Observação microscópica de Líquenes
Supõe-se que a palavra líquene deriva do rego leikhô, que significa "eu roço". De facto o líquene roça a rocha, a terra ou qualquer outro suporte a que adere sem no entanto parasitar.
O líquene é uma associação entre um fungo e uma alga em que a alga se encontra aprisionada no meio dos filamentos do fungo. Esta é uma das associações de seres vivos mais eficazes que se conhecem, isto porque o fungo e a alga complementam-se de forma a sobreviver como um único ser.
Os líquenes tiveram origem há cerca de quatrocentos milhões de anos. Foi no mar que flutuaram as primeiras alga monocelulares, estas algas conseguiram alastrar para as margens húmidas dos lagos onde sobreviveram formando uma espessa camada verde. Foi aí que encontraram os fungos que começavam também a colonizar a Terra, estes sobreviviam à custa de restos de plantas e de nutrientes que retiravam do solo. Assim os fungos e as algas aliaram-se de modo a fornecer um ao outro aquilo que produziam aproveitando do outro o que lhes faltava, e assim os fungos abraçaram as algas numa parceria que permaneceu até aos dias de hoje.
No que diz respeito ao tipo de relação entre as algas e os fungos pode-se dizer sem qualquer dúvida que os líquenes resultam de uma relação inter-específica de cooperação. Hoje é já de opinião comum à maioria dos autores que esta relação é uma relação simbiótica, e é assim que se considera a mesma. Houve no entanto quem defendesse que os líquenes resultavam do facto de os fungos parasitarem durante parte ou toda a sua vida as algas que neles estavam aprisionadas. No entanto sabe-se que as algas desta parceria são capaz de ter existência própria e crescer mais rapidamente do que acontece quando aprisionadas pelos fungos. Assim pode-se considerar o fungo como dominador, já que este defende a sua vida mantendo a alga presa.
No líquen as funções dos fungos e das algas estão perfeitamente definidos: o fungo fornece à alga nutrientes que retira das rochas e da atmosfera, água que retira também da atmosfera, filtra os raios uv, dá forma ao conjunto e encarrega-se da produção de esporos reprodutores. As algas, aprisionadas nos filamentos do fungo realizam fotossíntese e fornecem aos fungos alimentos e vitaminas. Deste modo a capacidade sintetizadora de substâncias do conjunto aumenta ao mesmo tempo que se desenvolve uma adaptabilidade e resistência ao ambientes onde não sobrevive qualquer outro ser vivo.
Esta resistência deve-se ao facto dos líquenes conseguirem interromper a sua actividade por desidratação. Assim, ao secarem, o que pode acontecer todos os dias por acção do sol ou do vento, os líquenes tornam-se invulneráveis ao calor e ao frio. Assim os líquenes conseguem tolerar o calor e/ou o frio que mataria a maior parte das plantas conseguindo permanecer ressequidos, com o seu desenvolvimento suspenso. Quando têm novamente água à sua disposição são capazes de absorver humidade a uma elevada velocidade e em grandes quantidades, podendo absorver mais de metade do peso do líquene ressequido em apenas dez minutos.
É ainda de realçar a importância ecológica dos fungos que não só permitem a formação dos solos como também evidenciam a poluição atmosférica em que estão envolvidos. Uma vez que os líquenes retiram da atmosfera vários nutrientes dissolvidos nas águas das chuvas, estas estruturas são muito sensíveis a ambientes poluídos pois ao absorverem substancias poluentes as algas tornam-se incapazes de realizar a fotossíntese, e uma vez perdido o equilíbrio entre a alga e o fungo o líquene morre.
Os líquenes são pioneiros na constituição dos solos pois esta estrutura não precisa mais do que uma rocha de onde o fungo extrai nutrientes segregando ácidos fúngicos. Estes ácidos ao erodirem a rocha permitem que o fungo absorva os nutrientes e os forneça à alga que através da fotossíntese os transforma em matéria orgânica. Esta acção directa sobre as rochas vai ajudar à fragmentação das mesmas e mais tarde quando os fungos por fim morrem deixam sobre a rocha matéria orgânica que possibilita o posterior crescimento de outras plantas e dando assim origem ao horizonte A.
O facto de os líquenes se poderem instalar em ambientes difíceis, ainda que limitados por um crescimento lento, traz aos líquenes a vantagem de não terem competidores, e de raramente haver animais que os comam (talvez devido à sua composição) o que permite que estas estruturas alcancem uma grande longevidade podendo atingir centenas e mesmo 2000 anos de vida.
Os líquenes têm uma estrutura constituída por uma zona epidérmica muito fina para deixar passar a luz constituída por apenas uma camada de células justapostas de natureza fúngica, a esta camada dá-se o nome de córtex. Por baixo desta camada encontra-se uma camada algal que como o nome indica é constituída por algas de forma esférica envolvidas por hifas que têm por função a realização de fotossíntese. A camada seguinte é a camada medular que é essencialmente composta por hifas de natureza fúngica e tem como principal objectivo o armazenamento de água e sais minerais. São estas as três camadas dos líquenes constituintes dos líquenes que podem variar a sua posição ou repetirem-se conforme o líquene em estudo. Os líquenes foliáceos apresentam córtex superior, camada algal, zona medular e córtex inferior. Os líquenes fruticulosos apresentam por sua vez córtex superior, camada algal, zona medular, zona medular e córtex inferior. Finalmente os líquenes crustáceos apresentam córtex superior, camada algal e medula.
