atual em 16 de maio
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Para: Yacoff Sarcovas/Articultura
Prezado Yacoff
Apoio seu texto de 26 de abril no JB, “A Grande Ilusão”.
A discussão pública das políticas culturais é vital para o desenvolvimento de um mercado saudável.
Mamatas, atravessadores, gigolôs, não combinam com o debate e a ponderação, preferem a eficácia do conchavo.
Se as vantagens da interação entre empresas e a cultura são visíveis, estenda-se o conceito para TODAS as atividades culturais. Procure-se o equilíbrio entre os componentes de receita para cada atividade, mas, sempre que há um produto disputando audiência, o mercado deve participar dos riscos da produção.
Quais são as atividades estratégicas, que devem receber dinheiro a fundo perdido? A industria cultural ou o sistema cultural?
A pequena produção musical, capaz de gerar imagem internacional e royalties tão estratégicos, não é considerada estratégica, apesar de ser a maior base de produção cultural. A música independente do Brasil é constantemente ordenhada pela industria cultural, sem apoio ou reciprocidade.
A pequena produção musical vive de talentos abundantes e uma incrível vontade de sobreviver, apesar de não ter subsídios, financiamentos, incentivos ou isenções de impostos dirigidos à ela. Por se tratar de atividade individual na sua essencia e poder se organizar em pequenos núcleos - bandas, casas noturnas, revistas, selos, sempre pulverizada em muitos segmentos e gêneros, não consegue se mobilizar como coletivo e bradar por atenção.
A aparente facilidade de comercialização, via grandes casas gravadoras, cria a ilusão de um mercado estruturado. Na verdade, nunca se vendeu tanto disco de tão poucos artistas. O problema não é distribuição, fabricação, qualidade de produção ou administração. Sobram competencias e capital para investimento, porem dedicados ao mercado de massa, onde existe retorno. A industria cultural recolhe os talentos aptos a serem multiplicados para consumo.
A Musica como pequeno negócio é inviável. Novos artistas são apenas caprichos pessoais. O mesmo se reflete em várias pequenas atividades que circulam em volta da pequena produção musical, um viveiro de talentos: artistas gráficos, capistas, cartazistas, redatores, os videomakers que começam fazendo os clipes musicais e depois se transformam em diretores de longas (e comerciais) do cinema brasileiro, os pequenos editores, diagramadores, lojistas, empresarios. A única coisa que se aprende fazendo Musica é que o dinheiro manda, não a cultura.
A convergência dos meios, o novo papiro que se projeta em nosso futuro, pede uma cultura rica e entrelaçada, feita por indivíduos em frente às suas telas de computador, como já é feita boa parte da musica urbana no Brasil. Como serão educados estes novos criadores? Que produto nos resta?
Uma política cultural para o pais tem que considerar esta situação de fato. O criador individual, o pequeno grupo, a pequena empresa cultural tem que ser considerada parte de nosso sistema cultural. Isenções de impostos, financiamentos, precisam atingir este nível da atividade cultural, facilitando sua interação com um mercado hostil. O patrocinador pode e deve alcançar esta pequena produção cultural, de forma simples e direta, não cabem intermediários. Instalações destinadas à produção de cultura - estúdios, provedores, gráficas, teatros, ilhas de edição, casas de espetáculos, lojas de discos, livrarias, cinemas, podem e devem receber incentivos diretos e sem intermediários, municipais, estaduais e federais. São geradores de empregos diretos no sistema cultural. Na verdade são as escolas práticas onde se aprende a fazer cultura.
Abraços (Volta)
Em 16 de abril, enviei este fax ao Vereador Turco Loco, de S.Paulo.
Para: TURCO LOCO
Meu Nobre Edil:
Vejo entusiasmado sua iniciativa de criar a obrigação de se colocar uma artista brasileiro na abertura de shows musicais na cidade de S.Paulo.
Iniciativas como essa trazem para o grande publico a consciencia de que é preciso e necessario se prestigiar o artista brasileiro.
Respeito muito o ponto de vista que artistas e empresarios ligados à musica clássica manifestaram hoje na Folha de S.Paulo, mas tenho certeza que a grande maioria luta incansavelmente por espaço para seu trabalho.
