Apple e MacOS
História e Visão Geral
Marcos Portnoi
Engenharia Elétrica - UNIFACS
08.08.1999 http://surf.to/locksmith
Índice * Introdução *Um Pouco de História *A Lenda Por Trás do Nome e da Logomarca *Mac OS 8.6 *
Sistema Proprietário: Vantagem ou Desvantagem? *Características Gerais *ColorSync 2.6.1. *MacOS X Server *Conclusão *Referência: *
Os computadores Macintosh, ou carinhosamente chamados apenas de Mac’s, foram criados pela Apple Computer aproximadamente na mesma época que os PC’s, cerca de três anos após. Hoje, o Mac ocupa um pequeno percentual do mercado, sem qualquer chance de ameaçar a hegemonia dos PC’s, baseados em arquitetura Intel. Entretanto os usuários de Mac’s formam uma tribo ativa, passional e fiel. Prova disso é o sucesso estrondoso dos últimos lançamentos da Apple Computer, o iMac e o iBook G3. Seguindo a boa tradição da Apple, esses novos computadores trazem design inovador e refinado e um charme praticamente irresistível. Os iBook’s, notebooks leves e bonitos, esgotaram-se tão rapidamente nas prateleiras que já há preocupação quanto à consistência de fornecimento de telas de cristal líquido por parte de fabricantes asiáticos.
Esses computadores rodam em um sistema operacional gráfico proprietário, exclusivo para eles, produzido pela própria Apple, chamado de MacOS. O objetivo deste texto é explorar um pouco da história desta companhia, a Apple Computer, e então vislumbrar características gerais do sistema operacional dos Mac’s.
A Apple Computer foi fundada em 1 de Abril de 1976, pelos amigos Steven Wozniak e Steven Jobs. Wozniak e Jobs eram amigos desde o ensino médio nos EUA e eram entusiastas de eletrônica (o que lhes conferiu certa aura de "deslocados" na escola...). Após deixarem a escola, ainda mantiveram contato. Wozniak começou a trabalhar na Hewlett-Packard, e Jobs entrou para a Atari.
A paixão de ambos pela eletrônica e pelos computadores pessoais ainda incipientes levou-os a não continuar os estudos em ensino superior, para que pudessem se dedicar a suas idéias (uma prática que criou cerca de 5 dos 20 homens mais ricos do mundo de hoje). Em 1976, Wozniak desenhou o que seria o Apple I, um computador de RAM de 8KB a 32KB e processador MOStek 6502 de 1 MHz. Jobs insistiu para que este computador fosse comercializado pelos dois, e então a Apple Computer, Inc. foi fundada.
Este computador não fez muito sucesso entre os hobbistas. Era vendido em forma da placa de circuito impresso apenas, e havia um dispositivo de fita cassete vendido separadamente, e o usuário tinha de construir o gabinete. O kit do Apple I era vendido por pitorescos US$666,66.
Figura 2: Apple I.
Com visão de futuro, Jobs continuou seu trabalho, até que em 1977 lançaram o Apple II numa feira local de computadores. O Apple II era senão o primeiro computador pessoal a vir em gabinete plástico e a incluir a capacidade de gerar gráficos coloridos em seus recursos. Um sucesso desde o lançamento, este computador cresceu em admiração ao receber o Apple Disk II, na época o mais barato drive de floppy (disquete de 5 ¼") existente no mercado. O Apple II era baseado no processador 6502 a 1 MHz, com RAM começando de 4KB até 64KB, ROM de 12KB incluindo o AppleSoft BASIC, desenhava gráficos em 6 cores a 280x192 pixels (uma fantástica resolução para a época), tinha alto-falante embutido e custava US$1.298.
Em 1980, quando o Apple III foi lançado, a Apple Computer já era uma grande companhia, com milhares de funcionários e vendas para outros países. (No Brasil, fechado para o mundo por força da Lei de Informática, o Apple só era vendido no formato de clones caros e de má qualidade.) Em 1981, um acidente de avião afastou Wozniak da empresa, e Jobs tornou-se chairman.
Numa visita histórica aos laboratórios da Xerox em 1979, o Xerox PARC (Palo Alto Research Center) – respeitadíssimo centro gerador de idéias – Jobs conheceu o Alto, um computador com sistema gráfico, mais intuitivo e fácil do que as interfaces de caracter vigentes na época. Empenhou-se então, junto a outros engenheiros, no projeto do Lisa, que, apesar do preço alto (US$9.995) e relativo insucesso de vendas, redefiniu os conceitos de computador pessoal na indústria, como interface gráfica, o mouse, drives de 5 ¼" de alta capacidade ou de 3 ½", 1 MB de RAM, disco rígido de 5MB e um monitor de alta resolução. Dirigido a empresas, o preço estratosférico mesmo para os padrões atuais definiu o destino do Lisa, que foi retirado de linha 3 anos mais tarde.
Devido ao insucesso do Lisa, Jobs foi afastado do projeto pelo presidente da Apple, Mike Markkula. Jobs então resolveu dedicar-se a outro projeto, de codinome Macintosh. (Macintosh, ou mais apropriadamente McIntosh, é o nome para uma espécie de maçã escocesa.) Tratava-se de um computador de 128KB de RAM, resolução de imagem de 512x384 em 16 tons de azul, recursos sonoros, interface gráfica (o primeiro MacOS), mouse, drive de disquete de 3 ½" e 400KB (primeiro computador pessoal a ter mouse, drive de 3 ½" e interface gráfica). Era vendido
originalmente a US$2.495.
A interface gráfica MacOS usada no primeiro Mac teve sua base nas idéias absorvidas por Jobs em sua visita ao PARC, mas o tamanho e extensão dessa base é aguerridamente discutida por pessoas que participaram dos projetos. É certo que o projeto do Mac começou bem antes da visita de Jobs ao PARC, mas algumas semelhanças são encontradas em ambos, a exemplo da seleção de texto com o mouse, menus pop-up e janelas. Outras características foram praticamente criadas pelo MacOS, como o "arrastar-e-soltar", edição direta de nomes de arquivo, disco e aplicativos; visões variadas para o sistema de arquivos; acessórios de desktop e painéis de controle. Outros conceitos foram absorvidos do Lisa, como menus pull-down e a área de transferência (clipboard).
Em 1981, a IBM completou e disponibilizou seu primeiro PC. Com o poderio da IBM por trás, o PC rapidamente começou a dominar o mercado. Jobs percebeu que, se quisesse manter-se como competidor da IBM, teria de trabalhar rápido e de maneira extremamente profissional, e ele tinha seus limites. Em 1983, Jobs trouxe John Sculley, então presidente da Pepsi-Cola, para ser presidente e CEO da Apple. Os estilos de Sculley e Jobs, entretanto, de imediato se revelaram opostos e o conflito entre os dois iniciou-se. De um lado, Sculley era um executivo sem conhecimentos sobre a indústria da computação, mas extremamente competente, e de outro lado, Jobs, profundo conhecedor dos meandros da indústria e dotado de espírito inovador, mas limitado em sua capacidade administrativa.
Com a data de anúncio do Macintosh se aproximando, Jobs trabalhou rápido de forma a atrair desenvolvedores para sua plataforma, para que escrevessem aplicativos. Em 22 de Janeiro de 1984, a Apple colocou no ar um comercial de 60 segundos, dirigido por Ridley Scott (de Alien, o Oitavo Passageiro, Blade Runner e Thelma e Louise). O comercial mostrava um mundo como o descrito por Orson Wells no seu filme 1984, só que dominado pela IBM. O lançamento de uma nova máquina destruía a ordem vigente. Inicialmente o Mac foi um sucesso, mas logo os consumidores cansaram-se da pouca memória e falta de disco rígido.
