CAUSOS - HISTÓRIAS HUMORÍSTICAS DA VELHA VERANÓPOLIS
Histórias verdadeiras ou pelo menos com fundo de verdade garantido
1.- MANEQUIM
Esta história ocorreu na década de 40 na famosa loja Tomazeto.A loja sempre estava na vanguarda das novidades, tanto de tecidos para venda como na sua própria ornamentação. Certa feita chegou a Veranópolis o primeiro manequim feito de celulóide, representando um homem. Doma Elza, a proprietária da loja colocou-o todo vestido com um belo terno, usando também sapatos e chapéu. Ficava impecável no meio da loja, parecendo realmente um ser humano.
Foi quando adentrou na loja um rapaz, que é melhor não revelar o nome, pertencente a família Roncato.Diversas pessoas faziam suas compras a frente daqueles balcões antigos, deixando o ambiente quase repleto. Uns entravam outras saiam, movimentando-se para diversos lados. Nessa hora o Roncato, que esperava para ser atendido, deu alguns passos para trás e pisou no sapato do manequim. Dai virou-se, contemplou aquela imagem quase humana e disse:
- Desculpe, foi sem querer !
2.- MULA FAMINTA
Nos primeiros anos de 40, as ruas e avenidas de Veranópolis eram ainda desprovidas de calçamentos. Para evitar a poeira e a lama, a Prefeitura costumava espalhar brita sobre elas. A população rural era grande e era muito comum seus habitantes virem a cidade em suas montarias a fim de fazer compras.Uma moça conhecida como Bigheta vinha freqüentemente a cidade montada em sua mula. Ela costumava amarrar o animal na avenida principal e ficava perambulando pelas lojas e parando aqui e acolá, conversando com as pessoas e esquecendo da vida e esquecendo da mula.
Certa vez ela chegou a cidade pela manhã, amarrou a mula e partiu para suas atividades habituais. Desta vez, no entanto ela exagerou no tempo para voltar a buscar o animal. Deu meio-dia, deu 2 horas, deu 4 horas. Chegava tardinha e nada da Bigheta voltar.
Nesta hora a mula não agüentou de fome, baixou a cabeça e começou a comer brita sob os olhos estupefatos de alguns transeuntes !
3.- PINCHARE
Veranópolis teve diversos padres famosos ao longo de sua história, cada um com suas características próprias e bem marcantes. O padre Mandioca celebrizou-se pelas suas penitências pesadas, o Ismael por certos procedimentos mulherengos e o padre Benjamin por sua seriedade e grande prestígio.
Havia um fulano (vamos preferir deixá-lo incógnito) que falava aos quatro ventos, em seu dialeto italiano que já tinha mantido relações sexuais com muitas das mulheres da cidade:
- Cuela dona , la go pinchada e anque su fiola !
- E cuela altra della colonia ?
- La go pinchada tante volte !
O fulano falava isto e mais, espantando seus interlocutores.
Alguém, revoltado com tanta falação, resolveu reclamar do fulano, dizendo:
- Varda cuá. Basta ! Cusi ze massa bruto. Ze busie. Se ti no estanca de dire que ti ghe pinchado tante done, mi vao parlare com el padre Benjamin e lu dara a ti un bel castigo.
Foi quando o fulano respondeu:
- Se padre Benjamin viene castigarme mi lo pincho anque lu !
4.- INFERNO
Um vigário antigo de Veranópolis em seus sermões gostava de assustar as pessoas dizendo que quem cometesse muitos pecados iria para o fogo do inferno. Descrevia o fogo eterno como terrível e apavorante. Muita gente negava-se em acreditar na existência do inferno. Então o vigário resolveu mudar de método para alcançar seus objetivos. Ele precisava ser mais convincente. Necessitava fazer demonstrações práticas.
Certo domingo ele foi rezar uma missa numa linha, na colônia. Lá chegando chamou o sacristão, que só falava italiano mas era muito fiel, e disse:
Varda cuá ! Chapa due o tre sachi e impienele de paglia de miglio de cuela seca e portela la su de coro dela chiesa.Cuando mi escomicio parlare del inferno, lora ti co i fumegante meti fogo nela paglia e butela su la testa delle persone dela messa.
