Letra: Ferida Exposta ao Tempo



      É forçoso dizer que me faz falta
      o poema que existe e nunca li,
      como se alhures
      brotassem coisas que não vi
      e que distantes,
                              carentes,
      dependessem de mim.

      Algo como se o intocado fosse a sinfonia
      inacabada, mais:rasgada
      como o quadro nunca esboçado, perdido
      na abatida mão do artista.

      O ausente
                   é uma planta
                  que na distância se arvora
      e é tão presente
                 quando o passado que aflora.

      E a literatura, mais que avenida ou praça
      por onde cavalga a glória, é um monumento,
      sim, de dúbia estória: granito e rima,
      alegoria ao vento, lugar onde carentes
      e arrogantes
                        cravamos nosso nome de turista:
                        -estive aqui, desamado,
                        riscando a pedra e o tempo
                        expondo meu sangue e nome
                        com o coração trespassado.


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