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Trincheiras - 05/97

Violência - 04/98

Gráficos & Pesquisa - 06/98

Hospital do Fundão "moderno" - 06/98
 Violência II

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Trincheiras

Há poucos dias fomos surpreendidos com a descoberta de uma bala "achada" dentro de nossa estante. O projétil perfurou o vidro da janela, a lateral de madeira da estante, estragou a lombada de uma Bíblia e ficou pousada sobre a prateleira. Tivemos sorte, dormíamos em outros cômodos ou não estávamos em casa. Não sabemos ao certo quando aconteceu.

 Considerando a topografia da cidade do Rio de Janeiro, que concede a cidade sua beleza natural inquestionável, e as distâncias alcançadas pelas modernas armas de fogo, não existe mais lugar longe o suficiente dos campos de batalha urbanos, geralmente os morros. Não pela sua característica social, mas principalmente pela sua característica estratégica.

 Ficamos e continuamos horrorizados. Um sentimento de impotência imediatamente nos invadiu fazendo aflorar toda a nossa vulnerabilidade diante do perigo. A esse horror, seguiu-se um sentimento de solidão, desamparo, quase desespero: vamos nos mudar, já ! A dificuldade da mudança, entretanto, impôs a reflexão e aí percebemos que não estamos tão solitários assim, não vivemos problema singular.

 Todos os habitantes da cidade do Rio de Janeiro moram hoje em trincheiras. Nossas casas estão transformadas em trincheiras, umas mais resistentes outras mais vulneráveis, mas todas trincheiras, não importa o bairro, a condição social da família ou a espessura das grades que rodeiam os prédios.

 Com a reflexão, o quase desespero vai se transformando em revolta. Revolta pela violenta forma como a realidade é distorcida dia após dia, seja pelo discurso das autoridades, seja pela "ingenuidade" da imprensa.

 Querem nos fazer crer que a solução de situação tão grave assim - a maioria já admite essa gravidade - é extremamente complexa e demorada, além disso são "experts" em pulverizar responsabilidade entre Município, Estado e União num interminável jogo de empurra.

 É mentira, é tudo mentira!

 A complexidade não pode ser medida pela dificuldade da polícia subir ou não os morros, como tem ocorrido nesses últimos dias no Rio. Não há complexidade nenhuma nisso, mesmo porque não há necessidade da polícia subir o morro. Não é subindo o morro que esse problema será resolvido. As armas podem estar no morro, mas o problema se resolve em outro lugar.

 Alguém acredita que os traficantes que comandam os morros cariocas, desçam, vez ou outra, munidos de seus passaportes e viajem para o exterior para negociar, em vários idiomas e ao melhor estilo da economia globalizada, fantásticas partidas de pó e armas sofisticadas?

 Não, a solução para o problema não está no morro. A solução para o problema está no controle de nossas fronteiras, não nossas longínquas fronteiras geográficas, mas nossas fronteiras urbanas, principalmente nossos vários aeroportos internacionais e nossos portos. Cortem os suprimentos que o mal acaba! Não importa que compromissos existam entre os poderes públicos e os colarinhos brancos que lucram com mortes e desgraças.

 Exorto pois a sociedade brasileira a não aceitar a simplificação desse problema, quando nos apontam o morro e a baixa marginalidade como coisa complicada de se resolver. Não podemos nos acostumar com essa situação. Não podemos nos acostumar com balas "achadas". Não podemos aceitar a "banalização" da violência. Não podemos aceitar que isso faça parte do nosso cotidiano. Mortes estão ocorrendo cada vez mais e existem mais responsáveis por elas. Vamos cobrar!

 Não sei ainda se substituo o vidro por chapa metálica, madeira ou concreto. Talvez tenha que consultar um especialista em balística e estratégia militar, coisa que jamais imaginei fazer em minha vida.

 Não vamos aceitar essa situação!
 
 
 
 

Oduvaldo Barroso da Silva - maio 1997

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Violência

A sociedade brasileira, e em particular a carioca, continua reagindo com indignação ao estado de violência a que estamos submetidos,  pontuado na mídia atualmente pelo trágico assassinato da estudante em Laranjeiras.

Vozes de protesto partem de todas as direções, responsabilizando pela tragédia as autoridades estadual e municipal, representadas pelo governador Marcello Alencar e pelo prefeito Conde, evidenciando a triste realidade. Nossas autoridades há muito deixaram de ser apenas incompetentes e transformaram-se em cúmplices do crime, "organizado" ou não, que sujeita todos nós. Faço coro a essas vozes.

