Ética e Cidadania |
Tráfico provoca maioria das chacinas
Brigas entre traficantes e acerto de contas motivaram, em 99, 29,4% das matanças na região metropolitana
Brigas entre traficantes de drogas, cobranças de dívidas motivadas por tráfico ou o assassinato de um viciado e de quem mais possa testemunhar esse crime. Essas são as principais causas de chacinas na Grande São Paulo. Segundo a polícia, o tráfico está relacionado com 26,3% das matanças ocorridas na região metropolitana em 1999. O levantamento coube à Coordenadoria de Investigações de Homicídios Múltiplos. Na década passada, as chacinas ficavam ligadas a um fenômeno da periferia: o surgimento de matadores conhecidos como "justiceiros". Hoje, o problema encontra-se na explosão do consumo e na disseminação de pontos-de-venda de crack em São Paulo. "O crack libera mais agressividade do que outras drogas, pois vai do pulmão para o córtex cerebral", afirma o psiquiatra Rubens de Campos Filho. Ele relata o caso de um viciado em drogas que resolveu vingar-se de um rapaz que saía com sua ex-namorada. "Ele supreendeu a vítima em um bar e só parou de atirar depois de esvaziar a arma." Em 1998, o tráfico esteve ligado a 39,3% das 89 chacinas ocorridas na região metropolitana. A vingança surgiu como o segundo principal motivo de assassinatos múltiplos - 5,2% dos casos neste ano e 8,9% em 1998. Bebê - Entre as matanças ligadas à venda de drogas está o assassinato de quatro mulheres e de um bebê com tiros de submetralhadora e de espingarda calibre 12, em 13 de janeiro, na Vila Rosália, bairro de classe média de Guarulhos. Cinco outras pessoas ficaram feridas, entre elas uma criança de 1 ano e 3 meses. De acordo com a polícia, Neusa Teodoro, de 21 anos, uma das pessoas que morreram, já havia sido presa por tráfico de entorpecentes e seu marido estava detido pelo mesmo motivo. "Todos esses casos provam que, para diminuir as chacinas, é necessário combater o tráfico de drogas", analisa o diretor da Divisão de Homicídios, delegado Paulo Roberto Robles. A divisão esclareceu 90 das 142 chacinas ocorridas entre 1995 e 1999 na cidade de São Paulo - desempenho muito superior ao registrado pelas delegacias que cuidam de outros municípios da Grande São Paulo, onde acabaram esclarecidos 34 dos 109 casos de homicídios múltiplos. Além do combate ao tráfico, a polícia também pretende
deter as séries de matanças desarmando a população - 91% das vítimas de assassinato
em 1997 foram mortas com armas de fogo. "Estamos fazendo blitze em bares nos fins de
semana, pois a maioria desses crimes ocorre nesses locais ou nas proximidades",
afirma o delegado Jurandir Correia de Sant'Anna, da Delegacia Geral. (Marcelo Godoy) |