por Antoninha Santiago de Florianópolis Affonso Romano de Sant'Anna sempre foi um poeta preocupado em abrir espaço para a sua produção. Quem não se lembra, nos anos 80, da participação do escritor durante o Jornal da Globo? Nesta época, a polêmica em torno do "poeta global" foi grande. Outra incursão de Affonso Romano na MPB lhe garantiu espaços em discos de Martinho da Villa e do cearense Fagner. Recentemente, teve seus oemas gravados em CD na voz da atrz Tônia Carrero e está em fase de elaboração um CD Rom com tudo que já foi feito e publicado sobre o autor de Que País é Este? Há seis meses, um leitor e fã paranaense, de apenas 17 anos, presenteou o poeta com um site na internet (http://pagina.de/affonso/). E é precisamente na rede que Affonso Romano de Sant'Anna vê a grande novidade na poesia. Seguro de que "a poesia é a expressão mais arcaica da linguagem", ele observa com certo prazer sua veiculação e exploração no que "há de mais avançado na tecnologia". É pela rede que ele tem entrado em contato com inúmeros leitores, fãs e, principalmente novos poetas de várias regiões do País. "Os poetas invadiram a Internet e isso é extremamente saudável para uma modalidade literária que sempre encontrou dificuldades de espaço no mercado editorial", observa. Navegante assíduo da rede, ele relata algumas iniciativas de poetas como o cearense Soares Feitosas, que reuniu num site desde poetas mundialmente consagrados, como Camões ou Fernando Pessoa, até jovens iniciantes nesta arte naquela região. Este e outros tantos contatos de Affonso Romano via Internet lhe permitem afirmar que "o que está sendo produzido de melhor em posia hoje, no Brasil, está fora do eixo Rio-São Paulo". Aposentado, depois de presidir a Biblioteca Nacional entre 1990 e 1996, o escritor hoje se dedica inteiramente à literatura. Seu último trabalho, que já foi entregue à editora Rocco é Barroco: do quadrado à elipse,que deve chegar às livrarias antes do final do ano. Trata-se de um livro de ensaios sobre o barroco abordando temas poucos explorados pelos historiadores, "como a gastronomia, o vestuário e a própria guerra barroca, numa visão mais complexa deste período", antecipa o autor. Ele esteve em Florianópolis ontem (20/06/99) para participar da mesa redondo organizada pela Fundação Catarinense de Cultura em homenagem a Lindolf Bell, parte do seminário Poesia Hoje, no Centro Integrado de Cultura. O evento, que reuniu poetas, escritores, críticos, professores e estudantes, dividiu a agenda que previa ainda a participação do poeta em algumas bancas de defesa de tese na Universidade Federal de Santa Catarina. Mas foi no seminário do CIC que ele teve um contato maior com a produção e a preocupação poética local, "que está atuante e ocupando cada vez espaços maiores, o que é extremamente positivo", avalia. Para ele, o maior indicativo de que a poesia está numa fase criativa e de desenvolvimento "é o número de novos poetas que surgem a todo momento em diversos pontos do País". Quanto às características ou qualidade da poesia, sobre algum movimento diferente, algum grupo mais polêmico com produção diferenciada no Brasil, o poeta preferiu se omitir. "O que há de novo na poesia é a Internet", setencia. Gazeta Mercantil - 21/06/1999 |