Acredito entretanto que o problema está sendo enfocado com pouca amplitude. Afinal, todos sabemos que armas sofisticadas de grosso calibre, como as que assassinaram a estudante em Laranjeiras, e as drogas a que servem, não entram em nosso país na calada da noite, no lombo de quadrúpedes, atravessando um ponto ermo qualquer de nossas imensas  fronteiras geográficas.

Todos nós sabemos que elas entram através de nossos portos e aeroportos internacionais, na maioria das vezes com passaporte de primeira classe.

Assim, ao examinarmos a rede de terror e cumplicidade que envolve a sociedade,  traçada com os fios do interesse e da omissão, observamos que a quadrilha é maior. Não há porque não incluir também as autoridades federais que de efetivo nada fazem. 

Nem esse governo, nem os anteriores,  que aliás nunca foram diferentes em sua essência. 

Oduvaldo Barroso da Silva - abril 1998

 
 
 
 
 
 
Violência II

Quem apertou o gatilho contra Camila?

 Quem mata ao acaso no Rio de Janeiro?

 Por quê nossas crianças são alvos?

 De quem são alvos nossas crianças?

 A violência nas ruas de Vila Isabel ganhou destaque na mídia. É certo que não é um fato isolado. Resulta da passividade com que a sociedade e a mídia tratam de tantos outros atos tão violentos, acontecidos em locais menos privilegiados, que atingem pessoas mais humildes. É comum encontrarmos, vez por outra, nas últimas páginas, pequenas notas dando conta de que no Morro Tal uma criança foi achada por uma bala perdida.

 Onde estão os poderes constituídos?

 Os Executivos, principalmente o municipal e estadual, que são constituídos para organizar a segurança da população?

 Os Legislativos, que são constituídos para estabelecer as regras e normas do convívio social?

 Os Judiciários, que são constituídos para garantir o cumprimento dessas mesmas regras e normas?

 Quem apertou o gatilho contra Camila?

 Quem mata ao acaso no Rio de Janeiro?

 Por quê nossas crianças são alvos?

 De quem são alvos nossas crianças?

 A época é por demais propícia a reflexão.
 
 

Oduvaldo Barroso da Silva - setembro 1998

 
 
 
 
 
 
Gráficos & Pesquisa

Ilustrando os resultados da última pesquisa O GLOBO/TV Globo/IBOPE, o jornal O GLOBO repetiu na sua edição de hoje, 07/06/1988, o gráfico publicado no dia anterior, mostrando a evolução das intenções de votos nos candidatos a Presidência. Considerando que um gráfico é utilizado para facilitar o entendimento da informação, principalmente no que diz respeito a interpretação de números, O GLOBO peca ao estabelecer uma escala gráfica e não obedecê-la.

As tendências de queda de FHC e de subida de Lula mostradas graficamente não traduzem a realidade dos números. Como aceitar que a representação de 33% seja indicada, em escala, acima de 35%? Como aceitar que a indicação de 28%, em escala, seja praticamente coincidente com 25%?

Se fosse obedecida a escala dos percentuais, poderia se observar que tanto a queda de FHC quanto a ascensão de Lula são muito mais pronunciadas. Na realidade, as extremidades dos gráficos deveriam estar muito mais juntas do que o mostrado na figura.

Há que se ter cuidado com a precisão da informação. No mínimo.

Oduvaldo Barroso da Silva - junho 1998

 
 
 
 
 
 

Hospital do Fundão "moderno"

Não é preciso mais que uma reportagem de algumas linhas, como a publicada hoje, 21.06.98, no jornal O GLOBO, para que se perceba que a saúde no Brasil continua caminhando na contramão da via social. O hospital-escola Clementino Fraga Filho vai atender pacientes dos planos de saúde privados, objetivando, segundo seu diretor e conforme a reportagem, arrecadar recursos que possam manter sua sobrevivência.

Cabe a pergunta: sobrevivência para servir a quem?

A própria reportagem dá a resposta. Na falta de recursos oficiais, a abertura aos planos privados lança a ofensiva do "mercado livre" em mais uma questão vital para o cidadão, como é a saúde. A propósito, em termos de saúde, como definir mercado? Como definir papel do Estado, e como definir lucro?

Estamos preocupados. No início serão 13 leitos, devendo chegar a 52. E depois?

Surpreendente a inocência ou a maldade do diretor Amâncio Paulino ao afirmar "os pacientes dos planos de saúde terão quarto particular, com mais conforto, e poderão escolher seu médico dentro do corpo clínico do hospital. Mas a qualidade do atendimento tem que ser igual para todos. Como dr?
 
 

Oduvaldo Barroso da Silva - junho 1998


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