um outro dos seus aspectos, porém, pode ser estabelecido com segurança, e no mesmo sentido, em todos os casos. A criança em que estão batendo não é jamais a que cria a fantasia, mas, invariavelmente, outra criança, com mais freqüência um irmão ou uma irmã, se existem. De vez que essa outra criança pode ser um menino ou uma menina, não há relação constante entre o sexo da criança que cria a fantasia e o daquela que está sendo espancada. A fantasia, então, não é certamente masoquista. Seria tentador chamá-la sádica, mas não se pode esquecer o fato de que a criança que cria a fantasia não é a que bate. A identidade real da pessoa que bate permanece obscura, inicialmente. Só se pode estabelecer o seguinte: não é uma criança, mas um adulto. Mais tarde, esse adulto indeterminado torna-se clara e inequivocamente reconhecível como o pai (da menina).

Essa primeira fase da fantasia de espancamento é, portanto, inteiramente representada pela frase ‘O meu pai está batendo na criança‘. Estarei denunciando uma grande parte do que será exposto depois, quando, em lugar disso, disser: ‘O meu pai está batendo na criança que eu odeio‘. Pode-se, ademais, hesitar em dizer se as características de ‘fantasia’ podem ainda assim ser atribuídas a esse primeiro passo no sentido de uma posterior fantasia de espancamento. É, talvez, antes uma questão de recordações de eventos que foram testemunhados, ou de desejos que despertam em várias ocasiões. Essas dúvidas, porém, não são importantes.

Entre essa fase e a seguinte, ocorrem profundas transformações. É certo que a pessoa que bate continua a ser a mesma (isto é, o pai); mas a criança em que está batendo transformou-se em outra e torna-se, invariavelmente, aquela que produz a fantasia. A fantasia é acompanhada por um alto grau de prazer e adquire, então, um conteúdo significativo, a cuja origem nos dedicaremos depois. Agora, portanto, as palavras seriam: ‘Estou sendo espancada pelo meu pai.’ O que é de um caráter inequivocamente masoquista.

Essa segunda fase é a mais importante e a mais significativa de todas. Pode-se dizer, porém, que, num certo sentido, jamais teve existência real. Nunca é lembrada, jamais conseguiu tornar-se consciente. É uma construção da análise, mas nem por isso é menos uma necessidade.

A terceira fase assemelha-se uma vez mais à primeira. Tem as palavras que se nos tornaram familiares por meio da afirmação do paciente. A pessoa que bate nunca é o pai, mas sim, ou é deixada indeterminada tal como na primeira fase, ou se transforma, de maneira característica, num substituto do pai, tal como um professor. A figura da criança que cria a fantasia não mais aparece nesta. Em resposta às prementes perguntas, as pacientes declaram apenas: ‘Provavelmente estou olhando.’ Em vez de uma criança sendo espancada, há agora, via de regra, várias crianças presentes. Com maior freqüência são meninos que estão sendo espancados (nas fantasias de meninas), mas nenhum deles é pessoalmente conhecido pela pessoa. A situação do espancamento, que originalmente era simples e monótona, pode passar por alterações e elaborações as mais complicadas; castigos e humilhações de outra natureza podem substituir o próprio espancamento. A característica essencial que distigue mesmo as mais simples fantasias dessa fase daquelas da primeira, e que estabelece a ligação com a fase intermediária, é, contudo, a seguinte: a fantasia liga-se agora a uma forte e inequívoca excitação sexual, proporcionando, assim, um meio para a satisfação masturbadora. É precisamente isto, porém, que é desconcertante. Por que caminho a fantasia de meninos estranhos e desconhecidos sendo espancados (uma fantasia que, nessa altura, tornou-se sádica) impôs-se à posse permanente das tendências libidinais da menina?

Não podemos ocultar de nós mesmos o fato de que as inter-relações e a seqüência das três fases da fantasia de espancamento, bem como todas as suas outras peculiaridades, permaneceram até aqui bastante ininteligíveis.

IV

Se a análise é levada até o período primitivo ao qual se referem as fantasias de espancamento e do qual são recordadas, ela nos mostra a criança envolvida nas agitações do seu complexo parental.

As afeições de menina estão fixadas no pai, que provavelmente fez tudo o que podia para conquistar o seu amor e, dessa maneira, propagou as sementes de uma atitude de rancor e rivalidade da menina em relação à sua mãe. Essa atitude existe lado a lado com uma corrente de dependência afetiva da mãe e, à medida em que os anos passam, pode atingir a consciência cada vez mais clara e forçosamente, ou dar ímpeto a uma reação excessiva de dedicação à mãe. Não é, porém, com a relação entre a menina e mãe que a fantasia de espancamento está ligada. Há outras crianças à volta, apenas alguns anos mais velhas ou mais novas, de quem não gosta por toda espécie de motivos, mas principalmente porque o amor dos pais tem de ser compartilhado com elas, que, ademais, por essa razão, são repelidas com toda a energia selvagem característica da vida emocional nessa idade. Se a criança em questão é uma irmã ou irmão mais novo (como em três dos meus quatro casos), é desprezada e odiada; ainda assim atrai para si a parcela de afeição que os cegos pais estão sempre prontos a dar ao caçula, e isto é um espetáculo cuja visão não pode ser evitada. Depressa se aprende que ser espancado, mesmo que não doa muito, significa uma privação de amor e uma humilhação. E muitas crianças, que se acreditavam seguramente entronadas na inabalável afeição dos pais, foram de um só golpe derrubadas de todos os céus da sua onipotência imaginária. A idéia de o pai batendo nessa odiosa criança é, portanto, agradável, independente de ter sido realmente visto agindo assim. Significa: ‘O meu pai não ama essa criança, ama apenas a mim.’

