XXI

DOUTRINAÇÃO

 

Após a oração iniciou-se a doutrinação dos desencarnados. Apagaram as luzes para facilitar a concentração, evitando distrações visuais, proporcionando assim as projeções mentais que iriam agir com mais facilidade no mundo astral.

Encarnada sempre gostei de prestar atenção nas doutrinações aos desencarnados. Cada desencarnado tem sua história e algumas bem interessantes. Agora, vendo a orientação, o socorro do lado de cá, gostei mais ainda, é bem mais fascinante. Mas vendo tantos mutilados, muitos com sinais de torturas, fiquei um pouco apreensiva. Era um grupo que foi libertado do Umbral pelo trabalhadores do Centro, onde estavam presos como escravos. Alguns encontravam-se abobalhados, observei e senti dó. Maurício me disse baixinho:

—Patrícia, nada é injusto. Colhemos o que plantamos. A reação é de conformidade com a ação. Pelo menos dois destes espíritos devem falar pela incorporação um pouco de suas vidas. Verá que ignoravam os ensinamentos de Jesus. Viveram encarnados para o gozo, para a matéria e prejudicando o próximo. Dois deles foram feiticeiros ou macumbeiros, fazendo mal a irmãos por dinheiro. Usaram de desencarnados como empregados, estes os serviram, depois foi a vez de eles os servirem. Todos vão ser socorridos, curados e levados para recuperação ao hospital da Colônia.

Muitos dos necessitados seriam incorporados, entre eles muitos não sabiam que desencarnaram. Normalmente, comparando seus estados, o desencarnado com o encarnado, compreendem que o corpo físico morreu. Quando nós desencarnados chegamos perto de um encarnado, nota-se logo a diferença, a não ser que estejamos completamente iludidos e, não querendo aceitar a realidade, fingimos não perceber. Comparando-me com um encarnado, sinto-me leve, solta, o perispírito é um corpo muito mais delicado e sutil que o material.

Maurício, sabendo o que pensava, aproveitou para me esclarecer:

—Em Centro Espírita onde o Bem é a meta, a incorporação é feita para ajudar. O desencarnado necessitado de auxílio recebe orientação e cura nestes trabalhos de caridade. A percepção de estar encarnado ou desencarnado é essencialmente mental. Como há o medo da morte, do desconhecido, o desencarnado mantém-se iludido de que ainda está na carne. Mas há desencarnados que conhecem seu estado e gostam de incorporar. São os que ainda não se realizaram espiritualmente. O corpo mental encontra o prazer nas necessidades físicas. Estes são os que necessitam de uma orientação séria e honesta. Mas, enquanto não recebem, a maioria não quer nem receber ou mudar, incorporam em médiuns invigilantes, sem estudos, que não frequentam lugares que seguem a orientação de Kardec. Porque incorporados sentem florescer instantaneamente todos os desejos mundanos. Em muitos casos, fazem até certos favores a encarnados.

—Puxa! Não pensei que existissem desencarnados que gostassem de se sentir no corpo carnal!

—Os que idolatram a matéria, e gostam somente do prazer, e não da dor que o corpo possa sentir, gostam de incorporar. Mas prestemos atenção agora, as doutrinações começaram.

Dois do grupo de escravos que tanto me impressionou foram os primeiros a receber ajuda pela incorporação. De fato, falaram um pouco de si. Fizeram maldades, tendo oportunidades não fizeram o Bem nem a outros e nem a si mesmos. Este Bem a si mesmo é que tiveram oportunidade de aprender, instruir-se moralmente e religiosamente e não o fizeram. Viveram encarnados sem se preocupar com a desencarnação. Sem pensar que fossem obrigados a colher do que plantaram. Todos do grupo tiveram os perispíritos recuperados, curados, e ficaram numa outra fila para serem levados para a Colônia.

 Fiquei mais aliviada ao vê-los já sem sofrimento, desejei de coração que se recuperassem espiritualmente. Que a dor tivesse conseguido ensiná-los e que se voltassem realmente a Deus e se afastassem do mal.

