ver a queda frutífera dos pinhões sobre o gramado e não a queda do operário dos andaimes e o sobe-e-desce de ditadores nos palácios. Disto eu gostaria: ouvir minha mulher contar: -Vi naquela árvore um pica-pau em plena ação, e não:-Os preços do mercado estão um horror! Disto eu gostaria: que a filha me narrasse: -As formigas neste inverno estão dando tempo às flores, e não:-Me assaltaram outra vez no ônibus do colégio. Disto eu gostaria: que os jornais trouxessem notícias das migrações dos pássaros que me falassem da constelação de Andrômeda e da muralha de galáxias que, ansiosas, viajam a 300 km por segundo ao nosso encontro. Disto eu gostaria: saber a floração de cada planta, as mais silvestres sobretudo, e não a cotação das bolsas nem as glórias literárias. Disto eu gostaria: ser aquele pequeno inseto de olhos luminosos que a mulher descobriu à noite no gramado para quem o escuro é o melhor dos mundos. |