Oduvaldo Barroso da Silva

 
Natureza
Os botões
Promessa
Coisas Íntimas
 O que eu quero ser
     Amor, objeto e valor








 

O trio
Cotidiano
Casa nova
Mulher Jovem 
Coração de homem

 
 
 
 

 
Coisas íntimas

Confidências são sempre falsas,
As coisas íntimas são indivisíveis.
São elas que despertam os sentimentos,
Todos os sentimentos.
São elas que perpetuam os momentos,
Todos os momentos.

Mas não podem ser divididas!
Nem nas trocas de amor,
Nem no consolo da dor.
São únicas, expressão maior da individualidade,.
Se individualidade existe.

Onde as guardamos ninguém penetra.
As vezes até mesmo seu dono as esquece.
Mas não importa nada mesmo,
A intimidade não fenece.
 


 

 
 
O  trio



 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

LuisRoyo
Três fantasmas me assombram,
Três fantasmas me encantam,
Três fantasmas de mulher.

O primeiro é dado a aparições cíclicas.
O segundo está permanente, oficialmente permanente.
E o terceiro é quase cotidiano.
Os três fazem comigo o que bem querem.
Ai, pobre de mim!

Quantas saudades misturadas,
Quantos intercalados desejos.
Torrentes de emoções que brotam e explodem.
Me dão vida e me matam, no atacado e no varejo.
Ai, pobre de mim!

Não sei quanto ainda posso suportar.
Só sei que não posso à nenhum exorcizar.
Meu coração não deixa.
Minha alma não quer.
São três fantasmas de mulher.

Seria estúpido pensar que há salvação.
Não há. Não quando se vive nos braços
De tão grande e tripla paixão.
Não quando cada célula do corpo sucumbe, se entrega
E anseia, a tão grande paixão.

Paixão que me despertou o primeiro fantasma,
E nunca mais adormeceu.
Paixão consumida pelo segundo fantasma,
Cada dia, cada hora, cada momento meu.
Paixão roubada pelo terceiro fantasma,
Contrapartida do amor que me deu.

Ai, pobre de mim.
Que reza me salvaria?
Mas, se tal reza existisse,
Tal reza, por certo me mataria.

São três fantasmas que me assombram,
São três fantasmas que me encantam,
São três fantasmas de mulher.


 

 
Natureza

Quais são as razões que levam o homem
A acusar, a criticar, a perdoar, a condenar?
Será a natureza do crime?
Ou será a natureza do homem?

 


 

 
Cotidiano

Todos os dias amanhece,
Todos os dias anoitece,
Mas os dias não são iguais.
Eu faço a diferença entre os dias.

Mas os dias já foram iguais.
Num tempo que eu não era,
Se dias houvera,
Os dias eram iguais..
 


 

 
Coração de homem

Ah! coração de homem,
Ser rude é tua fama.
Mas rude não sofre tanto.
O rude nem tanto ama.

Que coração de mulher,
Pode sofrer mais que o teu
Se buscas em todas elas,
Aquilo que é só seu.

Cala, sossega, se aquiete.
Que o coração delas é mais forte.
A vida tranqüila que queres,
Só se consegue com a morte.
 


 

 
Mulher jovem

As experiências vividas estão sempre presentes.
Não bastasse trazê-las comigo,
Chegam sempre com os outros
Que empurram prá gente
Sorrisos, lágrimas, desejos e faltas,
Tão antigos e tão presentes, que intensamente
Desmentem
Que lembranças o tempo apaga.

Como pode um dia se apagar 
O que trazes no olhar?
Como pode um dia perder juízo
O que me entregas num sorriso?

E o vento em teus cabelos?
Quantas lembranças despejam
Na falta de meus desejos.
Quantos lampejos de dor, alegria e amor
Descarregam fugazmente nesse antigo coração.