É este, então, o conteúdo e o significado da fantasia de espancamento na sua primeira fase. A fantasia obviamente gratifica o ciúme da criança e depende do lado erótico da sua vida: mas é, também, poderosamente reforçada pelos interesses egoístas da criança. Resta, portanto, a dúvida quanto a saber se a fantasia pode ser descrita como puramente ‘sexual’, ou se podemos arriscar-nos a chamá-la de ‘sádica’.

Como é sabido, todos os sinais sobre os quais nos acostumamos a basear as nossas distinções, tendem a perder a clareza à medida em que nos aproximamos da fonte. Assim, talvez possamos dizer, em termos que recordam a profecia feita pelas Três Feiticeiras a Banquo: ‘Não claramente sexual, nem sádica, em si, mas ainda assim a natureza da qual ambos os impulsos surgirão depois.’ Em todo caso, contudo, não há motivos para suspeitar de que nessa primeira fase a fantasia já esteja a serviço de uma excitação que envolve os genitais e encontra saída por meio de um ato masturbatório.

É claro que a vida sexual da criança atingiu o estádio de organização genital, agora que o seu amor incestuoso conseguiu essa prematura escolha de objeto. Isto pode ser demonstrado mais facilmente no caso de meninos; é, contudo, também indiscutível no caso de meninas. Algo como uma premonição do que são, depois, os objetivos sexuais normais e finais, governa as tendências libidinais da criança. Podemo-nos perguntar, com razão, por que tem de ser assim; porém, podemos considerá-lo prova do fato de que os genitais já começaram a desempenhar o seu papel no processo de excitação. Nos meninos, o desejo de procriar um filho, com a mãe, jamais está ausente; nas meninas, o desejo de obter uma criança do pai é igualmente constante; e isto, apesar de serem inteiramente incapazes de formar qualquer idéia clara da maneira de realizarem esses desejos. A criança parece estar convencida de que os genitais têm algo a ver com o assunto, muito embora, em suas constantes cogitações, possa procurar pela essência da presumida intimidade entre os pais em relações de outra espécie, tais como no fato de dormirem juntos, de urinarem na presença um do outro etc.; e o material desse último tipo pode ser mais facilmente apreendido em imagens verbais, do que o mistério que está relacionado com os genitais.

Mas chega a época em que esse florescimento prematuro é estragado pela geada. Nenhum desses amores incestuosos pode evitar o destino da repressão. Podem sucumbir à ela por ocasião da descoberta de algum evento externo que leva à desilusão — tal como o desprezo inesperado, o indesejado nascimento de um novo irmão ou irmã (que é sentido como uma infidelidade) etc.; ou pode acontecer a mesma coisa devido a condições internas alheias a tais eventos, talvez simplesmente porque o anseio permaneceu por muito tempo insatisfeito. É inquestionavelmente certo que tais eventos não são as causas efetivas, mas sim, que esses casos de amor estão destinados a fracassar, mais cedo ou mais tarde, embora não possamos dizer qual o obstáculo específico. O mais provável é que eles passem, porque o seu período acabou, porque as crianças ingressaram numa nova fase de desenvolvimento, na qual são compelidas a recapitular, a partir da história da humanidade, a repressão de uma escolha objetal incestuosa, tal como, numa etapa anterior, foram obrigadas a efetuar uma escolha objetal dessa mesma natureza. Na nova fase, nenhum produto mental dos impulsos de amor incestuosos que esteja inconscientemente presente é assumido pela consciência; e nada que já tenha alcançado a consciência é dela expulso. Ao mesmo tempo em que ocorre esse processo de repressão, surge um sentimento de culpa. Este é também de origem desconhecida, mas não há dúvida de que, por qualquer que seja, está ligada aos desejos incestuosos e justificada pela persistência desses desejos no inconsciente.

A fantasia do período de amor incestuoso havia dito: ‘Ele (o meu pai) só ama a mim, e não à outra criança, pois está batendo nela.’ O sentimento de culpa não pode descobrir um castigo mais severo do que a inversão desse triunfo: ‘Não, ele não ama você, pois está batendo em você.’ Desse modo, a fantasia da segunda fase, a de ser espancada pelo pai, é uma expressão direta do sentimento de culpa da menina, ao qual o seu amor pelo pai sucumbiu agora. A fantasia, portanto, tornou-se masoquista. Até onde sei, é sempre assim; um sentimento de culpa é invariavelmente o fator que converte o sadismo em masoquismo. Certamente, porém, não é este o conteúdo total do masoquismo. O sentimento de culpa não pode ter conquistado o campo sozinho; uma parcela deve ser atribuída ao impulso de amor. Devemo-nos lembrar de que estamos lidando com crianças cujo componente sádico conseguiu, por motivos constitucionais, desenvolver-se prematura e isoladamente. É preciso não abandonar esse ponto de vista. São exatamente essas crianças que acham particularmente fácil voltar à organização pré-genital, anal-sádica, da vida sexual. Se a organização genital, que mal conseguiu firmar-se, defronta-se com repressão, a conseqüência não é apenas a de que toda representação psíquica do amor incestuoso se torna inconsciente, ou permanece inconsciente, mas existem também outro resultado: um rebaixamento regressivo da própria organização genital para um nível mais baixo. ‘O meu pai me ama’ queria expressar um sentido genital; devido à regressão, converte-se em ‘O meu pai está me batendo (estou sendo espancado pelo meu pai)’. Esse ser espancado é agora uma convergência do sentimento de culpa e do amor sexual. Não é apenas o castigo pela relação genital proibida, mas também o substituto regressivo daquela relação, e dessa última fonte deriva a excitação libidinal que se liga à fantasia a partir de então, e que encontra escoamento em atos masturbatórios. Aqui temos, pela primeira vez, a essência do masoquismo.

