XXV
SENTINDO AS DIFICULDADES
Visitei, com Maurício, meus pais. Ao chegar em casa, assustei-me. Al lado de minha mãe estava um espírito perturbado na maldade. Feio, sujo, com cabelos e barba crescidos, olhos verdes grandes e olhar cínico. Tentava incutir na minha mãe a idéia que eu sofria. Falava rindo, olhando-a fixamente.
—Patrícia sofre no Umbral. Está infeliz sua filha. Chora chamando por você. Que lhe valeu ser boa, ser espírita? Isto não impediu que ela morresse. Ela sofre!
—Ora, — falei indignada — que maldoso!
Achei que Maurício fosse retirá-lo, porém meu amigo não fez nada. Olhei suplicando sem nada pedir.
—Patrícia, nós desencarnados não podemos fazer o que compete aos encarnados, mesmo amando-os demais. Sua mãe sabe lidar com estes irmãos infelizes. Ele lhe fala, mas escuta também. Ela pode responder e orientá-lo ou simplesmente não lhe dar atenção.
—Não posso ajudá-la?
—Você sabe?
Senti-me impotente e desejei mais que nunca aprender. Pensei por segundos, só sabia neutralizar forças nocivas com orações. Era o bastante. Concentrei-me e orei com fé para este irmão. Ele inquietou-se e saiu rápido da nossa casa. Aproximei-me de mamãe, falei a ela:
—Mamãe, sou feliz! Não dê atenção a aqueles que a querem perturbar. Amo-a!
Mamãe sentiu-se bem e foi com alívio que escutei seu pensamento. “Patrícia está feliz! Não vou mais pensar o contrário”.
—Ele voltará? — indaguei a Maurício.
—Acho que sim. Se voltar, sua mãe é livre para escutá-lo ou não. Confiemos no seu bom senso.
Fomos ver meu sobrinho. Ele estava adoentado, não dormira à noite, sentia os fluidos nocivos de encarnados e desencarnados. Como criança é sensível, sentia muito. Por momentos, fiquei triste.
—Patrícia, tristeza não ajuda — Maurício me orientou. — Ore por ele, e lhe dê um passe, disperse estar energias negativas.
—Coitado, tão pequeno e sofre! Sinto-me impotente para ajudá-lo.
—Não pode sofrer no lugar deles. Cada um tem a lição para fazer que compete ao seu aprendizado. É por isso que nem todos desencarnados conseguem autorização para visitar encarnados queridos. Necessitam para estas visitas estar aptos, conscientes dos problemas que poderão encontrar. Ver entes queridos sofrendo não é fácil, principalmente sabendo que nem sempre é possível ajudá-los.
Dias depois, meus pais foram visitar minha tia. Maurício e eu fomos vê-los. Meu pai estava recebendo muitos ataques das trevas e, com ele, todos de casa. Mais que nunca esta frase veio à minha mente, como certa: “Onde há luz, as trevas tentam apagá-la”.
Minha priminha sensitiva estava preocupando a família. Nenhum espírito estava perto dela, irmãos perturbados não entravam na casa de minha tia. Mas eles podem agir de longe e estavam fazendo. Concentravam-se nela e faziam parecer que estava obsedada. Ela estava chorona e irritada. Faziam com que ela tivesse hábitos que eu tinha quando encarnada. Queriam que pensassem que era eu que a obsedava. Meu pai concentrou-se, orou, deu passes nela destruindo o vínculo que a ligava a estes irmãos nas trevas do erro. Ela voltou ao normal.
Fiquei preocupada. Maurício me esclareceu:
—Patrícia, estes irmãos necessitam de orientação e vamos doutriná-los nas reuniões de desobsessão.
—Mas, enquanto isto, irão perturbar.
—Os encarnados sabem se defender. Não viu seu pai orar e desintegrar pela força mental o que eles construíram? Ainda teremos estes irmãos como amigos.
Vendo-me um pouco decepcionada e indignada, Maurício continuou esclarecendo-me.