Em 1985 o relacionamento entre Sculley e Jobs tornou-se crítico. Sculley acreditava que Jobs era perigoso e fora de controle, enquanto Jobs acreditava que Sculley nada sabia sobre a indústria de computadores, e não fazia questão de tentar aprender. Num manobra administrativa, Jobs tentou recuperar o controle da companhia, aproveitando a ausência de Sculley, que teria viajado para a China. Durante a viagem, Jobs agendou uma reunião do conselho, quando então planejava lançar o seu plano. A informação entretanto vazou para Sculley, que cancelou sua viagem no último minuto e voltou para confrontar Jobs. Após uma severa discussão, a mesa diretiva tomou o lado de Sculley. Naquele mesmo dia, Jobs deixou a Apple.
A competição com os PC’s era ferrenha, entretanto. Nos meses seguintes, a Apple demitiu cerca de 1.200 empregados e publicou seu primeiro prejuízo. Enquanto via o crédito em suas habilidades como CEO diminuir, Sculley iniciou uma guerra contra Bill Gates, da Microsoft, quando da introdução do Windows 1.0. O Windows 1.0, programa que trazia o ambiente de janelas e mouse para o PC, tinha uma série de similaridades com a interface do Mac, e Sculley acusava a Microsoft de cópia ilegal de suas características. A uma acusação de Jobs contra Bill Gates, de que ele teria simplesmente copiado a interface da Apple para o Windows 1.0, Gates respondeu afiadamente: "Não, Steve, eu penso na verdade que nós temos um vizinho rico, chamado Xerox, e você arrombou a casa dele para roubar um televisor, e quando você descobriu que eu já havia estado lá, você gritou: Ei, isso não é justo! Eu queria roubar o televisor primeiro!"
Ainda assim, Gates concordou em assinar um acordo de forma a não usar a interface do Mac no Windows 1.0 – nada dizendo sobre futuras versões do Windows. Este documento tornou-se decisivo em futuras ações da Apple contra a Microsoft, envolvendo a interface Windows. (O Windows tornaria, anos mais tarde, tanto o PC quanto a Microsoft em plataforma e empresa líderes no mercado de computadores e software. Bill Gates tornar-se-ia o homem de maior fortuna acumulada nos registros da história da humanidade, cerca de 90 bilhões de dólares em valores atuais.)
A introdução da LaserWriter, uma impressora barata e de boa qualidade para o Mac, e também do PageMaker, um dos primeiros programas de publicação, trouxeram o Mac de novo para o caminho do sucesso, como máquina barata e ideal para editoração e publicação.
Em 1987, o lançamento do Mac II, desenhado de forma a preservar a expansibilidade, tornou a linha Macintosh numa família poderosa e viável de computadores. Quase 50.000 Macs eram vendidos por mês, e por volta de 1989, parecia que o futuro pertencia ao Mac.
O lançamento do Windows 3.0 em Maio de 1990, que podia rodar em virtualmente todos os clones de PC fabricados no mundo, colocaram a Apple novamente em apuros. A arquitetura aberta dos PC’s, que permitia que qualquer empresa fabricasse acessórios e montasse diversas configurações diferentes, também barateava e facilitava o acesso a essa plataforma.
A tentativa de licenciar o MacOS para fabricação por outras companhias e inclusive portá-lo para o PC foi infrutífera. Era tarde demais para "abrir" a tecnologia do Mac, enquanto o PC já nasceu aberto. Mesmo o lançamento bem-sucedido dos PowerBooks, notebooks caprichados e possantes, não ajudariam a trazer a
Apple de volta à briga de mercado.
O Newton, o primeiro PDA (Personal Digital Assistant), foi lançado em 1993, mas seu mau reconhecimento da escrita impediu seu sucesso. Em junho daquele ano, o conselho diretivo da Apple afastou John Sculley de sua posição como CEO, colocando Michael Spindler em seu lugar. Sculley ainda ficou na Apple por vários meses como chairman, deixando a empresa após.
Apesar de ser Spindler um administrador muito impessoal (seu escritório era praticamente impenetrável), alguns de seus movimentos foram importantes. O lançamento dos PowerMacs, baseados no processador PowerPC co-desenvolvido pela IBM e Motorola, colocou no mercado máquinas rápidas, que competiam e até ultrapassavam a velocidade dos novos processadores da Intel. Spindler ainda conseguiu licenciar o MacOS para algumas companhias, mas o rígido controle mantido sobre ele pela Apple resultou em apenas poucas companhias com interesse em fazê-lo.