Essa segunda fase — a fantasia da criança de ser espancada pelo pai — permanece, via de regra, inconsciente, provavelmente em conseqüência da intensidade da repressão. Não posso explicar, não obstante, por que em um dos meus seis casos, o de um paciente masculino, era lembrada conscientemente. Esse homem preservara claramente na memória o fato de que costumava empregar a idéia de ser espancado pela mãe com a finalidade de masturbação, embora logo tenha substituído a própria mãe pelas mães dos colegas ou outras mulheres que, de alguma forma, se assemelhavam a ela. Não nos devemos esquecer de que, quando a fantasia incestuosa de um menino se converte na fantasia masoquista correspondente, ocorreu uma inversão a mais do que no caso de uma menina, ou seja, a substituição da atividade pela passividade; e esse grau adicional de distorção pode salvar a fantasia de ter que permanecer inconsciente, em conseqüência da repressão. Dessa maneira, o sentimento de culpa seria satisfeito pela regressão, em vez de o ser pela repressão. Nos casos femininos, o sentimento de culpa, em si talvez mais preciso, só podia ser apaziguado por uma combinação das duas.

Em dois dos meus quatro casos femininos, uma elaborada superestrutura de devaneios, que era de grande significado para a vida da pessoa em questão, desenvolvera-se sobre a fantasia masoquista de espancamento. A função dessa superestrutura era tornar possível um sentimento de excitação satisfeita, mesmo que houvesse abstenção do ato masturbatório. Em um desses casos, permitia-se que o conteúdo — ser espancado pelo pai — se arriscasse outra vez pela consciência, na medida em que o próprio ego do sujeito se tornasse irreconhecível por meio de um pobre disfarce. O herói dessas histórias era invariavelmente espancado (ou, depois, apenas punido, humilhado etc.) pelo seu pai.

Repito, no entanto, que a fantasia, via de regra, permanece inconsciente e só pode ser reconstruída no decorrer da análise. Esse fato talvez justifique os pacientes que dizem lembrar-se de que, para eles, a masturbação surgiu antes da terceira fase da fantasia de espancamento (o que será discutido adiante), e que essa fase era apenas uma adição posterior, feita talvez sob a impressão das cenas na escola. Toda vez que dei crédito a essas afirmações, senti-me inclinado a presumir que a masturbação estava, inicialmente, sob o domínio das fantasias inconscientes e que as conscientes só as substituíram depois.

Considero a fantasia de espancamento, na sua terceira fase, que é a mais familiar e é a sua forma final, um substituto desse tipo. Aqui a criança que cria a fantasia aparece quase como um espectador, ao passo que o pai persiste, sob a forma de um professor ou qualquer outra autoridade. A fantasia, que então se assemelha à da primeira fase, parece haver-se tornado, uma vez mais, sádica. É como que se na frase ‘O meu pai está batendo na criança, ele só ama a mim’, a ênfase tenha-se deslocado para a primeira parte, depois que a segunda sofreu repressão. Contudo, apenas a forma dessa fantasia é sádica; a satisfação que deriva assumiu a catexia libidinal da porção reprimida e, ao mesmo tempo, o sentimento de culpa que está ligado ao conteúdo daquela porção. Todas as crianças não especificadas, que estão sendo espancadas pelo professor, afinal de contas, nada mais são do que substitutos da própria criança.

Também pela primeira vez encontramos aqui algo como uma constância do sexo nas pessoas que desempenham um papel na fantasia. As crianças que estão sendo espancadas são quase invariavelmente meninos, tanto nas fantasias destes, quanto nas das meninas. Essa característica não deve ser naturalmente explicada por qualquer rivalidade entre os sexos, como se nas fantasias dos meninos devessem as meninas ser espancadas; e nada tem a ver com o sexo da criança que era odiada na primeira fase. No entanto, tal característica assinala uma complicação no caso de meninas. Quando elas se afastam do amor incestuoso pelo pai, com o seu significado genital, abandonam com facilidade o papel feminino. Põem em atividade o seu ‘complexo de masculinidade’ (Van Ophuijsen [1917]) e, a partir de então, querem apenas ser meninos. Por esse motivo, os bodes expiatórios que as representam são também meninos. Em ambos os casos de devaneio — um dos quais quase se elevou ao nível de uma obra de arte — os heróis eram sempre rapazes; na verdade as mulheres não costumavam, absolutamente, surgir nessas criações e só fizeram a primeira aparição depois de muitos anos, e, ainda assim, em papéis de menor importância.

V

Espero haver exposto as minhas observações analíticas com detalhes suficientes, e gostaria apenas de acrescentar que os seis casos que mencionei com tanta freqüência não esgotam o meu material. Como outros analistas, tenho à minha disposição um número muito maior de casos que foram menos completamente pesquisados. Essas observações podem ser utilizadas em vários sentidos: para esclarecimento da gênese das perversões em geral e do masoquismo em particular, e para avaliar o papel desempenhado pela diferença de sexo na dinâmica da neurose.

O resultado mais óbvio de tal discussão é a sua aplicação à origem das perversões. O ponto de vista que trouxe para primeiro plano, a esse respeito, o reforço constitucional ou o crescimento prematuro de um único componente sexual, na verdade não está abalado: mas verifica-se que não abrange toda a verdade. A perversão não mais é um fato isolado na vida sexual da criança, mas encontra o seu lugar entre os processos típicos, para não dizer normais, de desenvolvimento que nos são familiares. É levada a uma relação com o objeto de amor incestuoso da criança, com o seu complexo de Édipo. Destaca-se, de início, na esfera desse complexo; e depois que o complexo sucumbiu, permanece, quase sempre por si, como herdeiro da carga de libido daquele complexo, oprimido pelo sentimento de culpa ligado a ele. A constituição sexual anormal, finalmente, mostrou a sua força impondo ao complexo de Édipo uma determinada direção e compelindo-o a deixar para trás um resíduo incomum.