—Emmanuel disse sabiamente em um de seus, ditado ao Chico Xavier: “Ninguém socorre um náufrago sem sofrer o chicote das ondas”. A luz sustentada na fé e na sapiência se fortalece com ataques contra. É com seus sopros que a engrandece. Um perturbador pode nos induzir ao mal. Neste ambiente hostil, o encarnado pode ceder e agir em oposição às leis divinas. O espírito perturbador pode nos fazer mal, sofremos com seu assédio. Presença esta que pode nos atingir até o corpo físico, mas em momento algum ele pode nos tornar maus. É neste ambiente hostil que o servo bom e fiel fortifica e consolida a sua vivência para Deus. Por isto, se impedirmos que um ente querido seja testado quando ele aqui estiver, pode acontecer que se sinta frustrado pois não tem certeza se, passando novamente pela mesma situação, terá forças para superá-la. Porque, Patrícia, há uma grande ilusão em muitos crentes quando esperam um céu sem problemas. Oposição e composição fazem parte da atividade da criação Divina. Dialogando sobre este ponto, me vem à lembrança o chamamento do grande mestre: “Vinde a mim todos os que andais em sofrimento e vos achais carregados, eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para vossas almas. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.” (Mateus, XI:28-30)
Meu amigo fez uma ligeira pausa e continuou a me elucidar.
—Veja bem, Ele não nos induz a pensar que nos irá proporcionar uma vida ociosa, mas, sim, que aprenderemos com Ele que as dificuldades que porventura venhamos a passar não devem ser vistas como castigo, mas sim como situações que nos põem à prova. Se vencidas, provamos o sabor da vitória sobre nossas inferioridades, se sucumbirmos, provamos o fel da derrota moral. Veja bem, o seu caso: nasceu numa família igual a milhares de outras. Veio ao mundo físico, partiu e não deixou marcas. Você, ao ler e ouvir orientações sobre o aprimoramento da personalidade, acordou para o desenvolvimento do potencial humano de ser bom conscientemente, por livre e espontânea vontade. Você sente, saberá com detalhes no futuro, que teria um final de vida no corpo físico mais ou menos difícil. No entanto, com seu constante exercício na atitude do Bem quitou suas dívidas passadas, desencarnou tranquilamente. Na verdade, nem viu esta passagem, quando acordou estava entre amigos.
Maurício silenciou e fiquei a pensar. Meu amigo tinha razão, agradeci com um sorriso sua preciosa lição.
Voltamos à Colônia, pensei bem em tudo que vi e ouvi de Maurício. Só então entendi o porquê de muitos internos na Colônia não terem autorização para ver seus familiares. Ao vê-los felizes, nos alegramos. Ao vê-los em dificuldades, temos que ser fortes, porque, às vezes, só nos resta chorar junto.
Sei de muitos casos tristes que ocorreram com internos da Colônia ao visitar familiares. Porque não é fácil para uma mãe ver seus filhos pequenos órfãos, às vezes jogados na rua ou com madrasta a lhes judiar. Ou para um pai ver seus filhos brigarem pela fortuna, ou um filho roubando o outro. E a filha ou o filho verem os pais maldizerem a Deus pelo seu desencarne. Não é fácil saber aqui, desencarnado, de traições e que entes queridos se afundam no vício. Necessitam os desencarnados estar preparados, firmes no conhecimento para superar estes fatos. Porque, não estando aptos, podem se desesperar. Mesmo para os que aprenderam a amar todos como irmãos, os que pelo estudo e trabalho se tornam moradores na Colônia, servos do Pai, sentem os sofrimentos daqueles a quem amam. Só os que sabem entendem que tudo tem razão de ser, que mesmo os amando não podem interferir no livre-arbítrio deles, e que a colheita pertence a cada um.
Nestes momentos solidários com o sofrimento de entes queridos, me vem à memória o aparente desabafo do gigante e genial Nazareno, na sua célebre frase: “Ó geração infiel e perversa! Até quando estarei convosco e vos sofrerei”? (Lucas, IX:41)
Eu, tantas vezes desejei ardentemente nestes anos ajudá-los, sofrer no lugar deles. Mas não se pode fazer a lição do outro. Aquele que faz a lição que cabe a outro, impede-o de aprender. No meu entendimento se comete uma grande falta de caridade privar alguém de aprender. Assim, sempre que os sinto com problemas, oro, mando fluidos de coragem, incentivando-os a aproveitar do melhor modo o aprendizado. As dificuldades vencidas nos impulsionam ao progresso, Problemas resolvidos, lições aprendidas.
XXVI
TRABALHANDO COM FREDERICO
Estava orgulhosa por receber meus bônus-horas. Todos os trabalhadores têm período de descanso, mas os que querem trabalhar neste período ganham dobrado. Não estava necessitando de descanso. Entusiasmada passei a trabalhar muitas horas com Frederico.
Quando trabalhava muito, sentia-me cansada, mas logo me refazia.