Talvez o seu projeto crie problemas, mas a omissão ao assunto já criou muito mais que incomodo e constrangimento. Não faltarão soluções criativas para se harmonizar os costumes europeus às leis paulistanas. Como já aconteceu com o cinto de segurança e com o cigarro, S.Paulo mostra seu lema: Non Ducor, Duco.
Tenho certeza que o caro amigo sabe que este é apenas um passo para trazer de volta à cidade o ambiente artistico que uma megalópole mundial tem que ter.
Por favor, lute por incentivos ao funcionamento de palcos permanentes com musica ao vivo. Este é o ponto crucial. Musica ao vivo, de todos os generos e estilos, este é o motor da cultura de uma cidade. Palcos permanentes geram muitos empregos, impostos, lazer, movimento para o comercio. Toda uma industria se cria em volta do palco: luz, som, cenarios, divulgação, instrumentos musicais, ensaios, bandas, produtoras, gravadoras, etc. O palco funcionando diariamente é trabalho que sustenta muitas familias, é o patrocinio garantido para o estudo e desenvolvimento do talento do musico brasileiro.
A história recente comprova o poder e a eficacia do palco. Nos anos 60, das boates com musica ao vivo e do Teatro Record, lançaram-se ao mundo a maioria dos artistas consagrados ainda hoje. Nos anos 70, casas como o TUCA, o Teatro Bandeirantes e outros palcos foram o sinal mais visivel da resistencia cultural. Nos 80, Aeroanta, Radar Tantã, Lira Paulistana e clubes noturnos deram a partida para a renovação dos artistas. Ultimamente, dos bares e palcos da Bela Vista e de Santana veio a grande força popular do pagode, gigantesca marca paulistana no mercado de musica.
Para que todos os generos possam se desenvolver, do clássico ao mais pesado metal, palcos são essenciais. E são pouquissimos neste 1997. Acredite, um palco faz o que o asfalto, o esgoto, a escola e a saude fazem pela cidade, é o caminho da civilização.
O palco permanente deveria ter o mesmo tratamento fiscal privilegiado que os templos. Os recursos investidos num palco deveriam ser considerados bens a serem protegidos e defendidos pela legislação municipal, como os parques, hospitais e escolas.
Com os votos de muito sucesso, seu eleitor (Volta)
Como comentei com voce rapidamente nos bastidores do MTV Awards em agosto, estou com a ideia de inagurar com voce uma secao tipo "acareaçao". Por isso, transcrevo abaixo uma fala sua numa entrevista ao "Jornal de Musica" hah 20 anos atras:
- Como voce acha que periga ser o som daqui a 20 anos? (Se eh que vai ter...) Lembro que voce falou uma vez em perspectivas incriveis, mexer com o tempo atraves do som, sei lah. Algo que teria a ver com as flautas da India antiga?
"- Controle direto, organico ou psiquico, ou os dois - o que voce sente comanda sintetizadores. O som que voce ouve na mente amplificado. Possivel demais. Jah existe um Brainwaves Quartet, em Berkeley. Com o mesmo sistema usado para extrair sinais eletricos para eletroencefalograma, aqueles eletrodos no corpo, esses captadores de sinal detectam variacoes de onda beta e alfa, do cerebro, emissao de suor, ritmo cardiaco e respiratorio e transformam esses sinais eletricos em comando para sintetizadores. O corpo, ao inves de um teclado. Na Russia, escolas de canto usam um captador de voz que percebe variacoes nas cordas vocais sem que haja emissao de ar, som. Quando voce pensa em uma nota, as cordas vocais ja estao vibrando, eh soh saber ir buscar. A saida tambem pode ser direta, quem souber captar o som enquanto pensamento, tambem vai saber emitir som como pensamento. Telepatia eh no vizinho do lado. O tempo eh invariavel, ainda. Mas em som a gente mexe o tempo todo com tempo, frequencias, andamento, ritmo, musica eh usar o tempo como suporte material para a criacao, a obra. Cada vez mais a gente chega perto e esbarra no tempo. Existem devices para alterar a frequencia sem mudar o andamento. Como uma fita que voce altera a rotacao e nao muda a velocidade do som, so a altura da nota. Processos digitais, coisa de computador. A unica coisa que me preocupa daqui a 20 anos sao as musicas. Serao? "
Abraco, - Marcelo Froes (International Magazine)"
Segue a resposta, em 25/04/97:
Marcelo Froes:
Vai aí uma acareada, ao seu gosto.
