PERMANECENDO
'Permanecei em Miin, e Eu permanecerei em vós." S. Joao 15:4.
Ao ler o capituio 15 de
5. João, você logo se dá conta de que o termo
"permanecer" (e correlatos) constitui uma
palavra-chave. O que significa "permanecer"? Se você
recorrer ao uso de uma concordância a fim de localizar cada uma
das ocorrências desse termo no texto das Sagradas Escrituras,
descobrirá que ele significa simplesmente "ficar". A
suposição subjacente a esta parábola é que, se somos
convidados a permanecer, é porque já chegamos ao lugar de
permanência, em alguma ocasião passada. Não faria sentido
insistir em que alguém permaneça, se tal pessoa ainda não
chegou. Em S. João 15 não se menciona muito a questão de vir a
Cristo pela vez primeira. A ênfase recai sobre a permanência
nEle. Existe algo que é tão importante quanto casar - e é:
permanecer casado. Existe algo tão importante quanto vir
inicialmente a Cristo - é o permanecer nEle. É esta a
preocupação de Jesus em Suas palavras, em S.
João 15. Temos aqui uma indicação do modo como a nossa
capacidade de decisão deve operar na vida cristã. Estou a ponto
de afirmar, com base em histórias conhecidas e em pesquisas, que
a maioria das pessoas que se uniram à igreja e chegaram a
conhecer um pouco das maravilhas da graça redentora, não
permaneceram nesta situação. A maior parte de tais pessoas
permitiu que o inimigo as afastasse de onde estavam, passo a passo lenta e imperceptivelmente - com o fito de afastá-las
também da compreensão e deslumbramento mais amplos diante da
graça de Deus. Efetuaram uma substituição - em lugar de
permanecer na videira, simplesmente permanecem no pomar (a
igreja), ou então permanecem em outros ramos (outras pessoas).
Já salientamos que Jesus, em S. João 15, não falava da
permanência na igreja. Não é suficiente permanecer em
companhia de outras pessoas, e no entanto esta é uma de nossas
armadilhas. Podemos estar exteriormente ligados a Cristo, e ainda
assim não possuir qualquer conexão vital com a videira. Se
este for o caso, não haverá crescimento ou produção de
frutos. Poderá existir uma aparente ligação com Cristo, a
profissão de religião, mas nenhuma vinculação efetiva com
Deus, mediante a fé. Aqueles que não produzem fruto para a
glória de Deus, são ramos falsos, e demonstram que não tem
estado a permanecer na videira.
Talvez o ponto de maior
proximidade com o enxerto
que a maioria de nós chega a atingir, é o transplante de algo para os nossos pomares. Alguma vez você fez isto?
É possível
transplantar várias plantas de aspectos semelhantes para um
determinado pedaço de terra, utilizando a mesma técnica, tanto
quanto é possível medir. Algumas destas plantas se
desenvolverão, ao passo que outras morrerão. Ao tempo do
transplante, todas apresentam a mesma aparência. Produzem a
impressão de que todas alcançaram raízes em seu novo
ambiente. Contudo, ao transcorrer um curto espaço de tempo,
algumas chuvas abundantes, alguns dias de sol, começa a
tornar-se óbvio quais as plantas que se desenvolverão, e quais
não lograrão fazê-lo. O que estabelece a diferença? A
primeira classe está ligada ao solo, ao passo que a outra, não.
Como, pois, pode a pessoa permanecer na videira? Como pode você
manter a vinculação com Cristo? Tem você esgotado todos os
seus recursos, não apenas uma vez, e sim todos os dias? A planta
que foi transplantada no pomar pode sobreviver por seus próprios
meios durante uns poucos dias. Entretanto, a menos que ela lance
mão da nutrição disponível no solo, seus recursos próprios
se esgotarão, e ela murchará ou definhará. A sua comunhão com
Deus - significa ela a prioridade número um para você, ou está
você apenas tentando fazer as coisas que agradam a Deus?
Tentemos captar o significado mais profundo de permanecer.
"Permanecei em Mim, e Eu permanecerei em
vós." O que significa Cristo permanecer em você, ou você
permanecer em Cristo? Sem sombra de dúvida, significa um
relacionamento muito íntimo. É este o seu significado. Cristo
está dizendo: "Permaneça na posição de relacionamento
iniciada quando você Me aceitou como a sua única esperança.
Mantenha-se em relacionamento comigo."
É possível -
aliás, é bastante usual - que o relacionamento de
servo-e-senhor não seja muito íntimo; ao contrário, costuma
ser um tanto distante. É possível observar-se uma relação
entre empregador-empregado que se afaste bastante do respeito
mútuo. É possível existir um relacionamento professor-aluno que
não vá além do casual. De modo ideal, você mantém um
relacionamento íntimo com alguém que, para a sua vida, é uma
pessoa muito especial. É por esta razão que se torna muito
adequada a analogia do casamento, na aplicação do
relacionamento de Jesus com Sua igreja. Ao falarmos, nesta
parábola, de um relacionamento de permanência, estamos falando
de um relacionamento extremamente íntimo e amorável. Não
existe tal coisa como um relacionamento de íntimo amor, sem
companheirismo e comunicação. Jesus está dizendo: "Por
bondade, desejo conhecer você. Não apenas desejo que você
comece a envolver-se comigo, e sim que permaneça comigo. Você
está interessado(a) nisto?"