Uma perversão na infância, como é sabido, pode tornar-se a base para a construção de uma perversão que tenha um sentido similar e que persista por toda a vida, uma perversão que consuma toda a vida sexual do sujeito. Por outro lado, a perversão pode ser interrompida e permanecer ao fundo de um desenvolvimento sexual normal, do qual, no entanto, continua a retirar uma determinada quantidade de energia. A primeira dessas alternativas já era conhecida antes da era da análise. Contudo, a investigação analítica de casos tão plenamente desenvolvidos praticamente cobre a lacuna entre as duas. Pois descobrimos muitas vezes que esses pervertidos também fazem uma tentativa para desenvolver uma atividade sexual normal, geralmente durante a puberdade; mas a tentativa não tinha força suficiente e foi abandonada diante dos obstáculos que inevitavelmente se levantam, após o que voltam à fixação infantil de uma vez por todas.

Naturalmente seria importante saber se a origem das perversões infantis a partir do complexo de Édipo pode ser afirmada como um princípio geral. Embora isto não possa ser resolvido sem mais investigações, não parece impossível. Quando nos lembramos das anamneses que foram obtidas em casos de perversão em adultos, não podemos deixar de notar que a impressão decisiva, a ‘primeira experiência’, de todos os pervertidos, fetichistas etc. dificilmente se refere a um período anterior ao sexto ano de vida. Nessa época, no entanto, o domínio do complexo de Édipo já cessou; a experiência que é recordada, e que foi efetiva de modo tão desconcertante, pode muito bem representar o legado daquele complexo. As ligações entre a experiência e o complexo, que por essa época está reprimido, estão destinadas a permanecer obscuras na medida em que a análise não esclarece o período anterior à primeira impressão ‘patogênica’. De modo que se pode imaginar como é pequeno o valor que se deve atribuir, por exemplo, a uma afirmação de que um caso de homossexualismo é congênito, quando o motivo dado para se acreditar que o seja é que, desde os seis ou os oito anos, a pessoa em questão só sentiu inclinações para o seu próprio sexo.

Se, no entanto, a derivação das perversões a partir do complexo de Édipo pode ser estabelecida de modo geral, a nossa estimativa quanto à sua importância terá adquirido força adicional. Porque, na nossa opinião, o complexo de Édipo é o verdadeiro núcleo das neuroses e a sexualidade infantil que culmina nesse complexo é que determina realmente as neuroses. O que resta do complexo no inconsciente representa a inclinação para o posterior desenvolvimento de neuroses no adulto. Dessa forma, a fantasia de espancamento e outras fixações perversas análogas também seriam apenas resíduos do complexo de Édipo, cicatrizes, por assim dizer, deixadas pelo processo que terminou, tal como o notório ‘sentimento de inferioridade’ corresponde a uma cicatriz narcísica do mesmo tipo. Ao assumir esse ponto de vista do assunto, devo dizer que concordo sem reservas com Marcinowski (1918), que recentemente o expôs de modo mais feliz. Como é sabido, esse delírio neurótico de inferioridade é apenas parcial e inteiramente compatível com a existência de uma superautovalorização derivada de outras fontes. A origem do próprio complexo de Édipo e do destino que compele o homem, provavelmente sozinho entre todos os animais, a iniciar duas vezes a sua vida sexual, primeiro, como todas as criaturas, na primitiva infância, e depois, após uma longa interrupção, uma vez mais na puberdade — todos os problemas ligados à ‘herança arcaica’ do homem —, já foram por mim debatidos em outra parte, e não tenho intenção de adentrar-me neles, neste artigo.

A nossa exposição da fantasia de espancamento pouco esclareceu a gênese do masoquismo. Para começar, parece haver confirmação do ponto de vista de que o masoquismo não é a manifestação de um instinto primário, mas se origina do sadismo que foi voltado contra o eu (self) — ou seja, por meio de regressão de um objeto para o ego.Pode-se ter como certo que os instintos com propósito passivo existem, particularmente entre as mulheres. A passividade, contudo, não é a totalidade do masoquismo. A característica do desprazer também pertence a ele — um desconcertante acompanhamento para a satisfação de um instinto. A transformação do sadismo em masoquismo parece dever-ser à influência do sentimento de culpa que participa do ato de repressão. Assim, a repressão opera, aqui, de três modos: torna inconscientes as conseqüências da organização genital, obriga essa organização a regredir ao anterior estádio sádico-anal e transforma o sadismo desse estádio em masoquismo, que é passivo e novamente, num certo sentido, narcísico. O segundo desses três efeitos torna-se possível pela fraqueza da organização genital, que deve ser pressuposta em tais casos. O terceiro torna-se necessário porque o sentimento de culpa faz tantas objeções ao sadismo, como à escolha objetal incestuosa, genitalmente concebida. Mais uma vez, a análise não nos fornece a origem no próprio sentimento de culpa. Parece ser trazido pela nova fase em que a criança ingressa e, se persiste depois, parece corresponder a uma formação semelhante a uma cicatriz, como a do sentimento de inferioridade. De acordo com a nossa orientação atual na estrutura do ego, que ainda é incerta, devíamos atribuí-lo à instância mental que se instala como uma consciência crítica sobre o resto do ego, que produz o fenômeno funcional de Silberer [1910] nos sonhos e que se desprende do ego nos delírios de observação.

