Influências

Os dois poetas portugueses que, por razões opostas, tiveram mais influência no jovem Pessoa foram Teixeira de Pascoaes e Cesário Verde. Teixeira de Pascoaes (1877-1952) é ainda um jovem nesse momento, mas já publicou várias obras importantes. Nos anos seguintes, vai fundar o «saudosismo», incarnar melhor que ninguém o espírito da «Renascença Portuguesa» e tornar-se o teórico da «arte portuguesa». É na sua revista «A Águia» que Pessoa se vai iniciar. Será um dos seus admiradores mais fervorosos, ao ponto de pretender, num texto de 1912 «Sobre a Literatura Portuguesa Moderna» (redigido em inglês) que Teixeira de Pascoaes é «o maior poeta lírico europeu de hoje». Muito mais tarde, há-de negar essa paixão da juventude, e executar o seu antigo ídolo com uma palavra feroz. Depois de dizer que «Junqueiro morreu», acrescenta: «e Pascoaes está moribundo». A verdade é que o glorioso poeta, mais velho do que ele, irá sobreviver-lhe mais de quinze anos, mas, a seus olhos, ele já desaparecera há muito tempo.
Passa-se exactamente o contrário com Cesário Verde (1855-1886), totalmente ignorado em vida, que exprime no seu poema O Sentimento de um Ocidental uma forma de «saudade» intimista radicalmente diferente da saudade mais conspícua de Pascoaes. A arte de Cesário é objectiva, tanto que por vezes a integram na estética parnasiana; mas exprime a emoção, ora alegre, ora dolorosa, que lhe dá o espectáculo da realidade urbana ou campestre, o que faz da sequência dos seus poemas uma espécie de diário de um homem das ruas de Lisboa, um pouco como há-de ser, em prosa, o Livro do Desassossego de Bernardo Soares. A inspiracão bucólica de Caeiro e a citadina de Campos devem muito ao seu exemplo. A admiração de Pessoa por Cesário talvez não tenha sido imediata, mas foi profunda e duradoura. É a de um irmão pequeno pelo seu irmão mais velho, de quem se sente muito próximo.

Robert Bréchon. Estranho Estrangeiro - Uma biografia de Fernando Pessoa. Lisboa: Quetzal, 1996, pp. 139-140.

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