Dirá alguém: "Oh,
estamos outra vez no trilho das obras. Enfatizar o continuo relacionamento com
Cristo é simplesmente legalismo." Sim, de fato o será;
para qualquer pessoa que não tenha esgotado todos os seus
recursos, qualquer coisa - inclusive este ponto de vista -
poderá ser o trilho das obras. A pessoa que ainda depende de sua
conexão com o pomar ou com os demais ramos (mesmo com os ramos
que ocupam o púlpito - oh, por bondade, não cometa este
equívoco!), descobrirá que sua ênfase quanto a permanecer na
videira, nada mais será que o caminho das obras. Isto é
verdade. Uma vez, porém, que a pessoa haja percebido o amor e a
bondade de Jesus, conforme demonstrados em Sua vida e morte, e
tenha obtido um lampejo de Seu terno cuidado por cada um de nós,
perceberá a permanência nEle como um grande privilégio e uma
elevada honra. Para tal pessoa, o estudo da Bíblia e a oração
deixarão de representar um fardo, e serão entendidos como uma
fantástica oportunidade.
Volte agora ao seu próprio jardim -
considera você como o caminho das obras permitir que suas
roseiras permaneçam no solo, a partir do qual são capazes de
extrair os nutrientes de que necessitam? Imagine um jardineiro
que afirmasse: "Deixar que a planta permaneça nesta
sujeira, é o caminho das obras. Algum dia talvez eu coloque as
minhas plantas na terra, também, e o farei quando julgar por bem
fazê-lo. Mas não desejo estar 'amarrado' a nenhuma rotina.
Alguns dias tomarei minhas roseiras e as conduzirei comigo,
durante todo o dia. Outros dias deixá-las-ei na estante,
onde farão boa figura. Outros dias, ainda desejarei deixá-las
sobre a grama, com as raízes expostas. Nas ocasiões em que
sentir necessidade de fazê-lo, tê-las-ei com as raízes
enterradas no solo." Quantas rosas floresceriam sob tais
condições?
Observe, por favor, que ao Jesus utilizar o termo
"permanecei", nas instruções aos discípulos que a
parábola administra, Ele está na verdade indicando onde entram
os nossos esforços e as nossas decisões. Tive um aluno que se
dirigiu a mim e me contou que estava muito desencorajado e
frustrado em virtude das complexidades da vida cristã.
Disse-me que simplesmente não conseguia pôr as coisas em ordem,
uma ao lado da outra. Ocorre, porém, que nós não temos que
pôr tudo em ordem! A verdade é que o esforço e a vontade
humanos, e a direção de nossa escolha em viver a vida cristã, resumem- se simplesmente nisto: "Permanecei em Mim",
disse Jesus, "num relacionamento de contínuo
companheirismo." Isso é tudo.
Como se realiza isto? Por
favor, não caia na armadilha de imaginar que permanecemos em
relacionamento com alguém ao tentar fazer as coisas que agradam
a esta pessoa. Não é desta forma que nos mantemos em situação
de relacionamento com quem quer que seja. Colossenses 2:6 nos
oferece uma "dica": "Ora, como recebestes a Cristo
Jesus, o Senhor, assim andai nEle." Andamos com Ele,
mantemos comunhão com Ele, permanecemos nEle, da mesma forma como a principio O
recebemos. De que modo O recebemos no começo? "Ninguém
será justificado diante dEle por obras da lei, em razão de que
pela lei vem o pleno conhecimento do pecado." Romanos 3:20.
Assim, não recebemos a Cristo, inicialmente, pelas obras da lei.
"Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como
favor, e, sim, como dívida. Mas ao que não trabalha, porém
crê naquele que justifica ao ímpio, a sua fé lhe é atribuída
como justiça." Romanos 4:4 e 5, ênfase suprida.
Aceitamos
a Jesus pela primeira vez, e entramos em ligação com a Videira,
não atavés da tentativa de produzir boas ações que viessem a
tornar-nos dignos, mas mediante a aceitação de Sua graça como
um poderoso dom. Não tentemos imaginar que a aceitação dEle
pela graça, deixa de ter, ligada a si, qualquer obra. A maior
parte dos pecadores descobre que é bastante difícil vir a
Cristo. Entretanto, este é um tipo de obras diferente daquelas
obras a respeito das quais fala Paulo. O apóstolo de modo algum
está procurando defender a idéia de uma religião sem
esforços, a religião do nada fazer. Ele nos relembra o real
esforço envolvido. O trabalho, se é que assim podemos chamá-lo,
é a admissão de que coisa alguma podemos fazer ao virmos a Ele
para aceitar a Sua graça. Em S. João 15, Jesus nos mostra para
onde devem ser dirigidos os esforços. Em nenhum momento Ele nos
diz que devemos trabalhar a fim de produzir frutos - diz-nos,
antes, que devemos permanecer nEle. E se
escolhermos nEle permanecer, o fruto será o resultado natural e
espontâneo de tal permanência. Assim, pois, a parábola coloca
a questão quanto ao ponto em que você aplica os seus esforços. É uma pena que a maioria de nós realiza uma longa peregrinação
no sentido de fazer alguma outra coisa, além de permanecer neste
relacionamento próximo, íntimo, e de genuíno amor. Para
aqueles, dentre nós, que têm estado a trabalhar em qualquer
outro sentido, Cristo estende uma vez mais o amorável convite:
"Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós."