Por que a terra pequena se chama Lençóis?
Aí há muita dúvida. Consta que, o nome da cidade de Lençóis vem dos lajêdos por onde o rio passa espumando, serra abaixo, como se fora um lindo lençol todo bordado, todo rendado feito pelas mãos de fadas. Contam os antigos que por volta de 1844 um "tal"de Casusa Prado e o seu escravo vieram do Mucugê para descobrirem diamantes. O escravo encheu os piquais e o Senhor mandou o pagem vendê-los à Chapada Velha. |
Aí o homem foi preso como ladrão de estrada; mas, sabida a história o povo arrancou como boiada para toda esta Lavra nova. Quem chegasse por último poderia ver de cima da serra, os tetos das barracas estendidas lá em baixo, como se fora uma cidade de lençóis.
A notícia da descoberta propagou-se e para aqui afluiram logo aventureiros de toda a parte da Província, uns de condições baixas, e outros abastados, opulentos, gente mesmo de linhagem, de grandes recursos, inclusive numerosa escravatura, mas todos com o mesmo ideal.
O garimpeiro é típico local, nas Lavras Diamantinas com seus ranchos suas bateias e outros instrumentos peculiares à região e utilizados na busca de diamantes e carbonatos desde os primeiros tempos de mineração a base de suas águas encontram-se algumas planícies. Aí e nos leitos dos rios e riachos e ainda nos canais naturais estão as jazidas dos dimantes.
O DIAMANTE é o rei das pedras. Ali homens trabalhavam ao som do disco giratório e o bater rítimico das águas na roda que impulsionava a indústria que faz brilhar, ainda mais as gemas que outrora serviram de aderêço às damas da nossa sociedade e que hoje brilham também, como ornato das mulheres do nosso meio social.
"....Lençóis foi a "capital das Lavras", com consulado francês e apontada como "Vila Rica da Bahia". Depois de todo esse progresso, porém, a região transformou-se no maior centro do coronelismo e da jagunçada. A década de 20 foi dos homens valentes, revólveres a cinta, e das gatas-bravas, mulheres guerrilheiras que lutaram contra o mais temido chefe, o Coronel Horácio de Matos." |
No Sertão baiano, homem valente já foi sinônimo de jagunço. Lutador por ideal ou profissão, jagunço não era o mesmo que cangaceiro. Era soldado sertanejo, a serviço de uma causa e de um chefe, que desconhecia o medo no campo de batalha.
Horácio de Matos, que dominou a região das Lavras Dimantinas, foi o último e o maior de todos os chefes dos jagunços. O próprio governo de Epitácio Pessoa foi obrigado a assinar com ele um acordo de pacificação, e a Coluna Prestes teve de sair do país depois que invadiu os seus domínios. Os feitos e as glórias de Horácio de Matos estão vivas e inscritas no calcinado sertão das Lavras.
Lençóis não só teve lutas políticas, como ressaltamos os escritores que daqui falaram, Lençóis também viveu grandes momentos de júbilo embalado nas mais belas e requintadas comemorações festivas, quer políticas, religiosas ou populares.
As classes beneficiadas pela situação econômica mantinham em grande destaque por exibirem as modas estrangeiras vindas de Paris e de outras partes do mundo e, que aqui se faziam apresentar como privilégio dos senhores donos de garimpos e possuidores de escravos.
Os primeiros senhores do garimpo levaram famílias inteiras de escravos para Lençóis. Entre estas algumas se dedicavam a crenças e rituais mágicos. Eram os chamados Magos. Esses escravos cultivavam uma crença à Santa Bárbara (Iansã) como em todo candomblé de caboclo. Trabalhavam no comércio de verdura o ano inteiro economizando para a festa anual, num local chamado Baixio. Durante o dia começavam o Jaré em Lençóis e todas as classes sociais os acompanhavam com a Filarmônica.
Todo o rosário de formação histórica, cultural e religiosa está relacionado com a vida de mineração do "metal" como diziam os antigos exploradores vindo das diversas regiões e em número mais volumoso da Província das Minas Gerais. |
Esta população exploradora trouxe-nos uma bagagem diversificada de luxo, grandeza, cultura, civilização e aventura misturada no bojo da opulência de costumes dos mais variados matizes de sabor colonial, tendo como contrapeso a beleza dos lundus, batuques, crenças rabuscadas de supertições que davam tonalidade de coreografia própria do negro escravo africano. Era o legítimo Brasil despontando nas terras do diamante.
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