O senhor que se assustou comigo foi despertado e recebeu através dos médiuns orientações; preocupado com suas dores, esqueceu que me viu. Numa comparação com o encarnado, entendeu que desencarnara. Foram também socorridos muitos espíritos que estavam com o perispírito lesado, necessitavam se harmonizar. Estes lesados eram os que se sentiam como encarnados com todas as suas doenças. A impressão é forte, o não entendimento da desencarnação faz que continuem doentes. Outros, o remorso destrutivo levou a lesar o perispírito. Como é imprudente a maioria dos encarnados! A morte do corpo não parece ser para eles, quando desencarnam e sofrem, desesperam-se, perturbam-se.

O moço com quem conversei antes ficou na fila. No começo parecia divertir-se, mas comportou-se educadamente. Depois, prestando atenção nas orientações que outros desencarnados recebiam, começou a chorar baixinho. Inteligente, entendeu que desencarnou. Lourenço veio em sua ajuda, abraçou-o e mimou-o como um nenê. Nos braços de Lourenço, ele recordou como desencarnou. Teve medo. Que seria dele? Lourenço mostrou-lhe o lugar para onde iria, seria levado para a escola na Colônia. Tranquilizou-se e adormeceu. Lourenço colocou-o na outra fila, não necessitaria de incorporação.

Ainda bem, não pude deixar de pensar, não deve ser agradável estar desencarnado e agir como encarnado. Infelizmente sei que com a maioria acontece isto. A desencarnação é natural e para todos. O corpo morre e a maioria sente-se perdida e perturbada. Pior ainda quando não fez boas ações, é terrível quando se fez muitas más. A desencarnação não pode ser muito diferente do modo de vida que tinha quando encarnado. Quem cultiva a matéria a ela fica preso, quem entesourou bens espirituais é um bem-aventurado no Plano Espiritual. Não se deve viver encarnado só pensando na morte, mas também não se deve ignorá-la. Não pensar na morte para si, e não entender que seja este fato tão normal, acarreta muitas perturbações, porque o perispírito é cópia exata do corpo, sente-se as mesmas necessidades até entendê-las e superá-las. Aquele moço achou ali, no Centro Espírita, o entendimento. Com os outros, seria levado à Colônia onde aprenderia a viver com desencarnado. O medo que teve foi do desconhecido. Que seria dele? Vem forte em muitos a idéia do inferno. Ao entender que não é tão complicado, o medo passa e vem a esperança.

Um homem desencarnado, que estava na fila para receber orientação, me chamou atenção. Estava imóvel, duro, sem se mover. Ao ser colocado perto de um médium, recebeu de um dos trabalhadores desencarnados uma carga magnética e também sentiu o calor do corpo físico. Sentia dores por todo o corpo, devagar, conseguiu mover alguns músculos. Alegrou-se por se mover, com ajuda do orientador encarnado conseguiu responder sua saudação.

—Boa noite!...

Vencendo as dificuldades, foi conseguindo falar. Quando encarnado foi orgulhoso, senhor de muitos bens, sua vontade era lei. Cometeu muitos erros. Gostava muito de si mesmo, de sua imagem, era forte e arrogante. Mandou fazer uma estátua sua. Realmente o artista a esculpiu muito bem. A estátua ficou linda. Foi colocada em uma praça para ele ser lembrado do benfeitor que foi. Porém, sempre há um porém, a morte veio destruir seus sonhos e ilusões. Desencarnou por um infarto. Não se conformou, queria estar encarnado. Inimigos o perseguiram por anos, aos poucos, foram abandonando-o. Mas o tempo passou e tudo mudou, sua casa, suas terras. Só a estátua continuava lá. E perto dela foi ficando, até que fez dela seu escudo, como se fosse seu corpo. Colou-se a ela. Sentiu seu corpo endurecer e não conseguiu mover-se mais e nem falar. Só escutava e via o que estava à sua frente. Fazia sessenta anos que desencarnara.

O orientador pediu para ele rogar perdão ao Pai e que fizesse um propósito de viver conforme as lições do Mestre Jesus. Ele o fez. Estava sendo sincero. A dor lhe cansou e não tinha mais nenhuma razão para ter orgulho.

