Paixão  

Primeiro você leva sua vidinha medíocre, com seus amigos medíocres, sua família medíocre, suas rotinas medíocres. Tudo vai bem, você sabe o que fazer, você sabe como viver sua vida medíocre.
Mas aí, do nada, aparece uma pessoa medíocre que muda tudo. Essa pessoa arranca seu coração sem piedade, faz um pequeno carinho nele (o que já é mais que suficiente para cativar um mero coração medíocre), e depois o atira contra a parede, pisa em cima, e o que é pior, não o devolve para você.
Ela rouba seu coração e o joga num canto onde você não consegue alcançar. Seu coração não pertence mais a você, e também não pertence à pessoa que o roubou (mas você acha que sim). Quando você se dá conta do que está realmente acontecendo, já é tarde demais, e a dor se torna insuportável. Há uma ferida aberta no seu peito, sangrando, e nada pode ser feito. E ao invés de ir atrás do seu coração e pedi-lo de volta, você tenta convencer a pessoa que o roubou a cuidar dele. Mas essa pessoa ignora seus pedidos, afinal, ela tem mais o que fazer, tem outros corações medícres para roubar. E você fica assim, sem coração, com o peito dilacerado, tentando viver sua vida medíocre novamente. Mas isso é impossível, e você sabe disso...
E então, muito tempo depois, sem mais nem menos, essa pessoa resolve devolver seu coração. Ela chega com uma cara medíocre, carregada de cinismo, e diz "ops, acho que isso é seu...", e vai embora. Você pega seu coração e coloca-o de volta no lugar. Porém, você se dá conta de que a ferida ainda está aberta no seu peito, e parece que a dor não vai passar nunca. E talvez não passe. Toda ferida deixa cicatriz. Principalmete essas...  

Cleverson L. Picolis
20 de maio de 2000
CLP2005002242

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