EU E A REDE FEMININA DE COMBATE AO CÂNCERFatita Vieira
Depois que voltei para morar em João Pessoa, um dia precisei ir ao ambulatório do Hospital Napoleão Laureano, referência no tratamento de câncer na Paraíba, acompanhando uma pessoa amiga e lá vi umas senhoras vestidas com jalecos cor-de-rosa, com um monograma bordado do lado esquerdo do peito, bem em cima do coração, onde se lia REDE FEMININA DE COMBATE AO CÂNCER, JOÃO PESSOA/PB, VOLUNTÁRIA, prestando assistência aos pacientes e distribuindo lanches. No lado esquerdo do ambulatório vi uns senhores com jalecos azuis, com o mesmo nomograma, tocando músicas para alegrar os pacientes que esperavam para ser atendidos. Essas senhoras e esses senhores exerciam as suas funções com muito boa vontade e respeito aos pacientes. Naquele instante decidi que também queria ser um deles.
Procurei saber como poderia me engajar e fui orientada a procurar a Casa de Apoio da Rede, que fica pertinho da minha casa, para me inscrever. Fiz isso em maio e em agosto/2008 comecei a trabalhar como voluntária da Rede Feminina de Combate ao Câncer na Paraíba.
O meu trabalho, às terças-feiras pela manhã, consiste em conversar com os pacientes dos SUS, que estão no Hospital Napoleão Laureano para fazerem quimioterapia. Eles passam, no mínimo, hora e meia ligados a soros e drogas pesadas que servirão para melhorar a sua condição de saúde e à tentativa de debelar o mal que os acomete. Muitos chegam a passar seis horas, sentados ou deitados, até terminarem a sua cota do dia. Alguns vão lá por dois, três dias seguidos, conforme seja o tratamento, para cumprir o mesmo ritual.
A maioria vem do interior e os de mais longe levam de seis a oito horas de viagem para chegar ao hospital. Saem de suas cidades pela madrugada, em ambulâncias das prefeituras, carros de aluguel ou de ônibus, desconfortavelmente acomodados, às vezes sem se alimentar, para não perder a hora. Nos arredores do hospital existem casas de apoio de prefeituras, sindicatos e até da Rede Feminina (atualmente fechada para reforma), que abrigam os que necessitam ficar por mais de um dia, fornecendo dormida e alimentação (algumas só dormida) a esses sofridos e necessitados seres humanos.
Conversar com essas pessoas é muito bom. Muitas vezes acredito que sou muito mais beneficiada que eles nessa troca. As suas experiências de vida, seus problemas, alegrias e dificuldades, nos são relatados de uma maneira simples, sem reservas, sem medos e sem constrangimentos. E se eu não tiver cuidado passo o tempo todo de papo só com um paciente, quando tenho 16 para atender, num espaço de três a quatro horas.
Um deles, lá do sertão, canta e nos brinda com seus improvisos. Já me contou que fez músicas para a campanha de vários prefeitos da sua cidade. Bebia e fumava muito, mas hoje leva uma vida mais regrada por causa da doença, mas não perdeu a alegria de viver nem a vontade de alegrar as pessoas com seu canto e loas.
Às quartas-feiras, na parte da tarde, também faço um trabalho junto aos familiares dos pacientes que estão na UTI do Laureano. Minha missão é dar um conforto, uma palavra amiga aos parentes que estão vivendo a iminência de perder seu ente querido e essa tarefa não é fácil. Muitos não têm a coragem nem de chegar junto do paciente (meu pai não conseguiu ver minha mãe na UTI) e, muitas vezes, querem que as voluntárias os acompanhem até o leito, como se buscassem uma força que eles não têm naquele instante. Não é fácil para nenhum dos lados...
Saibam que nada disso que faço me torna melhor ou faz com que eu me distinga das outras pessoas, absolutamente. Optei por esse trabalho para ocupar um pouco do meu tempo com quem necessita, já que não posso mais ter um trabalho formal porque meu pai, que está com 87 anos, precisa da minha atenção e não pode ficar muito tempo sozinho. E não me arrependi da escolha que fiz. Estou feliz e tenho certeza que ainda poderei ser útil a essas pessoas por muito tempo.
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Abril/2009
A Paixão do Menino Deus, espetáculo encenado ao ar livre, de graça, no centro de João Pessoa, com apoio da Funjope e da Prefeitura de João Pessoa, conta a Paixão de Cristo, contextualizada nos dias atuais, com atores amadores e outros com anos de experiência, dirigidos por um diretor experiente e que também é o autor do texto, Tarcísio Pereira.
PAIXÃO DO MENINO DEUS - A VISÃO DE UMA SIMPLES ESPECTADORAFatita Vieira
É a história de Emanuel*, filho de Mariana e Zé Carpinteiro, um rapaz que tenta resgatar seus companheiros da periferia, das drogas e dos crimes. E seu amor ao próximo e a sua determinação surtem efeitos positivos, mas desgostam os traficantes e os chefes de gangues. E Emanuel é raptado, torturado e assassinado.
A história tem todos os elementos da Paixão de Cristo tradicional, mas todos modernizados (a "ressurreição" de Emanuel acontece num hospital e é feita por médicos) e Jesus Cristo, tal qual como o conhecemos, está presente o tempo todo, contando o seu sofrimento e em diálogos com Emanuel.
Confesso que esperava menos, dentro da minha visão de simples espectadora e pelo pouco tempo que o grupo teve para ensaiar, mas o que vi foi um espetáculo lindo, bem encenado, cheio de recursos tecnológicos, muita luz, muita música, com a Orquestra de Câmara e coral, regidos pelo maestro Eli-Eri Moura, além dos atores que também cantam,o que poderia até classificá-lo como um musical. A coreografia hip hop também tem vez no espetáculo, perfeitamente inserida no contexto dos personagens.
Além da mensagem de doação e amor ao próximo, também vimos um recado ecológico e sobre o exercício de cidadania, com os anjos da peça indo ao palco, sempre que necessário, com um cesto onde se lia a palavra LIXO, apanhar latas e tudo o que era largado lá pelos atores, por exigência da cena.
O público assistiu atento e em silêncio. E o final não poderia ser outro senão o da ascensão de Jesus Cristo aos céus, cena que sempre emociona, em qualquer contexto. Os aplausos do público foram todos merecidos.
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* Emanuel, (nome próprio hebraico que, traduzido, significa "Deus conosco"), é um nome profético que se referia à vinda do filho unigênito de Deus à Terra, frequentemente usado para se referir a Jesus Cristo, por este cumprir dezenas de profecias que anunciavam a vinda do Messias no Antigo Testamento, inclusive uma muito conhecida, do profeta Isaías, que dizia: "Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel" (ver Isaías 7:14 e Mateus 1:20-25). Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Emanuel
Abril/2009
Amanhã (22/12/2008) faz exatamente um ano que voltei para meu torrão natal, João Pessoa.
Lagoa do Parque Solon de Lucena, cartão postal de João Pessoa.MINHA VOLTA PARA JOÃO PESSOA
Fatita Vieira
Voltei para ter uma melhor qualidade de vida, para ficar perto da minha família, da minha paixão e tenho certeza que foi uma atitude bastante acertada.
Recife foi e será sempre muito querida para mim. Lá consegui as coisas que hoje vim desfrutar aqui: bom emprego e estudo... Também foi lá que fiz grandes amizades, tive grandes paixões, algumas decepções e as piores coisas que poderiam me acontecer: perder minha mãe e meu irmão... Mas tudo isso faz parte da vida e serviram para o meu crescimento.
Voltar para cá, depois de 53 anos fora e 51 em uma mesma cidade, me deixou um pouco apreensiva, afinal mudanças sempre nos causam um certo temor, mas foi tudo muito melhor do que eu pensava.
As famílias da minha mãe e do meu pai são grandes e todos nos receberam e nos tratam muito bem! Tenho aqui tias, tio, primas e primos e no Recife tinha só meus dois sobrinhos e minha cunhada, além dos amigos, claro!
Moro num apartamento muitíssimo melhor do que eu morava no Recife (o prédio tem até piscina), perto da família e também da minha paixão. Meu bairro, Jaguaribe, um dos mais antigos da cidade, é muito agradável, tem muitas casas, pouquíssimos prédios e fica perto de tudo: comércio, médicos e para a praia são só 7km. A rede de médicos da Geap (meu plano de saúde) na Paraíba, é tida como muito melhor que a de Pernambuco. E até hoje todos os médicos que procurei, com uma única exceção, não me decepcionaram, muito pelo contrário!
Às quartas-feiras, pertinho de casa, há uma feira que dura o dia inteiro e é considerada a melhor de João Pessoa. Tenho a Mata do Buraquinho, uma reserva de mata atlântica, como vizinha e na minha casa não faz calor. No inverno ficava o tempo todo com a porta e a janela da varanda fechadas, de tanto frio que fazia. Nem precisava ligar ventilador nem ar condicionado para dormir. Também não tem muriçoca, como tinha no Recife. O trânsito é infinitamente melhor que o do Recife. E aquela história de "motorista da Paraíba", é só puro preconceito mesmo! Não vejo os motoristas usarem as buzinas como no Recife e dar a vez para o pedestre, é uma constante por aqui. Também temos violência, mas ainda é muito seguro morar nesta cidade.
Além dessas coisas, estou fazendo um trabalho voluntário na Rede Feminina de Combate ao Câncer na Paraíba, que está sendo pra lá de gratificante para mim. Estar com os portadores de câncer que fazem quimioterapia, uma vez por semana, me traz uma sensação tão boa de estar sendo útil que ninguém pode imaginar... E sinto não poder dedicar mais tempo a esse trabalho, pois preciso ficar com meu pai, que já tem 86 anos e precisa de companhia.
Também já fiz algumas boas amizades e até já fui citada em coluna de jornal (uau!!!), portanto, já estou até famosa.
Meu pai está adorando morar aqui, pois sempre teve vontade de voltar. Ele, que morava neste mesmo bairro, antes de irmos embora, lembra das pessoas, de onde moravam, de quem era quem e de fatos da história dos quais presenciou alguns. E está muito, muito contente por tudo!
Essas simples palavras são para dizer da minha felicidade por estar aqui e que não deixem de conhecer João Pessoa, seu povo, suas belezas naturais e se quiserem mudar para cá, aposto que não irão se arrepender.
Dezembro/2008
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