Tua juventude, cruel e docemente me transporta.
Seja ontem hoje ou amanhã,
Em você minha vida brota,
De um tempo em que nem existias,
E eu vivia as coisas que me trazias,
Ontem hoje ou amanhã.
 


 
O que eu quero ser

Admiro os homens sábios,
Admiro os homens corajosos.
Rendo-me a todos os homens prudentes,
Como não reverenciar todos os homens honestos?
Quanto deve a humanidade aos bravos homens da ciência?
E o que dizer dos homens santos?
Nunca canso de observar e idolatrar os artistas.
Quantos mestres encontro pela vida afora,
Quantos exemplos a seguir,
Quantos rumos e direções.
Oh! Mas quantas normas e dogmas!
Quanta exigência de fé!
Quanta disciplina!
Ah! Liberdade,
Como invejo o cachorro vadio,
O cachorro de sarjeta.
 
 


 

Amor, objeto e valor

O amor nos acomete?
De onde surge tão poderoso senhor?
Que não me permite pensar.
Que não me permite questionar.
Que me submete.

Ah! o amor senhor.
Explode em meu peito.
Brilha em meus olhos.
Embota minha mente.
Mas exige um objeto de amor.

Tolo, pensei no amor igual.
Eu e tu vítimas do mesmo mal.
Hoje, percebi o amor final.
Hoje percebi o amor plural.

O meu é meu,
O teu é só teu.
Se há parceria no amor,
É só do espelho
Para o contínuo reflexo do meu interior.
 
 




Os botões

O primeiro botão de tua blusa foi parceiro,
Quando soltou-se suave e discreto.
Do meu posto de vigia eu espreito,
Na esperança de ter outros amigos em teu peito.
 
 






Casa nova













Hoje sonhei com uma nova casa.
E já mal posso esperar.
Uma enorme casa sem paredes internas.
Prá que mais servem essas paredes,
Senão para confinar.
Talvez, pendurar a rede.

Mas não é de ócio minha sede.
Quero o amplo, quero o livre.
Quero tudo o que sempre tive
Todo esse tempo dentro de mim.

Por quê tantas paredes?
Por quê tantas chaves,
Tantos botões e tantos controles?
Por que tem que haver lugares
Para todas as coisas?

Quero escrever vendo a noite e o dia.
Quero ler ouvindo o vento 
E sentindo a chuva.
Serei livre em minha casa vadia.

De onde eu estiver
Nenhuma parede de tua presença me separará,
Nem da música, nem dos livros,
Nem da mesa, dos pratos, dos quadros,
Sequer deixarei de ver seu caminhar. 

Quero descansar  aqui, 
Estando em todos os quadrantes.
Do canto do bar até a estante.
Da palmeira natural
Ao aquário tropical.

Quero um balanço pendurado,
Bem perto da geladeira.
A bicicleta sobre a esteira,
Debaixo da jardineira.

Nada será pela metade,
Nada terei aos pedaços.
Meu canto será o mundo
Quando eu feliz, abrir os meus braços.

Não quero os limites do mundo.
Minha porta será o portal da liberdade.
Quando estiveres em meu mundo.
Do mundo não sentirás saudade..

De que me serve a ordem do arquiteto?
Para que a precisão do engenheiro?
Para que quartos salas, cozinhas e banheiros?
O que eu quero é um teto.

Hoje, mais que dinheiro, mais que vizinhos,
Quero apenas um teto, cobrindo meus carinhos.
Apenas um teto, cobrindo meus caminhos.
 
 




Promessa

Quando olho para os teus olhos,
A vida se abre e para diante de mim.
E se olhas para mim, queimo!
Esse verde é cruel, me invade,
Me castiga e promete.
Cada olhar, castigo e promessa.
E meu coração vive explodindo,
Aceito o castigo, vivo a promessa.
Ah! Não quero parar de olhar para você.

 

Home

Welcome to GeoCities!
Click to see more great pages on Arts and Literature.
1