Também podemos notar, de passagem, que a análise da perversão infantil tratada aqui é igualmente de grande ajuda na solução de um velho enigma — enigma que, na verdade, sempre perturbou aqueles que não aceitaram a psicanálise mais do que aceitaram os próprios analistas. Isto, ainda que, recentemente, até mesmo Bleuler [1913. Cf. Edição Standard Brasileira, Vol. VII, pág. 185 n., IMAGO Editora, 1972] tenha considerado importante e inexplicável o fato de que os neuróticos fazem da masturbação o ponto central do seu sentimento de culpa. Há muito presumimos que esse sentimento de culpa se relaciona com a masturbação da primitiva infância, e não com a da puberdade; e que, no essencial, deve-se ligá-lo não com o ato da masturbação, mas sim com a fantasia que, embora inconsciente, está na sua raiz — ou seja, com o complexo de Édipo.

No que diz respeito à terceira fase da fantasia de espancamento, aparentemente sádica, já expus [ver em [1]] o significado que ela adquire como veículo da excitação que impele à masturbação; e demonstrei como desperta atividades da imaginação que, por um lado, prosseguem a fantasia ao longo da mesma linha, e, por outro, a neutralizam através da compensação. Não obstante, a segunda fase, a fase inconsciente e masoquista, é incomparavelmente a mais importante. Não apenas porque continua a operar através da instância da fase que toma o seu lugar; podemos também detectar efeitos sobre o caráter, derivados diretamente da sua forma inconsciente. Pessoas que abrigam fantasias dessa espécie, desenvolvem uma sensibilidade e uma irritabilidade especial contra quem quer que possam incluir na categoria de ‘pai’. São facilmente ofendidas por uma pessoa assim e, desse modo (para sua própria tristeza), efetuam a realização da situação imaginada de serem espancadas pelo pai. Não me surpreenderia se algum dia fosse possível provar que a mesma fantasia é a base do delirante espírito litigioso da paranóia.

VI

Teria sido impossível dar uma visão clara das fantasias infantis de espancamento, se não me houvesse limitado, exceto em uma ou duas relações, à situação feminina. Recapitularei rapidamente as minhas conclusões. A fantasia de espancamento da menina passa por três fases, das quais a primeira e a terceira são lembradas conscientemente, ao passo que a do meio permanece inconsciente. As duas fases conscientes parecem ser sádicas, enquanto a segunda, a inconsciente, é indubitavelmente de natureza masoquista; seu conteúdo consiste em ser a criança espancada pelo pai, e faz-se acompanhar de uma carga libidinal e de um sentimento de culpa. Na primeira e na terceira fantasia, a criança em que estão batendo é sempre alguém que não seja aquela que a imagina; na fase intermediária, é sempre a própria criança; na terceira fase, são quase sempre meninos que estão sendo espancados. A pessoa que bate é, a partir da primeira, o pai, substituído depois por alguém escolhido na categoria paternal. A fantasia inconsciente da fase média tinha primariamente um significado genital e evoluiu, por meio da repressão e da regressão, de um desejo incestuoso de ser amada pelo pai. Um outro fato, ainda que pareça não ter ligação mais estreita com o resto, é que entre a segunda e a terceira fase as meninas mudam de sexo, pois nas fantasias da última fase transformam-se em meninos.

Não consegui progredir tanto no meu conhecimento das fantasias de espancamento nos meninos, talvez porque o meu material não era favorável. Esperava, naturalmente, encontrar uma analogia completa entre a situação no caso dos meninos e no das meninas, em que a mãe toma o lugar do pai na fantasia. Essa expectativa parecia confirmar-se, pois o conteúdo da fantasia masculina que seria tomado como correspondente era, na verdade, o de ser espancado pela mãe (ou, mais tarde, por uma substituta dela). Entretanto, essa fantasia, na qual o próprio eu (self) do menino era mantido como a pessoa que estava sendo espancada, diferia da segunda fase das meninas porque conseguia tornar-se consciente. Se, por causa disso, tentarmos, no entanto, traçar um paralelo entre ela e a terceira fase da fantasia feminina, encontraremos uma nova diferença, pois a figura do próprio menino não é substituída por um número de crianças desconhecidas e indeterminadas, menos ainda por uma série de meninas. Portanto, era enganosa a expectativa de haver um paralelo completo.

Os meus casos masculinos com uma fantasia infantil de espancamento eram apenas uns poucos pacientes que não exibiam qualquer outro dano grave nas atividades sexuais; incluíam também um grande número de pessoas que teriam que ser descritas como autênticos masoquistas, no sentido de serem pervertidos sexuais. Ou eram pessoas que obtinham satisfação sexual exclusivamente pela masturbação acompanhada de fantasias masoquistas; ou eram pessoas que haviam conseguido combinar o masoquismo com a sua atividade genital, de tal modo que, paralelamente às experiências masoquistas e sob condições semelhantes, conseguiram chegar à ereção e ejaculação, ou levar a cabo uma relação normal. Além desses, havia o caso mais raro em que um masoquista é perturbado nas suas atividades pervertidas pelo aparecimento de idéias obsessivas de intensidade insuportável. Entretanto, os pervertidos que conseguem obter satisfação raramente têm ocasião de procurar analista. No que diz respeito, porém, às três categorias de masoquistas que foram mencionadas, pode haver fortes motivos para induzi-los a ir a um analista. O masturbador masoquista descobre que é absolutamente impotente se, afinal, tenta manter relações com uma mulher; e o homem que sempre efetuou a relação com o auxílio de uma idéia ou uma proeza masoquista, faz, de repente, a descoberta de que a aliança que era tão conveniente para ele não mais funciona, de que seus órgãos genitais deixaram de reagir ao estímulo masoquista. Estamos acostumados a prometer confiantemente a recuperação aos pacientes psiquicamente impotentes que nos procuram para tratamento; mas deveríamos ser mais precavidos ao fazer esse prognóstico, na medida em que a dinâmica do distúrbio nos é desconhecida. É uma surpresa desagradável se a análise revela que a causa da impotência ‘meramente psíquica’ é uma atitude tipicamente masoquista, talvez profundamente arraigada desde a infância.