“Como voce acha que vai ser o som daqui a 20 anos?”....
Confrontado com minhas ‘previsões’, - feitas a Bic num caderno do Capitão Fuguete, no meio de uma gravação, acho que na Vice Versa, não lembro de quem, nos anos 70 - tive de parar para pensar no assunto. Hoje em dia gastamos nosso fosfato tentando perceber o que será de nós na semana que vem.
Controle direto, organico ou psiquico - depois de ler muito Tom Clancy, tenho a impressão que essa tecnologia foi cooptada pelos militares, para comando de caças em combate. Dispositivos que combinam leitura de pupilas e outras tecnologias de controle direto tem sido pesquisadas e desenvolvidas para o Pentagono. Essa informação vira classificada e sai fora do uso até ser superada por outra mais venenosa.
Dei uma procurada nas minhas fontes e já apareceram duas possibilidades concretas; na Universidade de Sidney, Australia, no site oficial deles, tem uma página sobre “The Mind Switch”, uma tiara na cabeça que já liga e desliga até seis dispositivos. Está sendo vendida como uma possível utilidade domestica, tipo desligar a luz e a Tv antes de dormir... Não requer treinamento, é só fechar os olhos e pronto. Tem uma foto hilária do Ministro da Cultura da Australia viajando na tiara, experimentando o troço. Nào há muita coisa sobre como funciona - é segredo classificado - mas tem algo a ver com o estado alfa, quando as ondas mentais tem um componente de 8 a 13 Hz ( alo Arnaldo Baptista, voce continua na intuição certa) muito pronunciado, passa por filtros de ruido digitais e por um captador na testa que ainda precisa de um gel para funcionar, igual ao de eletroencefalogramas. Um pouco porco ainda, mas promissor.
Outro fato real vem da Africa do Sul e se chama MindDrive. Agora temos um sensor na forma de um anel, que interpreta sinais eletricos e fisiologicos, ph, suor, para comandar um PC. A toada mercadológica diz que é um novo tipo de joystick, ou mouse, e já tem um monte de jogos e aplicações à venda. A empresa que fabrica chama-se The Other 90% e parece muito ocupada empurrando sua mercadoria para lojas de informatica. Quando um musico com orçamento de produção sobrando se dispuser a usar esses aneis em todos os dedos das duas mãos pode ser que tenhamos mais uma novidade no ramo.
Parece que a cena musical não anda muito preocupada em renovar seu arsenal de truques, porque com um pouco de boa vontade já teria dado para desenvolver usos radicais para essas e outras. Em breve alguma corporação asiatica irá incorporar aos seus teclados um controlador midi cerebral, parece fácil e óbvio. A tal de subvocalização, a captação de vibrações das cordas vocais sem emissão de som, ficou perdida por aí. As musicas, bem, as musicas de hoje são bem parecidas. Os instrumentos de pau e ferro se consolidaram como fetiches.
Eu não teria como imaginar o papel do computador na musica nestes 20 anos, mas o unico tiro nessa direção foi na mosca - alterações de parametros pelo computador. As operações sonoras são feitas hoje no computador, fácil como usar uma calculadora - alterações no tempo, andamento, timbre, sem fugir do original.
Telepatia e viagens no tempo ficarão fora de moda até que essa bad trip de globalização recolha-se à sua insignificancia comercial e o mundo volte a pensar em termos de genero humano e o resto do universo. Tempos tacanhos, estes.
Escapando pela tangente e dando um balanço cabeça nestes 20 anos, valeu o imprevisivel, a democratização tecnológica, a banalização da informação, a consciencia de mercado. Nào valeu o departamento de vendas assumindo o comando sem rédeas, o aleijão sem desculpas que sobrou do mercado de musica, a falta de conteudo como forma de arte. Um monte de problemas foram resolvidos, os PAs, os sem-fio, os monitores de ouvido, o recall e reset das mesas, o som digital, mas ainda dependemos de ouvidos treinados e de sensibilidade. Isso é bom. A luz andou muito, hoje em dia o espetaculo é uma ciencia moderna.