Meu amigo tem uma sala na parte do hospital onde estão os internos melhores. Para que vocês entendam: ele fazia um trabalho de psicólogo ou de psiquiatra. Continuava como uma secretária a organizar horários, fichas e encaminhando os pacientes. Enquanto eles conversavam com Frederico, ficava sem fazer nada.
—Patrícia, — Frederico me convidou — você não quer entrar na sala e ficar a ouvir, a fim de aprender o que traz estes nossos irmãos a conversar comigo?
—Sim — respondi contente.
Percebi então os muitos problemas que tem a maioria desencarnada em tratamento. Escutava sem nada dizer, às vezes me dava vontade de rir, outras me emocionava. Como dizia vovó, nada como ajudar para compreender. Vendo, sentindo problemas dos outros, dei graças ao Pai por não tê-los, por não tê-los criado para mim.
A maioria dos problemas dos daqui são os que ficaram aí, ou seja, relaconados com os encarnados. Pediam para visitar os familiares ou ajudá-los. Só que não se consegue auxiliar, encontrando-se ainda entre os necessitados de ajuda.
Quase todos falavam de sua vida encarnada e como desencarnaram. Frederico escutava atencioso indagando de vez em quando. Uns reclamavam do choro dos familiares que os incomodava. Outros pediam orientações de como fazer para não escutar os lamentos e chamados dos entes queridos.
—Deve-se orar por eles — falava calmamente Frederico —, ter paciência, o tempo passa, suavizando.
Meu amigo respondia a todos, orientando-os com sabedoria. Também anotava os endereços dos casos mais aflitivos. Quando finalizava o horário de atendimento, Frederico ia às residências anotadas, tentava orientar, ajudar os encarnados, motivando-os a se consolar e deixar de perturbar seus entes queridos.
Mas havia queixas diferentes. Uns julgavam-se esquecidos, principalmente pelo cônjuges. Foram alguns pedidos para voltar, e até no corpo físico. Não queriam reencarnar, nascer num outro corpo. Queriam o deles mesmo. Um até pediu para voltar uns dez anos mais moço.
Às vezes, pensava que Frederico não iria sair daquela. Mas ele, como grande conhecedor do espírito humano, falava educadamente, com tranquilidade, convencendo os entendidos. Alguns não gostavam das respostas, mas acabavam convencidos. Muitos voltavam muitas vezes, até superar seus problemas ou parte deles. Porque infelizmente muitos se fixavam tanto nos seus problemas que não viam mais nada, e outros gostavam de tê-los, necessitando de maior tratamento.
Narro alguns casos, não por curiosidade mas para que sirvam de lição a todos nós.
—Veja bem, Dr. Frederico — disse um senhor. —Verá com o que lhe digo, o senhor me dará razão. Sempre fui muito trabalhador, tive posses. Honesto, nem sempre. Não posso mentir, sei que não iria enganá-lo. Só tapiei alguns trouxas nos negócios. Minha primeira esposa me ajudou muito, não tivemos filhos, ela desencarnou e casei com outra. Minha segunda esposa é linda, tivemos filhos. A danada me traiu e, quando descobri, fui matar o safado e foi ele quem me matou. Quero voltar e tirar os filhos dela. Não quero vingança. Sofri muito querendo vingar, já perdoei os dois. Meus filhos irão se perder com ela, irão errar, tenho a certeza. Não quero ir como desencarnado, eles não me verão. Não dá para o senhor fazer com que eu volte?
Frederico, bondosamente, tentou esclarecê-lo.
—Meu irmão, quando encarnado, você viu alguém desencarnado voltar com o corpo morto? O seu corpo após tanto tempo já é pó. Isto é impossível! Lembro-o que todos têm como encarnados oportunidades de seguir o Bem. Seus filhos não estão desamparados por Deus. Você pode ajudá-los.
—Mas eles não me darão crédito. Não irão me dar atenção.
—Não desanime sem tentar. O senhor já leu a Parábola de Lázaro e o rico?
—Já, a do Lázaro pobre e do rico que morreu e quis voltar para avisar seus irmãos e não pôde.
—Leia novamente com atenção.
—O senhor não pode me ajudar?
—Posso. Irei, por você, tentar ajudar seus familiares.
—Queria mesmo voltar encarnado e tirar meus filhos dela e educá-los melhor.
—Meu irmão, você já reencarnou muitas vezes. Se voltasse recordando talvez tentasse mudar. Mas esquecendo, erraria de novo. Por que não se fortalece nos ensinos da boa moral?
O senhor saiu não muito satisfeito.