Iniciado o sermão da missa, o padre começou a argumentar sobre o inferno e seu fogo terrível. Quando ele levantava os braços o sacristão jogava palha incendiada sobre as pessoas.Como os arremessos cessaram o padre insistiu com os acenos diversas vezes mas nada mais de palha incendiada aparecia. Aos berros chamou o sacristão que então botou a cabeça para fora de onde se escondia e também gritando disse:
- Gha finiu la paglia !
5.- PEITUDA
O Iémo era o apelido do Guilherme Farina. Homem sempre alegre e brincalão. Inteligente, preferia se expressar no dialeto cremonês, pois não dominava o português.Morava na linha República onde criava seus filhos e vivia em paz com sua esposa Cândida, cozinheira de mão cheia que acabou dando seu nome para o mais famoso restaurante de Veranópolis.
Num belo dia, lá pela década de 50, andou pela linha uma visitante que chamou muito a tenção de todos pela beleza e exuberância de seus seios, pois esbanjava de decotes bem fartos.
O Iémo pode apreciar aquele atrativo sexual, mas mantendo-se calado com os olhos vidrados.
Foi quando perguntaram com insistência para ele sobre a tal moça.
Ele não agüentou, e em cremonês, disse:
- La gavea de due tetonI que che parea de due pan fresqui !
NB - Naquele tempo era comum fazer-se pão em casa com fermento de batata que inchava a massa pra valer !
6.- NUNCA DISCORDAR
Esta é outra do Iémo. Quando indagado sobre sua posição política, ou seja em que partido ele se situava, ou qual político que ele apoiava, ele argumentava que nunca a gente deve se colocar contra o poder reinante, dizendo:
- Mi so semper com "cul ca ghe" !
7.- JOGO A NOITE
Na época áurea do Botafogo, dizem que o Iémo foi ao Rio de Janeiro e assistiu uma partida de futebol.
Quando voltou, perguntaram:
- Gheto visto Didi ?
- De di, no, de note !
8.- QUALIFICAÇÃO CREMONESA
Muito que se fala de que os italianos e os judeus são comerciantes que não poupam seus fregueses, chegando as raias da desonestidade, ou seja praticando autênticos roubos na venda de suas mercadorias.
Quando o Iémo foi interpelado a respeito disso no tocante aos cremoneses, ele respondeu:
- Ladri, si, ma stupidi, no !
9.- TRIGO PARA A MADONA
Nos períodos que antecediam as festas religiosos, era habitual os padres ou seus representantes visitarem as famílias para arrecadar donativos. Isto ocorria tanto na cidade como na colônia.
Quando o padre chegou a casa do Bigion na linha República, foi logo entrando e logo viu que existiam armazenados dezenas de sacos de trigo. Não teve dúvida e logo exigiu que a doação fosse de pelo menos meia dúzia de sacos de trigo.
O Bigion protestou e disse que era muito, originando-se então violenta discussão com o padre. Cada um argumentando mais que o outro.
O padre dizia:
- Nossa Senhora merece bastante de seu trigo. Seja bondoso, doe seu trigo !
Dai houve uma resposta que ficou famosa:
- " La Madona la manja mia pan !"
10.- CACHORRO FIEL
A caça de perdizes no RS era antigamente bastante praticada. Muitos caçadores de Veranópolis se deslocavam para o campo com este objetivo, levando sempre sues próprios cachorros perdigueiros.
Havia um Munareti famoso que muito se destacou nessas façanhas graças a seu cachorro considerado de fidelidade máxima. Durante uma de suas caçadas ocorreu um fato surpreendente. O cão desapareceu. Não voltou para seu dono como era habitual.O Munareti chamou o cachorro insistentemente e nada dele aparecer. Cansado de esperar resolveu dar a caçada por terminada e voltou para Veranópolis sem o eficiente animal.
No ano seguinte com a abertura de nova temporada de caça, lá foi o Munareti caçar no mesmo local do ano anterior.
Para sua surpresa, lá chegando, encontrou o esqueleto do cachorro jazendo junto com o esqueleto de uma perdiz. Ficou evidente que o cachorro tinha morrido de fome sem comer a preciosa caça !
11.- CORRENDO NA CHUVA
Esta história também aconteceu com o Munareti. Ele possuía uma linda bicicleta com a qual fazia longos passeios. Ao sair de casa deixou a porta aberta do galpão onde guardava a bicicleta. Saiu pedalando ruma ao Sapopema. A tarde estava nebulosa com ameaças de chuva.