Foi caminhando, embora apoiado por um socorrista, à fila que iria para a Colônia. Também iria para um hospital. Chorava, suas lágrimas corriam abundantes fazendo-lhe bem.

O orgulho e a arrogância são duas chagas que acabam por sangrar, trazendo muitos sofrimentos.

Com grandes proveitos encerraram-se as doutrinações. Todos os socorridos foram conduzidos ao aeróbus para serem transportados à Colônia. Este fato acontece na maioria dos Centros Espíritas. Mas pode ser que socorridos sejam levados a Postos de Socorro e, em outros Centros, podem ficar em locais de amparo, socorro, pequenos hospitais nos Centros mesmo.

Foi feita a Oração de Cáritas e de encerramento. Os trabalhadores desencarnados do local jogaram fluidos, energias benéficas sobre os presentes. Maurício novamente elucidou-me.

—Os encarnados e mesmo grande parte dos desencarnados ainda não vivem a fé, a fidelidade com Deus; porque, se tivessem a fé, cada indivíduo seria um pólo dinâmico de energias balsamizantes, harmoniosas e curativas. Mas, como ainda não chegamos lá, ao final da reunião há uma união mental entre os responsáveis por este local. Consequentemente eles projetam energias mentais, plenas de luz, paz e afeto, saturando o ambiente e as pessoas de vitalidade. Esclareço que estas energias só permanecem quando sustentadas por quem as emite. Apesar de todo o ambiente estar assim saturado, só se beneficiam aqueles que através do sentimento afetivo sintonizam-se com estas vibrações de amor e afinidades espirituais.

Estes fluidos, energias, são maravilhosos. Muitos desencarnados choraram emocionados. Parece uma chuva fininha colorida que cai do teto, iluminando suavemente o local, o aroma é agradável. Concentrei-me e abri meu coração, quis receber. Por segundos senti-me molhada, senti a luz entrando nos meus poros, é uma alegria indescritível.

A reunião terminou, acenderam as luzes. Os encarnados conversaram amigavelmente, aproximei-me de minha mãe e a beijei, depois, papai. Saíram todos, os encarnados apagaram as luzes e fecharam o local. Mas não ficou escuro no Plano Astral. O trabalho continuaria por muitas horas. Minutos após, Maurício me chamou para voltarmos à Colônia. Ainda não sabia volitar até a Colônia sozinha. Lourenço nos acompanhou. Para sair da Colônia, os internos necessitam de autorização. Os que já têm conhecimento e trabalham são chamados de moradores, estes também necessitam de autorização. Só transitam sem esta autorização os que trabalham nos dois planos, na Crosta e na Colônia. Todas minhas vindas ao Plano Físico eram com permissão, e só depois de muito tempo é que pude vir sozinha. As Colônias são lugares seguros, de paz, saturadas de energias edificantes. Entre os encarnados as energias são heterogêneas e podem ser perigosas para alguns desencarnados que não estão preparados.

Estava feliz. Queria aprender a ser útil, sabia que não basta só vontade para servir, necessitava saber. Sempre amei o Centro Espírita, a Doutrina Espírita. Ter assistido a uma reunião proveitosa alegrou-me mais ainda. Olhando o firmamento com suas inúmeras estrelas, agradeci a Deus. Tinha muito que agradecer, nada a pedir, mas roguei: “Pai, alimenta minha vontade de aprender e de ser útil.”

Volitar é tremendamente agradável...


XXII

HOSPITAL

 

Visitei o Laboratório onde nosso amigo Antônio trabalha (Antônio é um dos personagens do livro Reparando Erros, de Antônio Carlos.). Ele é um estudioso e pesquisador. O Laboratório (assim o chama) é um lugar de estudos, grande e muito bonito, onde fazem remédios. São drogas que colocam em águas para tratamento a desencarnados e para os encarnados. O Laboratório fica na parte dos fundos do Hospital da Colônia São Sebastião. Normalmente, todas as Colônias têm esta parte laboratorial. São seis estudiosos que trabalham lá. Antônio tem o maior carinho e orgulho deste recanto. Recomendou-me ao entrar:

—Menina Patrícia, preste atenção e não esbarre em nada.