Problemas de produção, que impediam que a Apple entregasse todos os computadores que vendia, contribuíam para aumentar a crise na empresa. O lançamento do Windows 95, que colocava a operação dos PC’s em igualdade de facilidade com os Mac’s, foi mais um golpe severo em sua estrutura.
Trimestre após trimestre, a Apple publicava mais e mais prejuízos. A troca de Spindler por Gil Amelio, ex-presidente da National Semiconductor, não se provou suficiente para recuperar a empresa. Os prejuízos foram controlados, mas continuavam e Gil Amelio ficou não mais que 100 dias na empresa. Durante sua gerência, a Apple anunciou a compra da NeXT, empresa criada por Steven Jobs e que não provou muito sucesso. O interesse da Apple, entretanto, era adquirir a tecnologia do NeXTstep, sistema que viria a se tornar a base da nova geração do MacOS, de codinome Rhapsody. O departamento que fabricava o PDA Newton foi transformado numa subsidiária independente, a Newton, Inc. Por último, no lance mais surpreendente, Steven Jobs foi trazido de volta à empresa.
A Apple estava sem CEO, e "responsabilidades expandidas" foram dadas à Jobs. Imediatamente, com as ações da Apple na bolsa em seu valor mais baixo dos últimos 5 anos, Jobs começou a fazer mudanças drásticas na estrutura da companhia. A subsidiária Newton foi fechada e os Newtons descontinuados. Mas Jobs reservou seus trunfos mais contundentes para a feira MacWorld Boston, em Agosto de 1997.
Jobs, chamado de "CEO interino", fez a palestra de abertura para o evento, anunciando campanhas publicitárias agressivas, novos Mac’s e o Rhapsody. Também anunciou um conselho diretivo praticamente novo, que incluia Larry Ellison, o falante CEO da Oracle. O melhor, Jobs deixou para o final. Numa decisão espetacular para o mundo Apple, Jobs anunciou uma aliança com a arquirival Microsoft. Bill Gates em pessoa fez o anúncio, através de um telão assistido por milhares de embasbacados Apple-maníacos. Em troca de US$150 milhões em ações da Apple, Microsoft e Apple teriam 5 anos de patentes livres entre elas e o fim de mais uma briga judicial. Microsoft ainda concordou em pagar uma quantia desconhecida sob a forma de fundos extras a fim de acalmar alegações de que teria roubado propriedade intelectual da Apple e também anunciou o Office 98 para Mac.
Em adição, Jobs encerrou a liberação de licenças para outras empresas, encerrando o mercado de clones de Mac, que, eu sua visão, não estava aumentando a base instalada de Mac’s, mas apenas roubando clientes. Até esta data, a Apple é detentora exclusiva da produção dos Mac’s e MacOS. Mais tarde, em 1997, Jobs anunciou a criação da Apple Store, loja virtual da Apple, que venderia diretamente aos clientes finais todos seus produtos, pela Internet ou por telefone. Em adição, o PowerMac G3 e o PowerBook G3 foram anunciados, máquinas poderosas e muito bem configuradas, destinadas a seu mercado cativo, o gráfico.
A Apple voltava ao lucro e Wall Street presenteou-lhe com a subida do valor de suas ações. Finalmente, em 1998, a Apple anunciaria o iMac. Com um design revolucionário, preço baixo e grande capacidade de processamento, o iMac foi a resposta da Apple ao mercado de computadores populares. Hoje na versão iMac G3, o charme irresistível desta máquina, com seu desenho harmonioso e elegante, gabinete colorido e translúcido, chip PowerPC G3 de 266MHz, RAM máxima de 384MB, acelerador gráfico embutido de 64 bits fabricado pela ATI Technologies (ATI RAGE Pro Turbo) com 6MB de SGRAM, duas portas USB, conector Ethernet 10/100 Mbits, modem 56K embutido, disco rígido de 6GB, unidade de CD-ROM de 24x, som integrado, teclado e mouse com portas USB e operação voltada à Internet, está praticamente redefinindo os conceitos de design na indústria de computadores, como o Mac também fez em sua época. O
iMac foi um sucesso espetacular, colocando a Apple de novo na ponta das indústrias de respeito no
mercado, e trouxe de volta sua tradição de revolucionária e pioneira.