No que concerne aos masoquistas do sexo masculino, no entanto, uma descoberta nos adverte para não mais seguirmos a analogia entre o caso destes e o das mulheres, mas para julgá-los independentemente. A razão é que emerge o fato de que, nas suas fantasias masoquistas, bem como nos artifícios que utilizam para a realização destas, eles invariavelmente se transferem para o papel de uma mulher; ou seja, a sua atitude masoquista coincide com uma atitude feminina. Isto pode ser facilmente demonstrado a partir de detalhes das fantasias; muitos pacientes, porém, estão, eles próprios, cônscios desse fato e dão-lhe expressão como convicção subjetiva. Não faz diferença se, num embelezamento fantasioso da cena masoquista, eles sustentam a ficção de que um menino malvado, ou um pajem, ou um aprendiz, vai ser castigado. Por outro lado, as pessoas que aplicam o castigo são sempre mulheres, nas fantasias como nos desempenhos. Isto é bastante confuso; e outra questão que deve ser colocada é saber se essa atitude feminina já forma a base do elemento masoquista na fantasia de espancamento infantil.

Deixemos, portanto, de lado as considerações sobre a situação em casos de masoquismo adulto, que é tão difícil de esclarecer, e voltemos à fantasia de espancamento infantil no sexo masculino. A análise dos primeiros anos da infância uma vez mais permite-nos fazer uma descoberta surpreendente nesse campo. A fantasia que tem por conteúdo o ser espancado pela mãe, que é consciente ou pode vir a ser consciente, não é uma fantasia primitiva. Possui um estádio precedente que é sempre inconsciente e tem por conteúdo o seguinte: ‘Estou sendo espancado pelo meu pai.‘ Esse estádio preliminar corresponde então, na verdade, à segunda fase da fantasia na menina. A fantasia familiar e consciente, ‘Estou sendo espancado pela minha mãe’, toma o lugar da terceira fase da menina, em que, como já foi mencionado, rapazes desconhecidos estão sendo surrados. Não consegui demonstrar, entre os meninos, um estádio preliminar de natureza sádica que pudesse ser colocado ao lado da primeira fase da fantasia das meninas, mas não vou expressar uma descrença final na sua existência, pois vejo prontamente a possibilidade de deparar-me com tipos mais complicados.

Na fantasia masculina — como a chamarei sumariamente e, espero, sem qualquer risco de ser mal interpretado — o ser espancado também significa ser amado (num sentido genital), embora rebaixado a um nível inferior, por causa da regressão. De maneira que a forma original da fantasia masculina inconsciente não era a que demos provisoriamente até aqui, ‘Estou sendo espancado pelo meu pai’, mas, antes, ‘Sou amado pelo meu pai.‘ A fantasia foi transformada, por processos que nos são familiares, em fantasia consciente: ‘Estou sendo espancado pela minha mãe‘. A fantasia de espancamento do menino é, portanto, passiva desde o começo e deriva de uma atitude feminina em relação ao pai. Corresponde ao complexo de Édipo tal como a fantasia feminina (a da menina); apenas a relação paralela que esperávamos encontrar entre as duas, deve ser abandonada em favor de um caráter comum de outra natureza. Em ambos os casos, a fantasia de espancamento tem sua origem numa ligação incestuosa com o pai.

Ajudará a tornar as coisas mais claras se, nesse ponto, enumero as demais similaridades e diferenças entre as fantasias de espancamento em ambos os sexos. No caso da menina, a fantasia masoquista inconsciente parte da atitude edipiana normal; no caso do menino, parte da atitude invertida, na qual o pai é tomado como objeto de amor. No caso da menina, a fantasia tem um estádio preliminar (a primeira fase), no qual o espancamento não tem um significado especial e é feito sobre uma pessoa vista com rancor ciumento. Ambos esses aspectos estão ausentes no caso do menino, mas essa diferença particular é uma das que poderiam ser removidas por uma observação mais afortunada. Na sua transição para a fantasia consciente [a terceira fase], que toma o lugar da inconsciente, a menina mantém a figura do pai e, dessa forma, conserva inalterado o sexo da pessoa que está batendo; ela, porém, muda a figura e o sexo da pessoa que está sendo espancada, de modo que, por conseqüência, um homem está batendo em crianças do sexo masculino. O menino, pelo contrário, modifica a figura e o sexo da pessoa que bate, colocando a mãe no lugar do pai; mantém, contudo, a sua própria figura, disso resultando que a pessoa que está batendo e a que está apanhando são de sexos opostos. No caso da menina, o que era originalmente uma situação masoquista (passiva) transforma-se em situação sádica, por meio de repressão, e a sua qualidade sexual é quase apagada. No caso do menino, a situação permanece masoquista e mostra uma semelhança maior com a fantasia original, com seu significado genital, de vez que existe uma diferença de sexo entre a pessoa que bate e a pessoa espancada. O menino burla o seu homossexualismo ao reprimir e remodelar a fantasia inconsciente — e o que é notável acerca da sua posterior fantasia consciente é que esta tem como conteúdo uma atitude feminina sem uma escolha homossexual de objeto. Pelo mesmo processo, por outro lado, a menina escapa inteiramente às exigências do lado erótico da sua vida. Em fantasia ela transforma-se em homem, sem se tornar ativa à maneira masculina, e nada mais é do que o espectador de um acontecimento que toma o lugar de um ato sexual.