Mostrou-me tudo. Eles pesquisavam novas fórmulas de remédios. No momento que os visitem, estavam empenhados pesquisando um tratamento mais eficaz para desintoxicar desencarnados viciados em tóxicos. Os viciados socorridos ficam na ala do hospital perto do Laboratório.

Antônio e seus colegas trabalham e estudam muito. Amam o que fazem. E muitos encarnados pensam que os desencarnados não trabalham, nem estudam, ou pesquisam. Como Deus é misericordioso não nos dando a nós, desencarnados, a ociosidade.

—Antônio, — indaguei — este remédio só serve para os desencarnados se desintoxicarem?

—Estamos pesquisando para este fim. É triste ver estes irmãos sofrerem. Mas nada nos impede de estender também a ajuda a encarnados intoxicados.

—E aí, como fazem para que os encarnados tenham este tratamento?

—Bem, sempre que descobrimos um remédio, uma nova fórmula de tratamento, podemos passá-la a encarnados estudiosos e afins. Também socorristas que trabalham em ajuda a viciados podem administrá-los a estes.

Fiquei fascinada com este local de estudo e pesquisas.

Conheci também o lar de Antônio Carlos, ou seu recanto, como o chama. Ele gentilmente me levou. Mora em outra Colônia tão bonita e agradável como a de São Sebastião. Aliás, todas as Colônias são lindas! Ele mora com uma de suas filhas numa casa muito bonita. Recebeu-nos festivamente.

—Papai não pára aqui — disse Neuzeli. — Diz que mora aqui, mas vem só a passeio.

Sorrimos alegres.

O recanto do Antônio Carlos é um quarto na casa que tem uma estante abarrotada de livros, uma escrivaninha, uma cadeira e um pequeno sofá.

—Aqui escrevo a maioria dos meus romances — explicou. —Venho aqui quase só para escrever.

—Você não escreve também na Casa do Escritor? (Casa do Escritor é uma pequena Colônia dedicada à Literatura construtiva.)

—Sim, tenho lá também uma sala que utilizo. Tenho muitos afazeres, graças a Deus.

Antônio Carlos é uma pessoa estimadíssima, alegre, instruída e simples. Foi um passeio agradabilíssimo.

Visitei Carlos é uma pessoa estimadíssima, alegre, instruída e simples. Foi um passeio agradabilíssimo.

Visitei o hospital com Maurício. Ele foi trabalhar e me levou. Hospital é sempre hospital. Não é lugar de alegrias, também não é de tristezas, sim de esperanças. É grande, enorme. Os hospitais das Colônias são normalmente enormes. As Colônias grandes têm vários hospitais repartidos em alguns dos seus ministérios. Nas Colônias médias e menores, normalmente há um hospital, mas sempre grande. Os imprudentes são muitos. Nas Colônias seus governantes dão muita atenção ao bem-estar, à saúde espiritual de todos seus abrigados. Governantes? Sim, porque em todos os locais, até no Plano Espiritual, tem alguém responsável que orienta e administra para o melhor bem-estar de todos.

É sempre bom visitar um hospital, seja no plano material ou Espiritual. Passamos a entender melhor e ver com devido tamanho nossos problemas e despertar em nós a necessidade de fazer algo em favor dos que sofrem.

Maurício ama o hospital, hospitais são o lar dele.

O Hospital de crianças está na parte do Educandário e é muito bonito e simples. Também é grande. Nele ficam crianças e jovens em recuperação. Normalmente não trazem enraizadas doenças, e os reflexos deles são mais fracos. Logo estão bem.

O hospital que visitei é para adultos. Conheci a parte destinada aos doentes em estado melhor. Maurício me disse que tinha muito tempo para conhecê-lo todo, o restante ficaria para mais tarde. O hospital é cercado por jardins e canteiros floridos, com bancos confortáveis onde os internos em recuperação passeiam e conversam.

—Maurício, você mora aqui?

—Não, tenho meu cantinho na Terra, no Posto de Socorro do Centro Espírita. Trabalho lá e aqui.