Lanço o mote e me pergunto: e os próximos 20 anos? OK, tivemos o timbre a porrada, e isso foi uma continuação do som que temos na mente muito amplificado, transformado em sensação. Quero mais largura de faixa, fidelidade, menos compressão e mais dinamica. Hifi de hiper-fidelidade. Vem aí um troço chamado DVD e depois outro chamado memoria de bolha que eliminarão cada vez mais a falta de fidelidade e as limitaçòes de meio. O mundo analogico será inteiramente sampleado e teremos um mundo digital, com Stradivarius e Fenders absolutamente perfeitos, pelo fio do telefone. Acho que o uso disso por todos e qualquer um fará do som uma lingua auxiliar, prática como o alfabeto romano. Já pensou, cartas para a namorada com Sua Própria Trilha! Planilhas com projeções de faturamento e Seu Próprio Beethoven no Total Geral...!
Depois do fracasso de todas as tentativas de intelectualizar a musica, via raciocinios matematicos, institutos franceses e compositores físicos, talvez a música erudita, refinada e sutil, descubra que os Africanos desenvolveram um sistema de composição que foi testado e aprovado pela massa, durante os ultimos 50 anos, em composições tão rudimentares quanto os cantos gregorianos foram um dia. Espero muito que o groove tenha o seu canone, a sua escola, devidamente decupado e estudado virtuosamente em escalas infinitas. Essa talvez seja a viagem no tempo, no acento, no sotaque, as microscópicas e extremamente significativas variaçòes no tempo. Há um universo inteiro esperando um Bach que pode muito bem nascer na Bahia.
O som, como define Tim Maia, se compõe de graves, médios, agudos e eco. Eu concordo e digo que em cima disso ele põe emoção e festa. Sem esses dois não rolará. Há algo que ainda não se sabe, o porque isso funciona, qual o mecanismo que nos enfia nessa cachaça. Onde foi na evolução deste mamifero que um simples sentido de alerta, a audição, se conectou com um mundo interior comum à todos? Também espero que um desses genomas ou mapas da mente prove que musica é parte fundamental do bicho em pé, como já tinha sacado o Pitagoras. (Volta)
Folha Ilustrada, São Paulo, sexta, 23 de maio de 1997.
Lei do RJ protege espaços culturais
da Reportagem Local
Acaba de entrar em vigor no Estado do Rio de Janeiro uma lei que protege os espaços culturais. De autoria da deputada estadual Heloneida Studart (PT-RJ), a medida proíbe o fechamento de qualquer espaço cultural sem que o proprietário se responsabilize pela abertura de outro semelhante na mesma região. O objetivo, segundo a deputada, é frear o crescente fechamento de locais, principalmente de cinemas, que se tornam igrejas evangélicas. "As igrejas se interessam por esses espaços porque neles encontram pronta toda a infra-estrutura de que precisam. Estão lá as cadeiras, o palco, a boa acústica, é só colocar o pastor", afirma Heloneida. Reino de Deus A lei desagradou principalmente a Igreja Universal do Reino de Deus. A deputada estadual Magaly Machado (PFL-RJ), ligada à Universal, já apresentou emenda na Assembléia Legislativa pedindo que seja aberta uma exceção na lei para templos evangélicos. Segundo ela, a medida fere a liberdade de compra e venda de imóveis. "Estava em Miami e não participei da votação que aprovou a lei. Respeito a deputada Heloneida, mas temos linhas diferentes. A medida viola a liberta a liberdade de compra e venda no mercado imobiliário", afirma Magaly Machado. Além disso, Machado diz que não é correto diferenciar cultura e religião. "Essa oposição não é certa. A igreja acaba executando várias atividades culturais." Ela também nega que o fechamento dos cinemas tenha como motivo principal a abertura de templos. "A frequência nas salas de projeção caiu muito ultimamente, até por causa da facilidade em se adquirir fitas de videocassete. O cinema é necessário, mas desde que traga um filme que venha construir e não destruir a mente dos jovens. Cinema pornográfico é cultura?", disse. A emenda da deputada evangélica, no entanto, foi retirada anteontem da pauta de votações para ser reelaborada. Um dos motivos foi a reação de alguns setores e o pouco apoio dentro da Assembléia Legislativa. "Estamos lutando contra essa emenda, que provocou antipatias, mas conta com o apoio da bancada evangélica. Recebemos em nosso favor manifestações do Sindicato dos Artistas contra a proposta", disse a deputada do PT Heloneida Studart. (Volta)
FOLHA DE S.PAULO, 26 de maio de 1996
por LUÍS NASSIF
Os centros de produção
Atualmente, prefeituras estão correndo atrás de idéias criativas, visando gerar empregos e atendimento dos cidadãos. Nessa linha, o leitor Luiz Groba Rinaldi remeteu à coluna idéia de criação de "Centros de Produção Individual", que é um verdadeiro ovo de Colombo. O único senão à proposta é que ele sugere que seja implementada pelo governo federal, quando se trata de um programa com características claramente municipais. Passo a palavra a Rinaldi, para expor sua idéia: 1. O Estado fornece aos interessados, em Centros de Produção Individual, as oportunidades de atividades produtivas. Esses centros seriam na forma de shoppings centers, onde trabalhariam e venderiam sua produção.