Estamos justificados ao presumir que nenhuma grande mudança é efetuada pela regressão da fantasia inconsciente original. O que quer que seja reprimido a partir da consciência, ou nela substituído por alguma outra coisa, permanece intacto e potencialmente operativo no inconsciente. O efeito da regressão a um estádio anterior da organização sexual é outra questão. No que diz respeito a esta, somos levados a acreditar que a situação se modifica também no inconsciente. Assim, em ambos os sexos, a fantasia masoquista de ser espancado pelo pai, ainda que não a fantasia passiva de ser amado por ele, continua a viver no inconsciente depois que ocorreu a repressão. Existem, ademais, muitas indicações de que a repressão só atinge o seu objetivo de maneira muito incompleta. O menino, que tentou escapar de uma escolha homossexual de objeto, e que não mudou o seu sexo, sente-se, não obstante, como uma mulher nas suas fantasias conscientes e dota as mulheres, que o espancam, de atributos e características masculinas. A menina, que até mesmo renunciou ao seu sexo e que, de um modo geral, cumpriu um trabalho de repressão mais completo, ainda assim não se liberta do pai; não se arrisca a executar, ela própria, o espancamento; e, uma vez que se transformou em menino, são principalmente meninos que ela determina que sejam espancados.

Estou consciente de que as diferenças que descrevi entre os sexos, no que diz respeito à natureza da fantasia de espancamento, não foram suficientemente esclarecidas. Contudo, não tentarei deslindar essas complicações atribuindo a sua dependência a outros fatores, já que não considero exaustivo o material para observação. Pelo que abrange, no entanto, gostaria de utilizá-lo para testar duas teorias. Essas teorias opõem-se uma à outra, ainda que ambas tratem da relação entre a repressão e o caráter sexual, e ambas, cada uma de acordo com o seu ponto de vista, a representem como uma relação muito íntima. Posso dizer, de imediato, que sempre considerei essas teorias incorretas e ilusórias.

A primeira dessas teorias é anônima. Foi trazida ao meu conhecimento, há alguns anos atrás, por um colega com quem, na época, eu mantinha boas relações. A teoria é, pela sua ousada simplicidade, tão atraente, que a única surpresa é que não se tenha imposto na literatura do assunto, exceto por umas poucas alusões esparsas. Baseia-se no fato da constituição bissexual dos seres humanos, e afirma que a força motivadora da repressão, em cada indivíduo, é uma luta entre os dois caracteres sexuais. O sexo dominante da pessoa, aquele que é mais intensamente desenvolvido, reprimiu no inconsciente a representação mental do sexo subordinado. Portanto, o núcleo do inconsciente (quer dizer, o reprimido) é, em cada ser humano, aquele lado dele que pertence ao sexo oposto. Uma teoria como esta só pode ter um significado inteligível se presumimos que o sexo de uma pessoa seria determinado pela formação dos genitais; pois, de outro modo, não haveria certeza de qual é o sexo mais forte da pessoa, e correríamos o risco de chegar, com os resultados da pesquisa ao próprio fato que tem que servir como ponto de partida. Para, resumir a teoria: nos homens, o que é inconsciente e reprimido pode ser reduzido a impulsos instintuais femininos; o que ocorre, de forma inversa, nas mulheres.

A segunda teoria é de origem mais recente. Está de acordo com a primeira, na medida em que também representa a luta entre os dois sexos como sendo a causa decisiva da repressão. Em outros aspectos, entra em conflito com a outra teoria; ademais, busca apoio mais em fontes sociológicas do que biológicas. De acordo com essa teoria do ‘protesto masculino’, formulada por Alfred Adler, todo indivíduo faz esforços para não permanecer na inferior ‘linha feminina [de desenvolvimento]’, e empenha-se no sentido da ‘linha masculina’, da qual a satisfação pode ser derivada. Adler torna o protesto masculino responsável por toda a formação tanto do caráter quanto das neuroses. Infelizmente, faz tão pouca distinção entre os dois processos, que certamente têm que ser mantidos separados, e dá tão pouco valor, de um modo geral, ao fato da repressão, que tentar aplicar à repressão a doutrina do protesto masculino é correr o risco de ser mal compreendido. Na minha opinião, tal tentativa só nos levaria a inferir que o protesto masculino, o desejo de romper com a linha feminina, seria em todos os casos a força motivadora da repressão. A função repressora, portanto, seria sempre um impulso instintual masculino, e o reprimido seria um impulso feminino. Os sintomas, porém, seriam também conseqüência de um impulso feminino, pois não podemos suprimir o aspecto característico dos sintomas — isto é, que são substitutos daquilo que foi reprimido, substitutos que se impuseram apesar da repressão.

