O suicida



      O suicídio
      não é algo pessoal
      Todo suicida
                 nos leva
      ao nosso funeral

      O suicida
      não é só cruel consigo.
      É cruel, como cruel
      só sabe ser
                 - o melhor amigo.
      br> O suicida
      é aquele que pensa
      matar seu corpo a sós
      Mas o seu eu se enforca
      num cordão de muitos nós.

      O suicida
      não se mata em nossas costas.
      Mata-se em nossa frente
      usando seu próprio corpo
      dentro de nossa mente.

      O suicida
      não é o operário
      É o próprio industrial, em greve.
      É o patrão
      que vai aonde
      o operário não se atreve.

      Todo homem é mortal.
      Mas alguns, mais que outros,
      fazem da morte
                 - um ritual

      O suicida, por exemplo,
      é um vivo acidental.
      É o general
      que se equivocou de inimigo

      e cravou sua espada
      na raiz do próprio umbigo.
      Mais que o espectador
      que saiu no entreato,
      o suicida
                 é um ator
      que questionou o teatro.

      O suicida
      é um retratista
      que às claras se revela.
      Ao expor seu negativo,
      queima o retrato
                 - e se vela.

      O suicida, enfim,
      é um poeta perverso
      e original
      que interrompeu seu poema
      antes do ponto final.


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