Como detalhe interessante, o iMac não traz drive de disco de 3 ½", o que, segundo esta mesma tradição da Apple, preconiza o fim deste dispositivo.
Também foi feito o anúncio do Mac OS X, sistema que integraria o Mac OS 8.x e o Rhapsody – nova versão do NeXTstep – num único sistema robusto. Após a publicação de mais um trimestre de lucros, o novo PowerMac G3 foi colocado no mercado. Com chip PowerPC G3 de 300 a 400MHz, este computador tem bus de sistema operando a 100MHz, SDRAM de 64 ou 128MB a 100MHz, disco rígido de 6GB a 12GB Ultra-2 SCSI, CD-ROM de 24x ou DVD-ROM 5x, Zip drive opcional, duas portas FireWire de 400Mbps, duas portas USB, conector Ethernet 10/100 Mbps, modem (opcional) de 56K, placa gráfica ATI RAGE 128 com 16MB SDRAM, mouse e teclado USB. Este computador, que também segue o design da linha iMac, traz ainda três slots PCI para expansão. A adesão da Apple a padrões de mercado, como as memórias DIMM e os slots PCI ajudaram a baratear seus custos e abriram a possibilidade de uso de diversos dispositivos já fabricados, como placas gráficas, modems e outros. Fabricantes como HP lançaram de periféricos direcionadas à Apple, como impressoras e scanners de mesa, que imitam as cores e gabinetes translúcidos do iMac e PowerMac G3.
A perfeição e cuidado no desenho do PowerMac G3 permite abrir o computador com um simples virar de um dispositivo, o que traz todo o lado do computador para a mesa, dando amplo acesso à placa mãe. Isso
pode ser feito com a máquina ligada, sem qualquer problema.
Finalmente, a Apple prepara o lançamento do iBook, belíssimo notebook baseado no chip PowerPC G3 de 300MHz, com modem de 56K e porta Ethernet 10/100 Mbps incorporados, além do MacOS 8.6.
Figura 9: iBook G3.
Recebendo simbólicos US$1,00 por ano de salário e conseguindo reerguer de forma fabulosa a empresa que criou antes em sérios apuros, Jobs talvez seja mais competente do que quiseram crer seus críticos.
A Lenda Por Trás do Nome e da Logomarca
Segundo se conta, Steven Jobs trabalhou durante um verão numa fazenda de maçãs, e admirou o selo da gravadora dos Beatles, Apple. Ele também acreditou serem as maçãs as frutas mais perfeitas. Ele e Steven Wozniak tentavam encontrar um nome para sua nova companhia, e decidiram que, se não conseguissem encontrar nada melhor que o nome Apple até o final do dia, então este seria o nome definitivo. E assim foi.
A primeira logomarca incluiu Sir Isaac Newton, uma árvore e um slogan que dizia "Apple Computer". Jobs decidiu que precisavam de uma logomarca menos poluída, uma que significasse uma marca. A segunda tentativa foi muito parecida com a atual logomarca, porém não tinha a característica mordida na maçã. Jobs achou o desenho muito parecido com uma laranja. A terceira tentativa foi a simpática maçã colorida em degradê, com uma mordida no lado, que a Apple usou até recentemente, quando mudou para uma maçã idêntica, porém de uma só cor.
Figura 10: Logomarca atual da Apple Computer.
O MacOS é o sistema operacional exclusivo de toda máquina produzida pela Apple. A arquitetura fechada significa que o MacOS somente opera em máquinas da Apple, e máquinas da Apple somente podem operar com MacOS.
Sistema Proprietário: Vantagem ou Desvantagem?
