Nesta terra onde nasci, É meu berço, Itaverava; E vivendo sempre aqui, Já vivi o que não esperava; Aqui enfrentei a escola Apertado, aprendi a ler Mas nunca fui um trapincola, Sempre tinha o que fazer. Cuidava do moinho distante, lá com o milho trazia fubá; E mais a tarefa constante, Cuidar dos suinos e tratar; Sempre gostei de passarinhos, também de ouvi-los cantar, Fui fã dos meus cachorrinhos, Pois, já pensava em caçar. De onze para quinze anos, Não me ajeitei no balcão; Talvez cometendo enganos, Troquei a minha profissão; Indo trabalhar com a tropa, Era da tropa, o madrinheiro, E levando manta na troca, Passava mal o dia inteiro. Um dia meu pai me perguntou, Se queria aprender um ofício, A sua conversa me agradou, Tratei logo de dar ínicio; Preferindo ser sapateiro, Ele deu-me uma boa oficina E despesas dum companheiro; Fazendo-me esta propina. Contratei um bom sapateiro, Com ele trabalhei uns tempos; Ele, um ótimo companheiro, E um rapaz de bons intentos; E me sobrou algum dinheiro, Graças ao seu belo serviço, Que sendo um cara certeiro Acabou com aquele inguiço. Gostava do meu futebol, E a música, eu aprendia, Futebol eu até jogava, E na música persistia; Mas, o meu pai adoeceu, E o meu plano fracassou, Sua doença permaneceu E só, a esperança ficou. Eu, aos poucos desenvolvendo Sob a guarda dos meus pais E sempre os obedecendo, Sem me arrepender jamais; Entretanto, meu pai morreu E tudo tudo transformou, O homem da casa era eu E sua falta me apertou. Eu ainda inexperiente, No comércio que ele mantinha, Quis fazer-me eficiente Mas a prática eu não tinha; O negócio foi piorando, Apesar do esforço mantido; A nossa freguesia falhando, E o resultado exigido. Insisti, lutei algum tempo Para o meu caso resolver; Mas o fiado por exemplo Eu não consegui receber; Desanimei e deixei pra lá, Não cobrei mais, de ninguém; Amolado com tanto azar, Sacrifiquei-me e sai bem. Alguns, comentavam sorrindo; Porém outros, se lamentavam; Tinhamos amigos fingindo, E alguns, que colaboravam; Fomos vendendo a herança Para saldar compromissos; Mantivemos a confiança, E nada melhor, que isto. Resolvendo eu me casei, E fui feliz graças a Deus; A moça que eu encontrei, Gostava de mim e dos meus; E assim nós fomos vivendo A nossa vida de casados; E o que ia acontecendo, Controlavamos conformados. Os filhos e filhas chegando Felizmente com alegria; O nome deles variando, E o delas, todas Maria. Com tristeza chegou também Uma politicalha maldita; Uma coisa que nunca faz bem, E a minha esposa, a sua vítima. Nós tentamos daqui sair, Para evitar confusão, Sem nada mais exigir, A não ser direito de ação. Entretanto não conseguimos, Nem soubemos qual a razão, Nós soubemos e sentimos, Frustrada nossa intenção. Em mil novecentos e 37, Pneumonia quis me matar; A esposa nos seus 27, Ficou com medo de viúvar; E bastante preocupada, Vendo a minha situação, Prometeu muito confiada, E fez por minha intenção; Grande e penosa promessa De ir a Congonhas a pé E uma promessa como essa, Ela cumpriu com muita fé; Passou muito mal no caminho, Com aspereza de estrada, Lá em casa, fria num cantinho, Ela ficou três dias deitada. Felizmente me recuperei, Nos correios fui trabalhar; Com um amigo eu achei, Um galho para me ajudar; Assim continuei a luta, E cuidando da filharada, Sem pensar que magia oculta, Contra nós fosse impetrada. Para melhorar nossa vida, Serviços eu acumulava, Fazia calçados pra lida, E no correio manipulava; Trabalhava fora da casa Onde a família morava, E até estranhava a causa, Que a minha esposa chorava. Um dia em casa eu chegava, A esposa não me percebeu; Muito triste ela se achava, E aquilo me entristeceu; Parece que ela percebia Que na sua fatal gravidez; Uma anomalia surgiria, No seu parto daquela vez. E os dias foram passando, Já dentro de seu próprio mês; E tudo tudo complicado, Na sua obscura gravidez; Providências foram tomadas, Mas, não se tinha esperança, Ela morria convulsionada, Mas foi extraída a criança. Tomou conta da minha filha, Uma boa e santa criatura, Que sendo gente da família, Cuidou dela com ternura; Também os outros que ficaram, Amparados por Deus e os seus, Aos poucos se encaminharam, E estão bem, --- graças a Deus. Assim eu fiquei sozinho, Pensativo e sem lugar; Saía e batia um papinho, Tentando me desabafar; Mas, a responsabilidade E o pensamento nos filhos, Faziam-me tanta saudade, Que não era coisa do estilo. Aguentei a mão algum tempo, Amigos me estimulando; Mas, eu não tinha o intento, Ir logo logo, me casando Com paciência esperei E os seis anos passaram, Assim eu me deliberei, Como outros deliberaram. Tendo passado seis anos, Novamente eu me casei, Jesus que também é humano, Inspirou-me e eu acertei; Se surgia alguma coisinha, Coisas que a vaidade faz, A compreensão já se tinha, E tudo acabava em paz. Mais duas Marias chegaram, Do meu segundo casamento; Elas nunca me amolaram, Tendo fé e entendimento; Já, com os dez filhos criados, E felizmente com saúde, Eu agradeço penhorado, Por Deus dar-lhes o que não pude. Já velho e aponsentado, Elevaram-me a prefeito; Mas, o poder me foi dado, Pelo snr. Juíz de Direito; Pouco fiz pra terra querida, Apesar dela merecer, Com uma renda escolhida, Não adiantava querer. Com dois anos de governo, O tempo me prejudicou; O legislativo enfermo, Meu mandato desintegrou; Agora já estou velhinho, E pronto pra viajar, Peço a Deus um cantinho, Bom lugar para descansar. Primeira frase dita assim que terminou sua obra: "Na insignificância deste trabalho tudo pode faltar, menos a verdade" Morreu no dia 17 de dezembro de 1991. 45 minutos depois de terminar o poema. De Derrame Cerebral aos 83 anos. "Que Deus o tenha" Votos de seu neto Marcelo. Fim. José S. Silva