A frente do hospital é muito bonita, com grandes pilares. É pintado de branco e bege claro. (As Colônias e Postos de Socorro têm seus prédios pintados diferente do Plano Físico. Após serem plasmadas, as cores não desbotam ou envelhecem. Tudo continua novo, sustentado por aqueles que plasmaram. Só mudam de cor se, por algum motivo, o querem. As Colônias têm seus prédios com cores claras, nem todos têm as mesmas cores, como também diferenciam por todo o Plano Espiritual.) Na entrada está a recepção. Ali é informado todo o andamento do hospital, desde onde se acham os trabalhadores e quem são os internos.

O hospital tem muitas dependências, ou partes, ou alas, ou pavilhões. As partes são chamadas aqui, nesta Colônia, de alas. Digo nesta Colônia, porque as designações variam de loca. As alas repartidas são designadas por letras e números. A, B, C. 1, 2, 3... Na ala direita nos fundos, estão as moradias de alguns de seus trabalhadores. As enfermarias são salas grandes com banheiros e bem ajeitadas, não são todas do mesmo tamanho, umas são maiores, outras menores. Existem enfermarias masculinas e femininas.

Após  a recepção, há o Salão da Oração ou Prece, onde internos oram independente da religião que tiveram quando encarnados. Neste Salão há somente cadeiras confortáveis, suas paredes são brancas e sem adornos. Na frente há uma parte mais alta, onde, em certas horas do dia, orientadores fazem oração em voz alta. Muitos internos imaginam nesta parte mais alta, dez centímetros, altares, imagens, oratórios, etc., que gostam e onde costumavam orar. Neste Salão há uma quantidade muito grande de fluidos salutares, beneficiando os que oram. Na frente do Salão de Orações, há uma pequena biblioteca que os internos livros doutrinários, O Evangelho para os que querem ler.

Infelizmente são muitos os que estão internos e o tempo de permanência depende deles mesmos.

Segui Maurício que ia explicando o que tinha em cada ala. Entramos numa enfermaria. Estava em zunzunzum. Conversavam entre si. Quando entramos, todos se calaram e olharam amorosamente para ele. Com carinho e atenção, foi de leito em leito. Conversava, sorria, animava e esclarecia. Fiquei ao seu lado só observando. Quando saímos da primeira enfermaria, indaguei.

—Por que pararam de conversar com a sua chegada?

—Talvez porque sabem que lhes dou atenção e carinho. Por que você não tenta me ajudar?

—Vou tentar. Maurício, o hospital recebe muitas visitas?

—O hospital recebe visitas de grupos de estudos e de pessoas como você que querem conhecer e aprender. Os internos também são agradecidos pelas visitas. A maioria dos internos recebe visitas, em dias e horários próprios, de amigos e parentes. Estas visitas lhes são muito agradáveis.

A enfermaria seguinte era feminina. Pus-me a ajudar, ajeitei-as no leito, indaguei como estavam. Só de ter alguém para falar de suas mágoas e queixas, sentem-se melhores. Fui com Maurício a cinco enfermarias. Cansei. Pela primeira vez na Colônia senti-me cansada.

—Patrícia, agora chega — disse Maurício. — Por hoje me ajudou muito. Orgulho-me de você. Logo estará descansada. Desprendemos muita energia ao lidar com necessitados. Vá para casa, alimente-se e faça exercícios para recuperar as energias.

—Você não se cansa?

—Não, tenho muitos anos de prática e muitos conhecimentos a mais que você. Irá aprender com o tempo. Você, como já disse, me ajudou bastante.

Sabia que Maurício estava sendo gentil, mas fiquei contente. Ele acompanhou-me até a saída e voltou, ainda tinha muito o que fazer no hospital.

Sempre que fazia algo de útil, ficava alegre. Pensei: se papai souber, ficará contente e mamãe achará o máximo. Voltei devagar apreciando as ruas e as pessoas que por elas transitavam. É tão bonito, agradável andar pela Colônia! Cheguei em casa e já estava descansada e sentindo-me muito bem.

No outro dia, iria a uma reunião da Escola onde trabalhava. Este trabalho me enchia de alegria. Falar aos amigos com quem trabalhava me dava segurança e contentamento.

Estava curiosa para saber de que tratava a reunião.

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