O fato de que a Apple controla inteiramente todos os aspectos de hardware e software dos seus computadores pode representar algumas vantagens e algumas desvantagens. Como vantagens, podemos considerar que, mantendo o controle rígido sobre o hardware e software, a Apple pode garantir que os programas rodem sem problemas em seus computadores, e que estes programas extraiam o máximo do que a máquina pode dar, já que não há a preocupação em suportar e ser compatível com várias configurações e fabricantes diferentes. Além disso, tendo pleno conhecimento do hardware e a certeza de que é sempre o mesmo, a Apple pode implementar controles mais profundos no sistema operacional, como controle de cores, ajuste do monitor pelo computador e dos programas por dados do monitor. A verticalização também torna os computadores virtualmente idênticos em sua operação.
Na prática, os computadores da Apple operando em MacOS também estão sujeitos a panes, travamentos e bugs do sistema operacional, como pode se verificar nas listas de discussão disponíveis na rede. A versão 8.6 veio consertar alguns desses bugs do sistema. O controle máximo da produção revela-se, portanto, ineficaz neste quesito.
Para desvantagens, temos a perda de escala de produção, já que a Apple é inteiramente responsável pelos custos dos computadores e pela determinação dos preços. Isso resulta em preços normalmente mais altos de um Apple em comparação com um PC, que tem para si milhares de fornecedores diferentes. O controle estrito também desestimula o ingresso de empresas na produção de softwares para Apple, já que elas não podem ousar além do que permite as regras da companhia. Isso tudo resulta em um mercado em forma de nicho, o que por fim culmina em menor oferta de software e menos clientes propensos a adquirir um computador fabricado pela Apple. Isso é contrabalançado pelo imenso charme e apelo que a companhia tem junto a seus clientes cativos.
O MacOS é totalmente gráfico e reconhecido por sua relativa simplicidade de operação. Visualmente é bastante semelhante às versões do Windows começando por 95, mas desde sua criação, no início da década de 80, o MacOS já trazia vários recursos hoje comuns, como arrastar-e-soltar, seleção pelo mouse, janelas e lixeira.
A versão 8.6 é a última atualização lançada para o MacOS. Nesta versão, algumas implementações já conhecidas no ambiente Windows 95/98 foram feitas, como um melhor multiprocessamento e desktop em compatível com a Internet (pode-se receber dados da Internet diretamente para o desktop). De início, um eficiente mecanismo de busca universal, batizado de "Sherlock", faz buscas tanto no disco rígido como na Internet, pesquisando mais de 20 sites de busca e também lendo arquivos .PDF (formato de arquivo do Adobe Acrobat).
Traz o AppleScript, um sistema de scripting que permite a automação de vários processos repetitivos no Mac, tanto referentes à Internet (como uploads, downloads) como configuração de rede, impressão, funções do ColorSync e buscas no Sherlock. Estes scripts podem ser ligados à pastas, de forma que qualquer ação na pasta, como uma abertura, ativa o script.
O MacOS 8.6 foi otimizado para os chips PowerPC. Isso resulta em ganho de velocidade. Segundo a Apple, as operações em rede do MacOS são mais velozes que no Windows NT.
O sistema de ajuda ou help foi redesenhado para usar HTML, a linguagem da Internet, a exemplo do Windows 98. Isso permite maior facilidade de criação de arquivos de ajuda e maior interatividade. O Sherlock também atua aqui para fazer buscas por frases ou palavras.
Menu de aplicativos pode ser transformado em barra de tarefas flutuante, permitindo o chaveamento entre programas com um clique do mouse.
Como o Windows 95 e 98, as URL’s da Internet podem ser salvas como ícones no desktop. Os arquivos mais usados, bem como pastas e servidores são armazenados numa área de favoritos, podendo ser acessados mais rapidamente.
O MacOS ainda pode sincronizar o relógio interno automaticamente usando servidores de tempo na Internet baseados em relógios atômicos. Ele traz o Microsoft Internet Explorer e Outlook Express como browser e cliente de e-mail default.
O sistema de instalação foi melhorado, permitindo instalar softwares novos em menor tempo, salvar configurações de instalação específicas, e checa o sistema para problemas, reparando-os sem necessidade de acesso ao CD-ROM. Suporta ainda instalação remota, quando usado por um assistente de rede.