—Frederico — falei — parece incrível escutar este pedido. Pensei que desencarnados tivessem mais consciência.
—Deveriam ter, mas desencarnados não diferem muito dos encarnados. Não se torna melhor pelo desencarne. Torna-se melhor quando se aprende. Este senhor não se preocupou quando encarnado em educar os filhos, agora é sincero, se preocupa com eles, mas tardiamente. Parece com o rico da parábola que recomendei que lesse com atenção.
—E fez um pedido mais incrível ainda, voltar com seu corpo.
—Embora saibam ser impossível, tentam. Se isto fosse possível seriam muitos a voltar.
—Ainda bem que não é.
Frederico foi ao lar terreno dele e fez o possível para chamá-los à responsabilidade. No dia seguinte, tranquilizou este senhor. Disse que a esposa estava sendo boa mãe, pelo menos, amava os filhos. Ele resolveu seguir os conselhos de Frederico. Melhorar, aprender para poder no futuro tentar ajudar os filhos.
Uma mulher, com expressão sofrida que dava dó, disse lacrimosa:
—Dr. Frederico, não quero parecer ingrata. Desencarnei, sofri muito, vaguei pelo Umbral, fui socorrida e me sinto melhor. Porém... É que não gosto do Umbral, tenho horror a ele, não quero vagar e... Não quero ficar aqui. Não gosto daqui. Tratam-me bem, mas recebo um tratamento igual a todos. Não posso comer carnes, não posso tomar meus aperitivos. Detesto estar desencarnada! Queria morrer mesmo. A morte não é como esperava. Se pelo menos tivesse o céu.
—Será que, se tivesse o céu como pensava, a senhora iria estar nele?
A senhora não respondeu. Estranhei, era a primeira pessoa que ouvia diretamente dizer que não gostava da Colônia. Frederico continuou:
—A senhora está insatisfeita consigo mesma. O que a Colônia pode lhe oferecer é isto que recebe. Enquanto muitos são felizes aqui, há os descontentes como a senhora. Que quer realmente?
—Não sei. Não queria ter desencarnado, mas também não gostava da minha vida encarnada. Talvez se reencarnasse rica, linda e inteligente.
—Para fazer o quê?
—Ser feliz, gozar a vida.
—Por quanto tempo?
—Se soubesse não estaria aqui — disse sem paciência.
—Minha irmã, já tentou ser feliz trabalhando, sendo útil?
—Não.
—Já experimentou sentir alegria em ajudar o próximo? A senhora necessita se amar para aprender amar o próximo. Deixar de ser uma necessitada e ser útil. Aqui na sua ficha está anotado que está bem. Por que não se dispõe ajudar?
—Acho tão difícil...
—Amanhã voltará para conversamos melhor. Tente hoje ser útil por duas vezes.
A senhora saiu como entrou, lacrimosa.
—Frederico — indaguei — ela queixa-se de estar na enfermaria. Por que tive um quarto só para mim?
—Patrícia, Jesus recomendou-nos que vivêssemos encarnados entesourando bens espirituais, dando valor na parte verdadeira, a que nos acompanha após a morte do corpo. Todos que fizeram o que Jesus recomendou acham não merecer este simples tratamento que é ser alojado por um curto período num quarto individual. Para estar, estar aqui é venturoso. Alguns imprudentes, orgulhosos, não gostam de se misturar, esquecem que são irmãos de todos e que o Pai é um só. Chegam aqui tais como mendigos e alguns a exigir regalias que não fizeram por merecer.
Aos poucos esta senhora foi mudando, Frederico tudo fazia para que entendesse que só o Bem a faria feliz. Ela começou a fazer pequenas tarefas, mas resmungando. Frederico me disse que os orientadores da Colônia iam tentar ajudá-la para que vencesse a ociosidade ou ela teria que reencarnar. A Colônia não abriga ociosos.
Um senhor, aparentando trinta e cinco anos, entrou na sala um tanto envergonhado.
—O doutor me ajudaria? Gosto daqui, quero ficar, mas sinto falta de sexo.
