Search

 

A obra de Alexander Search, que só agora começamos a descobrir, é o elo que faltava nesta evolução que leva do poeta clássico e romântico ao «modernista», da efusão sentimental ao lirismo crítico, da busca ansiosa do ego à despersonalização sistemática, da fé cristã perdida ao «paganismo» reencontrado. Ao lermos estes textos em verso e em prosa, todos evidentemente escritos em inglês, apercebemo-nos de que Pessoa, dos quinze aos vinte anos, situou na consciência semifictícia de Search e na sua obra, bem real, a experiência espiritual tempestuosa vivida nessa «curva da estrada» da sua vida de homem, essa luta com o Anjo cujo duplo (Alexander Search) sai por fim vencido, para que ele mesmo, Pessoa, possa tirar a sua satisfação e transpor um limiar, passar a uma outra etapa da sua iniciação poética. Search é a crisálida de Caeiro, de Reis e de Campos. Desta temporada no inferno, Pessoa surgirá, alguns anos depois, num estado de disponibilidade total que lhe permitirá acreditar, pelo menos provisoriamente, que obteve a salvação.

Robert Bréchon. Estranho Estrangeiro - Uma biografia de Fernando Pessoa. Lisboa: Quetzal, 1996, p. 105.

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