A característica mais marcante da filosofia pitagórica era a conexão, sempre presente, entre as várias ciências e, em particular, entre a aritmética, a geometria, a música e a astronomia, tanto é que na Grécia antiga a música fazia parte do ensino das matemáticas. Platão afirmava que:
"A geometria é um método para orientar a alma na direção do Ser Eterno… e não é possível chegar a ter uma verdadeira fé em Deus sem ter o conhecimento da matemática e o íntimo nexo entre ela e a música".
Consequentemente, tanto para os pitagóricos como para Platão a geometria, a aritmética e a música eram ciências sagradas, isto é esotéricas. De fato, a relação entre a música e os números apresenta um dúplice aspecto: aritmético e geométrico de um lado, simbólico e hermético pelo outro lado.
|
Quanto à média harmônica, um segmento b é dito ser médio harmônico entre a e c quando: |
Ou seja: |
Relação que também pode ser escrita nessa forma: |
Essa, por uma propriedade fundamental das proporções, pode ser escrita assim: |
mas, pela (1) ela assume a forma seguinte: |
Como Pitágoras aprendeu essa proporção na Babilonia é conhecida como Proporção Babilonesa e é interessante notar que nela os termos médios são a média aritmética e a média harmônica dos extremos. No caso particular em que a = 1 e c = ½ a proporção babilonesa se torna: |
Essa proporção contém justamente os números que representam os comprimentos relativos das quatro cordas do tetracordo e é o caso mais simples de proporção babilonesa. Agora se a primeira corda emite um
dó
, a quarta corda, tendo a metade do comprimento, emite um som de frequência dobrada, isto é um
dó
da oitava superior. Os sons emitidos pelas outras cordas, cujos comprimentos são as médias aritméticas e harmônica das cordas extremas, são respectivamente um
fá
e um
sol.
As notas desse primeiro tetracordo são portanto:
|
Tomamos agora os últimos dois termos da proporção anterior como os primeiros dois termos de uma nova proporção onde o último termo será, naturalmente, a metade do primeiro e o terceiro membro (x) vai ser calculado oportunamente: |
Musicalmente, essa nova proporção corresponde às notas
sol, dó, x, sol.
|
Continuando da mesma forma se obtem um terceiro tetracordo:
|
um quarto tetracordo:
|
um quinto tetracordo:
|
um sexto tetracordo:
|
e, enfim, um sétimo e último tetracordo:
|
E não adianta continuar com esse procedimento, pois iríamos encontrar novamente o sol, etc., mas é de importância fundamental reparar que a terceira corda (incógnita) de cada novo tetracordo é sempre a média harmônica entre as cordas extremas, sendo que todas as novas proporções são babilonesas.
dó ré mi fá sol lá si dó
Onde a oitava nota é a harmônica superior da primeira. Em termos numéricos essa sequência se escreve assim: |
É fácil constatar que todas essas frações contêm, tanto ao numerador como ao denominador, apenas potências dos números dois e três, sendo 128 = 2 elevado a 7 a máxima potência do dois e 243 = 3 elevado a 5 a máxima potência do três. Por outro lado, partindo do
dó
e contando 5 notas se chega ao
sol,
que é a primeira nota do segundo tetracordo; partindo agora do
sol
e contando mais 5 notas se chega ao
ré
que é a primeira corda do terceiro tetracordo, e assim por diante são obtidas todas as primeiras cordas dos 7 tetracordos. É também por essa razão que os pitagóricos consideravam o cinco e o sete números particularmente sagrados. Também o três era tido como sagrado, pois cada tetracordo contem apenas três notas diferentes.
Parsifal
|