Quando o Munareti sentiu que a chuva era iminente resolveu tomar o rumo de retorno para casa. Olhou para trás e viu que a chuva se aproximava. Acelerou as pedaladas na tentativa de não ser apanhado pela água fria que se precipitava. Corria o mais que podia. Quando olhava para trás via que a chuva cada vez mais se aproximava.
A velocidade da chuva parecia superar a da bicicleta por mais que o ciclista se esforçasse. Quando o Munareti finalmente chegou ao seu destino, entrou no galpão pela porta que tinha deixado aberta.Desceu do veículo e ouviu a chuva forte batendo no zinco do Galpão. Olhou para bicicleta e viu admirado que somente o pára-lama traseiro estava molhado.
Por muito pouco venceu a velocidade da chuva !
12.- PASTEL
Veranópolis sempre se notabilizou por possuir bares onde se comia excelentes pastéis. Mas nem sempre foi assim. Houve um bar da cidade onde tais quitutes deixavam a desejar por conterem pouquíssimo recheio.
Neste tal bar tinha um freguês que sempre de ia degustar os pastéis pedia como acompanhamento um Melhoral. Como este fato vinha se repetindo diversas vezes o proprietário do bar ficou curioso e resolveu indagar ao freguês o motivo de tal procedimento. Aí veio a resposta:
- Quando na primeira mordida no pastel eu sinto um golpe de vento na cara e para evitar possível resfriado logo em seguida eu tomo o Melhoral ! É recheio de vento !
NB - Melhor deixar o nome do bar incógnito
13.- REPETIÇÃO DO CAFÉ
Possídio era um homem muito inteligente e empreendedor. De simples marceneiro em Veranópolis transformou-se em riquíssimo comerciante em Porto Alegre.
Numa das primeiras vezes que viajou para a capital, hospedou-se num hotel que servia uma magnífico café da manhã.Possídio observou que poderia fazer alguma economia com a sua alimentação.
Certo dia levantou bem cedo e foi ao restaurante e aproveitou muito bem o café com muitas misturas.Quando se aproximava a hora de encerramento do café, lá se foi ele de novo, pensando: hoje não precisarei almoçar.
O garção notou a irregularidade e inquiriu o Possídio, dizendo:
- Eu acho que hoje o senhor já tomou café, não poderá repetI-lo !
A resposta veio pronta e surpreendente:
- Eu ainda não tomei café, aquele era meu irmão gêmeo !
14.- CÃO DE GUARDA
O nome do personagem desta história perdeu-se no tempo. Vamos chamá-lo de João. Ele possuía um cachorro muito bonito e de ótima raça no qual tinha toda a confiança
como excelente animal de guarda.
Certa vez João necessitou viajar. Sairia de manhã bem cedo e a noite estaria retornando. Ele possuía um galpão onde guardava diversos objetos de valor. Imaginando que na sua ausência algum ladrão poderia assaltar o galpão, resolveu trancar suas portas e janelas e para maior garantia amarrou o cão bem próximo.
Quando voltou a noite observou que o galpão continuava todo fechado. Ficou feliz em saber que nenhum assalto tinha ocorrido. Depois olhou para todos os lados e não mais viu o cachorro.
Tinham roubado o cachorro !
15.- PROTEÇÃO CONTRA FRIO
Segundo consta esta história é relativamente recente. O Dalla Coleta, observando o gado de sua propriedade, concluiu que os animais estavam sofrendo com o frio. Realmente o inverno estava rigoroso e suas vacas viviam ao relento. Ficou preocupado e pensou em adotar alguma providência.
Dirigiu-se a uma loja e adquiriu dezenas de metros de flanela e mandou confeccionar boa quantidade de capuzes no tamanho da cabeça de uma vaca e com eles vestiu cada animal.
Os bichos ficaram lindos e protegidos com as cabeças quentinhas. Foi uma pena que na época ninguém fotografou o rebanho vestido !
16.- A QUEDA DO MONCHO
O Moncho era um rapaz que morava no Sapupema e era conhecido como um comilão o que ficava evidente por seu peso avantajado. Ele adorava comer aqueles pães italianos feitos em casa. Sua mãe, dona Henriqueta, fazia o que podia para que o Moncho não comesse tanto e assim pudesse emagrecer. Ela escondia a comida, mas o Moncho não se dava por vencido e quase sempre descobria os esconderijos.