—Você gosta daqui porque solucionou um dos pesos que aflige o ser humano, que é a disputa da sobrevivência. Aqui recebe muito, até os reflexos de sua doença estão sendo superados. Está abrigado, alimenta-se, não sente frio ou calor, enfim está acomodado. Mas, ao mesmo tempo, você anseia pelas satisfações que o mundo físico lhe proporcionava. Sente falta somente dos que julgava bons, dos prazeres. Vou ajudá-lo. Para você não ser atingido por estes ecos de satisfações do mundo físico de qualquer circunstância, é necessário que eleja com toda sua força e atenção um objetivo aqui no mundo Espiritual que agora vive, e que a ele se dedique com toda sua alma. Neste sentido, as energias que hoje lhe trazem um eco do passado se dirigirão para este novo objetivo. Aconselho-o a ser útil, a trabalhar, a estudar, a interessar-se em fazer o Bem a tantos irmãos daqui mesmo, aos alojados na outra parte do hospital, que sofrem. Assim estará liberto parcialmente dos ecos das satisfações do mundo físico, no seu caso, do desejo sexual.
Já havia escutado uma mulher queixar-se do mesmo assunto e Frederico ter-lhe dito que se voltasse com carinho a uma atividade, trabalho ou estudo, que estaria parcialmente liberta destes desejos. Este senhor era o último atendimento do dia. Tendo tempo, indaguei a Frederico, querendo aprender:
—Por que parcialmente e não plenamente, se aqui na realidade não se tem necessidade destas funções?
—O apego ou escravidão a qualquer uma das funções, gula, sexo, mentir, muito falar; os vícios, tanto aparentemente inofensivos como os prejudiciais na visão da sociedade, fazem parte da busca incessante do homem em preencher seu vazio físico.
O Homem é a soma de todas as experiências pelas quais a humanidade vem crescendo através dos incontáveis milênios de que temos notícias. O primeiro sentido a se manifestar foi o tato e através dele é que o homem teve seus primeiros prazeres. O segundo, o grande, da sobrevivência, alimentar e procriar. Mas, falando especificamente da procriação, porque as outras estão no mesmo plano. Este é o maior dilema do homem, porque condenam o sexo promíscuo, mas não ensinam ou explicam por que o homem tem. Se ele é mau por que o possui? Se ele é bom, por que o reprimir? A chave da questão está na sua fonte. Se você pegar um rio e no meio do seu curso erguer um dique, você quer que as águas não corram mais naquele leito, seu trabalho será constante, terá que forçar o dique todos os dias. Elas ficarão represadas a cada dia com mais força e poder de pressão. Se descuidar, romperá o dique e sua ação devastadora será mil vezes maior do que quando estavam no seu curso normal. Da mesma forma é esta fabulosa energia vital. No seu primeiro impulso ela seduz o homem com prazer para garantir a perpetuação da espécie humana. O homem então se torna escravo desta energia. Um mero reprodutor da espécie. Mas como a prole pesa aos ombros dos seus genitores, a sagacidade da inteligência, não querendo abster-se do prazer. Outros homens por devoção ou crença abstêm-se do uso desta energia. Pode acontecer de em futuro próximo arrebentar e produzir mais estrago ou adormecer a energia secando este leito com prejuízo dele mesmo.
Alguns poucos, em vez de fazer dique ou amortecer esta energia, remontam à fonte vital. Procuram saber de onde nasce esta energia que é capaz de fazer nascer o ser vivente e inteligente. Reconhecendo que ela nasce do próprio eterno, desviam-na do leito do prazer mundano que proporciona a perpetuação da espécie, dirigem-na para a espiritualização do indivíduo, proporcionando, assim, a perpetuação da alma. A libertação não se faz pela repreensão, mas sim pela compreensão do que o homem é. Baseado nisto, usa-se toda a energia que o sustenta no sentido de possibilitar que se renasça o novo homem como cidadão cósmico. Não mais interessado nos prazeres egoístas, mas sim na glória da manifestação de Deus no homem e todos seus filhos.
Não poderia, Patrícia, falar isto que lhe falo àquele senhor, ele não entenderia. Está ainda escravo de vícios, se ele tiver um objetivo maior, ficará liberto parcialmente, só estão libertos plenamente os que fizeram como exemplifiquei. Ele não entenderia, como assim poucos compreendem o que Paulo de Tarso disse: “A natureza sofre e geme dores de parto até que nasça o filho do homem”.
Depois de alguns dias trabalhando com Frederico, em que aprendi muito, indaguei se ele gostava do que estava fazendo.
—Há tempo, Patrícia, estudo o comportamento do ser humano em todas suas faces. Não há trabalho que não goste. Sou feliz em ajudar.
Tantos fatos diferentes vi nestes poucos meses de desencarnada. O que será que os encarnados pensarão ao ler tudo que narro? Irão rir? Pasmarão? Vão descrer? Só desencarnando para conferirem.