Usando a porta IrDA (Infrared Data Association), que funciona à base de luz infravermelha, portanto sem fios, o MacOS pode se conectar a telefones celulares Nokia e Ericsson – dotados dessa porta – a fim de checar e-mail. Essa função é própria para PowerBook’s, mas não tem suporte no Brasil. Ainda para o PowerBook, o MacOS 8.6 aumenta o tempo de uso da bateria em até 25%.
Finalmente, o MacOS traz Java e o ColorSync 2.6.1. Este último será objeto de estudo a seguir.
Os computadores Mac têm no mercado de publicidade e editoração seu maior mercado. Um problema comum nesta área é conseguir que cada equipamento usado reflita com perfeição as cores mostradas em outro. Mesmo em impressões caseiras, todo operador de computador sabe que as cores vistas na tela não serão as mesmas impressas em sua impressora pessoal.
Cada equipamento eletrônico que lida com cores tem um ajuste individual, e nenhum é exatamente idêntico a outro. Com monitores de vídeo, as cores mostradas por um quase sempre têm diferenças quando vistas em outro monitor. Em aplicações corriqueiras, essas diferenças são descartáveis e não influenciam no efeito final, como um jogo, por exemplo. Mas no mercado gráfico, é fundamental que o azul visto na tela do monitor seja o mesmo azul que o scanner capturou e seja o mesmo azul a ser impresso na gráfica, para distribuição nacional de um comercial.
Normalmente, uma empresa de publicidade prepara um anúncio, usando imagens capturadas por um scanner ou câmara digital, monta essas figuras na tela e submete à aprovação do cliente. O cliente observa o anúncio preparado numa tela de monitor de computador, ou mesmo numa folha impressa de impressora a jato de tinta, e autoriza a veiculação. A agência de publicidade então pode mandar o arquivo eletrônico no anúncio para a gráfica ou jornal, de modo a veiculá-lo. A gráfica abre o arquivo digital em seus computadores, e em seus monitores vê cores com tonalidades levemente diferentes do que o cliente viu na agência. Manda o arquivo para a impressora de alta capacidade, e esta impressora tem um ajuste que produz cores ainda levemente diferentes do que o técnico da gráfica viu em seu monitor. Isso resulta em um anúncio com um azul talvez mais tênue, um vermelho roseado, um amarelo no lugar de um ouro. Dependendo do anúncio, o resultado pode ser desastroso. E se for feito em gráficas diferentes, então ter-se-á vários anúncios iguais com cores diferentes. Veja abaixo um exemplo disso. Exatamente a mesma figura, visto em três equipamentos diferentes. Perceba-se as tonalidades conflitantes de uma figura para outra.
Figura 12: Imagens idênticas, porém vistas sob equipamentos diferentes.
Cada equipamento, seja monitor, scanner, câmara, impressora e sistema de prova usam sua própria "linguagem" para interpretar as cores e representá-las. E a cada dispositivo individual, dependendo de sua idade, temperatura de exposição da luz, etc., tem seu próprio "dialeto".
A tecnologia ColorSync procura resolver esse problema, dotando cada dispositivo de um "perfil", que é um conjunto de dados específicos para aquele dispositivo que permite que outros equipamentos calibrem-se automaticamente, de modo a representar as cores da forma como foram vistas no equipamento original.
Dessa maneira, ao capturar uma imagem num scanner, essa imagem já vem acompanhada das características de captação de cor do scanner, e então o ColorSync as ajusta para serem vistas no monitor, que por sua vez também tem seu perfil de calibração. Assim, as cores são vistas conforme no original.
Mais ainda, ao produzir um arquivo com essas imagens, o ColorSync adiciona ao mesmo os dados de calibração, de modo que uma gráfica que disponha de equipamentos de impressão dotados também de ColorSync possam ler os dados e reproduzir nas tintas as mesmas cores originais. Mesmo quando a representação fiel das cores é impossível, ColorSync permite prever a tonalidade que será impressa, se o operador já possuir o perfil da máquina gráfica. Assim, ele pode fazer ajustes de modo a conseguir o melhor resultado possível.
