Ética e Cidadania |
Medo de assalto afeta qualidade de vidaLadrões agem em todos os lugares, assustam o rico e o pobre e matam por um relógio e até por poucos reais; no ano passado, foram 170 mil casos no Estado, 87 mil deles só na capitalRENATO LOMBARDI O medo do assalto, do seqüestro relâmpago, de tiros - e da morte - atinge em São Paulo o pobre e o rico. Os ladrões agem em ruas, residências, apartamentos, carros. Matam por um relógio. Matam por R$ 5,00. Matam por um simples gesto de defesa das pessoas. A população, insegura, arma-se cada vez mais. Os investimentos em equipamentos de segurança são altos. A indústria da segurança é um dos setores do País em expansão e para o qual não existe crise. No ano passado, foram praticados 189 mil assaltos em todo o Estado. Na capital, o número foi de 94,5 mil.
O sociólogo Tulio Khan, do Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente (Ilanud), afirma que o estresse e o medo por causa da violência têm provocado a perda da qualidade de vida. "As pessoas saem menos de casa, deixam de freqüentar cinemas, bares, restaurantes e os alunos deixam de freqüentar cursos noturnos." Segundo Khan, os custos da violência levantados pelo instituto no ano passado atingem muitos milhões de reais. "É uma estimativa feita por baixo, que deixa de computar diversos itens", adianta Khan. Ele explica que a estimativa não leva em conta um valor, incalculável, de um bem que não tem preço: o valor da vida das vítimas da violência e suas famílias; da dor e do sofrimento humano que a violência representa. Para Khan, a violência custa caro, tanto para o País quanto individualmente. "Custa caro, porque segurança é um bem desejado por todos, mas cada vez mais escasso." Uma pesquisa do Ilanud indica que as vítimas da violência em São Paulo são em geral jovens entre 16 e 24 anos. A expectativa de vida no Estado é de 65 anos para os homens e 73 para as mulheres. "São 40 ou 50 anos de vida potencialmente produtiva, de 12 mil pessoas mortas todos os anos que deixam de ser aproveitadas", revelou o sociólogo. "Tais custos por morte prematura e incapacidade representam de 83% a 91% dos custos da violência." Hábitos novos - Para evitar os ladrões, muitas pessoas deixam em casa seus carros e passam a andar de táxi. Empresários e industriais estão trocando seus automóveis de luxo por veículos modestos. Outros passaram a blindar os carros fazendo com que aumentasse em 50% a procura pela blindagem no começo deste ano, em comparação com 1998.
Hoje, em São Paulo ao parar num cruzamento, principalmente à noite, corre-se o risco de ser assaltado ou seqüestrado. Muitos roubos terminam em morte. No ano passado os ladrões mataram na capital 256 pessoas. Na Grande São Paulo, 99. No interior, 165. Em todo o Estado, 520 pessoas perderam a vida nas mãos dos bandidos. A pesquisa do Ilanud indica ainda que 8% dos moradores da capital têm armas de fogo em suas residências; 27% das casas e apartamentos têm fechaduras especiais para portas; 31% têm cão de guarda; 28% dos carros possuem alarmes e 23%, trava de direção ou câmbio; 45% dos habitantes costumam evitar certas ruas, locais ou pessoas por questões de segurança. Outros 49% sentem-se inseguros ao andar pela
vizinhança depois de escurecer e 35% acreditam que poderão ser vítimas de tentativa de
arrombamento em suas casas ou de assaltos nos próximos 12 meses. |