2. Nos Centros de Produção Individual, o interessado encontrará materiais e ferramental/equipamento para a execução de seu trabalho/produto.
3. O resultado do trabalho é inteiramente do interessado.
4. A venda, pelo interessado, do produto de seu trabalho, não sofrerá qualquer tributação.
5. Aos interessados fica facultada a contribuição previdenciária, com os benefícios e descontos que a legislação específica oferece.
6. O uso dos equipamentos será feito sob supervisão de orientadores, para minimizar-se possíveis acidentes de manuseio, danificação dos mesmos ou excessivas perdas materiais. E (acrescento) para treinamento da mão-de-obra em novos ofícios. 7. Até determinadas quantidades, os materiais empregados na produção serão fornecidos gratuitamente, e será estabelecida uma escala crescente de custos/quantidades, para volumes que escapem daqueles mínimos.
Incubadoras de empresas
Hoje em dia, estão disseminadas por várias cidades as chamadas incubadoras de empresas -grandes balcões onde se reservam espaço para microempresários poderem se instalar. Esses centros seriam uma espécie de pré-vestibular para as incubadoras. Além de minorar a questão do desemprego, e de criar um ambiente saudável de convivência, em torno do trabalho, permitiriam selecionar aqueles trabalhadores que demonstrassem potencial para se constituírem em microempresas. Além disso, permitiria revitalizar uma área de serviços pessoais que anda com ampla carência, especialmente nos centros mais urbanizados, como reparos de móveis, utensílios, alfaias, vestuários, calçados etc. "A garantia de oportunidade produtiva aos indivíduos lhes trará uma recuperação de dignidade, de sensação de utilidade, de participação na economia familiar, de contribuição para a sociedade e outra maneira de encarar a existência, agora não decisivamente dependente de empregos, que progressivamente faltarão nos moldes usuais", diz o leitor. O papel do governo federal e do Congresso é apenas providenciar as mudanças legais na área previdenciária. O restante fica por conta não apenas dos municípios, como de qualquer organização social que queira sair o lengalenga da crítica social, e começar a botar a mão na massa.
Depois do trabalho
Para quem está afim de desbravar o Brasil musical, quatro dicas para depois do trabalho:
1. Wilson Fonseca é um maestro paraense de mais de 80 anos, ainda profícuo, um surpreendente Ernesto Nazareth do norte, com choros e valsas de primeiríssima qualidade.
2. Alfredo Oliveira é médico de 60 anos, compositor fertilíssimo de sambas-canções, sambas-enredos e outros ritmos locais. Os CDs de ambos não estão disponíveis em lojas convencionais, mas na Secretaria da Cultura do Pará, que desenvolve importante trabalho de preservação da memória musical local.
3. "Minha Saudade", com Lisa Ono cantando João Dona to, mostra que não se trata apenas de uma curiosidade nissei, mas de uma cantora dentro da mais doce tradição da bossa nova, e de um dos mais notáveis compositores nacionais. 4. Celso Viáfora, a melhor combinação entre riqueza harmônica, criatividade melódica, ritmo e letras que a MPB oferece no momento. Email: lnassif@uol.com.br
Prezado Luiz Nassif:
Certas idéias flutuam no ar como frutas com asas, prontas para serem descascadas e comidas, basta um pequeno gesto rápido.
