ERA MÚSICA
  E então soprou um vento de ternura intensa.

E as nuvens se dispersaram, e eu vi que meu coração emergia

como um alto cume de montanha, dourado de sol,

musicado de pássaros e águas.

Olhava teu olhos, tuas mãos, teus cabelos, teu corpo....

Teu corpo era como um caminho sinuoso por onde saí desesperado

a procurar-te.

E, de repente, tomei-te nos braços, afaguei-te a cintura,

recolhi-te ao meu peito.

Teu coração inquieto pulsava mais que o córrego das montanhas,

batia asas de pássaro encandeado.

E de repente saímos livres e felizes, como simples animais de Deus

com a direção dos ventos.

Faminto, colhi-te como um fruto! Sedento, bebi-te como a água!

Marquei meus dentes em tua carne

e escorreste pela minha boca, pelo meu pescoço, pelo meu peito.

Meus braços foram tuas formas. Minhas mãos te conheceram.

Desmanchei-te os cabelos, e me perdi. Nossas bocas se uniram,

e se esqueceram.

Tatearam meus lábios escalando cumes,

devassando vales.

E fiquei em ti, vivo e silencioso, como sangue nas veias,

como a seiva na raiz.

E desci sobre ti e me entranhei, como a chuva descendo e molhando.

E quando falamos: era música!!!

 
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