Tomemos então essas duas teorias, as quais se pode dizer que têm em comum uma sexualização do processo de repressão, e testemo-las, aplicando-as ao exemplo das fantasias de espancamento que estivemos estudando. A fantasia original, ‘Estou sendo espancada pelo meu pai’, corresponde, no caso de menino, a uma atitude feminina, e é, portanto, expressão daquela parte da sua propensão que pertence ao sexo oposto. Se essa parte dele se submete à repressão, a primeira teoria parece mostrar-se correta, pois essa teoria estabelece como regra que aquilo que pertence ao sexo oposto é idêntico ao reprimido. Dificilmente corresponde às nossas expectativas, é verdade, quando descobrimos que a fantasia consciente, que nasce depois que a repressão foi cumprida, exibe, ainda assim, a atitude feminina mais uma vez, embora desta feita dirigida para a mãe. Mas não entraremos em problemas tão duvidosos, quando toda a questão pode ser resolvida tão rapidamente. Não pode haver dúvidas de que a fantasia original no caso da menina, ‘Estou sendo espancada (isto é, sou amada) pelo meu pai’, representa uma atitude feminina e corresponde ao seu sexo manifesto e dominante; de acordo com a teoria, portanto, deveria escapar à repressão e não haveria necessidade de tornar-se inconsciente. Na verdade, porém, torna-se inconsciente, e é substituída por uma fantasia consciente que nega o caráter sexual manifesto da menina. A teoria é, portanto, inútil como explicação das fantasias de espancamento, e os fatos a contradizem. Poder-se-ia objetar que é precisamente em meninos pouco viris e em meninas pouco femininas que surgiram essas fantasias de espancamento e passaram por essas vicissitudes; ou que seria uma característica de feminilidade no menino, e de masculinidade, na menina, responsável pela criação de uma fantasia passiva, no menino, e pela sua repressão, na menina. Deveríamos estar propensos a concordar com esse ponto de vista, mas não seria menos impossível defender a suposta relação entre o caráter sexual manifesto e a escolha do que está destinado à repressão. Em último recurso, só podemos verificar que, tanto no homem como na mulher, encontram-se impulsos instintuais masculinos e femininos, e que cada um igualmente pode muito bem ser submetido à repressão e, assim, tornar-se inconsciente.

A teoria do protesto masculino parece manter muito melhor o seu fundamento ao ser testada em relação às fantasias de espancamento. Tanto no caso de meninos como de meninas, a fantasia de espancamento corresponde a uma atitude feminina — isto é, uma atitude na qual o indivíduo se demora na ‘linha feminina’ — e ambos os sexos apressam-se em libertar-se dessa atitude, reprimindo a fantasia. Não obstante, parece que apenas na menina o protesto masculino está ligado a um êxito completo, e nesse caso, de fato, poder-se-ia encontrar um exemplo ideal da operação do protesto masculino. Com o menino, o resultado não é inteiramente satisfatório; a linha feminina não é abandonada, e o menino não é certamente ‘bem-sucedido’ na sua fantasia masoquista consciente. Concordaria, portanto, com as expectativas que nascem da teoria, se reconhecêssemos que essa fantasia era um sintoma que passara a existir pelo fracasso do protesto masculino. É naturalmente perturbador o fato de que a fantasia da menina, que deve a sua origem às forças da repressão, tenha também o valor e o significado de um sintoma. Nesse exemplo, onde o protesto masculino atingiu plenamente o seu objetivo, deve estar certamente ausente a condição que determina a formação de um sintoma.

Antes que sejamos levados, por essa dificuldade, a suspeitar de que toda a concepção do protesto masculino é inadequada ao problema das neuroses e das perversões, e de que sua aplicação a esses problemas é infrutífera, deixemos por um momento as fantasias de espancamento passivas e voltemos nossa atenção para outras manifestações instintuais da vida sexual infantil — manifestações que foram igualmente submetidas à repressão. Ninguém pode duvidar que existem também desejos e fantasias que mantêm a linha masculina a partir da sua própria natureza, e que são expressão de impulsos instintuais masculinos — tendências sádicas, por exemplo, ou os sentimentos lúbricos de um menino em relação à mãe, que se originam do complexo de Édipo normal. Não é menos certo que esses impulsos, também, são colhidos pela repressão. Se o protesto masculino deve ser tomado como algo que explica satisfatoriamente a repressão das fantasias passivas (que depois se tornam masoquistas), por essa mesma razão torna-se, então, totalmente inaplicável ao caso oposto, de fantasias ativas. Isto é, a doutrina do protesto masculino é completamente incompatível com o fato da repressão. A não ser que estejamos preparados para jogar fora tudo o que foi adquirido em psicologia desde o primeiro tratamento catártico de Breuer, não podemos esperar que o princípio do protesto masculino ganhe algum significado na elucidação das neuroses e das perversões.

A teoria da psicanálise (uma teoria fundamentada na observação) sustenta com firmeza o ponto de vista de que as forças motivadoras da repressão não devem ser sexualizadas. A herança arcaica do homem forma o núcleo da mente inconsciente; e qualquer que seja a parte daquela herança que tenha de ser deixada para trás no avanço para as fases posteriores de desenvolvimento, porque não serve ou é incompatível com o que é novo, e lhe é prejudicial, surge uma vítima do processo de repressão. Essa seleção é feita com mais êxito com um grupo de instintos do que com o outro. Em virtude de circunstâncias particulares que já foram freqüentemente assinaladas, o segundo grupo, o dos instintos sexuais, é capaz de derrotar as intenções de repressão e de forçar sua representação por formações substitutivas de natureza perturbadora. Por esse motivo, a sexualidade infantil, que é mantida sob repressão, atua como a principal força motivadora na formação de sintomas; e a parte essencial do seu conteúdo, o complexo de Édipo, é o complexo nuclear das neuroses. Espero haver levantado, neste artigo, a expectativa de que as aberrações sexuais da infância, bem como as da maturidade, são ramificações do mesmo complexo. [Algumas outras anotações acerca da primeira fase da fantasia de espancamento em meninas podem ser encontradas em um artigo posterior de Freud sobre a distinção anatômica entre os sexos (1925j), Edição Standard Brasileira, Vol. XIX, págs. 315-16, IMAGO Editora, 1976.]


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