AUTO-ESTIMA
O que entendemos por auto-estima ou amor-próprio?
Existe muita confusão com relação a esses conceitos. Geralmente atribuimos uma boa auto-estima ao fato de fazermos ginástica, regime, vestirmos roupas bonitas,etc.
Apesar dessas coisas serem importantes e significarem um cuidado com o corpo, com a aparência, não totalizam a questão, que é bem mais complexa.
Saber amar a si mesmo é uma ciência e uma arte. Ciência, pois temos que desenvolver o espírito de observação, de atenção, como dizem os orientais, atenção plena e constante do que acontece dentro e fora da gente, para não sermos pegos nas inúmeras armadilhas da mente.
Nossa mente é o depósito de todas as nossas experiências, de todos os nossos condicionamentos. Nossa capacidade de amar a nós mesmos e aos outros acaba definhando perante todas as exigências que nos impomos, como a exigência de perfeição, de agradar aos demais, de ser forte, de não precisar de ninguém.
Acredito que quanto mais humanos, maior nossa capacidade de amar e mais divinos nos tornamos. Assim, faz parte de nossa natureza humana errarmos, e aí está o grande desafio: sabermos aceitar nossas limitações e amarmos outros seres tão imperfeitos quanto nós. A pessoa onipotente está muito distante de si mesma, de seu ser e, dessa forma distante das outras pessoas. Ninguém será suficientemente bom para ela, pois espera encontrar um super-homem ou uma super-mulher. Como não existem, ou ficará sozinha ou se apaixonará por uma imagem e, assim que a pessoa mostrar que é humana, que tem limitações, sendo difícil sustentar todo o tempo tal imagem, não terá no que se apegar a não ser num profundo sentimento de vazio, pois seu coração estará realmente vazio de sentimentos verdadeiros, de amor.
Outro veneno da alma humana, que nos é oferecido muito cedo em nossas vidas, é o compulsão de agradar , em detrimento dos próprios sentimentos, das próprias necessidades, ou seja, outra forma de auto-desamor. Desde crianças somos treinados a parecer bem a outras pessoas. Temos que aprender a adivinhar o que agrada nossos pais, nossos professores, e com isso deixamos de ouvir nosso interior. Assistimos aulas de forma passiva, onde o esperado é a concordância e não a troca de idéias. Os pais pouco ouvem os filhos, mas esperam que eles correspondam às suas expectativas. Falsas pessoas iluminadas, falsos mestres, impõem-nos suas verdades, em vez de auxiliar-nos na descoberta de nosso próprio ser.
Precisamos começar a ouvir nosso corpo, nossas necessidades, nossos sentimentos. Só a partir disso, poderemos aprender a amar, a respeitar a nós mesmos e compartilhar esse amor com outros seres humanos.
Outra ilusão é o individualismo, a auto-suficiência. Amar a si mesmo não significa bastar-se. Implica em conhecermos nossos limites e podermos pedir ajuda sempre que necessitarmos.
Quando afirmo que é importante para o indivíduo aceitar suas limitações não estou falando em conformismo mas, pelo contrário, a partir desse conhecimento, procurar aprimorar-nos. Contudo, por maior que seja nossa evolução, ainda assim, estaremos funcionando dentro de limites, limites sociais, culturais, corporais. Gosto de pensar como na filosofia zen "o grande contido no pequeno", ou seja, só nos tornamos grandes quando assumimos nossa pequenez.
Falei, acima, de ciência e arte. Ciência, no sentido de uma observação cuidadosa de si mesmo e Arte, pois precisamos aprender a transformar nossos sentimentos mais mesquinhos em jóias preciosas, em atitudes generosas, em primeiro lugar, conosco e, a seguir, com as outras pessoas.