E se....
Juntarmos as duas partes de sua coluna de hoje (26mai) temos um conceito deveras notavel. Produção Individual e Pequena Produção Musical.
Algumas considerações:
Quais são as atividades estrategicas, que devem receber dinheiro a fundo perdido? (incentivos) A industria cultural ou o sistema cultural?
A pequena produçào musical, capaz de gerar imagem internacional e royalties tão estrategicos, não é considerada prioridade, apesar de ser a maior base de produçào cultural.
A pequena produção musical vive de talentos abundantes e uma incrivel vontade de sobreviver, apesar de não ter subsidios, financiamentos, incentivos ou isenções de impostos. Por se tratar de atividade individual na sua essencia e poder se organizar em pequenos nucleos - bandas, casas noturnas, revistas, selos, sempre pulverizada em muitos segmentos e generos, não consegue se mobilizar como coletivo e bradar por atenção.
A aparente facilidade de comercialização, via grandes casas gravadoras, cria a ilusão de um mercado estruturado. Na verdade, nunca se vendeu tanto disco de tão poucos artistas. O problema não é distribuição, fabricação, qualidade de produção ou administração. Sobram competencias e capital para investimento, porem dedicados ao mercado de massa, onde existe retorno. A industria cultural recolhe apenas os talentos aptos a serem multiplicados para consumo.
A Musica como pequeno negócio é inviavel. Novos artistas, discos de repertorio não comercial, são apenas caprichos pessoais. O mesmo se reflete em varias pequenas atividades que circulam em volta da pequena produção musical, um viveiro de talentos: artistas graficos, capistas, cartazistas, redatores, os videomakers que começam fazendo os clipes musicais e depois se transformam em diretores de longas (e comerciais) do cinema brasileiro, os pequenos editores, diagramadores, lojistas, empresarios.
A convergencia dos meios, o novo papiro que se projeta em nosso futuro, pede uma cultura rica e entrelaçada, feita por individuos em frente às suas telas de computador, como já é feita boa parte da musica urbana no Brasil.
Uma politica cultural para o pais tem que considerar esta situação de fato. O criador individual, o pequeno grupo, a pequena empresa cultural tem que ser considerada parte de nosso sistema cultural. Isenções de impostos, financiamentos, precisam atingir este nivel da atividade cultural, facilitando sua interação com um mercado hostil. O patrocinador pode e deve alcançar esta pequena produção cultural, de forma simples e direta, não cabem intermediarios.
Instalações destinadas a produção de cultura - estudios, provedores, graficas, teatros, ilhas de edição, casas de espetaculos, lojas de discos, livrarias, cinemas, podem e devem receber incentivos diretos e sem intermediarios, - municipais, estaduais e federais. São geradores de empregos diretos no sistema cultural. Na verdade são as escolas praticas onde se aprende a fazer cultura.
Especificamente, o palco permanente é um dos problemas que pode e deve ser resolvido na pratica.
Este é o ponto crucial. Musica ao vivo, de todos os generos e estilos, este é o motor da cultura de uma cidade. Palcos permanentes geram muitos empregos, impostos, lazer, movimento para o comercio. Toda uma industria se cria em volta do palco: luz, som, cenarios, divulgação, instrumentos musicais, ensaios, bandas, produtoras, gravadoras, etc. O palco funcionando diariamente é trabalho que sustenta muitas familias, é o patrocinio garantido para o estudo e desenvolvimento do talento do musico brasileiro.
Para que todos os generos possam se desenvolver, do classico ao mais pesado metal, choros e musica eletronica, palcos são essenciais. E são pouquissimos neste 1997.
Acredite, um palco faz o que o asfalto, o esgoto, a escola e a saude fazem pela cidade, o caminho da civilização.
O palco permanente deveria ter o mesmo tratamento fiscal privilegiado que os templos. Os recursos investidos num palco deveriam ser considerados bens a serem protegidos e defendidos pela legislação municipal, como os parques, hospitais e escolas.( Volta )