Escolaridade

 

A língua, o estilo das casas, os nomes das ruas, as instituições, os costumes, os cultos e, bem entendido, o ensino, tudo é inglês em Durban. O pequeno Fernando Pessoa, que ao que parece não sabe inglês ao chegar, vai aprender a língua por imersão súbita e total no meio. Os pais inscrevem-no imediatamente numa escola primária católica de irmãs irlandesas, a Convent School, situada na rua principal, West Street, assim chamada, não pela sua orientação, mas em homenagem ao primeiro governador da colónia, o comandante Martin West. Ele vai completar todo o ciclo de estudos, de cinco anos, em três anos apenas, de forma que vai entrar no ensino secundário com dois anos de avanço sobre os seus colegas. Não se sabe muito mais sobre esta escolaridade primária, mas já se pode sublinhar a incrível facilidade de aprendizagem desta criança. Deve-o sem dúvida às suas faculdades inatas, mas também, talvez, aos conhecimentos de base e à ginástica intelectual que já lhe inculcara a mãe, a qual parece ter sido uma pedagoga notável. Terá ela continuado a fazer com ele os deveres em casa, agora em inglês? Era bem capaz de o fazer. O que é certo, é que com oito ou nove anos ele tem um domínio perfeito da língua inglesa. E ela é que vai ser, durante cerca de dez anos, a sua língua de trabalho intelectual e de criação literária.

Robert Bréchon. Estranho Estrangeiro - Uma biografia de Fernando Pessoa. Lisboa: Quetzal, 1996, p. 47.

 

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