Como manter o bom
humor
Por: Conceição Trucom - mctrucom@vidanova.com
Manter o bom humor e
fazer da vida uma saudável brincadeira, é a melhor maneira de exercitar
seu cérebro e permanecer sempre jovem.
Homens e meninos só diferem no tamanho dos brinquedos. Pelo menos é o que
dizia um adesivo colado no vidro traseiro de um jipe estacionado numa
esquina de São Paulo. As manchas de barro grudadas na lataria do veículo
fruto provável de doidas correrias por estradas lamacentas - parecia
demonstrar que seus donos levavam aquela frase ao pé da letra. Sorte a
deles, por assumirem na teoria e na prática uma verdade que o nosso mundo
urbano moderno (e sisudo) quase esqueceu: brincar é preciso.
Todos os grandes gênios que a humanidade já produziu concluíram, mais cedo
ou mais tarde, que nosso vasto mundo é um playground onde, de todas as
moedas de troca, a mais importante é o bom humor. Seja na forma de circo,
de longas caminhadas a pé, de contar piadas numa roda de amigos, brincar
é, sem dúvida, o melhor remédio. Para William Shakespeare brincar tem a
ver com teatro: "O mundo é um palco onde homens e mulheres são apenas
atores; entre a entrada e a saída, cada um desempenha vários papéis".
Gostar de brincar dispensa explicações. É como gostar de rir, cantar,
dançar, caminhar na praia numa manhã de verão. Faz parte daquelas coisas
essenciais que já nascem com a gente, e sem as quais a vida vira um mingau
insosso. Basta observar a natureza: você já viu como os animais adoram
brincar?
No mundo cada vez mais distante da natureza em que vivemos, com freqüência
esquecemos que brincar é fundamental para a saúde física, psíquica e
mental e para a felicidade.
CÉREBRO BRINCALHÃO
A perda do meio ambiente adequado para se brincar e, como conseqüência, da
própria capacidade de brincar, produz muitos efeitos negativos na vida das
pessoas: crianças e adultos. Nos últimos tempos, cientistas de várias
áreas dedicaram-se a investigar a filosofia e a psicologia do ato de
brincar: o que acontece com o corpo, cérebro e comportamento de uma
criatura quando ela se diverte, faz travessuras, ri e desfruta a vida?
Desde o início, os resultados surpreenderam: é justamente quando se brinca
que as células cerebrais formam mais e mais conexões sinópticas, criando
uma rede densa de ligações entre neurônios que passam sinais
eletroquímicos de uma célula para outra. Ou seja, o ato de brincar e rir
estimula e exercita as diferentes funções cerebrais. Sínapses dos
neurônios do cerebelo, na base do crânio, brotam em grande número
especialmente durante a prática de travessuras.
O cerebelo é a parte do cérebro responsável pela coordenação motora, pelo
equilíbrio e controle dos músculos. Por meio dos intensos estímulos
físicos e sensoriais produzidos pelas brincadeiras, risos e gargalhadas,
são reforçadas as ligações sinópticas cerebelares que, em troca, aceleram
o desenvolvimento motor nas crianças e, nos adultos, preservam e reforçam
essas mesmas capacidades motoras.
Certamente outras partes do cérebro também se beneficiam da estimulação da
brincadeira, o que pode explicar o fato de as espécies com cérebros
grandes, como a dos primatas e a dos golfinhos serem tão brincalhonas.
Nessas criaturas, sem esquecer que o homem é também um bicho de cérebro
grande, o cérebro continua a amadurecer muito tempo depois do nascimento
e, portanto, precisa, o mais possível, desses beliscões do mundo externo
facilmente proporcionados pelas brincadeiras e situações de alegria e
prazer.
Os movimentos vigorosos das brincadeiras também ajudam no amadurecimento
dos tecidos musculares. Ao enviar tipos variados de sinais nervosos para
os músculos do corpo, o ato de brincar assegura a distribuição e o
crescimento adequado das fibras musculares de resposta rápida, necessária
para atividades aeróbicas. Os estudos de desenvolvimento muscular de
camundongos, gatos e outros animais revelam que o crescimento e a
diferenciação dessas fibras musculares são maiores justamente quando esses
bichos estão na fase mais brincalhona e divertida de suas vidas.
Brincar, contudo, não é fundamental apenas para o bom desenvolvimento e
para manutenção do cérebro e dos músculos. Do ponto de vista psicológico e
comportamental essa atividade tem importância ainda mais profunda e sutil.
SEDUÇÃO DO HUMOR
Você faz parte do time dos brincalhões alegres de bem com a vida, ou é
daqueles que confundem seriedade com chatice rabugenta? Eu já fiz minha
opção: gosto de brincar e assumo o risco de, às vezes, até passar por
tonto. Já tive, aos vinte anos, minha fase de andar pelo mundo como esses
manequins que acham um charme desfilar nas passarelas com cara amarrada de
"responsável". Mas isso nada me trouxe de bom e fiz um esforço para mudar.
Entendi que, se para a criança a vida lúdica é fundamental, deixar de
brincar não é. No adulto, ser sério e responsável é sinal de maturidade.
Comprove: É passaporte certo para a decrepitude.
Claro, eu bem sei que a melancolia existe e, em determinadas horas, ela
precisa ser respeitada. Quando chega, deixo que se instale e desempenhe o
seu papel. Mas, na primeira oportunidade procuro seduzi-la com o presente
do bom humor. Ela quase sempre aceita a proposta, e entra no jogo. Pois,
embora não pareça, até a melancolia gosta de brincar.
Obtido no site SOMOS TODOS UM.