Numa certa feita o Moncho desconfiou que os saborosos pães estavam escondidos nas prateleiras altas de um grande armário. Ele montou uma cadeira sobre outra e nelas subiu para alcançar a parte alta do armário. Quando ele estava quase alcançando seu objetivo, desequilibrou-se e veio abaixo trazendo consigo o armário onde estava armazenado um garrafão de vinho tinto lá guardado por seu pai, o seu Tato. Na queda o garrafão quebrou-se e o vinho escorreu pelo chão. Ouvindo o barulho e os gritos de dor do Moncho, sua mãe correu para ver o que acontecia, deparando-se com um quadro com o Moncho em baixo do armário tombado e uma mancha vermelha enorme que escorria.
Alarmada ela disse em italiano:
- "Quanto sangre mama mia, puarim del Moncho... é morto !"
17.- MECÂNICO ESPERTO
Os Tedesco tinham uma oficina mecânica na Palugana, onde eram consertados automóveis e caminhões. O chefe da oficina era o Marciano, conhecido por ser muito exigente com os empregados. O Bichachi era um dos mecânicos que lá trabalhavam. Era folgadão e muito esperto. O Marciano estava sempre atento zelando para que ninguém ficasse parado. Muitos dos consertos exigiam que os mecânicos deitassem por baixo dos carros.
O Bichachi, espertamente, deitado por baixo dos carros amarrava um braço em alguma ferragem e tirava uma soneca. Quando o Marciano fiscalizava os trabalhos olhava por baixo dos carros e vendo o Bichachi com o braço levantado, dizia:
- "Ma come laora gran tanto quel omo li !"
18.- DIFICULDADES PARA CASAR
Havia uma moça, residente na linha República, pertencente ao clã dos Farina, lá por volta dos anos 50. Ela era solteira e desejava muito casar, mas sempre colocava dificuldades para a hora da cerimônia. Alegava que não poderia casar no verão porque o calor seria intenso e com seu traje de noiva, com vestido longo e fechado e véu, estaria suando na igreja e passaria muito mal. Então os parentes diziam Verelina, porque você não casa no inverno ?
Aí, ela respondia "Con quel fredo, sito mata - mi dela chesa avanti el padre, a tremere gran tanto - cussi mi me marido mia "
19.- GALOS DE ESTIMAÇÃO
Era época dos galos de briga. Muitos dos rapazes da cidade criavam seus galos e freqüentemente realizavam rinhas. Isto foi lá pelos anos da década de 50.
O galo do Chini Farina era muito famoso. Preto e vermelho, bom de briga, mas era cego de um olho, resultado de uma esporada de um galo adversário. Mesmo com sua deficiência visual, costumava vencer muitas pelejas.
Toda a turma conhecia o galo do Chini. Chegou um dia que o galo morreu. A notícia logo se espalhou e o Atos Farina logo organizou o que seria um enterro solene. Teve procissão, no terreno da caso do Atos que ficava na Julio de Castilhos. O galo foi conduzido para uma cova rasa, onde foi enterrado e fincada uma cruz, diante da tristeza de todos.
20.- GOLEIRO FRANGUEIRO
Esta história também é da década de 50.Eram freqüentes os embates de futebol entre os rapazes da Praça contra os da Palugana.Na Praça destacavam-se os Farina Chini, atacante, e o goleiro Luizinho. Na Palugana realce era um tal de Galineta.
Num desses jogos a Palugana ganhava fácil e o Chini reclamava muito do Luizinho, dizendo que ele era o culpado pelos gols tomados. Aconteceu mais gols da Palugana , então o Chini perdeu a paciência e colocou o Luizinho para fora e assumiu ele mesmo a posição de goleiro. O Luizinho postou-se atrás da goleira e ficou atucanando o Chini. De repente veio uma bola rasteira e fraca que o Chini tentou defender,mas não consegui, engolindo um temendo de um frangaço pelo meiomdas pernas. Foi a vez do Luizinho gozar e gargalhar do Chini que ficou puto da vida e nervoso que era saiu correndo atrás do Luizinho até perto do centro da cidade, sem poder alcançá-lo, pois o apelido do Luizinho era bicicleta e corria demais - o jogo era no campo velho do antigo Veranense..