Os perfis podem vir de fábrica, acompanhando cada equipamento, ou podem ser criados pelo usuário.
Recentemente a Apple disponibilizou o MacOS X Server, novo sistema operacional multiusuário para Mac’s G3, que permite transformar um Mac num servidor de rede com memória protegida, multiprocessamento preemptivo e gerenciamento total dos processos. Com este sistema, a Apple aproxima-se de sistemas como Windows NT e Unix, e permite usar máquinas Apple em aplicações antes só possíveis com estes sistemas.
O sistema foi construído com base em tecnologias abertas como BSD, Mach e Java. Mach é a tecnologia comprada da NeXT, que agora se reproduz neste novo sistema. Promete rodar qualquer aplicação Java diretamente, e também estabilidade de funcionamento e controle de baixo-nível típico de um sistema Unix.
A memória protegida, conceito já aplicado desde o Windows 3.1 (com diferentes graus de eficiência), permite que um aplicativo rode numa área reservada para ele e impede que um funcionamento anormal deste programa afete os demais rodando na mesma máquina. O programa é isolado em sua área e fechado, e o sistema continua a funcionar normalmente.
O multiprocessamento preemptivo assegura que cada processo detenha a quantidade de tempo de CPU e recursos de sistema exatos para suas necessidades. Qualquer processo pode ser interrompido e reiniciado a qualquer hora sem prejuízo para o resto do sistema.
O MacOS X Server traz o servidor Apache 1.3.4. para Web, o programa de servidor, gratuito, mais usado em toda a Internet, e o WebObjects, ferramenta para construção de páginas Web a partir de dados gerados por outros aplicativos.
Traz o QuickTime Server, servidor de mídia digital em formato streaming, ou seja, permite servir filmes e música em tempo real ou não pela Internet, para mais de 1.000 usuários ao mesmo tempo.
Ferramentas de administração remota permitem monitorar e mudar configurações do servidor à distância, a partir de um terminal ou outro Mac, usando um browser. Além disso, é possível um usuário conectar-se na rede de qualquer computador Mac e ter acesso a seu desktop, arquivos e aplicações, de maneira segura e idêntica a como se estivesse em seu próprio computador.
Figura 13: Tela do MacOS X Server.
De maneira geral, o MacOS X Server é indicado para os mercados de educação, publicidade e redes Macintosh homogêneas. Para uma rede com computadores diversos e necessidade de performance corporativa, as revistas aconselham a não o adotar. Se o sistema evoluir, isso pode mudar.
Tradicionalmente uma empresa de vanguarda, criadora de tendências e inovadora, a Apple Computer estava combalida há alguns anos, acuada pelo avanço inexorável dos PC’s e pela força da Microsoft e seu Windows. Juntos, PC e Windows criaram uma computação barata e eficaz, e a Apple não conseguiu fazer frente a isso.
Com a volta de seu criador, Steven Jobs, e um empurrão providencial da Microsoft, na forma de injeção de capital, a Apple conheceu novamente uma época de sucesso e lucros, voltando a lançar computadores com idéias revolucionárias e atualizando seus sistemas operacionais, tornando-os mais robustos e trazendo os Mac’s para o ambiente de redes cliente/servidor. Algumas tecnologias criadas pela Apple, como o Quicktime (programa de streaming de mídia), são extremamente bem sucedidas
Virá a Apple a dominar o mercado de computadores pessoais? Não. Essa batalha está perdida, e está perdida há muito tempo. Mas a Apple pode continuar a desafiar o mercado, inovar onde as grandes companhias não o podem. A Apple ainda tem uma parcela significativa na comunidade gráfica e de conteúdo, e está ganhando terreno com os consumidores. Indiscutivelmente, é uma empresa de charme, que produz computadores com apelo cativante e um sistema operacional que, se não é perfeito, é unanimemente simpático.
"Apple-History.com",
http://www.apple-history.com/Apple Computer, Inc.
http://www.apple.com"Whatis.com",
http://www.whatis.com