O aspecto que apresentam os líquenes, muito diferente do que teriam a alga e o fungo simbiontes separadamente, é variável e pode resumir-se a quatro tipos principais: crustáceo, foliáceo e fruticuloso. Os líquenes de talo crustáceo têm aspecto de crosta e vivem sobre o tronco das árvores ou sobre as rochas. Por vezes conseguem penetrar no substrato e a ele unirem-se tão intimamente, que à superfície fica visível apenas a camada externa do córtex. Os líquenes de talo foliáceo apresentam lóbulos de dimensão variável e com o aspecto de folhas. Fixam-se ao solo e dele absorvem a água por meio de hifas, ou desenvolvem-se nos rizidomas dos troncos das árvores, em cepos mortos e nas rochas. Os de talo fruticuloso são semelhantes a pequenos arbustos, com um caule erecto ou suspenso que se fixa ao substrato pela base, revestindo o solo ou ficando suspensos dos ramos da planta.
Algumas espécies de líquenes são utilizadas desde a antiguidade com fins medicinais. Assim sucede, por exemplo, com o líquene-da-islândia (Cetraria islandica), o qual tem o talo de cor parda e base avermelhada, lobulado, e cresce formando como que "relva", em prados alpinos e florestas de coníferas; pelas suas características usa-se no combate à tosse e aos catarros dos brônquios. Nas regiões desérticas do norte de África e Ásia Ocidental cresce a espécie Lecanora esculenta, conhecida como líquene-de-maná, de talo crustáceo. Uma espécie muito importante é a Cladonia rangiferina, o musgo-das-renas que vive nas regiões frias do hemisfério norte, constituindo, durante grande parte do ano, o único vegetal disponível como alimento para os animais destas regiões.
Para a realização deste trabalho prático começou-se por cortar um pedaço de um líquene foliáceo previamente recolhido no exterior da escola. Colocou-se este pedaço sobre uma lâmina e sobrepôs-se uma segunda lâmina, assim ficou o líquene entalado no meio das duas lâminas com um pedaço do mesmo de fora. Para cortar o líquene o mais fino possível cortou-se a pedaço que estava de fora das lâminas e de seguida moveu-se ligeiramente a lâmina de cima mantendo sempre todo o conjunto bastante apertado. Deste modo, ao mover a lâmina ficou de novo um pedaço de líquene de fora que se cortou com o auxílio do bisturi. Este processo de corte repetiu-se várias vezes até se obter número desejado de cortes o mais finos possível. Os finos cortes á medida que foram cortados foram mergulhados no vidro de relógio em água destilada.
Após se ter os cortes prontos a serem observados fez-se uma preparação microscópica utilizando como meio de montagem a água destilada. De seguida observou-se esta preparação com uma ampliação de 100x e de 1000x procedendo ao registo dos resultados e ao desenho da observação. De seguida repetiu-se este procedimento utilizando uma amostra de líquene fruticuloso e voltou-se a proceder ao registo dos resultados observados.
Discussão dos resultados
Os resultados obtidos com a observação dos líquenes ao microscópico óptico composto permitiram uma melhor análise das camadas constituintes dos líquenes observados.
O primeiro líquene observado que já se sabia ser um líquene foliáceo pelas suas características exteriores apresentou claramente definido o córtex superior de cor escura. Foi também facilmente detectável a camada algal em se distinguiam as algas esféricas de cor verde mesmo com uma ampliação de apenas 100x que estavam aprisionadas pelas hifas que constituíam a camada seguinte e chegavam mesmo a projectar-se para o exterior do córtex inferior que também foi visível com uma cor escura. Observou-se ainda a presença de rizinas que só estão presentes nos líquenes foliáceos. Quando se observou este mesmo líquene com a objectiva de imersão (1000x) foi possível ver claramente as algas aprisionadas pelas hifas fúngicas, assim como foi também possível observar que estas hifas se projectam para exterior do fungo.
No segundo líquen observado (fruticuloso) observou-se a existência de duas camadas algais separadas por uma zona medular e próximas do córtex superior ou inferior, isto acontece porque neste tipo de líquenes quer o córtex superior quer o inferior estão expostos à luz solar logo é nestes locais que as algas procuram situar-se. Mais uma vez neste líquene verificou-se que as algas tinham uma formas esférica e estavam aprisionadas por hifas. Quando observado com uma ampliação de 1000x este líquene não permitiu uma tão boa identificação das várias camadas visto que a camada algal se confunde com a zona medular devido à presença de hifas, e o córtex se apresenta quase transparente.
Este trabalho permitiu também dar importância à forma e ao rigor com que se fez o corte dos líquenes pois só foi possível uma boa observação microscópica depois de se ter conseguido um bom corte que teve de ser o mais fino possível sem que no entanto se estragasse a estrutura do líquene.
O trabalho prático realizado permitiu observar dois tipos diferentes de líquenes que se conclui serem claramente distintos, ou seja de tipos diferentes.
O primeiro líquen observado apresentou uma estrutura do tipo "córtex superior-camada algal-medula-córtex inferior" assim como apresentou rizinas pelo que se conclui que este líquene é do tipo foliáceo.
O segundo líquene observado apresentou uma estrutura distinta da primeira "córtex superior-camada algal-medula-camada algal-córtex inferior" e neste líquene já não foi observada a presença de rizinas, factos que levam a concluir que se trata de um líquen fruticuloso.
Este trabalho permite concluir também que a camada algal se encontra sempre entre o córtex e a medula que a protegem e fornecem às algas os nutrientes de que estas necessitam para a realização da fotossíntese. Foi também visível que as algas que se encontram nos fungos são esféricas e que se encontram aprisionadas por hifas fúngicas.
Conclui-se portanto que o líquene é uma estrutura simbiótica em que cooperam os fungos e as algas formando um ser bem organizado capaz de sobreviver em difíceis situações.
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